PROVA ESCRITA DE DIREITO E PROCESSO ADMINISTRATIVO Via Académica 1.ª Chamada. Grelha de Correção

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6.º CURSO DE FORMAÇÃO PARA JUÍZES DOS TRIBUNAIS ADMINISTRATIVOS E FISCAIS PROVA ESCRITA DE DIREITO E PROCESSO ADMINISTRATIVO Via Académica 1.ª Chamada Grelha de Correção A atribuição da cotação máxima à resposta a cada questão pressupõe um tratamento completo das várias questões suscitadas, que deverá ser coerente e corretamente fundamentado, com indicação dos preceitos legais aplicáveis. Na cotação atribuída serão tidos em consideração a pertinência do conteúdo, a qualidade da informação transmitida em relação à questão colocada, a organização da exposição, a capacidade de argumentação e de síntese e o domínio da língua portuguesa. Os erros ortográficos serão valorados negativamente: 0,25 por cada um, até um máximo de 3 valores, para o total da prova. Questão 1 Questão 2 Questão 3 Questão 4 2 valores 4 valores 2 valores 2 valores NOTA: O conteúdo que a grelha disponibiliza reflete o que se afiguram ser as abordagens possíveis e corretas, em função dos dados do caso, sem prejuízo de outras abordagens que se mostrem razoáveis, desde que suportadas em fundamentos consistentes, as quais serão igualmente valoradas na medida do respetivo mérito. 1

1. Caracterize e distinga, fundamentadamente, a natureza dos despachos do Presidente da Câmara Municipal de Vale Bonito de 13 de dezembro de 2018 e de 12 de fevereiro de 2019 (2 valores) Caracterização do despacho de 13 de dezembro de 2018 como um ato administrativo - Caracterização do despacho do Presidente da Câmara, de 13 de dezembro de 2018, como um ato administrativo, aludindo ao conceito de ato administrativo previsto no artigo 148.º do Código do Procedimento Administrativo (CPA); - Identificação, no despacho, dos seguintes elementos do ato administrativo: decisão determinação da cessação da utilização da moradia; exercício de poderes jurídico-administrativos - ato praticado pelo Presidente da Câmara Municipal, órgão administrativo, no exercício da função administrativa, ao abrigo de normas de direito administrativo (artigos 102.º e 109.º do Regime Jurídico da Urbanização e Edificação - RJUE); produção de efeitos jurídicos externos numa situação individual e concreta definição da situação jurídica de Manuel Silva relativa à utilização da sua moradia. Caracterização do despacho de 13 de dezembro de 2018 como uma medida de tutela da legalidade urbanística, sem caráter sancionatório - Indicação de que a determinação da cessação da utilização da moradia é, como decorre do disposto no n.º 1, alínea b), e n.º 2, alínea g), do artigo 102.º do RJUE, uma medida de tutela e restauração da legalidade urbanística violada por ter sido utilizada parte de um edifício em desconformidade com o respetivo ato do controlo prévio (artigos 62.º e 74.º, nº 3, do RJUE); - Referência ao carácter não sancionatório da decisão. A decisão pretende impedir que a edificação seja usada para um fim diferente daquele que se encontra fixado no alvará e não punir Manuel Silva por ocupar a edificação em desacordo com o uso fixado no alvará. Caracterização do despacho de 12 de fevereiro de 2019 como uma decisão de aplicação de coima no âmbito de ilícitos de mera ordenação social - Caracterização do despacho do Presidente da Câmara, de 12 de fevereiro de 2019, como uma decisão condenatória, de aplicação de coima, proferida pela Autoridade Administrativa no âmbito de um procedimento contraordenacional (artigo 58.º do Regime Geral das Contraordenações - RGCO); - Quem, fundamentadamente, qualifique o despacho como ato administrativo, terá, ainda assim, que referir que este é proferido no âmbito de um «procedimento administrativo especial» e que se rege pelo RGCO. Caracterização do despacho de 12 de fevereiro de 2019 como uma decisão sancionatória - Caracterização da decisão como uma decisão sancionatória que visa punir Manuel Silva pela 2

