DESENVOLVIMENTO DE UMA PLANILHA ELETRÔNICA PARA A DETERMINAÇÃO DA POTÊNCIA DISPONÍVEL NA BARRA DE TRAÇÃO DE TRATORES AGRÍCOLAS



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Transcrição:

NOTA TÉCNICA DESENVOLVIMENTO DE UMA PLANILHA ELETRÔNICA PARA A DETERMINAÇÃO DA POTÊNCIA DISPONÍVEL NA BARRA DE TRAÇÃO DE TRATORES AGRÍCOLAS Fabio Lúcio Santos 1, Haroldo Carlos Fernandes 2, Paula Cristina N. Rinaldi 3 RESUMO Neste trabalho, desenvolveu-se uma planilha eletrônica, implementada a partir de um algoritmo desenvolvido em Visual Basic, para determinação da potência disponível na barra de tração. Adotou-se um procedimento que permite determinar da força de tração, velocidade, potência disponível na barra de tração, consumo horário, consumo específico, patinagem e coeficiente de tração do trator ensaiado. Possibilita, ainda, o cálculo da potência disponível na barra de tração, considerando regra baseada no Fator 0,86, proposta por Wendel Bowers, equação de rendimento de tração e a norma ASAE D497 4. Essa planilha pode ser considerada como uma ferramenta eficiente e rápida para análises relativas à potência disponível na barra de tração de um trator. Palavras-chave: ensaio, tratores, simulação. ABSTRACT Developing an electronic sheet for determination of the available draw power in agricultural tractors In this study, an electronic sheet was developed and implemented from algorithm developed in Visual Basic, in order to determine the available draw power. The adopted procedure allows for determination of the traction force, speed, available draw power, fuel consumption, specific fuel consumption, skidding, and tractor traction coefficient. Besides, it allows for calculating the available draw power, by considering the Factor 0,86, based rule proposed by Wendel Bowers, traction yield equation and the rule ASAE D497 4. This electronic sheet can be considered as a fast and efficient tool for those analysis related to the drawbar effective power in the tractor. Keywords: trial, tractors, simulation. 1 Eng. Agrícola, Doutorando, DEA UFV, Bolsista CAPES, Viçosa MG. E-mail: ffabiolss@yahoo.com.br 2 Eng. Agrícola, Prof. Adjunto, UFV DEA, Viçosa/MG. E-mail: haroldo@ufv.br 3 Eng. Agrícola, DEA UFV, Viçosa MG. 122

