! "$#&%' () *'+,(-. /01 1234 5#6*'798 ESTUDO SOBRE A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ÉTICA NA CONTABILIDADE REALIZADO EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR DO NORDESTE DO BRASIL JOSENILDO COELHO TEODORO (josenildoadv@uol.com.br, graduando do 10º Período de Direito da UNIVERSO, estagiário concursado do TJPE, lotado na 2ª Vara Criminal em Paulista, endereço: Av. Luiz Inácio de Andrade Lima, 300, Bl. C1, apto. 306, Janga, Paulista, PE, (81) 91624249 e (81) 34359261) AURISTELA FÉLIX DE OLIVEIRA (auristelacontabil@uol.com.br, mestre em Ciências Contábeis pelo Programa Multiinstitucional da Unb/UFPE/UFPB/UFRN, docente da Faculdade Santa Helena, endereço: Av. Luiz Inácio de Andrade Lima, 300, Bl. C1, apto. 306, Janga, Paulista, PE, (81) 96361940 e (81) 30230268) JOSÉ FRANCISCO RIBEIRO FILHO (ribeiro@fipecafi.org, mestre em Ciências Contábeis pela Fundação Getúlio Vargas/RJ, doutor em Ciências Contábeis pela Universidade de São Paulo, Professor Adjunto da UFPE) RESUMO Em âmbito nacional e internacional, tem-se discutido incisivamente acerca da postura ética na profissão contábil e seus reflexos nas organizações sociais, possivelmente decorrente de escândalos envolvendo a contabilidade nas quebras de grandes empresas. A Contabilidade enquanto ciência social, vem se adequando às realidades e às necessidades específicas de cada época, e de forma geral tem ajudado a impulsionar o desenvolvimento dos mercados, além de contribuir para o estabelecimento da ordem sócio-econômica mundial. Contudo, nos últimos tempos, a manipulação descomprometida com as reais informações, vem fomentando uma crise de credibilidade a toda classe de profissionais, assim como às partes interessadas nos demonstrativos gerados pela contabilidade. Porquanto, este estudo verificou, através de pesquisa realizada com contadores/docentes e estudantes do curso de ciências contábeis, que a prática contábil tem muito que caminhar em busca de resgatar valores éticos e morais. Observou-se, portanto, que quando se tratava de interesse financeiro e pessoal, os entrevistados evidenciaram uma conduta inadequada ao exercício profissional. Palavras-chave: Ensino da ética; Contabilidade; IES
ABSTRACT In national and international scope, one has possibly argued incisively concerning the ethical position in the countable profession and its consequences in the social organizations, decurrent of scandals having involved the accounting in the company in additions great. The Accounting while social science, comes if adjusting to the realities and the specific necessities of each time, and of general form it has helped to stimulate the development of the markets, besides contributing for the establishment of worldwide the partner-economic order. However, in the last times, the manipulation without commitment with the real information, comes fomenting a crisis of credibility to all classroom of professionals, as well as the interested people in the demonstratives generated for the accounting. Inasmuch as, this study it verified, through research carried through with accountants/professors and students do course of countable sciences, that practical the countable one has much that to walk in search to rescue ethical and moral values. It was observed, therefore, that when was about financial and personal interest, the interviewed ones had evidenced an inadequate behavior to the professional exercise. Keywords: Education of the ethical; Accounting; IES
1. Introdução No cenário atual, a ética é tema de grande discussão e relevância, tendo em vista a conduta praticada por alguns profissionais que aviltam a categoria, e onde as suas atitudes refletem direta ou indiretamente na sociedade em geral. Os problemas ocorridos, nos últimos tempos, com fraudes em grandes corporações mundiais devido à manipulação das informações contábeis, com o objetivo de preservar interesses pessoais, camuflando e manipulando dados, ativam questionamentos e um maior aprofundamento em estudos para se combater posturas aéticas, que possam caracterizar uma crise de credibilidade aos contadores, por serem estes