BREVE HISTÓRICO DO SINDICATO UNIFICADO DOS TRABALHADORES SAPATEIROS E COUREIROS DE SÃO PAULO



Documentos relacionados
Nome: nº. Recuperação Final de História Profª Patrícia

país. Ele quer educação, saúde e lazer. Surge então o sindicato cidadão que pensa o trabalhador como um ser integrado à sociedade.

SÃO PAULO: GREVES E MOBILIZAÇÕES PARAM A CAPITAL E O INTERIOR DO ESTADO

QUARTA CONSTITUIÇÃO (A CONSTITUIÇÃO DO ESTADO NOVO)

REFORMA SINDICAL QUADRO COMPARATIVO

PROPOSTAS PARA O COMBATE À ALTA ROTATIVIDADE DO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO

Primeiro trimestre de 2004: lucro de US$ 355 milhões (crescimento de 135%)

III Reunión, Lima, octubre 2010 A AUTOREFORMA SINDICAL E A HISTÓRIA DOS BANCÁRIOS DA CUT BRASIL. William Mendes,

O Sindicato de trabalhadores rurais de Ubatã e sua contribuição para a defesa dos interesses da classe trabalhadora rural

Índice 1 - POLÍTICA DE SEGURANÇA, SAÚDE E MEIO AMBIENTE HISTÓRICO ATUAÇÕES PARTICIPAÇÕES NOS FÓRUNS EXTERNOS...

Sindicato dos Assistentes Sociais do Estado do Rio de Janeiro/SASERJ. Tel/fax : saserj@saserj.org.br

Conheça a trajetória da primeira mulher presidente do Brasil

Associação Brasileira de Imprensa. Regulamentação Profissional 19/11/2010

REGULAMENTO INTERNO I. DENOMINAÇÃO / SEDE

Pimenta no olho, e nada de reajuste salarial

PROJETO DE LEI Nº. Do Sr. Deputado Vanderlei Macris. O Congresso Nacional decreta:

S I N O P S E S I N D I C A L S E T E M B R O D E

8ª MARCHA DA CLASSE TRABALHADORA POR MAIS DIREITOS E QUALIDADE DE VIDA. Pelo desenvolvimento com soberania, democracia e valorização do trabalho

Capítulo. A ditadura militar no Brasil

Na ditadura não a respeito à divisão dos poderes (executivo, legislativo e judiciário). O ditador costuma exercer os três poderes.

Estatuto do Centro Acadêmico da Engenharia Ambiental C.A.E.A. Mariana Braga

Diretoria da FETHESP se reúne em Praia Grande

BANCÁRIOS. Uma História marcada por lutas e conquistas

O SINDICALISMO RURAL NO BRASIL

Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc

3ª série História do Brasil Ditadura Militar (1964/1985) Primeira fase (1964/1969) Cap Roberson de Oliveira

ORGANIZAÇÃO SINDICAL BRASILEIRA

VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO PERÍODO DA DITADURA NO BRASIL: E A COMISSÃO DA VERDADE

Nº 79 - dezembro de 2015

Expediente: Autor: Érika Andreassy Editor Responsável: Érika Andreassy Diagramação: Érika Andreassy Abril/

Projeto de Gestão pela Qualidade Rumo à Excelência

PROJETO DE LEI N.º 320/XII/2.ª. Reorganização Administrativa do Território das Freguesias. Exposição de Motivos

Uma história de confiança.

50 cidades com as melhores opções para aberturas de franquias

Quanto aos itens da pauta setorial, o MEC informou o que segue:

PROPOSTA DE ESTATUTOS DA ASSOCIAÇÃO DE PAIS DO CONSERVATÓRIO DE MÚSICA DE SÃO JOSÉ, DA GUARDA

A MULHER TRABALHADORA NO SETOR DA HOTELARIA E GASTRONOMIA EM SÃO PAULO E NO BRASIL

Amapá Amazonas Bahia Ceará Distrito Federal Espírito Santo

Europa no Século XIX FRANÇA RESTAURAÇÃO DA DINASTIA BOURBON LUÍS XVIII CARLOS X LUÍS FELIPE ( )

Escola de Formação Política Miguel Arraes. Módulo I História da Formação Política Brasileira. Aula 2 A História do Brasil numa dimensão ética

TEMAS E QUESTÕES A SEREM APRESENTADAS PELAS CENTRAIS SINDICAIS DURANTE REUNIÃO COM PRESIDENTE E DIRETORES DA ANS SEDE DA ANS RIO DE JANEIRO 18/03/2009

