CIVILIZAÇÕES PERDIDAS. Novos vestígios de povos do passado OBESIDADE INDÚSTRIA DA CAÇA ENLATADA INVEJA #143. As causas de uma epidemia contemporânea



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Edição #143 Oásis OBESIDADE As causas de uma epidemia contemporânea INDÚSTRIA DA CAÇA ENLATADA Quando leões são criados para serem mortos INVEJA Um caminho para o autoconhecimento CIVILIZAÇÕES Novos vestígios de povos do passado PERDIDAS

por Luis Pellegrini O passado da presença humana na superfície do planeta, já em sociedades organizadas, é muito mais antigo e cheio de mistérios do que se pensava até pouco tempo Editor E m 1999, o alemão Carlo Bergmann encontrou três cacos de cerâmica antiga nas redondezas do oásis de Dakhla, a 350 quilômetros a oeste do Cairo. A descoberta levou-o a pesquisar mais, com a ajuda de dois arqueólogos conterrâneos, e em 2001 os três localizaram os vestígios de 27 estações ao longo de uma trilha usada no passado, denominada Abu Ballas, que corria 350 quilômetros a sudoeste de Dakhla, em pleno Saara, e desaparecia de repente. É a primeira estrada transaariana e mostra que havia expedições faraônicas que mergulhavam no deserto, afirma Stefan Krö, da Universidade de Colônia (Alemanha), um dos arqueólogos envolvidos na expedição. Mas Bergmann e outros estudiosos sugerem uma hipótese mais ousada: em vez de uma rota concebida pelos antigos egípcios, ela seria obra de outra civilização, instalada no deserto, cujos conhecimentos permitiram ao Egito faraônico chegar ao seu elevado grau de evolução. As antigas civilizações que floresceram no deserto do Saara são apenas oásis. Editorial 2/38

por Luis Pellegrini Editor algumas das inúmeras culturas misteriosas que desapareceram da face da Terra quase sem deixar vestígios. Outra delas, a da Atlântida, hoje perdida entre o mito e as especulações de arqueólogos românticos, também é objeto de considerações na nossa matéria de capa. Da mesma forma que as inúmeras culturas, algumas de provável alto grau tecnológico, que surgiram e depois desapareceram na nossa Amazônia muito antes desse território ser tomado pelos povos dos quais nossos indígenas são os descendentes na atualidade. Tudo para dizer que o passado da presença humana na superfície do planeta, já em sociedades organizadas, é muito mais antigo e cheio de mistérios do que se pensava até pouco tempo. Não deixe de ler também, neste número de Oásis, a matéria sobre a caça enlatada, na África do Sul. Animais, sobretudo leões, são criados e praticamente domesticados simplesmente para servirem de tiro-ao- -alvo para caçadores covardes e cruéis. Um horror. oásis. Editorial 3/38

CIVILIZAÇÕES PERDIDAS Novos vestígios de povos do passado arqueologia Santorini, No Mar Egeu: A Erupção Do Vulcão Da Ilha, Em 1628 A.C., Poderia Ter Dado Origem Ao Mito Da Atlântida oásis. arqueologia 4/38

Por: Equipe Oásis A Atlântida, Amazônia, Ilha de Páscoa, são apenas alguns dos lugares que abrigaram importantes civilizações, reais ou míticas. A cada dia, a arqueologia encontra mais vestígios desses povos do passado ainda envoltos em mistério tlântida, a grande ilha descrita pelo filósofo grego Platão (427-347 a.c.) nos livros Timeu e Crítias, cuja civilização teria sido destruída por terremotos e tsunamis depois de passar por um processo de degeneração, já ganhou dos pesquisadores as mais variadas localizações. Segundo algumas hipóteses, ela ficava: ao sul da Espanha; no litoral da Holanda; na costa atlântica perto do Estreito de Gibraltar; a sudoeste da Inglaterra; na Irlanda; no Mar Negro; ou até mesmo seria o continente americano. Para Julia Annas, professora de filosofia da Universidade do Arizona (EUA), as coordenadas geográficas da Atlântida não interessavam muito a Platão; na verdade, ele teria elaborado uma ficção como suporte para discutir temas como governo e poder. Já pesquisadores que buscam o palco dessa suposta ficção salientam que os eventos descritos não teriam ocorrido em um ponto muito distante do lar do filósofo. O australiano Dale Dominey-Howes, da Universidade de Nova Gales do Sul, é um dos que apostam na ilha de Santorini, no Mar Egeu, cujo vulcão teve uma violenta erupção em 1628 a.c. O vulcão basicamente entrou em colapso no mar no fim da erupção, afirma ele. No epicentro, calcula-se que as ondas resultantes superaram 100 metros de altura. O tsunami viajou em todas as direções, avalia Dominey-Howes. O episódio é ligado ao fim da civilização minoica, na ilha de Creta. Outra possível localização da Atlântida seria Helike, cidade-estado 150 quilômetros a oeste de Atenas, sede de uma floresta dedicada ao deus do mar, Poseidon, e conhecida por promover a coexistência pacífica com os estados vizinhos. O terremoto que varreu oásis. arqueologia 5/38