profissionais responsáveis pela geração de informações que revelam a evolução da riqueza patrimonial. Diante deste contexto SILVA (2003, p.58) assevera que a ética vem sendo colocada como requisito imponderável para a sobrevivência das organizações, verificando-se de extrema importância que o estudo e abordagem sobre a ética, no processo de formação profissional seja aplicado de forma mais ativa, experimentada, por toda a graduação, agindo como antídotos contra possíveis condutas antiéticas, constituindo um alicerce para o exercício profissional. Assim, a contribuição cerne deste estudo é criticar a postura simplista deontológica fornecida no ensino da disciplina, evidenciando a importância da conduta ética para o profissional de contabilidade, imprescindível numa perspectiva prática apreendida desde o princípio da formação acadêmica. As carências da sociedade brasileira em termos educacionais, se refletem numa constante busca de uma adequação imposta aos acadêmicos como sendo as novas necessidades. Observa-se uma incessante necessidade de transformação na área educacional, objetivando um profissional que tenha conhecimentos e habilidades computacionais, seja proficiente em duas ou três línguas, que prepare demonstrativos com análises estatísticas com caráter preditivo, que saiba falar em público, dentre outras. O campo de habilidades e conhecimentos é tão vasto, que se poderia preencher todo este estudo só com tópicos, elencando-os. Desta feita, os objetivos desta investigação são: T Apresentar um breve histórico das etapas evolutivas e presencias da contabilidade no desenvolvimento econômico e social; T Demonstrar a importância de uma postura ética do profissional contábil diante das diferentes situações de responsabilidade; T Caracterizar o comportamento ético como condição necessária ao desenvolvimento da profissão e o bem-estar social. A pesquisa está estruturada em cinco seções. Após este intróito, a segunda parte versará sobre a metodologia utilizada, a terceira como o referencial teórico, a quarta tratará da análise dos dados obtidos na investigação e a quinta e última parte será destinada às conclusões alcançadas neste estudo. 2. Metodologia Para se atingir os objetivos propostos, utilizou-se o método científico indutivo, através de pesquisa bibliográfica e de campo com a utilização de formulário. Assim, foi
desenvolvida uma pesquisa descritiva, pois que tem como objetivo principal à descrição de algo e apenas relatar como ocorrem certos fenômenos ou como se comportam certas variáveis em determinada situação e explicativa, por buscar esclarecer o impacto dos fatores investigados neste estudo, no comportamento do profissional contábil. Foi delimitada para a análise, uma amostra intencional de 10 alunos do 1º Período, 10 alunos do 10º Período e 10 professores que fossem contadores e com o registro no Conselho Regional de Contabilidade na condição de ativos, de três Instituições de Ensino Superior da Região Nordeste do Brasil. Ou seja, para cada IES Instituição de Ensino Superior foi selecionada uma amostra de 30 pessoas, portanto totalizando 90 pessoas, para as quais foram colocados quatro dilemas que retratem questões da prática contábil posta em conflito com valores ético e moral. 3. Referencial Teórico 3.1 Um breve histórico da contabilidade perante as transformações sociais A inversão de valores, se aceitando passivamente comportamentos aéticos como fazendo parte do cotidiano social e a quebra de grandes corporações, que são noticiadas mundialmente: Enron Corp., Merrill Lynch, Xerox, World.Com, Parmalat, dentre outras, podem demonstrar uma crise de credibilidade da contabilidade perante a sociedade. São fatores que influenciam o perfil do profissional da Contabilidade. E de que forma? Observa-se o enfraquecimento do controle social exercido pelas agências ideológicas tradicionais, em contrapartida há um aumento na importância de outros agentes, que representam hoje instituições formadoras da opinião social. Figura 1 - Agências de controle social Família, Comunidade local, Escola, Igreja Perdem vigor Empresas, Mercado, Mídia, Estado Ganham peso Fonte: Srour (2000, p. 20) Os contadores executam suas atribuições a milênios antes de Cristo. Buscando sempre adequação às realidades e às necessidades específicas de cada época. No começo, contabilizava-se o que o agricultor ou o pastor de ovelhas possuía, o que se ganhava ou perdia em negócios incipientes, fazendo-se uso de objetos, pedras, barro, sob formatos de animas ou grafadas/esculpidas simbolizando valores. Segundo Schmidt (2000, p. 15-16)
