PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 18ª REGIÃO 3ª TURMA PROCESSO TRT - ROPS-0012160-08.2017.5.18.0011 RELATOR : DESEMBARGADOR ELVECIO MOURA DOS SANTOS RECORRENTE : ASSOCIACAO EDUCACIONAL NOSSA SENHORA APARECIDA - AENSA ADVOGADO(S) : CARLOS MÁRCIO RISSI MACEDO RECORRIDO : YURI PEREIRA BATISTA ADVOGADO(S) : GABRIEL GOMES BARBOSA ORIGEM : 2ª VT DE APARECIDA DE GOIÂNIA JUIZ(ÍZA) : FERNANDA FERREIRA EMENTA DISPENSA POR JUSTA CAUSA OBREIRA. CARACTERIZAÇÃO. A justa causa é a penalidade aplicada ao empregado em virtude da prática de ato doloso ou culposamente grave que faça desaparecer a confiança e a boa-fé que existem entre o empregado e seu empregador. Tal ocorrência torna impossível a continuação do pacto antes estabelecido, o que leva à rescisão do contrato de trabalho. O motivo que constitui a justa causa é aquele que, por sua natureza ou repetição, representa uma violação dos deveres contratuais por parte do empregado, tornando impossível o prosseguimento da relação de emprego. Sendo assim, a despedida por justa causa requer prova inequívoca da falta grave cometida pelo empregado. Outrossim, em face do princípio da continuidade da relação de emprego que rege o Direito do Trabalho, o ônus da prova quanto à causa da ruptura arbitrária do contrato de trabalho é do empregador, nos termos do art. 818 da CLT, sob pena de ficar configurada a dispensa imotivada. In casu, a Número do documento: 18120608390656000000011731977 Num. 0ae8699 - Pág. 1
reclamada logrou êxito em comprovar a falta grave praticada pelo empregado, hábil a ensejar a rescisão do contrato, desincumbindo-se do seu ônus de prova. Sentença reformada. RELATÓRIO Dispensado o relatório, consoante disposto no art. 852-I, da CLT. VOTO ADMISSIBILIDADE Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade, conheço do Recurso Ordinário interposto pela Reclamada, bem como das Contrarrazões ofertadas pelo Reclamante. MÉRITO DA DEMISSÃO POR JUSTA CAUSA. Sem razão. Número do documento: 18120608390656000000011731977 Num. 0ae8699 - Pág. 2
Num primeiro momento, aplicava, na espécie, o disposto no art. 895, 1º, inciso IV, da CLT, razão pela qual confirmava a r. sentença por seus próprios fundamentos. Registrava apenas que, atento ao princípio da imediatidade, prestigiava a valoração probatória fundamentada feita pelo d. Juízo de origem e que manteve contato direto com as provas testemunhais produzidas. Nada obstante, por ocasião da sessão de julgamento, acolhi divergência manifestada pela Exma. Desora. Rosa Nair da Silva Nogueira Reis, cujos fundamentos transcrevo, "in verbis": "Durante o período de março de 2017 (quando começaram as faltas atribuídas ao trabalhador) a novembro de 2017 (data da sua dispensa por justa causa), foram aplicadas ao reclamante inúmeras medidas disciplinares, entre advertências e suspensões, sempre pelos mesmos motivos: desídia e indisciplina/insubordinação. A falta praticada no dia 22/11/2017, que ensejou a rescisão contratual por justa causa, não havia sido punida anteriormente. O cartão de ponto do dia respectivo confirma que obreiro não retornou para o trabalho após o intervalo intrajornada. A prova documental não deixa dúvidas acerca do comportamento desidioso do trabalhador e não se pode falar em dupla punição e/ou perdão tácito. Salvo melhor juízo, é equivocado o entendimento adotado na origem em relação ao perdão tácito e à progressão da penalidade. Transcrevo: 'A Reclamada aplicou ao Autor inicialmente cinco advertências (fls. 86/90). Posteriormente, recebeu uma suspensão de um dia, por reiterar o ato de não retornar ao labor após o gozo do intervalo intrajornada sem justificativa (fl. 91). Em seguida, cometeu outras faltas e, estranhamente, a empresa voltou a aplicar mais quatro penas de advertência (fls 92/95. 107), o que evidencia perdão tácito com relação às punições anteriormente aplicadas, porquanto a Reclamada regrediu na progressão das penas aplicadas ao trabalhador. Nesse contexto, aplicando nova punição de advertência, deveria a Reclamada, em razão da nova falta, retomar a ordem de progressão das penas, aplicando uma nova suspensão para, somente após, aplicar a pena máxima (dispensa motivada)'. Número do documento: 18120608390656000000011731977 Num. 0ae8699 - Pág. 3
Por fim, ainda que desconsideradas as suspensões aplicadas ao obreiro (porque a testemunha da reclamada disse não se recordar se o reclamante havia sido suspenso), entendo que há fundamento para manter a justa causa, ou seja, o claro desinteresse do autor pelo trabalho ao longo do contrato, corroborado com a conduta de, injustificadamente, não retornar às atividades após o intervalo intrajornada. Lembro, ainda, que, embora não seja comum, a desídia pode ser aplicada por ato único do trabalhador." A tais fundamentos, dou provimento ao recurso patronal, excluindo da condenação o pagamento das parcelas oriundas da dispensa sem justa causa. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. MAJORAÇÃO DE OFÍCIO. Reformada a sentença e sucumbente a parte Reclamante, fixo em 5% sobre os pedidos julgados improcedentes os honorários sucumbenciais em favor do advogado da parte Reclamada. CONCLUSÃO nos termos da fundamentação. Conheço do Recurso Ordinário interposto pela Reclamada e dou-lhe provimento, É o meu voto. Número do documento: 18120608390656000000011731977 Num. 0ae8699 - Pág. 4
ISTO POSTO, acordam os membros da Terceira Turma do Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região, em sessão ordinária hoje realizada, por unanimidade, conhecer do recurso da Reclamada e dar-lhe provimento, para excluir da condenação o pagamento das parcelas oriundas da dispensa sem justa causa, fixando em 5% os honorários sucumbenciais em favor dos patronos da empresa recorrente, tudo nos termos do voto do Relator que acolheu a divergência e a sugestão apresentadas pela Desembargadora Rosa Nair da Silva Nogueira Reis, quanto à justa causa e quanto ao percentual dos honorários advocatícios, respectivamente, e adaptará o voto. Participaram do julgamento os Excelentíssimos Desembargadores ROSA NAIR DA SILVA NOGUEIRA REIS (Presidente), ELVECIO MOURA DOS SANTOS e MÁRIO SÉRGIO BOTTAZZO. Presente na assentada de julgamento o d. representante do Ministério Público do Trabalho. Sessão de julgamento secretariada pela Chefe do Núcleo de Apoio à Terceira Turma, Maria Valdete Machado Teles. Goiânia, 19 de fevereiro de 2019. ELVECIO MOURA DOS SANTOS Desembargador Relator Número do documento: 18120608390656000000011731977 Num. 0ae8699 - Pág. 5