prática de factos ilícitos e censuráveis que preenchem tipos legais nos quais se cominam coimas (artigo 1.º do RGCO); - Indicação de que a decisão visa punir Manuel Silva pela prática de duas contraordenações: «por manter aberto e em funcionamento um estabelecimento de restauração e bebidas sem que possuísse autorização de utilização, o que constitui contraordenação prevista pela alínea a) do n.º 1 e punida pelo n.º 4, todos do artigo 98.º» do RJUE e por «manter afixados diversos meios publicitários alusivos ao estabelecimento sem que para o efeito possuísse licença administrativa, o que constitui a contraordenação prevista e punida pela alínea d) do n.º 1 e pelo n.º 5, todos do artigo 57.º do» Regulamento Municipal de Publicidade no Município de Vale Bonito. 2. Como poderá Manuel Silva reagir contenciosamente contra cada um dos despachos, visando a sua eliminação da ordem jurídica? Indique, fundamentando: (4 valores) - o meio processual adequado; - Indicação de que o meio processual adequado é a ação administrativa de impugnação do ato administrativo visando a declaração de nulidade ou a anulação do despacho do Presidente da Câmara Municipal de Vale Bonito de 13 de dezembro de 2018 (artigos 37.º, n.º 1, alínea a), e 50.º, n.º 1, do Código de Processo nos Tribunais Administrativos - CPTA). - Indicação de que o meio processual adequado é o recurso de impugnação judicial da decisão de aplicação da coima proferida pelo Presidente da Câmara Municipal de Vale Bonito em 12 de fevereiro de 2019 (artigo 59.º do RGCO). - o tribunal competente; - Indicação de que o tribunal competente é o Tribunal Administrativo de Círculo da área da sede do Município de Vale Bonito (artigos 4.º, n.º 1, alínea b) e 44.º, n.º 1, do Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais - ETAF e artigo 20.º, n.º 1, do CPTA). Admitem-se respostas que, fundamentadamente, indiquem o artigo 17.º do CPTA e não o artigo 20.º, n.º 1. 3

- Referência a que, nos termos do artigo 4.º, n.º 1, alínea l), do ETAF apenas compete à jurisdição administrativa a apreciação de impugnações judiciais de decisões da Administração Pública que apliquem coimas no âmbito do ilícito de mera ordenação social por violação de normas de direito administrativo em matéria de urbanismo; - Caracterização da contraordenação prevista pela alínea a) do n.º 1 e punida pelo n.º 4, todos do artigo 98.º do RJUE como um ilícito de mera ordenação social por violação de normas de direito administrativo em matéria de urbanismo; - Caracterização da contraordenação prevista e punida pela alínea d) do n.º 1 e pelo n.º 5 do Regulamento Municipal de Publicidade no Município de Vale Bonito como um ilícito de mera ordenação social por violação de normas de direito administrativo em matéria de publicidade; - Na ausência de norma que expressamente regule a questão, afigura-se defensável, concluir que, na falta de disposição expressa em contrário, como é o caso do artigo 75.º-A da Lei Quadro das Contraordenações Ambientais, «quando ocorra impugnação de decisão administrativa sancionadora com aplicação de uma coima que puna um concurso de infrações relativo à violação de normas em matéria urbanística com violação de normas de outros domínios que não o urbanístico, a competência material para conhecimento dessa impugnação caberá aos tribunais judiciais e não aos tribunais administrativos» - Acórdão do Tribunal dos Conflitos de 27 de setembro de 2018 (Conflito n.º 23/2018). - o prazo; - Referência a que as causas de invalidade invocadas por Manuel Silva são suscetíveis de conduzir à anulação do ato administrativo e não à declaração de nulidade (artigos 161.º e 163.º do CPA); - Indicação do prazo de três meses para a impugnação de atos anuláveis, contado nos termos do artigo 279.º do Código Civil (artigo 58.º, n.º 1, alínea b) e n.º 2 do CPTA). - Indicação de que o recurso de impugnação judicial da decisão de aplicação da coima é apresentado no prazo de 20 dias após o seu conhecimento pelo arguido (artigo 59.º, n. º3, do RGCO) e de que o prazo é contado nos termos do artigo 60.º do RGCO. - a possibilidade /utilidade de também ser requerida uma providência cautelar; - Referência à possibilidade que Manuel Silva tem, por possuir legitimidade para intentar uma ação administrativa de impugnação do ato administrativo junto dos tribunais administrativos, de 4