Nas áreas mais férteis, como a antiga Pérsia e a Mesopotâmia, criou-se uma necessidade até então pouco considerada: o controle do produto da agricultura e da criação de animais. Era necessário um sistema para o registro da localização dessas mercadorias, de seus proprietários e das possíveis dívidas surgidas com suas transferências e direitos dos antigos proprietários. E, Schimidt (op. cit, p. 16) ainda assegura que tais registros foram os antecessores e propulsores da escrita e da contagem em sentido abstrato. Posteriormente com partidas simples e depois fazendo uso de mecanismos mais avançados, contabilizava em partidas dobradas. Hendriksen e Van Breda (1999, p. 45) dizem que embora os inventores da contabilidade dispusessem de conceitos tais como moeda, capital próprio e despesas, não dispunham de números negativos, [...] que não foram utilizados em matemática antes do século XVII. Assim, pode-se verificar a contabilidade como precursora da linguagem escrita e antecipando-se a numeração negativa, quando do registro em partidas dobradas. Insurgiram a Revolução Industrial, as estradas de ferro; as empresas que antes possuíam apenas um sócio, abriram seu capital para dar continuidade aos seus empreendimentos. Por conseguinte, as sociedades anônimas, os grandes bancos, a profissionalização dos negócios em bolsas de valores; as necessidades de produzir mais e melhor com menos: mais produtos de melhor qualidade para atender clientes desejosos em possuir bens, que até então eram inimagináveis à classe média, tais como: automóveis, telefones, dentre outros. A primeira grande guerra mundial, a queda da bolsa em Nova York. As grandes empresas, precipuamente as de capital aberto e indústrias solicitaram informações gerenciais, agregando condicionantes de segurança no retorno do investimento. As já existentes organizações de contadores, reportando o papel de responsabilidade social da profissão, adequaram aos seus demonstrativos financeiros, tais necessidades informacionais. E, métodos de custeio avançados não tardaram a chegar: ABC 1 (activity based-costing), custo-meta, custo kaisen, pois a análise de custo/volume/lucro não era mais suficiente. Assim, aliado à profissionalização do contador com seus órgãos de classe, ele se viu na obrigação de se adequar às novas realidades organizacionais. E, veio a segunda grande guerra com sua bomba atômica destruindo Nagazaki e Hiroshima, ricocheteou seus estardalhaços e o estrondo foi sentido em todas as nações do globo. O capitalismo não venceu, nem muito menos o socialismo. Enquanto algumas nações estagnaram outras cresceram, como os Estados Unidos e o Japão. Verifica-se que cada vez mais as pessoas estão desejosas por produtos mais elaborados, engenhosos, por um preço mais acessível. Imersos agora noutra revolução: a informacional. Uma etapa em que o conhecimento é o diferencial, sendo considerado nos dias de hoje, considerado a maior riqueza das nações. Empresas virtuais, sem local fixo e determinado, funcionários que executam seus serviços não necessariamente entre as paredes de organizações. O computador com seus softwares cada vez mais avançados 1 Conforme Aida (1998, p. 88-89) o procedimento de atribuição por meio de atividades foi identificado e estruturado por Robert Kaplan e Robin Cooper em algumas empresas estadunidenses, mas a mensuração do custo das organizações em função das atividades não é algo recente, pois há fortes evidências empíricas sugerindo que o ABC não pode ser considerado uma idéia inovadora na contabilidade de custos (Aida, op. cit, p. 88-89) citando exemplos datados de 1813 datecelagem Boston Manufacturing Co., de 1870 da Railroads e de 1963 da General Eletric.
