BRICS Monitor Especial RIO+20 Rio+20: a China e a Estrutura Institucional Internacional para o Desenvolvimento Sustentável Abril de 2012 Núcleo de Política Internacional e Agenda Multilateral BRICS Policy Center / Centro de Estudos e Pesquisas BRICS
BRICS Monitor Especial RIO+20 Rio+20: a China e a Estrutura Institucional Internacional para o Desenvolvimento Sustentável Abril de 2012 Núcleo de Política Internacional e Agenda Multilateral BRICS Policy Center / Centro de Estudos e Pesquisas BRICS
Nome do autor: Lucas Perez Florentino & Aryadne Bittencourt Waldely Coordenação: Monica Herz Rio +20: a China e a Estrutura Institucional Internacional para o Desenvolvimento Sustentável Na China, as discussões sobre a governança ambiental são recentes e envolvem aspectos tanto do plano doméstico como do internacional. A China tem que lidar com problemas ambientais causados pelo seu desenvolvimento econômico não sustentável e que impactam o meio ambiente do mundo como um todo, ao mesmo tempo em que o país cada vez mais se insere em regimes internacionais de governança. i No plano doméstico, o governo possui ampla rede institucional ambiental, na qual tem papel de destaque a Administração Estatal de Proteção Ambiental (State Environmental Protection Agency, SEPA). ii Para a Rio+20, as instituições do Estado chinês são a Divisão de Administração Ambiental do Departamento de Economia Regional da Comissão para Desenvolvimento Nacional e Reforma e a Divisão de Estratégia de Desenvolvimento Sustentável do Centro Administrativo para a Agenda 21 da China. iii O governo da China tem demonstrado apoio às discussões ambientais no país, inclusive àquelas realizadas pela sociedade civil, sendo possível perceber a emergência de um movimento ambientalista, eminentemente urbano, em que a atuação das ONGs ambientais tem bastante relevância. As ONGs vinculadas ao governo, como a All-China Environment Federation, têm contribuído para a consulta política e para a troca de informações com o Estado, e as independentes, como a Friends of Nature, têm ajudado na educação e na denúncia de questões ambientais. iv Tal movimento ambientalista está relacionado à globalização, às mudanças tecnológicas e ao crescimento do pluralismo político, ainda que restrito, na China. v No plano internacional, o governo chinês tem engajamento recente na questão ambiental e ainda reluta em assumir um papel de liderança com relação a medidas
internacionais vinculantes para a proteção ambiental, por conta de prioridades relacionadas à manutenção do seu crescimento econômico. vi Na proposta chinesa vii para a estrutura institucional internacional para o desenvolvimento sustentável, é possível especificar como um dos pontos substantivos a defesa de uma governança voltada para os países em desenvolvimento, isto é, um ambiente institucional que seja sensível às necessidades e aos problemas específicos desses países para a promoção da sustentabilidade, que aumente a sua capacitação e sua participação nos processos decisórios e que garanta o financiamento para estes. Relacionado a esse ponto, o governo chinês também defende que a governança ambiental mundial leve em consideração o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas viii. Para o governo da China, é necessário reconhecer a responsabilidade histórica dos países desenvolvidos na degradação ambiental e cobrar destes a liderança na resolução dos problemas de meio ambiente. Existe, ainda, uma preocupação chinesa com uma divisão justa das medidas de proteção ambiental, que não comprometa o desenvolvimento econômico dos países em desenvolvimento. O governo chinês defende também o equilíbrio entre os três pilares do desenvolvimento sustentável (econômico, social e ambiental) e a articulação de agendas entre as esferas de governança internacional, nacional e regional. Pede, ainda, pela cooperação com outras organizações internacionais não diretamente relacionadas com a questão ambiental. Em termos do desenho institucional, a China defende a coordenação entre as instituições internacionais para o meio ambiente já existentes e defende a centralidade e o fortalecimento das estruturas da ONU, dentre elas, o Conselho Econômico e Social (ECOSOC) da ONU, que deve aumentar seu papel de orientação política para o desenvolvimento sustentável. Pede, ainda, o aumento do papel e da eficiência do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) como espaço de discussões para consensos e recomendações sobre o desenvolvimento sustentável, por meio do aumento dos seus recursos e da reavaliação de seus mandatos e funções. Também considera viáveis as negociações para a criação de um Conselho de Desenvolvimento Econômico, em substituição à Comissão existente. Outros pontos defendidos na proposta chinesa são: a necessidade de fluxos de financiamento e