solicitar a adoção das providências cautelares, antecipatórias ou conservatórias, que se mostrem adequadas a assegurar a utilidade da sentença a proferir nesse processo (artigo 112.º, n.º1 do CPTA). - Referência a que, não obstante a redação do n.º 1 do artigo 112.º do CPTA, atenta a natureza e o regime aplicável à tramitação do recurso de impugnação judicial da decisão de aplicação da coima RGCO e, subsidiariamente, Código de Processo Penal (CPP), não podem ser requeridas, nos termos do CPTA, providências cautelares destinadas a assegurar a utilidade da sentença a proferir nesse recurso; 3. Considerando que Manuel Silva não foi notificado para se pronunciar nos procedimentos no âmbito dos quais foram proferidas as decisões de 13 de dezembro de 2018 e de 12 de fevereiro de 2019, aprecie, fundamentadamente, a alegação relativa à violação do direito de audiência prévia. (2 valores) Direito de audiência prévia - Enunciar o direito de audiência dos interessados, quer enquanto garantia constitucional (direito de participação), quer na vertente procedimental de concretização do direito de participação e do dever de colaboração, com vista a que a administração encontre a melhor decisão (artigo 267.º, n.º, 5 da CRP e artigos 11.º, 12.º e 121.º do CPA). - Quanto ao despacho de 13 de dezembro de 2018, que determinou a cessação da utilização, referência a que a preterição da formalidade é causa de invalidade do ato, sendo o desvalor respetivo a anulabilidade (artigo 163º, n.º 1, do CPA); - Análise do caso, em que não existe controvérsia a respeito de o ato não ter sido precedido de audiência dos interessados, e conclusão de que foi preterida a audiência dos interessados. - Quanto ao despacho de 12 de fevereiro de 2019, que aplicou a Manuel Silva uma coima, referência a que, tratando-se de um ato praticado no âmbito de um procedimento de contraordenação procedimento de natureza sancionatória a participação dos interessados é assegurada através do exercício do direito de audiência e defesa, constitucionalmente consagrado enquanto direito fundamental integrante do catálogo de direitos, liberdades e garantias, no artigo 32.º, n.º 10, da CRP; - Referência, ainda, à previsão do direito de audição e defesa no âmbito do processo de 5

contraordenação no artigo 50.º do RGCO; - Referência a que a violação do direito de audiência e defesa do arguido, no âmbito do processo de contraordenação, é geradora de nulidade, nos termos do disposto no artigo 120.º, n.º 2, alínea d), do CPP, aplicável por via do disposto no artigo 41.º do RGCO; Admitem-se respostas nas quais se considere que a nulidade em causa decorre do disposto no artigo 119.º, alínea c), do CPP. 4. Aprecie, fundamentadamente, a alegação de Manuel Silva relativa à violação do princípio da proporcionalidade (2 valores) Espaços de autodeterminação - Enquadramento da questão do controlo da atuação da administração por via dos princípios e referência a que esse controlo apenas opera nos espaços de autodeterminação; - Identificação da norma ao abrigo da qual foi exercida a competência: Artigos 102.º, n.º1, alínea b) e n.º 2, alínea g) e 109.º do RJUE - O presidente da Câmara, no âmbito do dever de adoção das medidas de tutela e restauração da legalidade urbanística, é competente para ordenar e fixar prazo para a cessação da utilização de edifícios ou de suas frações autónomas quando sejam ocupados sem a necessária autorização de utilização ou quando estejam a ser afetos a fim diverso do previsto no respetivo alvará; - Identificação, na norma enunciada, de espaço de autodeterminação administrativa no que respeita ao âmbito da ordem de cessação da utilização, quando exista desconformidade com o título e esta respeite apenas a parte da edificação. Princípio da proporcionalidade - Enunciação do princípio nas suas três vertentes, de adequação (a medida proposta deve ser ajustada/idónea para alcançar o fim visado), necessidade (deve ser, de entre as idóneas, a que, em concreto, lese em menor medida os interesses e direitos dos particulares) e equilíbrio (que os benefícios obtidos sejam superiores aos prejuízos resultantes da sua adoção), explicitando em que consiste cada uma delas. 6

Teste da proporcionalidade - Realização do teste da proporcionalidade à situação em análise, concluindo que, passando embora no teste da adequação, na medida em que a cessação da utilização de uma moradia se mostra adequada a tutelar e restabelecer a legalidade urbanística quando uma edificação se encontre a ser utilizada em desconformidade com o consentido pelo título emitido (alvará), o teste da necessidade demonstra que estando em causa uma utilização desconforme com o ato de controlo prévio e restrita a uma parte da edificação, a determinação da cessação da utilização deverá incidir apenas sobre a utilização desconforme e sobre a parte da edificação objeto da mesma, não abrangendo a utilização para habitação consentida pelo alvará, pois que se mostra suficiente para alcançar a finalidade de restauração e tutela da legalidade urbanística e configura uma lesão menor dos direitos do seu destinatário; - Conclusão de que a medida determinada viola o princípio da proporcionalidade, na vertente da necessidade, sendo o despacho de 13 de dezembro de 2018 anulável, nos termos do disposto no artigo 163.º do CPA. - Admitem-se respostas que, em alternativa ao teste da proporcionalidade, considerem que, nos casos, como o vertente, em que existe uma utilização desconforme com a titulada e circunscrita a uma parte do edifício, existe vinculação no sentido de a ordem de cessação da utilização se limitar à utilização desconforme com o ato de controlo prévio e à parte da edificação objeto dessa utilização desconforme. 7