8º VALOR DAS MARCAS DOS CLUBES BRASILEIROS FINANÇAS DOS CLUBES

Notícias Bancárias Nº JUNHO 2012

ATA DA SESSÃO ORDINÁRIA DO DIA 09 DE JUNHO DE 2014 Às vinte horas do dia nove de junho de dois mil e quatorze, na sede da Câmara Municipal, reuniu-se

Apoio. Patrocínio Institucional

OS DIREITOS INFANTO-JUVENIS DAS CRIANÇAS INDÍGENAS NA HISTÓRIA DO BRASIL: UMA BUSCA POR CIDADANIA

Câmara Municipal de São Paulo Gabinete Vereador Floriano Pesaro

Partidos Políticos do Brasil

DIREÇÃO NACIONAL DA CUT APROVA ENCAMINHAMENTO PARA DEFESA DA PROPOSTA DE NEGOCIAÇÃO DO SALÁRIO MÍNIMO, DAS APOSENTADORIAS E DO FATOR PREVIDENCIÁRIO

: ameaças e bombas contra a imprensa que disse não

LEI COMPLEMENTAR Nº 1.139, DE 16 DE JUNHO DE 2011

CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES

Tema do Projeto: REMUNERAÇÃO IGUAL PARA HOMENS E MULHERES

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

OLIMPIADAS DE MATEMÁTICA E O DESPERTAR PELO PRAZER DE ESTUDAR MATEMÁTICA

PROGRAMA DINHEIRO DIRETO NA ESCOLA: um estudo nas redes municipal de Porto Alegre e estadual do Rio Grande do Sul

Resistência à Ditadura Militar. Política, Cultura e Movimentos Sociais

Acidentes, Flagelos e Descaso em Osasco e Região

Promulga o Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança relativo ao envolvimento de crianças em conflitos armados.

ELEIÇÕES 2008 A RELAÇÃO ENTRE VEREADORES, ADMINISTRAÇÕES PETISTAS E O MOVIMENTO SINDICAL SUGESTÕES

Exercícios de Ditadura Militar: Geisel e Figueiredo

GRITO PELA EDUCAÇÃO PÚBLICA NO ESTADO DE SÃO PAULO

Resumo Aula-tema 07: Negociação coletiva e greve. Dissídio individual e coletivo.

PAUTA DE DEMANDAS 2012

Estatutos Núcleo de Estudantes de Engenharia Civil da Universidade Évora = NEECUE = - Capitulo I Princípios Gerais

REGIMENTO DO NÚCLEO DE ESTUDOS URBANOS - NEURB CAPÍTULO I DA CONSTITUIÇÃO E FINALIDADE

PRODUTO FINAL ASSOCIADA A DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

REGULAMENTO DE PESCA DESPORTIVA NA ALBUFEIRA DE VASCOVEIRO

RESUMO DE NOTÍCIAS. Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações do Estado de São Paulo

PRODUTIVIDADE E A PESQUISA ANUAL DE SERVIÇOS NA HOTELARIA E GASTRONOMIA BRASILEIRA

Prof. Thiago Oliveira

LIVROS DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA E AS REFORMAS CAMPOS E CAPANEMA

ACORDO PARA A PROMOÇÃO E A PROTEÇÃO RECÍPROCA DE INVESTIMENTOS ENTRE O GOVERNO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL E O GOVERNO DA REPÚBLICA DA CORÉIA

Apoio. Patrocínio Institucional

Aeducação profissional de adolescentes e jovens no Brasil é realizada

Universidade Metodista de São Paulo

Decreto n.º 196/76 de 17 de Março

PROGRAMA DE JAIR PEDRO AO GOVERNO DO ESTADO.

O TRABALHO POR CONTA PRÓPRIA NA CONSTRUÇÃO CIVIL

GRUPO FIAT CNM/CUT - CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS METALÚRGICOS DA CUT

REGULAMENTO MUNICIPAL DO HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO DOS ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS E DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DO MUNICÍPIO DE VILA VELHA DE RÓDÃO

O BRASIL SEM MISÉRIA E AS MUDANÇAS NO DESENHO DO BOLSA FAMÍLIA

Anexo I Resolução nºc21/2009 CD/FAP de

Dispõe sobre o Programa Nacional de Prevenção à Violência contra Educadores (PNAVE) e dá outras providências.