e potentes: sistemas de desenho (CAD - Computer Aided Design), sistemas de materiais (MRP - Material Requirements Planning), MRP2 (Manufacturing Resources Planning), sistemas de informações gerenciais (ERP Enterprise Resource Planning). O avanço da tecnologia aliada às telecomunicações, a busca por resultados cada vez maiores e em menos tempo. Neste breve histórico, por qual passou e está passando as organizações, o profissional de contabilidade se apresenta com as tarefas de identificar, registrar, mensurar e avaliar a evolução da riqueza a fim de emitir informações úteis ao processo decisório agregando caracteres estratégicos e prospectivos. Observa-se, então, que diante desta crise de idoneidade das informações contábeis, torna-se necessária uma reflexão do comportamento ético-profissional. Possivelmente, um comportamento que subordine suas atividades técnicas e estratégicas a uma prévia reflexão ética e uma ação de forma socialmente responsável, de modo a avançar no conhecimento contábil já auferido, desta maneira sendo a contabilidade um referencial contributivo para o desenvolvimento social. 3.2 Responsabilidade Social: valores materiais e imateriais Devido às transformações sociais, o mercado vem cobrando mudanças na atuação das empresas, na forma que conduzem seus negócios e se relacionam com a sociedade. A visão empresarial do lucro pelo lucro vem cambiando. Tem-se considerado a participação de funcionários, fornecedores, clientes, investidores e da própria comunidade, preocupação com o meio ambiente e com a promoção do bemestar social, enquanto uma necessidade de crescimento e perpetuação das organizações. Segundo Grajeu apud Frey & Seibert (2001, p. 47): envolve o comportamento ético a qualidade das relações que a empresa estabelece com todos os seus clientes. É um processo contínuo de aprendizagem que para se concretizar, deve estar incorporado à gestão de seus negócios, significando um relacionamento de troca entre a empresa e aqueles que a formam. Contudo, a responsabilidade social, também está voltada à divulgação de estratégias de produtividade lucrativa das empresas e os efeitos que suas atividades provocam na sociedade. Neste sentido, verifica-se que as empresas diante de seus objetivos, devem considerar valores éticos e morais, como condição sine qua non ao sucesso de seus empreendimentos, a sustentabilidade a longo prazo de seus negócios. Conforme Tomer (1994) apud Zylberstajn (2002, p. 128-129): os economistas treinados na ortodoxia são incapazes de apreciar argumentos que considerem a responsabilidade social das organizações, desenvolvendo também o argumento da doutrina da firma responsável, que é vista como forma alternativa de controle oferecido pelo mercado ou pelo governo. Tal vertente busca explicar a ação voluntária das organizações a partir da existência de um contrato social implícito entre a organização e o grupo representado pelos stakeholders.[...] As organizações implementam estratégias que as comprometem com uma relação harmoniosa com o ambiente social, que interfere positivamente em seu valor.
Observa-se que o debate da agregação de valor nas organizações empresariais, também passa pela questão ético-moral. À medida que valores intangíveis têm cada vez maior relevância para as empresas, há imprescindibilidade tanto em sua identificação e mensuração, quanto no seu retorno em termos do lucro proporcionado. Portanto, a responsabilidade do profissional de contabilidade como condutor e interprete de dados, em fazer valer a sua importância e a relevância, evidenciando informações reais, transparentes, que referendem a posição de destaque social que a categoria tem ao longo da história, não pode estar dissociada da análise do valor, seja ele monetário, do conhecimento, material ou imaterial. Nessa proposta, os demonstrativos contábeis refletem uma conduta ético-racional-sócio-responsável. as ciências sociais a teorização do saber deve necessariamente transcender seu objetivo, buscando o bem-estar social, isto é, agindo como uma mediadora para que a sociedade se desenvolva, possibilitando a igualdade entre os homens. Por sua vez, a Contabilidade traz essa preocupação por meio de suas teorias, princípios, normas, instrumentos etc., buscando a demonstração da realidade patrimonial. (KROETZ, 2000, p.31). 3.3 A contabilidade contra a corrupção Infelizmente a contabilidade pode ser usada e manipulada para satisfazer objetivos escusos, expressos no repúdio social. Segundo Nye apud Gouveia (2001, p.13): "Corrupção é um comportamento que se desvia dos deveres legais e formais de uma função devido a interesses privados (pessoas, familiares, grupo fechado), de natureza pecuniária ou não". Da mesma forma que a contabilidade pode ser usada com instrumento para satisfazer necessidades obscuras, divergindo de suas finalidades, também pode ser usada como prevenção, no combate à corrupção. Assim, considera-se como complexa e árdua tal tarefa, pois se por um lado há a repulsa social para condutas egocêntricas, em contrapartida há também a cobrança por resultados em curto espaço de tempo. Almeida (2002, p.75 e 81) assente: a noção precisa da importância do fator tempo é fundamental para a gestão da sustentabilidade, [...] assim procedimentos que levam em conta os custos futuros e não apenas os custos presentes, tendem a estimular ganhos de eficiência. Diante do acirramento da competitividade nos mercados, a corrupção pode ser observada por como um caminho rápido e menos complicado para auferir lucros. Não é de se estranhar, a tamanha necessidade de se impingir um controle normatizador como forma de equacionar as motivações que sobrelevam interesses pessoais em detrimento dos sociais, na forma de códigos de ética profissional. Um norte é demonstrado por Nakagawa (1993, p.8) quando diz que: é da maior importância para a formação e atuação profissional do contador que, compreendendo o seu verdadeiro papel no contexto social, político e econômico brasileiro deveria ser o promotor da aplicação do conceito contábil de accountability, como antídoto da corrupção no Brasil. Consagra-se necessária a elevação nos níveis de capacitação profissional por meio de treinamento e de educação continuada, permanente e constante, caracterizandose na informação contábil a excelência qualitativa, como forma de combate à corrupção.
