Armazenamento de ovos de Plutella xylostella (L., 1758) (Lepidoptera: Plutellidae) em diferentes temperaturas e períodos de exposição. Alessandra Karina Otuka 1 ; Sergio Antonio De Bortoli 1 ; Jacqueline Midori Maeda 1 ; Elizabeth do Carmo Pedroso 1 ; Alessandra Marieli Vacari 1 ; Wanderlei Dibelli 1 1 FCAV/Unesp Dep. Fitossanidade Laboratório de Biologia e Criação de Insetos, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane s/n, CEP: 14884-990 Jaboticabal-SP). e-mail: ale_otuka@yahoo.com.br, bortoli@fcav.unesp.br, jaque.mi.ma@hotmail.com, bethcpo@hotmail.com, amvacari@gmail.com, wdibelli@fcav.unesp.br RESUMO Ovos de Plutella xylostella foram armazenados em diferentes temperaturas e períodos objetivando avaliar o desenvolvimento das fases imaturas pós estocagem. Os tratamentos utilizados foram: 0, 5, 10, 15, 20, 25 e 30 dias de armazenamento, nas temperaturas de 3, 5, 8, 10 e 12 C, sendo 0 a testemunha, mantida em 25±1 C, 70±10% UR e 12 horas de fotofase. Cada parcela experimental foi constituída de 500 ovos, colados em cartelas de papel quadriculado (com um ovo por área de 0,4 x 0,5cm), totalizando 100 ovos por repetição. Os parâmetros avaliados foram: viabilidade de ovos, duração larval e pupal, viabilidade larval e pupal e razão sexual. Os ovos armazenados nas temperaturas de 10 e 12ºC apresentaram a maior viabilidade de ovos e a menor duração pupal, não diferindo nos demais parâmetros. Armazenando-se ovos de P. xylostella observou-se a inviabilização dos ovos no período de 30 dias nas diferentes temperaturas. Portanto, ovos de P. xylostella podem ser armazenados por até 15 dias a 8 C sem afetar significativamente o desenvolvimento das fases imaturas. Palavras-chave: fecundidade, biologia de insetos, traça-das-crucíferas. ABSTRACT Effect of egg storage in the biological parameters of Plutella xylostella (L.) (Lep.: Plutellidae). Plutella xylostella eggs were stored at different temperatures and periods to evaluate the development of the immature stages. The treatments were 0, 5, 10, 15, 20, 25 and 30 days of storage at temperatures of 3, 5, 8, 10 and 12 C, "0" the control. Each experimental plot was established with of 500 eggs, which were glued on the graph paper (with one egg per area of 0,4 x 0,5 cm). The parameters evaluated were: egg viability, the length of larvae and pupae S989
period, larvae and pupae viability and 100% of embryo death. Therefore, eggs sex ratio. Temperatures of 10 and 12 C showed the highest egg viability and lower pupae period length did not differing of the other parameters. The storage of P. xylostella eggs for 30 days in all the tested temperatures showed of diamondback moth can be stored up to 15 days at 8 C with no significant effect on development of the immature stages Keywords: fecundity, biology of insects, diamondback moth. INTRODUÇÃO A traça-das-crucíferas, Plutella xylostella (L.) (Lepidoptera: Plutellidae), é uma praga cosmopolita, comumente referida como causadora de elevados prejuízos em brassicáceas, e de modo particular em repolho, tanto no Brasil (Castelo Branco et al., 1996, França & Medeiros, 1998), quanto em outros países produtores (Talekar & Shelton, 1993, Godin & Boivin, 1998). As lagartas, a partir do segundo estádio, perfuram as folhas das cabeças de repolho, diminuindo o valor comercial do produto. Segundo Barros et al. (1993), existe relação direta entre o desenvolvimento fenológico da cultura e o aumento dos danos ocasionados pela praga, os quais, por serem irreversíveis, impõem que as medidas de controle devam ser adotadas ainda no início da formação das cabeças. Seu controle é realizado basicamente por meio de agrotóxicos que podem ser prejudiciais ao ambiente, aos animais e até mesmo ao