PESQUISA ASSOCIATIVISMO E REPRESENTAÇÃO POPULAR:

REGIMENTO DO CONSELHO DO INSTITUTO

*C38FEB74* PROJETO DE LEI

Conselho Regional de Fonoaudiologia 2 a Região/SP: Atribuições

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia de assinatura de atos e declaração à imprensa

CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

A experiência brasileira em matéria de liberdade sindical à luz do pensamento de Maritain.

CARTILHA SOBRE DIREITO À APOSENTADORIA ESPECIAL APÓS A DECISÃO DO STF NO MANDADO DE INJUNÇÃO Nº 880 ORIENTAÇÕES DA ASSESSORIA JURIDICA DA FENASPS

11º Prêmio MASTERINSTAL REGULAMENTO

Deseja Descobrir Como Ganhar Massa Muscular Agora?

FICHA BIBLIOGRÁFICA. Título: Perfil da Mulher Metalúrgica do ABC. Autoria: Subseção DIEESE/Metalúrgicos do ABC

MODELO DE GESTÃO PARA A TRIENAL DE ARQUITECTURA 2007

ALPHAVILLE TÊNIS CLUBE REGIMENTO INTERNO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

DELIBERA. Art. 1º- O controle de freqüência do servidor efetivo da Defensoria Pública far-se-á por meio de registro de ponto.

Transcrição:

BREVE HISTÓRICO DO SINDICATO UNIFICADO DOS TRABALHADORES SAPATEIROS E COUREIROS DE SÃO PAULO A organização sindical dos trabalhadores na indústria coureiro-calçadista de São Paulo, remonta ao início da industrialização na região nas ultimas décadas do século 19, quando aqui se instalaram os primeiros curtumes e fábricas de calçados. No Congresso de Fundação da COB Confederação Operária Brasileira, em 1906, estiveram presentes delegados representativos de associações de curtidores, sapateiros, seleiros e correeiros, algumas das quais participavam da primeira fase da Federação Operária de São Paulo. A greve geral insurrecional que paralisou São Paulo em junho de 1917, teve como motivo emocional decisivo e imediato a indignação pela morte de um jovem operário sapateiro Antonio Martinez, vitimado pela ação policial quando ajudava o piquete de paralisação da Tecelagem Mariângela, no Brás. Coureiros e sapateiros estiveram presentes em todas as lutas sindicais paulistas contribuindo a conquista da redução da jornada de trabalho, da previdência social, do direito a férias, etc. Na década de 1930, contribuímos com a resistência empreendida pela Federação Operária de São Paulo a oficialização e enquadramento dos Sindicatos Operários pelo recém criado Ministério do Trabalho dirigido por Lindolfo Collor. Ao final da Guerra, em 1945, um pouco antes da queda da ditadura Vargas, os trabalhadores coureiros e sapateiros constituem a Associação dos Trabalhadores Sapateiros e Curtidores de São Paulo. Mas o fim da ditadura do Estado Novo, não trouxe a liberdade sindical e a nova Associação entre Trabalhadores Coureiros e Sapateiros continuou impedida pela mesma lei sindical de 1939, que os classificara como categorias e grupos profissionais totalmente distintos. Assim foi ratificado o registro do Sindicato específico dos sapateiros, ficando os coureiros sem Sindicato próprio até março de 1954, quando as Comissões de Fábricas do Curtume Franco-Brasileiro (1.200 operários, localizado na rua Guaicurus, na Pompéia) e da Casas Casoy (indústria de malas de couro, com 240 operários, localizada na rua Barão de Duprat) formadas desde julho de 1953, na grande greve operária de São Paulo, convocam uma assembléia de trabalhadores em curtumes e em fábricas de artefatos de couro e fundam o Sindicato dos Trabalhadores Coureiros de SP, presidido pelo curtumeiro Remígio Perotti, militante do PCB como a maioria dos demais dirigentes da entidade, que obtem a Carta de Reconhecimento do Ministério do Trabalho em 1955. a primeira sede do Sindicato ficava na rua Asdrúbal do Nascimento, nº 30.

