A CONTROVÉRSIA FRASER HONNETH A PROPÓSITO DO BINÔMIO RECONHECIMENTO IDENTITÁRIO E REDISTRIBUIÇÃO NA GLOBALIZAÇÃO Péricles Stehmann Nunes Graduado em Direito pelo Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo (IESA- CNEC), e-mail: periclessn@gmail.com RESUMO A pesquisa apresenta os principais autores que abordam o tema do reconhecimento, cada um a sua perspectiva, em que são influentes no debate contemporâneo, sendo eles Axel Honneth e Nancy Fraser, junto com Charles Taylor. Nesse confronto teórico, Fraser e Honneth discutem os principais pontos que envolvem a teoria do reconhecimento identitário e redistribuição na contemporaneidade, buscando a constituição de uma teoria social e os pressupostos para se pensar em uma teoria da Justiça, em que pretendem estabelecer uma relação crítica em relação às lutas sociais. Apesar das diferenças internas, Fraser e Honneth concordam que o objetivo da justiça social deve ser buscado como relações sociais, nas quais os indivíduos são incluídos como membros no sentido de que todos possam praticar e viver de maneira pública em seus estilos de vidas respeitando as diferenças uns dos outros. Palavras-chave: Reconhecimento. Nancy Fraser. Axel Honneth. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Grande parte das situações que são tratadas como minorias nas sociedades democráticas se definem conforme Charles Taylor pela forma como esta lida com suas minorias, sendo que em todas correntes sobre reconhecimento estejam presentem uma evidente defesa da identidade (TAYLOR, 1993, p.43).
De acordo Fraser, atualmente as pessoas encontram-se as margens de uma grande transformação social, marcada pela transição de uma sociedade industrial para uma sociedade de conhecimento, além disso, averígua-se, ainda, que a ordem internacional tradicional vinculada aos Estados soberanos sofre desgastes dando espaço por uma ordem globalizada. Uma peculiaridade desse processo de modificações é o importante papel desempenhado pelas demandas culturais que promovem às lutas por identidade e diferença Diferentemente de Fraser, para Alex Honneth o reconhecimento é uma categoria moral fundamental em que, esta sustentada na natureza ética de cada indivíduo. Sendo assim, o reconhecimento dos direitos provem como auto reconhecimento (estima) essencial para a construção do sujeito da ação na luta social. O reconhecimento para o autor é suficiente para ajustar todas as lacunas legais da sociedade contemporânea, bem como superar todos os desafios políticos de uma perspectiva de mudança social. METODOLOGIA Para a elaboração dos temas apresentados, utiliza-se método de pesquisa teóricobibliográfica abordam-se obras clássicas e autores contemporâneos, buscando, em síntese diferentes opiniões em artigos e teses acerca dos assuntos aqui tratados. RESULTADOS E DISCUSSÃO A globalização gerou uma nova forma de reinvindicação política em que se busca lutar pelo reconhecimento com o entendimento de justiça social, no qual se compreende questões de representação, identidade e diferença. De acordo Doglas Cesar Lucas não é certo que as atuais lutas pelo reconhecimento irão contribuir para aprofundar as lutas pela redistribuição, podendo resultar em um desenvolvimento combinado e desigual (LUCAS, 2013, p.223).