Admitindo-se a premissa de que o profissional solícito a sempre aprender a aprender, pode optar, inclusive, em não corroborar com comportamentos espúrios refletindo numa conduta profissional a ser acompanhada. Desta maneira, acredita-se que profissionais capacitados terão um nível ético e técnico mais elevado, resultando na transparência das informações, num trabalho qualitativo. Pois que, além de conhecimentos e habilidades existe uma responsabilidade pública. São os profissionais que fazem a profissão, por isso o dever da conscientização da responsabilidade social torna-se imprescindível. 3.4 Contabilidade, Tecnologia da Informação e a Responsabilidade Social do contador Segundo Paiva (2002, p. 75): [...] não é somente a ciência ou a tecnologia que cria novos conhecimentos, tornando obsoletos os antigos. A inovação social é tão importante - e com mais freqüência - quanto à inovação científica, entendendo-se que quando mudanças tecnológicas ou científicas acontecem, geralmente está associada a mudanças sociais. E, o autor antes citado, ainda nos diz (2002, p.75): "uma aliança estratégica entre a contabilidade e as novas tecnologias de informação proporcionarão às organizações condições mais seguras para tomarem decisões estratégicas proativamente". Verifica-se esta era como a da informação, onde as empresas precisam robotizarse, de programas estratégicos que trarão inclusive, menos custos, rapidez nos resultados; técnicas que possibilitarão maior compreensão do desenvolvimento da empresa por parte dos gestores. A competitividade obriga aderir mudanças, ou ficar para trás. As transformações das necessidades, as mudanças nos empreendimentos, a redução das distâncias globais requerendo combinações de negócios (business combinations), aliadas e proporcionadas também pelo desenvolvimento tecnológico, têm ocorrido com extrema rapidez e vêm emergindo atenção quanto ao como reduzir custos que não reportem na destruição do valor, impactos ao meio ambiente, convergindo para uma competitividade alicerçada numa visão ampla e racional. Observa-se que a contabilidade está intrinsecamente relacionada ao contexto social funcionando como instrumento de informação. Esta informação é o caminho para o acompanhamento da evolução da riqueza patrimonial. Sendo o profissional contábil quem processa a informação, trás a existência dos fundamentos contábeis dentro de uma empresa, funcionando como um condutor entre um extremo e outro. Portanto, espera-se que este profissional esteja sempre aprimorando suas habilidades. Seu compromisso não se limitando ao ambiente de trabalho fechado e a concepções meramente legalistas, pois que vai além dessas margens, abrangendo usuários externos e internos, governo e a sociedade. O profissional tecnicamente preparado e socialmente apto às transformações, possivelmente se manterá no mercado de trabalho, onde as exigências são inúmeras e se modificam diuturnamente. Assim, ser sensível e flexível às necessidades informativas de seus clientes, refletindo perspectivas adequadas às mudanças e exigências sociais. A responsabilidade do profissional de contabilidade é tanta, que ele pode elevar ou reduzir uma empresa ao fracasso. Denegrir a imagem de uma classe ou enaltecê-la. O contador deve estar no centro, na liderança do processo, pois do contrário, seu lugar vai ser ocupado por outro profissional. O contador deve saber comunicar-se com as outras áreas da empresa. Para tanto,