O Sindicato dos Coureiros de São Paulo, participa ativamente da fundação do DIEESE, em final de 1955, instituição que conferiu maior qualidade ao sindicalismo brasileiro desde então. Coureiros e Sapateiros voltam a greve geral em 1957, 1962 e 1963, sendo essas duas últimas pela conquista do Abono de Natal (13º Salário). Na eleição sindical de 1963, militantes comunistas ganham a direção do Sindicato dos Sapateiros de SP. Isso os aproxima novamente dos trabalhadores coureiros e a idéia da reunificação volta a ser cogitada. Assim, nas mobilizações pelas reformas de base que agitaram o final do governo Goulart, coureiros e sapateiros participam ativamente, inclusive do grande comício da Central do Brasil no Rio de Janeiro, em 13 de março de 1964, com delegações de dezenas de trabalhadores que lotaram vários vagões ferroviários rumo ao Rio. Mas o golpe militar de 1º de abril de 1964, estancou esses avanços e esperanças. O Presidente da República eleito é destituído, assumindo logo depois o chefe do golpe militar General Castelo Branco que alegando o perigo de uma República Sindicalista, decreta intervenção nos Sindicatos operários mais ativos dos grandes centros. As direções sindicais dos sapateiros e dos coureiros de SP são destituídas, demitidas pelas empresas, presas, submetidas a Inquérito militar e perseguidas. No Sindicato dos Sapateiros a equipe interventora nomeada pela ditadura manteve controle sobre o Sindicato até setembro de 1990. No Sindicato dos Coureiros o interventor é afastado definitivamente em 1977, quando assume como presidente Paulo de Mattos Skromov, trabalhador da Primicia S.A (fábrica de malas e artigos de viagem com 650 operários, então localizada em São Bernardo do Campo). Militante sindical de esquerda, adversário irredutível da Ditadura Militar que impedira sua posse na direção do Sindicato em 1973 e 1974, a liderança de Skromov representou a retomada da melhor tradição de luta da entidade. O Sindicato passa de 250 para mais de 3.000 associados, ampliando a representação para mais de 1.000 empresas e 12.000 trabalhadores. Dois anos depois os coureiros organizam o Sindiluvas Sindicato dos Trabalhadores na Industria de Luvas, Bolsas e Peles de Resguardo e de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho do Estado, agregando assim outros 7.000 trabalhadores coureiros que a lei, como no caso dos sapateiros, não permitia que participassem do Sindicato do pessoal de curtumes e de artefatos de couro. O Sindicato dos Coureiros de SP protagonizou nesse período, a partir de junho de 1977, um papel de vanguarda no movimento sindical brasileiro. Retomou como forma de luta principal a ação direta dos próprios trabalhadores, realizando dezenas de greves nas fábricas do setor e inspirou e orientou outras tantas nas demais categorias. Surfou com desenvoltura a grande onda de greves fabris iniciada com a paralização da Scania e da Wheaton, em 12 de abril de 1978. Após liderar dezenas de greves fabris em 1977 e 1978, o Sindicato dos Coureiros de SP paraliza as principais fábricas das duas categorias representadas curtumes e artefatos de couro, em 1979 e em 1983, e greves gerais alternadas numa e noutra categoria nos demais

anos do período, com grandes assembléias que lotaram o salão dos metalúrgicos da Rua do Carmo, o salão da Bolsa de Cereais, o salão dos químicos da rua Tamandaré, estacionamentos e quadras esportivas alugados para tal. As assembléias geralmente terminavam em passeatas de operários coureiros que marchavam ruidosamente pelas ruas da Vila Galvão (em Guarulhos), da Vila Rosina em Caieiras, de Várzea Paulista, da Taiaçupeba em Mogi das Cruzes, do centro de Suzano, na vila Industrial em Campinas, do centro de Penápolis e de Presidente Prudente, e defronte ao TRT na Avenida da Consolação, em SP. Uma marca desse período foram as mais de 300 representações fabris e Comissões Internas por local de trabalho, constituídas na base do Sindicato dos Coureiros de SP. Para denunciar a parcialidade do TRT os coureiros cumpriam rigorosamente o ritual da Lei de Greve em suas paralisações, dificultando a declaração judicial de abusividade, instrumento de que se servia o Judiciário Trabalhista para reprimir o direito de greve. Nas campanhas salariais após a desindustrialização do setor de 1994/95, a utilização ao instrumento da greve tornou-se menos freqüente, mas nunca deixou de ser usada para superar os impasses nas negociações coletivas. Ao lado dos Metalúrgicos de SBC e de Santo André e dos petroleiros de Paulínia, durante o Congresso dos Industriários do país, realizado em julho de 1978, questionou duramente a orientação conciliadora da CNTI presidida então por Ary Campista. Essa aproximação com Lula, Benedito Marcilio (com seu companheiro José Cicote) e Jacó Bittar, logo depois com Olívio Dutra (dos bancários gaúchos) e com Wagner Benevides (dos petroleiros de Minas Gerais), levou a formação do grupo que teve a iniciativa de criar e lançar a proposta do Partido dos Trabalhadores, cuja fundação em 10 de fevereiro de 1980, no Colégio Sion foi presidida por Paulo Skromov, que foi também autor do ante-projeto da Carta de Princípios do PT, lançada no 1º de Maio de 1979, no Estádio Municipal da Vila Euclides, em SBC. Da Intersindical que constituiram em dezembro de 1978, e do Encontro Intersindical de Gragoatá (Niterói) nasceria depois a Comissão Organizadora da CONCLAT Conferencia Nacional da Classe Trabalhadora, realizada em agosto de 1981 na Praia Grande, passo inicial para a formação da Central Única dos Trabalhadores a CUT. Dirigentes sindicais coureiros como Paulo Skromov e Geraldo Santiago Pereira, participaram de várias gestões na direção, inclusive nas Executivas da CUT Nacional, Estadual e da CUT Grande São Paulo (nível de direção que não existe mais hoje). No Sindicato dos Sapateiros a equipe interventora nomeada pela ditadura manteve controle sobre o Sindicato até setembro de 1990. No Sindicato dos Coureiros o interventor é afastado definitivamente em 1977, quando assume como presidente Paulo de Mattos Skromov, trabalhador da Primicia S.A (fábrica de malas e artigos de viagem com 650 operários, então localizada em São Bernardo do Campo).

