Conselho Editorial Bertha K. Becker (in memoriam) Candido Mendes Cristovam Buarque Ignacy Sachs Jurandir Freire Costa Ladislau Dowbor Pierre Salama
Carlos Alberto Plastino Vida, criatividade e sentido no pensamento de Winnicott
Copyright 2014, Carlos Alberto Plastino caplastino@gmail.com Direitos cedidos para esta edição à Editora Garamond Ltda. Rua Candido de Oliveira, 43/Sala 101 - Rio Comprido Rio de Janeiro - Brasil - 20.261-115 Tel: (21) 2504-9211 editora@garamond.com.br Revisão Sieni Maria Campos Editoração Eletrônica Editora Garamond / Luiz Oliveira Capa Estúdio Garamond CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ P776v Plastino, Carlos Alberto, 1942- Vida, criatividade e sentido no pensamento de Winnicott / Carlos Alberto Plastino. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Garamond, 2014. 164 p. ; 21 cm. ISBN 9788576173687 1. Winnicott, D. W. (Donald Woods), 1896-1971. 2. Psicanálise. 3. Psicologia clínica. I. Título. 14-12466 CDD: 150.195 CDU: 159.964.2 Todos os direitos reservados. A reprodução não-autorizada desta publicação, por qualquer meio, seja total ou parcial, constitui violação da Lei nº 9.610/98.
A meus filhos Eduardo, Mateus e Vinícius, a minha nora Daniela e a minha neta Laura, com o desejo de que possam viver em um mundo melhor.
Sumário Uma nova forma de saber, 13 A experiência clínica como fonte de conhecimento, 16 A metapsicologia e seus pressupostos, 25 O desenvolvimento emocional primitivo, 35 Rejeição do narcisismo primário, 38 Sobre o psicossoma, 43 As tendências no desenvolvimento emocional, 48 A posição depressiva, 63 Agressividade e agressão, 78 O edipo e seu ambiente, 92 Os diferentes papéis parentais, 102 A centralidade do conceito de desenvolvimento emocional, 112 Objetos da pulsão, relações de objeto e ambiente, 115 Saúde e doença na perspectiva do desenvolvimento emocional, 128 O pensamento de Winnicott e os conhecimentos sobre a vida social, 145 Leituras recomendadas, 161
Apresentação Este é um livro incomum e surpreendente. Tão surpreendente que tocou fundo na minha subterrânea sensibilidade musical, fazendo- -me lembrar de O cravo bem temperado de Bach. À luz da razão há suficientes diferenças para abandonar esta espontânea analogia; mas um núcleo fundamental persiste: ambos ocupam a mesma posição de síntese e transformação: um na música e outro na psicanálise e pensamento humano. Bach uniformizou a escala musical postulando 12 sons com intervalos vibratórios iguais, possibilitando aos compositores barrocos usarem uma mesma afinação, desembaraçando-os de uma multiplicidade perturbadora. Não que a multiplicidade de modos deixasse de existir; mas a escala tonal, além de abrir um novo caminho musical, forneceu um fundo comum que permitiu uma convivência confortável entre os vários modos, pois eles agora podiam ser tocados numa mesma afinação de teclado. Este foi, mutatis mutandis, o trabalho de Plastino em seu livro. A dispersão teórica torna-se inteligível quando olhada através do paradigma histórico. Plastino compõe uma música de fundo, um ambiente que permite bordar as várias tendências teóricas. Este mesmo bordado ele o realiza ao examinar os conceitos winnicottianos. As soluções de continuidade das teorizações de Winnicott são trabalhadas no sentido de estabelecer uma unidade que já estava lá, a espera de ser descoberta por alguém que tivesse a disposição, a coragem, a perspicácia de se ocupar com os pequenos indícios não desenvolvidos, espalhados na obra de Winnicott. A 9
10 Vida, criatividade e sentido no pensamento de Winnicott este trabalho micro agregou-se um trabalho macro, e o resultado final foi uma continuidade de ser da história conceitual de Winnicott e da psicanálise. Para realizar esta tarefa Plastino examina as noções winnicottianas com uma lupa, construindo sutilezas que lançam pseudópodos em direção a outras sutilezas, compondo uma continuidade até então oculta. Para isso, para além da lógica clássica, Plastino vale-se da lógica paradoxal. A lógica paradoxal entra em cena quando a lógica cartesiana, na qual Freud estava mergulhado, mostra-se inoperante na maioria das situações clínicas. A honestidade e perspicácia de Freud levou- -o a ser paradoxal na clínica, mas, fiel ao catecismo determinista, não se refletiu na sua metapsicologia. Da mesma forma a crença da superioridade do homem masculino sobre a mulher feminina, uma crença secular naturalizada, impediu-o de valorizar os aspectos femininos das relações humanas. Ao pensar no livro como um todo, dois pontos fortes avultam e dominam meu pensamento: 1- uma mudança de ênfase quanto a onde estaria o mais conveniente ponto de inflexão da formação da subjetividade. Para Freud este ponto está na triangulação edípica; para Winnicott a mais relevante inflexão na historia da subjetividade pessoal encontra-se na fase depressiva quando surgem a culpa e o concern em processo de elaboração. A fase depressiva é o ápice do desenvolvimento emocional primitivo. É quando o ser humano coloca-se na posição do Eu sou elaborando-se como pessoa total. 2- A diferença paradigmática entre Freud e Winnicott: para o primeiro a pulsão de morte é a força mais poderosa não só do psiquismo, mas do Universo; para Winnicott a mais poderosa é a força vital, uma expressão equivalente à pulsão de vida. Estas posições divergentes arrastam consigo todo um cortejo de ideias e formas. A pulsão de morte nos encaminha para a luta competitiva, para a máxima do homem como lobo do homem, para o autoritarismo, para a destruição, o egoísmo, o privilégio, a oligarquia. A força vital aponta para o entendimento, o amor, a compaixão, a
Carlos Alberto Plastino 11 empatia, a conciliação, à democracia. Plastino é bem claro ao mostrar que tanto uma teoria quanto a outra admitem a existência e a força tanto do impulso amoroso quanto do impulso destrutivo. A diferença está em que para Freud o impulso destrutivo é primário enquanto que Winnicott a considera uma consequência das vicissitudes da vida. Uma verdadeira democracia estaria impregnada da pulsão de vida enquanto a pulsão de morte nos encaminha para a selvageria capitalista. Plastino não só chama a atenção para o fato das teorias psicanalíticas ultrapassarem, de muito, as fronteiras da psicanálise, como realiza o mesmo trabalho de costura ao qual eu me referi no inicio deste resumo. Política, sociologia, filosofia e epistemologia, entre outras disciplinas do campo das humanidades, entram no mesmo bordado cuidadoso e holístico. Plastino empreendeu esta tarefa com uma disposição invejável, abordando as diferenças dos vários pontos de vista com um raciocínio insistente e poderoso, sempre levando em conta o momento clínico e teórico em pauta. Este é, sem dúvida, um livro contemporâneo que merece um lugar de destaque entre os livros que procuram entender e ferramentar a subjetividade atual. Nahman Armony Psicanalista