não pode ficar com os conhecimentos restritos aos temas contábeis e fiscais, inteirando-se do que acontece ao seu redor na comunidade, no seu Estado, no seu País, no mundo. O contador deve ter um comportamento ético-profissional inquestionável. O contador deve participar de eventos destinados à sua permanente atualização profissional (educação continuada). O contador deve estar consciente de sua responsabilidade social e profissional (NASI apud FREY & SEIBERT, 2001, p. 15). Estar preparado posiciona competitivamente o profissional contábil, pois o mesmo precisa assumir suas funções, calcada em valores ético e moral. Vê-se que a assepticidade é impossível, tendo em vista a complexidade inerente ao ser humano. Estar em atividade profissional, representa estar aberto a influências. Sejam econômicas, sociais, conjunturais, etc. Isto significa, que o assédio imediatistaoportunista de vantagens ilícitas que gerem benefícios pessoais, é uma realidade profissional. Assim, a abordagem ética constantemente praticada, configura-se como um enfoque fundamental ao contador. A ética é ramo mais prático da filosofia. Ocupa-se das ações dos homens, e como estas estão em grande parte dirigidas para a obtenção dos meios de vida, e para assegurar a continuação da vida humana, a ética está intimamente associada à base econômica da sociedade. [...] A decadência moral da sociedade capitalista é a conseqüência de um sistema econômico que não pode absorver os valores que são capazes de produzir, e julga lucrativo desviar o esforço humano para a produção de objetos efêmeros e daninhos, desperdiçando com isso a capacidade natural do homem. (ASH, 1965, p.17 e 98) A questão ética e moral na contabilidade, pelo visto, é cada dia mais relevante, porém, segundo Vazquez apud Freire (1989, p. 53-54) não são estas que transformarão a sociedade, mas a consciência do homem de ser sujeito da história que o levará a intervir na transformação de acordo com as condições reais existentes na sociedade. O ser humano é dotado de valores, princípios, conduta moral, porém está sujeito a corromper-se ou atender a seus anseios pessoais. Muitas vezes o nível de qualidade de seus serviços está nivelado em seus próprios desejos. Assim, a ética é um princípio fundamental e necessário, inclusive como norteador da conduta humana em sociedade. Entende-se que a formação ética de um profissional definirá sua conduta no futuro e isso, conseqüentemente, se refletirá na cultura e respectiva saúde econômica de seu país. Tal como escreve Knechel (1997, p. 422): 4. Análise dos dados uma das restrições mais importantes que tem a pessoa que toma decisão na hora de fazê-lo é seu código pessoal de ética ou moral. A ética pessoal não muda a natureza do processo de contabilizar, mas a sensação individual de se fazer às coisas corretamente, e não se equivocando terá um impacto direto na hora de definir o problema, estudar os critérios e avaliar as alternativas possíveis em cada decisão. A pesquisa foi realizada no mês de abril/2005 em três IES - Instituições de Ensino Superior da região Nordeste do Brasil. Estando localizadas dessa forma: Recife/PE, Natal/RN e João Pessoa/PB.
A partir de 4 dilemas, foi-se posto à prova valores éticos e morais associados à conduta profissional estruturados num formulário entregue pessoalmente a 10 alunos do 1º Período, 10 alunos do 10º Período e 10 docentes/contadores. 1º dilema Uma indústria adquiriu uma nova máquina e você foi informado verbalmente que deveria contabilizá-la pelo valor de R$ 500.000,00. Porém, o proprietário da empresa não mostrou documentos comprobatórios (Nota Fiscal) da aquisição. Como contador desta empresa, você registra o bem? Quadro 1 Respostas do 1º dilema Estado/ cidade Alunos do 1 Período Alunos do 10 Período Professores/contadores Concordo Discordo Concordo Discordo Concordo Discordo RN/Natal 30% 70% 20% 80% 10% 90% PE/Igarassu 40% 60% 30% 70% 20% 80% PB/Campina Grande 20% 80% 10% 90% 0% 100% 30% 70% 20% 80% 10% 90% X Fonte: Pesquisa de campo, 2005. Diante das respostas, observou-se que o percentual maior de respondentes que concordou com o registro contábil sem documentação comprobatória, foi dos alunos do 1 Período. Denota, que possivelmente, seja em decorrência de sua recente inserção na graduação, muito embora conforme demonstrado através da pesquisa, um percentual médio de 10% dos Professores/Contadores, também concordarem com tal registro. Os respondentes que concordaram, em sua maioria, deram como justificativa o receio de perder o emprego. 