Militante sindical de esquerda, adversário irredutível da Ditadura Militar que impedira sua posse na direção do Sindicato em 1973 e 1974, a liderança de Skromov representou a retomada da melhor tradição de luta da entidade. O Sindicato passa de 250 para mais de 3.000 associados, ampliando a representação para mais de 1.000 empresas e 12.000 trabalhadores. Dois anos depois os coureiros organizam o Sindiluvas Sindicato dos Trabalhadores na Industria de Luvas, Bolsas e Peles de Resguardo e de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho do Estado, agregando assim outros 7.000 trabalhadores coureiros que a lei, como no caso dos sapateiros, não permitia que participassem do Sindicato do pessoal de curtumes e de artefatos de couro. O Sindicato dos Coureiros de SP protagonizou nesse período, a partir de junho de 1977, um papel de vanguarda no movimento sindical brasileiro. Retomou como forma de luta principal a ação direta dos próprios trabalhadores, realizando dezenas de greves nas fábricas do setor e inspirou e orientou outras tantas nas demais categorias. Surfou com desenvoltura a grande onda de greves fabris iniciada com a paralização da Scania e da Wheaton, em 12 de abril de 1978. Após liderar dezenas de greves fabris em 1977 e 1978, o Sindicato dos Coureiros de SP paraliza as principais fábricas das duas categorias representadas curtumes e artefatos de couro, em 1979 e em 1983, e greves gerais alternadas numa e noutra categoria nos demais anos do período, com grandes assembléias que lotaram o salão dos metalúrgicos da Rua do Carmo, o salão da Bolsa de Cereais, o salão dos químicos da rua Tamandaré, estacionamentos e quadras esportivas alugados para tal. As assembléias geralmente terminavam em passeatas de operários coureiros que marchavam ruidosamente pelas ruas da Vila Galvão (em Guarulhos), da Vila Rosina em Caieiras, de Várzea Paulista, da Taiaçupeba em Mogi das Cruzes, do centro de Suzano, na vila Industrial em Campinas, do centro de Penápolis e de Presidente Prudente, e defronte ao TRT na Avenida da Consolação, em SP. Uma marca desse período foram as mais de 300 representações fabris e Comissões Internas por local de trabalho, constituídas na base do Sindicato dos Coureiros de SP. Para denunciar a parcialidade do TRT os coureiros cumpriam rigorosamente o ritual da Lei de Greve em suas paralizações, dificultando a declaração judicial de abusividade, instrumento de que se servia o Judiciário Trabalhista para reprimir o direito de greve. Nas campanhas salariais após a desindustrialização do setor de 1994/95, a utilização ao instrumento da greve tornou-se menos freqüente, mas nunca deixou de ser usada para superar os impasses nas negociações coletivas. Ao lado dos Metalúrgicos de SBC e de Santo André e dos petroleiros de Paulínia, durante o Congresso dos Industriários do país, realizado em julho de 1978, questionou duramente a orientação conciliadora da CNTI presidida então por Ary Campista. Essa aproximação com Lula, Benedito Marcilio (com seu companheiro José Cicote) e Jacó Bittar, logo depois com Olívio Dutra (dos bancários gaúchos) e com Wagner Benevides (dos petroleiros de Minas Gerais), levou a formação do grupo que teve a iniciativa de criar e