tecnologia, a cooperação com outras organizações internacionais, a participação relativa das ONGs e o aprimoramento da aquiescência dos Acordos Ambientais Multilaterais por meio da sinergia nas instâncias da governança ambiental internacional. Com relação à coordenação, é possível perceber articulação e aproximação de posicionamentos entre a China com o G77 ix, grupo de países em desenvolvimento na ONU. A China também coordena sua ampla agenda ambiental com Brasil, Índia e África do Sul no contexto do BASIC x e, em certa medida, é possível perceber uma aproximação recente entre os BRICS xi principalmente após a Cúpula de Nova Délhi de 2012. na temática do desenvolvimento sustentável, FONTES: i CHAN, Gerald; LEE, Pak K.; CHAN, Lai-Ha. China s Environmental Governance: the domesticinternational nexus. Third World Quarterly, v.29. n.2, p. 291-314, 2008. ii Ibid. iii Os órgãos do governo da China responsáveis pela Rio+20 estão disponíveis no site oficial da conferência em: <http://www.uncsd2012.org/rio20/index.php?page=view&type=6&nr=25&menu=32>. Acesso em: 25 mar 2012. iv CHAN, Gerald; LEE, Pak K.; CHAN, Lai-Ha. China s Environmental Governance: the domesticinternational nexus. Third World Quarterly, v.29. n.2, p. 291-314, 2008. v YANG, Guobin. Is There an Environmental Movement in China? Beware of the River of Anger. Asia Program Special Report Woodrow Wilson International Center for Scholars, n. 124, set 2004. vi CHAN, Gerald; LEE, Pak K.; CHAN, Lai-Ha. China s Environmental Governance: the domesticinternational nexus. Third World Quarterly, v.29. n.2, p. 291-314, 2008. vii Os posicionamentos da China foram analisados a partir dos seguintes documentos: REPÚPLICA POPULAR DA CHINA. Talking Points on Institutional Framework for Sustainable Development. United Nations Conference on Sustainable Development Website, 2010. Disponível em: <http://www.uncsd2012.org/rio20/content/documents/china_e.pdf>. Acesso em: 10 mar 2012. REPÚPLICA POPULAR DA CHINA. Statement by the Chinese Delegation on International Institutional Building in Promotion of Sustainable Development. United Nations Conference on Sustainable Development Website, 2011. Disponível em: <http://www.uncsd2012.org/rio20/content/documents/china-inst-frame.pdf>. Acesso em: 10 mar 2012. REPÚBLICA POPULAR DA CHINA. National Submission of the People s Republic of China on the UN Conference on Sustainable Development in 2012. United Nations Conference on Sustainable Development Website, 2011. Disponível em: <http://www.uncsd2012.org/rio20/content/documents/chinaenglish.pdf>. Acesso em: 10 mar 2012.
REPÚBLICA POPULAR DA CHINA. Statement by Ambassador Wang Min, Deputy Permanent Representative of China to the United Nations, During Initial Discussions on the Zero Draft of the Rio+20 Outcome Document. United Nations Conference on Sustainable Development Website, 2012. Disponível em: <http://www.uncsd2012.org/rio20/content/documents/655china2.pdf> Acesso em: 25 mar 2012. viii O conceito de responsabilidades comuns, porém diferenciadas é citado na Declaração do Rio, um dos documentos emitidos pela realização da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Eco92, ocorrida no Rio de Janeiro, há 20 anos. A Declaração do Rio está disponível, na íntegra, em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v6n15/v6n15a13.pdf>. Acesso em: 12 mar 2012. ix G77-CHINA. Statement on Behalf of the Group of 77 and China by Mr. Khaled Hussein Alyemany, minister plenipotentiary, Permanent Mission of the Republic of Yemen to the United Nations, at the First Preparatory Committee Meeting of the UN Conference on Sustainable Development on Institutional Framework for Sustainable Development. United Nations Conference on Sustainable Development Website, 2010. Disponível em: <http://www.uncsd2012.org/rio20/content/documents/g77_china.pdf>. Acesso em: 10 mar 2012. G77-CHINA. Statement on Behalf of the Group of 77 and China by ElianaSaissac, Second Secretary, Mission of Argentina to the United Nations, at the Interactive Discussion of the Second Preparatory Committee Meeting of the UN Conference on Sustainable Development. United Nations Conference on Sustainable Development Website, 2011. Disponívelem: <http://www.uncsd2012.org/rio20/content/documents/g77-inst-frame.pdf>. Acesso em: 10 mar 2012. x JOINT STATEMENT ISSUED AT THE CONCLUSION OF THE 10TH BASIC MINISTERIAL MEETING ON CLIMATE CHANGE (2012). Comunicado conjunto emitido por ocasião do 10º Encontro Ministerial do BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China). Ministry of Environment and Forests of India, 2012. Disponível em: <http://moef.nic.in/downloads/public-information/10th-basic-meeting-delhi-joint- Statement.pdf>. Acesso em: 26 mar 2012. xi DECLARAÇÃO DE SANYA (2011). Declaração emitida por ocasião da III Cúpula dos Países BRICS. Ministério de Relações Exteriores do Brasil (site), 2011. Disponível em: <www.itamaraty.gov.br/temas-mais-informacoes/saiba-mais-bric/documentos-emitidos-pelos-chefes-deestado-e-de/iii-cupula-do-brics-declaracao-desanya/?searchterm=declara%c3%a7%c3%a3o%20de%20sanya>. Acesso em: 29 out 2011. DECLARAÇÃO DE NOVA DÉLHI (2012). Declaração emitida por ocasião da IV Cúpula dos Países BRICS. Ministério de Relações Exteriores do Brasil (site), 2012. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/quarta-cupula-dos-brics-nova-delhi-29- de-marco-de-2012-parceria-dos-brics-para-a-estabilidade-seguranca-e-prosperidade-declaracao-denova-delhi>. Acesso em: 29 mar 2012.