INTRODUÇÃO A barra de tração é um dos meios de aproveitamento da potência do trator e destina-se a desenvolver força, a qual é comumente direcionada para tração de máquinas e implementos, que necessitam ser deslocados ao longo da área de trabalho. A potência disponível na barra de tração pode ser determinada, a partir do ensaio na barra de tração, sendo este realizado em pista de concreto para tratores de pneus (Mialhe, 1996). A partir deste ensaio, pode-se obter parâmetros quantitativos relativos à força de tração, velocidade, consumo específico, patinagem e potência disponível na barra de tração. Segundo Liljedahl et al. (1995), a transmissão de potência por meio da barra de tração, embora menos eficiente em relação à tomada de potência e ao sistema hidráulico, é a forma mais comum de utilização do trator agrícola devido sua versatilidade. Fatores como o tipo de solo, a geometria do trator e a distribuição de peso sobre os rodados durante a operação contribuem para o baixo desempenho da transmissão de potência por meio da barra de tração, sendo a patinagem o principal motivo para o mesmo. De acordo com Mialhe (1991), dependendo das condições de operação do trator, as perdas na transmissão de potência do motor para a barra de tração podem atingir altos níveis, comprometendo o desempenho do trator. A tração é, diretamente, influenciada pelo sistema rodado-solo, o qual varia em função do tipo de solo e do pneu empregado, sendo esta influência devida à patinagem (YANAI et al., 1999). A patinagem ocorre, quando existe deslizamento entre a superfície da banda de rodagem e o solo, durante a operação, sendo facilmente visualizada a partir do movimento giratório das rodas motrizes do trator com pequeno ou nenhum avanço das mesmas (Mialhe, 1991; Gamero & Lanças, 1996; Corrêa et al., 1999). Portanto, torna-se imprescindível conhecer a força e, conseqüentemente, a potência disponível na barra de tração dos tratores agrícolas, uma vez que, a partir do conhecimento desta potência, pode-se dimensionar implementos adequados à capacidade do trator. Alguns trabalhos têm sido desenvolvidos no sentido de determinar a potência disponível na barra de tração, considerando-se variados tipos e condições de solo, como a regra sugerida por Wendel Bowers conhecida como Fator 0,86, a equação do rendimento de tração e a norma ASAE D497 4 (2000). Este trabalho teve, como principal objetivo, a elaboração de uma planilha eletrônica a partir do desenvolvimento de um algoritmo implementado em Visual Basic, para a determinação de informações referentes à força de tração, velocidade, potência disponível na barra de tração, consumo horário, consumo específico, patinagem e coeficiente de tração de um trator, a partir de dados relativos ao ensaio na barra de tração do mesmo, bem como possibilitar o cálculo da potência efetiva na barra de tração calculada, considerando a regra do Fator 0,86 proposta por Wendel Bowers (Santos Filho & Santos, 2001), a equação de rendimento de tração (Mialhe, 1996) e a norma ASAE D497 4. MATERIAL E MÉTODOS A planilha eletrônica foi desenvolvida a partir da elaboração de programa em Visual Basic, considerando-se a entrada de dados referentes às características do trator, bem como informações obtidas durante o ensaio na barra de tração, tais como o tempo de duração do tiro (teste em determinada carga), consumo de combustível (ml), número de voltas da roda motora e leitura da célula de carga utilizada. A partir desses dados, pode-se calcular a força de tração (N), velocidade (m/s), potência disponível na barra de tração (kw), consumo horário (L/h), consumo específico (g/kw h), patinagem (%) e coeficiente de tração (%), durante o ensaio de tração, para tratores 4x2 e 4x4. 123

A planilha eletrônica, para cada carga empregada no ensaio da barra de tração, fornece as curvas de desempenho do trator, relacionando velocidade, potência, patinagem, consumo horário e consumo específico à força na barra de tração do trator ensaiado, além do valor do coeficiente de tração do trator ensaiado, que é definido como a relação entre a máxima tração na barra e o peso dinâmico nas rodas de tração, ou seja, corresponde ao percentual de seu peso traseiro dinâmico que este trator pode tracionar. Para o cálculo da estimativa da potência efetiva na barra de tração, considerando-se Pot. TDP = Pot. Motor x 0,86 diferentes tipos e condições de solo, foram implementados os seguintes métodos: regra baseada no Fator 0,86, proposta por Wendel Bowers; equação de redimento de tração; e a norma ASAE D497 4, conforme apresentado a seguir. - Fator 0,86 A partir das Equações (1) a (6), apresentadas a seguir, pode-se calcular a potência disponível na barra de tração, segundo o método proposto por Wendel Bowers: (1) Pot. Max. BT, concreto = Pot. TDP x 0,86 (2) Pot. Max. BT, solo firme = Pot. Max. BT, concreto x 0,86 (3) Pot. Utilizável, BT, solo firme = Pot. Max. BT, solo firme x 0,86 (4) Pot. Utilizável, BT, solo arado = Pot. Utilizável, BT, solo firme x 0,86 (5) Pot. Utilizável, BT, solo solto = Pot. Utilizável, BT, solo arado x 0,86 (6) - Equação de rendimento de tração N = N. η, em que: (7) b m b η b = rendimento de tração; N b = potência na barra de tração; e N m = potência do motor. O rendimento de tração pode ser determinado considerando o Quadro 1, apresentado abaixo: - Norma ASAE D497 4 Potência na TDP = Pot. Nominal x 0,83 (8) Considerando a potência na TDP obtida a partir da equação (8), pode-se determinar a Potência na Barra de Tração (BT), com base no Quadro 2. Para validação da planilha desenvolvida, foram utilizados dados obtidos a partir de um ensaio na barra de tração, realizado na Universidade Federal de Viçosa, em uma pista plana de concreto. O trator ensaiado foi um Valmet modelo 65id, com aproximadamente 42,66 kw (58 cv) de potência nominal, deslocando-se a 2 a marcha reduzida e 1700 rpm. Um trator Massey Fergusson modelo MF 265 foi empregado como trator de lastro. Para obtenção da força na barra de tração, foi utilizada uma célula de carga da marca KRATOS, com capacidade de 5.000 kgf, instalada entre os tratores. Para medição do consumo de combustível, foi utilizado um fluxômetro, o qual permitiu quantificar o volume de combustível, gasto durante o teste. 124