lançar a proposta do Partido dos Trabalhadores, cuja fundação em 10 de fevereiro de 1980, no Colégio Sion foi presidida por Paulo Skromov, que foi também autor do ante-projeto da Carta de Princípios do PT, lançada no 1º de Maio de 1979, no Estádio Municipal da Vila Euclides, em SBC. Da Intersindical que constituiram em dezembro de 1978, e do Encontro Intersindical de Gragoatá (Niterói) nasceria depois a Comissão Organizadora da CONCLAT Conferencia Nacional da Classe Trabalhadora, realizada em agosto de 1981 na Praia Grande, passo inicial para a formação da Central Única dos Trabalhadores a CUT. Dirigentes sindicais coureiros como Paulo Skromov e Geraldo Santiago Pereira, participaram de várias gestões na direção, inclusive nas Executivas da CUT Nacional, Estadual e da CUT Grande São Paulo (nível de direção que não existe mais hoje). Em outubro de 1985, Paulo Skromov foi homenageado pela Câmara Municipal de São Paulo com a outorga do Prêmio Tancredo Neves, em reconhecimento por sua luta pela redemocratização do País, recebendo-o das mãos do então prefeito Mário Covas. O Sindicato dos Coureiros de SP deu apoio decisivo a derrubada de pelegos em outros sindicatos operários como o dos vidreiros, o dos professores (APEOESP), dos bancários, dos plásticos, dos químicos de Osasco, dos coureiros de Campinas, dos coureiros de Botucatu, dos Coureiros de Maringá e na fundação de outros sindicatos como o dos Metroviários, o de Vestuário de Cotia, o dos Mineiros de Barueri e região, o dos Coureiros de Presidente Prudente, dos Coureiros de MG, dos Coureiros de Goiás e MT. Em 1987 liderados pelo sindicato dos Coureiros de SP os sindicalistas coureiros combativos ganharam a maioria no Conselho Deliberativo da Federação dos Trabalhadores Coureiros de SP, RJ e MG. No ano seguinte, no 1º Congresso da Federação, Paulo Skromov foi eleito para presidi-la e a partir daí a Federação ampliou sua base territorial para outros estados e sua base social para incorporar os trabalhadores em calçados e em luvas e material de segurança. A criação da Confederação Cutista do Ramo, que inclui além dos coureiros e sapateiros, os têxteis e os vestuaristas, contou com participação destacada dos coureiros e sapateiros de SP. Hoje a CNTV é presidida pelo sapateiro paulistano José Carlos Guedes. A retomada pelos trabalhadores do Sindicato dos Sapateiros de SP, na eleição de setembro de 1990, com a vitória do movimento de oposição Pé de Ferro, liderado por José Carlos Guedes, decisivamente apoiado pelos coureiros, reacendeu o sonho da unificação entre coureiros e sapateiros. A libertação do Sindicato dos Sapateiros ensejou a greve geral dos sapateiros paulistanos em julho de 1991, com saldo de conquistas salariais e sociais e a constituição de várias comissões de fábricas. Naquele momento os sapateiros de SP somavam 25.000 trabalhadores. Todavia, com o Plano Real e a abertura indiscriminada do mercado interno aos importados em poucos meses, de outubro de 1994 a abril de 1995, dois terços das empresas

coureiras e calçadistas fecharam as portas e o número de trabalhadores caiu abruptamente de 45.000 para apenas 15.000, que permanece até hoje. A unificação do Sindicatos dos Coureiros, do Sindiluvas e dos Sapateiros de SP, deliberada na Conferência de Caraguatatuba, veio, finalmente, em março de 1997 constituindo o Sindicato Unificado dos Trabalhadores Coureiros e Sapateiros de SP, que se mantém solidamente. Uma experiência inédita e exemplar. O Sindicato Unificado dos Coureiros e Sapateiros, assumiu a melhor tradição de luta dos sindicatos operários que o constituem. Segue sendo um exemplo de sindicalismo reivindicativo e democrático. Hoje o Sindicato Unificado é presidido por Leonel dos Santos Filho, um dos sapateiros que participaram com destaque da libertação do sindicato calçadista em 1990.