homem. Sendo assim, estudos sobre criações massais desse inseto em laboratório são primordiais para que se possam realizar pesquisas sobre métodos de controle menos agressivos ao meio ambiente. Portanto, o objetivo desse trabalho foi avaliar a influência da temperatura e do tempo de armazenamento no desenvolvimento de ovos de P. xylostella, procurando facilitar o manejo da criação em laboratório, utilizada para experimentações de controle dessa praga. MATERIAL E MÉTODOS Os ovos de P. xylostella foram provenientes da criação do Laboratório de Biologia e Criação de Insetos (LBCI), FCAV-Unesp, onde também foi realizado o experimento. Os tratamentos utilizados foram: 0, 5, 10, 15, 20, 25, 30 dias de armazenamento, nas temperaturas de 3, 5, 8, 10, 12 C. A testemunha 0 foi mantida em sala climatizada com temperatura de 25±1ºC, UR de 70±10% e fotofase de 12 horas. Cada parcela S990
experimental foi constituída de 500 ovos com 0 a 12 horas da postura, sendo 5 repetições com 100 ovos cada. Os ovos foram colados em cartelas de papel quadriculado (com um ovo por área de 0,4 x 0,5cm), totalizando 100 ovos, que foram acondicionados em placas de Petri com diâmetro de 14cm sobre papel filtro umedecido, e expostas aos respectivos tratamentos. Os parâmetros avaliados foram: viabilidade de ovos, lagartas e pupas, duração larval e pupal e razão sexual. As diferenças significativas entre os níveis dos efeitos principais (temperatura e período de exposição) foram comparados pelo teste de Fisher (LSD). As análises foram processadas no programa Statística versão 7.0 (Statsoft Inc., 2004). RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela 1 apresenta os resultados da análise fatorial realizada com os dados da fase imatura do inseto avaliado juntamente com suas respectivas ANOVA e média do teste de comparações múltiplas. Três fatores são responsáveis por 69% da variabilidade dos dados globais e a ANOVA aplicada indica efeito significativo do período de exposição e não significativo da interação temperatura x período de exposição. O primeiro fator da fase imatura do inseto (F1 = viabilidade de ovos e duração larval) mostra a fase inicial do inseto e é responsável por 27% da variabilidade dos dados. Este fator tem correlação com as variáveis: viabilidade dos ovos e duração larval. Na Tabela 1 nota-se sinais contrários das correlações dessas duas variáveis indicando que quanto maior a viabilidade dos ovos menor a duração larval. O fator reflete dois tipos de processos que são negativamente correlacionados: por um lado, a duração larval foi relativamente elevada nas temperaturas de 3, 5 e 8 o C e reduzida nas temperaturas de 10 e 12 o C devido ao aumento da temperatura que favorece o desenvolvimento mais acelerado do inseto; por outro lado, a viabilidade dos ovos cresceu com o aumento da temperatura (Figura 1). Liu et al. (2002), trabalhando com as temperaturas de 4, 6, 8, 10, 12, 14, 16, 18, 20, 22, 24, 26, 28, 30, 32, 34 e 36 o C, também observaram diminuição da duração larval de 52 dias a 8 o C para 6 dias a 36 o C. Quanto menor o tempo de exposição, maior a viabilidade dos ovos e menor a duração larval (Figura 2). Ovos de P. xylostella armazenados por 4 e 6 o C apresentaram viabilidade reduzida de 100 para 25% com o aumento do tempo de armazenamento de 0 a 35 dias (Liu et al., 2002). Os escores de F1 apresentaram distribuição normal e estabilidade na variância. A interação temperatura x período de exposição não foi significativa para o mesmo fator. O segundo fator da fase S991