Foi estabelecida uma distância de 30 metros para a realização dos testes. Primeiramente foi determinado o número de voltas da rota motora com o trator livre, a partir de uma marcação efetuada no pneu da roda motora. Esta informação foi empregada para o cálculo da patinagem, durante os testes com carga. Foram estabelecidas 6 cargas, a partir do trator de lastro, conforme indicado no Quadro 3. Para cada carga, foi obtido o tempo de duração do tiro (teste em determinada carga), consumo de combustível (ml), número de voltas da roda motora e leitura da célula de carga correspondente à carga utilizada, conforme apresentado na Figura 1. Quadro 1. Rendimento de tração para diferentes tipos de solo Tipo de superfície η b, (%) Concreto 74 85 Solo Firme 55 64 Solo Arado 47 Solo Solto 40 Solo Argiloso 55 Solo Franco 60 65 Solo Arenoso 70 Quadro 2. Norma ASAE D497 4 para a determinação da potência na BT Trator concreto Condição do solo firme arado fofo 4x2 0,87 0,72 0,67 0,55 4x2 TDA 0,87 0,77 0,73 0,65 4x4 0,87 0,78 0,78 0,70 esteiras 0,87 0,82 0,80 0,78 Quadro 3. Cargas utilizadas no ensaio Cargas trator de lastro Carga Marcha Condição 1 livre (não engrenado) desligado 2 10 a simples desligado 3 9 a simples desligado 4 7 a simples desligado 5 3 a reduzida ligado 6 2 a reduzida ligado 125

RESULTADOS E DISCUSSÃO Obteve-se uma planilha eficiente e de fácil utilização. Desta forma, análises relativas à potência disponível na barra de tração podem ser efetuadas, com base em dados provenientes do ensaio na barra de tração e/ou com base na regra baseada do Fator 0,86, na equação de rendimento de tração e na norma ASAE D497 4, conforme abaixo. Descrição e operação do sistema A planilha foi estruturada para possibilitar o cálculo dos parâmetros relativos ao ensaio na barra de tração (força de tração, velocidade, potência disponível na barra de tração, consumo horário, consumo específico, patinagem e coeficiente de tração) separadamente da estimativa de potência na barra de tração (regra baseada no Fator 0,86 proposta por Wendel Bowers, equação de rendimento de tração e a norma ASAE D497 4). Na Figura 1, está representada a tela de entrada de dados, obtidos durante o ensaio de tração. Na Figura 1, observa-se que os dados de entrada, obtidos durante o ensaio na barra de tração, correspondem ao número de voltas completas e o número de garras complementares entre o início e o fim de cada carga considerada, o tempo (s), o consumo (ml) e a leitura obtida na célula de carga para cada tiro considerado. Na Figura 2, apresenta-se a tela de entrada de dados complementares, em que devem constar a potência do trator ensaiado, o número de garras do pneu, a distância empregada no ensaio, a constante da célula de carga e o número de cargas ensaiadas. Para o cálculo do coeficiente de tração, é necessário que tal função seja escolhida e que dados como a altura da barra de tração, distância entre eixos, peso traseiro estático e peso dianteiro estático sejam fornecidos, além da escolha adequada do tipo de tração do trator ensaiado, conforme apresentado na Figura 2. O botão Calcula possibilita a obtenção da força de tração, velocidade, potência disponível na barra de tração, consumo horário, consumo específico, patinagem e coeficiente de tração durante o ensaio de tração, bem como as curvas que relacionam velocidade, potência, patinagem, consumo horário e consumo específico com força na barra de tração do trator ensaiado são obtidas, automaticamente, conforme apresentado nas Figuras 3 a 7. Dados de Entrada -- Ensaio na Barra de Tração Carga Voltas Número de Garras Completas Complementares T, (s) Consumo, (ml) Leitura Célula de Carga sem carga 7 14 26.35 1 1 7 22 27.44 2 0.36 2 8 11 26.98 2 0.75 3 8 10 26.53 4 0.93 4 8 9 30.63 7 3.34 5 9 14 35.60 9 3.53 6 15 14 59.08 115.00 3.32 Figura 1. Tela de entrada de dados do ensaio na barra de tração 126