2º dilema Um empresário durante todo o ano emitiu diversas notas fiscais de seu estabelecimento em favor de outro empresário que precisava deste documento para ganhar licitações. E, assim ao final do ano, observou que o limite de enquadramento no Simples determinado pela Receita Federal foi ultrapassado. No entanto, o empresário ofereceu uma comissão ao contador para que o mesmo conseguisse ludibriar o órgão competente, alterando os valores. O contador que se encontrava em dificuldades financeiras, aceitou o serviço. Quadro 2 Respostas do 2º dilema Estado/ cidade Alunos do 1 Período Alunos do 10 Período Professores/contadores Concordo Discordo Concordo Discordo Concordo Discordo RN/Natal 60% 40% 40% 60% 20% 80% PE/Igarassu 80% 20% 60% 40% 40% 60%
PB/Campina Grande 30% 70% 20% 80% 10% 90% 56,67% 43,33% 40% 60% 23,33% 76,67% X Fonte: Pesquisa de campo, 2005. Como se pode verificar, no dilema não foi informado o quantitativo financeiro a se receber pela realização do serviço, e o respondente assume a premissa que está passando por dificuldades financeiras. Conforme as respostas, ficou evidenciado que o valor para ludibriar o órgão competente é menos importante que a situação financeira pessoal dos respondentes que concordaram. Assim como no 1º dilema, a maioria dos que concordaram com o eticamente incorreto, foi dos alunos do 1 Período, mas que também os Professores/docentes mesmo tendo conhecimento da irregularidade, apresentou o percentual de 23,33% de concordantes. A justificativa da maioria dos respondentes, foi de que estavam em dificuldades financeiras e órgão competente não iria tomar conhecimento. Outro ponto que merece destaque, é que em comparação com o primeiro dilema que não envolvia motivações financeiras, o percentual geral de respondentes que concordaram com a conduta incorreta no 2 dilema foi maior, ou seja, 40%. Enquanto que no 1 dilema foi de 20%. 3º dilema Você é contador de uma indústria de produtos químicos (soda cáustica, cloro, etc.). Apesar de saber que os rios vizinhos estão recebendo dejetos de produtos, possibilitando um possível processo judicial para a empresa, você não registra os fatos como reserva de contingência e nem ao menos no passivo ambiental. Então, deveria ter feito o registro? Quadro 3 Respostas do 3º dilema Estado/ cidade Alunos do 1 Período Alunos do 10 Período Professores/contadores Concordo Discordo Concordo Discordo Concordo Discordo RN/Natal 90% 10% 90% 10% 100% 0% PE/Igarassu 90% 10% 90% 10% 100% 0% PB/Campina Grande 100% 0% 100% 0% 100% 0% 93,33% 6,67% 93,33% 6,67% 100% 0% X Fonte: Pesquisa de campo, 2005. Comparando-se o 1 com o 3º dilema que não envolvem questões financeiras, verificou-se que no 1º a justificativa da maioria dos respondentes para atitudes eticamente incorretas, seria o receio em se perder o emprego, então se pode inferir por analogia a mesma justificativa para o 3º. Pois, a empresa caso sofra um processo judicial, conseqüentemente o contador pode ser também co-responsabilizado por não ter feito o registro, inclusive a empresa podendo vir a falir. Porém, a justificativa para os respondentes que concordaram com o registro, os quais representam quase a totalidade (95,55%), seria a preocupação com o meio ambiente e com a provável certeza do fato ocorrer.