imatura do inseto (F2 = viabilidades) reflete a importância da viabilidade larval e pupal. Representa 24% da variabilidade remanescente, e apresentou correlação com as viabilidades pupal e larval. Na Tabela 1 observa-se que essas duas viabilidades apresentam sinais iguais, indicando que à medida que uma diminui a outra também diminui ou à medida que uma aumenta a outra também aumenta. Neste fator, a comparação entre as temperaturas não foi significativa (Figura 3). O aumento do tempo de exposição reduziu a viabilidade das lagartas de 90,3% (testemunha) a 41,2% (25 dias) (Figura 4), visto que temperaturas baixas podem influenciar no processo metabólico do inseto produzindo substâncias inadequadas para a eclosão das lagartas (Tulisalo, 1984). A interação temperatura x período de exposição para F2 não foi significativa e os escores de F2 apresentaram distribuição normal e estabilidade na variância. O terceiro fator da fase imatura do inseto (F3 = duração pupal e razão sexual) reflete a importância da duração pupal na obtenção do número de fêmeas e é responsável por 18% da variabilidade remanescente. Este fator se correlaciona com as variáveis: duração pupal e razão sexual. Na Tabela 1 observa-se que essas duas variáveis possuem sinais contrários indicando que, com o aumento da duração pupal há uma diminuição na razão sexual. Este fator provavelmente está relacionado ao fato de baixas temperaturas e longos tempos de exposição aumentar a duração pupal, influenciando assim, no número de fêmeas produzidas (Liu et al., 2002). Em baixas temperaturas o inseto diminui sua taxa metabólica e desenvolvimento como forma de sobrevivência até que a temperatura adequada para o seu desenvolvimento retorne e, isto faz com que a duração pupal seja aumentada (Tulisalo, 1984). A comparação entre as temperaturas não foi significativa (Figura 5), mas entre os tempos de estocagem apresentou significância. Pela Figura 6 observa-se que 10 e 15 dias de armazenamento diferem entre si e que 0, 5, 20 e 25 dias de armazenamento foram semelhantes. Ainda pela mesma figura, conforme aumenta a duração do período pupal, a razão sexual diminui. Assim, conclui-se o armazenamento de ovos de P. xylostella pode ser realizado por até 15 dias a 8ºC não afetando a biologia do inseto pós-armazenamento e prolongado o ciclo de uma geração em 15 dias. AGRADECIMENTOS S992
Ao CNPq e a Fapesp pela concessão de bolsas. REFERÊNCIAS CASTELO BRANCO M; VILLAS BÔAS GL; FRANÇA FH. 1996. Nível de dano de traça-das-crucíferas em repolho. Hort. Bras. 14: 154-157. BARROS R; ALBERT JÚNIOR IB; OLIVEIRA AJ, SOUZA ACF; LOGES V. 1993. Controle químico da traça-das-crucíferas, Plutella xylostella L. (Lepidoptera: Plutellidae) em repolho. An. Soc. Entomol. Brasil 22: 463-469. GODIN C; BOIVIN G. 1998. Seasonal occurence of lepidopterous pests of cruciferous crops in Southwestern Quebec in relation to degree-day accumulations. Can. Entomol. 130: 173-185. FRANÇA FH; MEDEIROS MA. 1998. Impacto da combinação de inseticidas sobre a produção de repolho e parasitóides associados com a traça-das-crucíferas. Hort. Bras.16: 132-135. LIU SS; CHEN FZ; ZALUCKI MP. 2002. Development and survival of the diamondback moth, Plutella xylostella, at constant and alternating temperatures. Environ. Entomol. 31: 1-12. STATSOFT INC. 2004. Statistica: data analysis software system, version 7. Tulsa, 2004. Disponível em: <http://www.statsoft.com>. Acesso em: 25 jul. 2005. TALEKAR NS; SHELTON AM. 1993. Biology, ecology and management of the diamondback moth. Annu. Rev. Entomol. 38: 273-301. TULISALO U. 1984. Mass rearing techniques. In: CANARD M; SEMERIA Y; NEW TR. (Eds). Biology of Chrysopidae. Netherlands: W. Junk Publishers, p.213 220. Tabela 1. Resultados da análise fatorial, ANOVA e teste de Fisher (LSD) para os parâmetros da fase imatura de Plutella xylostella durante os diferentes períodos de exposição nas diferentes temperaturas, sendo F1 = viabilidade de ovos e duração larval, F2 = viabilidade e F3 = duração pupal e razão sexual (Results of factor analysis, ANOVA and Fisher (LSD) for the parameters of the immature stage of Plutella xylostella during different periods of exposure at different temperatures, where F1 = egg viability and larval duration, F2 = F3 = term viability and pupal and sex ratio) Jaboticabal, UNESP, 2011. S993