Dados de Entrada Potência Nominal, (cv) = 58 Número de Garras do Pneu = 28 Distância Percorrida no Ensaio, (m) = 30 Constante -- Célula de Carga = 563.84 Número de Cargas Ensaiadas = 6 Cálculo dos Parâmetros -- Ensaio na Barra de Tração (B. T.) Cálculo do Coeficiente de Tração Tração -- 4x2 Tração -- 4x2 TDA Tração -- 4x4 Altura da Barra de Tração, (m) = 0.4 Distância entre Eixos, (m) = 2.08 Peso Traseiro Estático (PTE), (kgf) = 2070 Peso Dianteiro Estático (PDE), (kgf) = 1250 Calcula Cálcula da Potência na Barra de Tração Cálculo da Potência Disponível na Barra de Tração Métodos: Norma ASAE D497-4 (2000) Fator "0.86" (W. Bowers) Equação do Rendimento de Tração Calcula Limpa -- Planilhas Figura 2. Tela de entrada de dados complementares Força vs. Velocidade 1.20 Velocidade, m/s 1.00 0.80 0.60 0.40 0.20 Forca, N Figura 3. Ensaio na barra de tração Força vs. Velocidade 127

Força vs. Potência 2 Potência, kw 15.00 1 5.00 Força, N Figura 4. Ensaio na barra de tração Força vs. Potência Força vs. Patinagem Patinagem, % 6 5 4 3 2 1 Força, N Figura 5. Ensaio na barra de tração Força vs. Patinagem Força vs. Consumo horário Consumo horário, L/h 1 8.00 6.00 4.00 2.00 Força, N Figura 6. Ensaio na barra de tração Força vs. Consumo horário 128

Força vs. Consumo específico Consumo específico, g/kw.h 120 100 80 60 40 20 Força, N Figura 7. Ensaio na barra de tração Força vs. Consumo específico RESULTADOS -- ENSAIO NA BARRA DE TRAÇÃO Carga Força de tração, (N) Velocidade, (m/s) Potência disponível, (kw) Consumo horário, (L/h) Consumo específico, (g/kw.h) Patinagem, (%) Coeficiente de tração, (%) sem carga 1.14 1.37 81.15 1 1991.26 1.09 2.18 2.62 1024.48 3.67 2 4148.45 1.11 4.61 2.67 491.75 10.64 3 5144.08 1.13 5.82 5.43 793.14 10.26 4 18474.44 0.98 18.09 8.23 386.48 9.87 5 19525.38 0.84 16.45 9.10 470.16 21.05 6 18363.82 0.51 9.32 7.01 638.76 51.61 Figura 8. Tela de resultados obtidos a partir do ensaio na barra de tração Potência Disponível na Barra de Tração Norma ASAE D497-4 (2000) (cv) (kw) Potência na TDP = 48.14 35.41 Potência na BT - concreto = 41.88 30.80 Potência na BT - solo firme = 34.66 25.49 Potência na BT - solo arado = 32.25 23.72 Potência na BT - solo solto = 26.48 19.47 Fator "0.86" - W. Bowers (cv) (kw) Potência na TDP = 49.88 36.69 Potência, máxima, na BT - concreto = 42.90 31.55 Potência, máxima, na BT - solo firme = 36.89 27.13 Potência, utilizável, na BT - solo firme = 36.89 27.13 Potência, utilizável, na BT - solo arado = 31.73 23.33 Potência, utilizável, na BT - solo solto = 27.28 20.07 Equação do Rendimento de Tração (cv) (kw) Potência na BT - concreto = 46.11 33.91 Potência na BT - solo firme = 34.51 25.38 Potência na BT - solo arado = 27.26 20.05 Potência na BT - solo solto = 23.20 17.06 Potência na BT - solo argiloso = 31.90 23.46 Potência na BT - solo franco = 36.25 26.66 Potência na BT - solo arenoso = 40.60 29.86 Figura 9. Tela de resultados de potência disponível na barra de tração 129