4º dilema A empresa que você trabalha pediu que você falsificasse uma certidão. E, por este serviço você receberia R$ 50.000,00. Seu filho está doente e precisa fazer urgentemente uma cirurgia, e com esta importância seria possível custear as despesas médico-hospitalares. Você executaria o serviço? Quadro 4 Respostas do 4º dilema Estado/ cidade Alunos do 1 Período Alunos do 10 Período Professores/contadores Concordo Discordo Concordo Discordo Concordo Discordo RN/Natal 70% 30% 60% 40% 50% 50% PE/Igarassu 70% 30% 70% 30% 50% 50% PB/Campina Grande 60% 40% 50% 50% 40% 60% 66,67% 33,33% 60% 40% 46,67% 53,33% X Fonte: Pesquisa de campo, 2005. Fazendo um comparativo do 2 com o 4 dilema, pode-se observar que como o aquele não tinha especificamente o valor da comissão, apenas apresentava a condição de se estar em dificuldades financeiras e não envolvia questões de saúde. Neste, há uma certa quantia predeterminada a receber, a qual será destinada para custear as despesas médico-hospitalares para uma cirurgia de um filho. Observa-se, portanto, que o quantitativo de respondentes concordantes com a conduta não ética foi maior tanto em relação ao 2 dilema, quanto em relação a todos os outros, ou seja, 57,78%. A justificativa preponderante de concordância foi a de aceitar com o propósito em restabelecer a saúde do filho. 5. Conclusão Tendo em vista o quantitativo da amostra, não se pode inferir os resultados encontrados para a toda a população, assim se pode concluir, ressalvada às limitações da pesquisa, que a prática contábil tem muito que caminhar em busca de resgatar valores éticos e morais. Observou-se que quando se tratava de interesse financeiro e/ou pessoal, a maioria dos entrevistados evidenciou uma conduta inadequada ao exercício profissional. Mas, que há uma preocupação pelas questões ambientais e no registro contábil devidamente comprovado. Verifica-se que mesmo 8 anos após a Resolução 803/96 que instituiu o Código de Ética Profissional pelo Conselho Federal de Contabilidade, onde o mesmo prevê inclusive sanções para os profissionais que o transgridem, alguns ainda continuam com uma conduta perniciosa e nociva à categoria profissional. Como a pesquisa foi realizada em Instituições de Ensino Superior, deixa-se a sugestão para que o ensino contábil, adéqüe em todas as disciplinas do currículo da graduação do curso de ciências contábeis, componentes éticos. E, ainda, que no ensino de ética não seja focalizado apenas o Código de Ética Profissional, não pormenorizando sua importância, mas observa-se que não é a única maneira para dar sustentação a uma postura moralmente correta.
Ressalta-se que a abordagem do ensino focada apenas no contexto ético-deontológico, é resultado, possivelmente, do velho paradigma cartesiano reducionista e mecanicista, com sua visão fragmentada de mundo, onde o universo e as pessoas que nele existem formam um conjunto de partes isoladas, exato e previsível. As transformações cada vez mais rápidas causadas pela tecnologia induzem à instabilidade econômica e social. O velho paradigma não dá conta de entender e lidar com as complexidades e sutilezas dessas transformações. Assim, propõe-se um enfoque voltado à integração e interação, pois que tudo está inter-relacionado, em permanente diálogo. Porquanto, simplificar as condutas dos seres humanos numa perspectiva histórico-ético-morais, de maneira a sistematizá-las em leis e/ou códigos, não compactua com as complexidades, adversidades e as transformações inerentes aos procedimentos face a estímulos sociais ou a sentimentos e necessidades íntimos ou uma combinação de ambos. Finalmente, conclui-se necessário construir ao longo da graduação um forte embasamento ético-moral em todas as disciplinas da matriz curricular, sendo a ética abordada de forma contínua e progressiva, em todas as fases da vida acadêmica, tendo como propósito motivar o crescimento de uma postura sócio-responsável de maneira a garantir o sucesso e a excelência do profissional contábil. 6. Referências Bibliográficas ALMEIDA, Fernando. O bom negócio da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. ASH, William. Marxismo e moral. Tradução: Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1965. FREIRE, José Célio. Ética e Psicologia: uma crítica a teoria e a prática psicológicas. Educação em Debate, Fortaleza CE,, v.17-18, 1990. FREY, Márcia Rosane; SEIBERT, Rene Luiz. Anais II Seminário de trabalhos científicos em contabilidade da UNISC, Rio Grande do Sul: EDUNISC: Conselho Regional de Contabilidade, 2001. KROETZ, Cesar Eduardo Stevens. Balanço social teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2000 KNECHEL, W. Robert. Auditing Text and Cases. Cincinnati, Ohio : South-Western College Publishing/International Thomson Publishing Company, 1997. NAKAGAWA, Masayuki. Introdução a controladoria: conceitos, sistemas e implementação. São Paulo: Atlas, 1993. PAIVA, Simone Bastos. A contabilidade e as novas tecnologias de informação: uma aliança estratégica. Revista Brasileira de Contabilidade, nº 135, maio/junho, 2002. SILVA, Jorge L. Rosa. Ética algumas considerações sobre o tema. Revista do CRC- RS: nº 114/out. 2003.
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