Fatores F1 F2 F3 Viabilidade de Ovos 0,837095 c 0,015407 0,059221 Duração Larval -0,864310 0,159487 0,037004 Viabilidade das Lagartas 0,399093-0,759776-0,161397 Viabilidade Pupal -0,068697-0,899095 0,112169 Duração Pupal 0,116154 0,006112 0,709227 Razão Sexual 0,087810 0,037392-0,737996 Variância explicada (%) 27 24 18 Interpretação Viabilidade de ovos vs. duração larval Viabilidade Duração pupal vs. razão sexual Modelos da ANOVA a Significância *** *** *** r 2 0,86 0,47 0,36 Fonte de variância Sign. %SS Sign. %SS Sign. %SS Temperatura 5,5 *** 5,6 ns 6,9 ns Período de exposição 82,4 *** 45,9 *** 24,3 *** Temperatura x período de exposição 12,1 ns 48,5 ns 68,8 ns Comparações múltiplas das médias pela temperatura b 3 o C b a a 5 o C b a a 8 o C b a a 10 o C a a a 12 o C a a a Comparações múltiplas das médias pelo período de exposição b 0 dias a a bc 5 dias b c ab 10 dias c b c 15 dias d b a 20 dias e b bc 25 dias e bc ab a Níveis de significância: *P=0.05, **P=0.01, ***P=0.001, ns=não significativo; r 2 : coeficiente de determinação; %SS: porcentagem do total da soma de quadrados; b Comparações múltiplas das médias: valores seguidos pela mesma letra em cada coluna não são significativos ao nível de 0,05. a>b>... c Coeficientes dos fatores em negrito foram utilizados para a interpretação (Significance levels: * P = 0.05, ** P = 0.01, *** P = 0.001, ns = not significant; r 2 : coefficient of determination; %SS: percentage of the total sum of squares; b Multiple comparisons of means : Values followed by the same letter in each column are not significant at the 0.05 level. a> b >... c Coefficients of the factors in bold were used for interpretation) S994
Figura 1. Média dos escores de F1 que correlaciona as variáveis: viabilidade de ovos (VO) e duração larval (DL) nas diferentes temperaturas (Average scores of F1 correlates variables: egg viability (VO) and larval (DL) at different temperatures) Jaboticabal, UNESP, 2011. Figura 2. Média dos escores de F1 que correlaciona as variáveis: viabilidade de ovos (VO) e duração larval (DL) nos diferentes períodos de exposição ( Average scores of F1 correlates variables: egg viability (VO) and larval duration (DL) in different periods of exposure). Jaboticabal, UNESP, 2011. Figura 3. Média dos escores de F2 que correlaciona as viabilidades larval (VL) e pupal (VP) nas diferentes temperaturas (Average scores for F2 which correlates the larval (VL) and pupal (VP) at different temperatures) Jaboticabal, UNESP, 2011. S995
Figura 4. Média dos escores de F2 que correlaciona as viabilidades larval (VL) e pupal (VP) nos diferentes períodos de exposição (Average scores for F2 which correlates the larval (VL) and pupal (VP) in different periods of exposure). Jaboticabal, UNESP, 2011. Figura 5. Média dos escores de F3 que correlaciona as variáveis: duração pupal (DP) e razão sexual (RS) nas diferentes temperaturas (Average scores of F3 that correlates the variables pupal duration (DP) and sex ratio (RS) at different temperatures). Jaboticabal, UNESP, 2011. Figura 6. Média dos escores de F3 que correlaciona as variáveis: duração pupal (DP) e razão sexual (RS) nos diferentes períodos de exposição (Average scores of F3 that correlates the variables pupal duration (DP) and sex ratio (RS) in different periods of exposure). Jaboticabal, UNESP, 2011. S996