No pensamento da autora norte-americana, as demandas por justiça social dividem-se em dois tipos: de um lado as que buscam uma distribuição justa de recursos e bens e de outro, a política de reconhecimento de minorias étnicas, raciais e de gênero. A justiça requer tanto reconhecimento quanto redistribuição, desenvolvendo segundo Fraser uma concepção bidimensional da justiça, em que trata da redistribuição e reconhecimento como dimensões da justiça que podem permear todos os movimentos sociais (FRASER, 2008, p.168). Propõe-se que olhe para a justiça de modo bifocal, em que por um lado é uma questão de distribuição justa, e por outro uma questão de reconhecimento recíproco. Afirma-se que quanto à distribuição, segundo Doglas Cesar Lucas, a injustiça nasce na forma de desigualdades similares às de classe, baseadas na estrutura econômica da sociedade; já, no quis respeito ao reconhecimento, a injustiça nasce na forma de subordinação de estatuto, assente nas hierarquias institucionalizadas de valor cultural. Quando, contudo, aplicam-se as duas perspectivas, o risco de substituição pode ser paralisado. A justiça surge então como uma categoria bidimensional que abrande ambas as espécies de reivindicação, sem se reduzir umas às outras. Deste modo, demandas por mudança cultural misturam-se a demandas econômicas, tanto dentro quanto entre os movimentos sociais (LUCAS, 2013, p.225). A política de redistribuição tem como foco injustiças socioeconômica sendo o remédio à reestruturação político-econômico, os sujeitos coletivos da injustiça são classes sociais. Já a política do reconhecimento aponta para injustiças culturais, enraizadas nos padrões sociais, sendo a mudança cabível a transformação cultural, em que grupos da sociedade são as vítimas dessa injustiça que são rotuladas com menor estima. As pessoas que estão sujeitas a ambas as injustiças precisam tanto de reconhecimento quanto de redistribuição, e necessitam lutar pelas suas garantias e direitos. Sob essa perspectiva pautada na política econômica e na cultura, vemos que na sociedade atual homens são mais bem remunerados que as mulheres, o que exige redistribuição, outro modelo de coletividade bivalente mostra-se na categoria de raça, em que os negros são mais afetados com o desemprego do que os brancos, nesse caso exige-se a
redistribuição, além disse sofrem exclusão nas esferas públicas e privadas, gerando a falta de reconhecimento. No que se refere à ação social e movimentos sociais, Pinto (2008, p. 42) refere que Fraser é criticada por Honneth por abordar o material e o simbólico separadamente, construindo um elo entre eles. Para o autor, a distribuição é decorrência do reconhecimento. Desta forma, não seria possível isolar as lutas por reconhecimento das lutas por redistribuição. A imbricação destes dois princípios seria uma necessidade do próprio capitalismo (PINTO, 2008, p. 42). A diferença entre as identidades é construída através das ações e experiências sociais dos sujeitos, que buscam reconhecimento de suas singularidades. Aqui, Honneth entende o reconhecimento não como constituição de diferença, mas como uma forma de luta que substituiria a luta de classes e outras lutas por distribuição. Honneth vê o reconhecimento como a forma através da qual os sujeitos vivenciam uma busca por justiça (PINTO, 2008, p. 43). Neste contexto, as realizações pessoais ou mérito são fatores cruciais para que o sujeito seja reconhecido por seus semelhantes. Assim, o mérito é usado como justificativa para desigualdades sociais gravíssimas, causadas por uma distribuição fortemente desigual. CONCLUSÃO A presente pesquisa centrou sua análise nas políticas de reconhecimento no contexto atual, buscando segundo Taylor uma sociedade que reconhece a identidade individual (TAYLOR, 1994, p.25), fortalecendo um Estado democrático de interação social reconhecida nas diferenças dos indivíduos. Nas sociedades multiculturais a luta por reconhecimento identitário será sempre questionada pelas diferenças que constituem a humanidade, conforme Jürgen Habermas,
As formas de vida com direitos iguais significa garantir a cada cidadão a oportunidade de crescer dentro do mundo de uma herança cultural, e garantir aos seus filhos crescerem nele sem sofrerem discriminação. Significa a oportunidade de confrontar esta e todas as outras culturas e perpetuá-la na sua forma mais convencional (HABERMAS.1994, p.149). Vemos um sistema que produz intensas desigualdades. Nesta era de informações, o fenômeno passa a produzir grandes transformações, amplia informações para todas as pessoas em todas as localidades, promove o acirramento de conflitos, coloca em proximidade culturas diferentes e gera resoluções a partir de uma visão global. Apesar das diferenças, Fraser e Honneth concordam que o objetivo da justiça social seve ser buscado como reconhecimento dos indivíduos multiculturais, em que se possa viver com diálogo respeitando as diferenças uns dos outros. REFERÊNCIAS FRASER, Nancy. A injustiça na globalização: redistribuição, reconhecimento e participação. Trad. Teresa tavares. In: Revista Crítica de Ciências Sociais, 2002. HABERMAS, Jürgen. A inclusão do outro. Estudos da teoria política. Tradução de George Sperber e Paulo Astor Soethe. São Paulo: Edições Loyola, 2002. HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento. São Paulo: Ed. 34, 2003. LUCAS, Doglas Cesar. Direitos humanos e interculturalidade: um diálogo entre a igualdade e a diferença. Ijuí: UNIJUÍ, 2013. PINTO, Celi Regina Jardim. Nota sobre a controvérsia de Fraser-Honneth informada pelo cenário brasileiro. São Paulo: Lua Nova, 2008. TAYLOR, Charles. A política do reconhecimento. In: TAYLOR, Charles (Org.). Multiculturalismo: examinando a política de reconhecimento. Lisboa: Instituto Piaget, 1994.