Selecionando o item Cálculo da Potência Disponível na Barra de Tração e os métodos adequados (Norma ASAE D497-4, Fator 0,86, Equação de Rendimento de Tração), pode-se obter a potência disponível na barra de tração, pressionando-se o botão Calcula, conforme apresentado na Figura 2. O botão Limpa Planilhas possibilita que os dados de entrada e os resultados gerados sejam apagados, automaticamente, permitindo que a planilha seja utilizada para novos cálculos e análises. Nas Figuras 8 e 9 estão representadas as telas de saída de resultados, sendo que na Figura 8 estão os resultados provenientes do ensaio de tração e na Figura 9 as estimativas da potência disponível na barra de tração, por métodos previamente selecionados, no caso específico do trator ensaiado e analisado. Na Figura 9 pode-se observar uma redução considerável na potência disponível na barra de tração, dependendo do tipo e condição de solo a ser trabalhado. Portanto, para um bom desempenho do conjunto trator-implemento tracionado, deve-se conhecer a potência disponível na barra de tração, bem como a potência requerida pelo implemento para uma maior eficiência no desenvolvimento do trabalho a ser efetuado por tal conjunto. CONCLUSÕES A planilha desenvolvida mostrou-se uma ferramenta eficiente e rápida para o cálculo da força de tração, velocidade, potência disponível na barra de tração, consumo horário, consumo específico, patinagem e coeficiente de tração do trator ensaiado. Também possibilita, com versatilidade, o cálculo da potência disponível na barra de tração, considerando-se a regra baseada no Fator 0,86, proposta por Wendel Bowers, equação de rendimento de tração e a norma ASAE D497 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMERICAN SOCIETY OF AGRICULTURAL ENGINEERS. Agricultural machinery management. In: ASAE standards 2000 standards engineering practices data. San Joseph, 2000. p. 349 357 (ASAE D497 4). CORRÊA, I.M.; MAZIERO, J.V.G.; YANAI, K; LOPES, A. Técnicas de determinação da patinagem das rodas motrizes de tratores agrícolas. Campinas: Instituto Agronômico, 1999. 15 p. (Boletim Técnico, 179). GAMERO, C.A.; LANÇAS, K.P. Ensaio e certificação das máquinas de mobilização periódica dosolo. In: Mialhe, L.G. Máquinas agrícolas: ensaio e certificação. Piracicaba: CNPq-PADCT/TIBFEALQ,1996. p. 463-514. MIALHE, L.G. Gerência de sistema tratorizado vs operação otimizada de tratores. Piracicaba: ESALQ/USP, 1991. 30 p. MIALHE, L.G. Máquinas agrícolas: ensaio e certificação. Piracicaba: CNPq-PADCT/TIB- FEALQ, 1996. 722 p. LILJEDAHL, J.B.; CARLETON, W.M.; TURNQUIST, P.K.; SMITH, D.W. Traction. In: Traction and their power units. Connecticut: Avi Publish Company, n.2, 1995. p.219-26. SANTOS FILHO, A.G.; SANTOS, J.E.G. Apostila de Máquinas Agrícolas. Bauru: Universidade Estadual Paulista, UNESP. Faculdade de Engenharia, Departamento de Engenharia Mecânica. Agosto, 2001. 88 p. YANAI, K.; SILVEIRA, G.M.; LANÇAS, K.P.; CORRÊA. I.M.; MAZIERO, J.V.G. Desempenho operacional de trator com e sem acionamento da tração dianteira auxiliar. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.34, n.8, p.1427-34,1999. 130