A cidade grega de Santorini fica situada na borda do antigo vulcão totalmente Helike do mapa, em 373 a.c., quando Platão estava na casa dos 50 anos, pode tê-lo inspirado a criar o cataclismo que destruiu a Atlântida. As avenidas da Atlântida A hipótese de que a Atlântida estaria além do Estreito de Gibraltar ganhou algum fôlego em 2009, quando o jornal britânico The Sun divulgou que uma busca feita pelo engenheiro aeronáutico inglês Bernie Bamford com o uso da ferramenta Google Ocean (uma extensão do Google Earth que combina imagens de satélite e mapas marinhos) encontrou no Oceano Atlântico, cerca de mil quilômetros a oeste da costa africana, na região das Ilhas Canárias, uma vasta área submersa (ao redor de 20.000 km2) com linhas cruzadas que lembrariam as vias de uma grande metrópole. Na avaliação de Bamford, as linhas situadas a mais de 5,5 mil metros de profundidade, na Planície Abissal da Madeira se mostram muito extensas e organizadas para serem algo feito pela natureza. O Google afirmou que as linhas cruzadas eram dados de sonar coletados enquanto os barcos mapeavam o leito oceânico, mas não soube explicar o que significavam os pontos em branco entre as linhas. Amazônia Um voo para Rio Branco, a capital acreana, feito em 1999 pelo paleontólogo brasileiro Alceu Ranzi (da Universidade Federal do Acre) pode ter sido o início de uma ampla reviravolta na arqueologia amazônica. Essa região, dominada pela floresta tropical, tradicionalmente não era oásis. arqueologia 3/8 6/38

O paleontólogo Alceu Ranzi, da Universidade do Acre (Foto de Altino Machado A civilização do Xingu considerada lar de civilizações mais desenvolvidas. Mas o que Ranzi viu do alto, graças ao avanço do desmatamento na área, estava longe de parecer obra de uma tribo primitiva: uma grande série de figuras geométricas, incluindo retângulos e círculos perfeitos, gravadas no solo. A fronteira do Acre com a Bolívia não seria o único reduto de uma civilização adiantada na Amazônia. O antropólogo norte-americano Michael Heckenberger, da Universidade da Flórida em Gainesville, passou parte de 1993 vivendo com a tribo kuikuro, perto da cabeceira do Rio Xingu, e ali ouviu narrativas sobre vestígios de povos antigos nas redondezas. Ele começou a mapear esses locais traços de estradas, casas e represas em detalhes e publicou um artigo sobre o tema na revista Science em 2008. Heckenberger suspeita que dúzias de povos evoluídos viveram na Amazônia até serem dizimados por doenças trazidas pelo homem branco. Vídeo: Mistério na Amazônia: Gigantescos Geoglifos na Floresta Ranzi atraiu a atenção de pesquisadores nacionais e estrangeiros para sua descoberta e, hoje em dia, já foram encontrados mais de 250 geoglifos (nome cunhado por Ranzi) na região do Alto Rio Purus, abrangendo o leste do Acre, o sul do Amazonas, o oeste de Rondônia e o norte da Bolívia. Em artigo publicado na revista Antiquity em 2009, Ranzi, a arqueóloga brasileira Denise Schaan (da Universidade Federal do Pará) e o antropólogo finlandês Martti Pärssinen descrevem os achados: oásis. arqueologia; Um dos misteriosos geoglifos do Acre, prova de que n a região já viveu uma cultura muito avançada 4/8 7/38

Em geral, as figuras geométricas são formadas por uma vala de cerca de 11 metros de largura e atualmente 1-3 metros de profundidade, com bordas de terra adjacentes com 0,5-1 metro de altura, formadas pela deposição do solo escavado, explicam os autores. Os anéis das valas têm diâmetros que variam de 90 metros a 300 metros. As estruturas circulares são mais comuns no sul, enquanto estruturas compósitas e retangulares se tornam mais frequentes na direção norte. Quando há duas ou mais estruturas, elas são geralmente ligadas por estradas de terra. Algumas das estruturas retangulares simples podem ter estradas curtas saindo do meio dos lados ou dos cantos. As figuras compostas incluem um retângulo dentro de um círculo ou vice-versa. Datados entre os anos 1200 e 1283, esses geoglifos pré- -colombianos seriam resquícios de avenidas, praças, sítios cerimoniais, casas, pontes, canais e estradas, espalhados ao longo de mais de 250 quilômetros de extensão. A população responsável por essas obras teria atingido 60 mil pessoas, avaliam Denise, Ranzi e Pärssinen um número excessivo de habitantes para a capacidade da área. Hoje se suspeita que o que já foi descoberto representa apenas 10% do total de geoglifos e ruínas existentes na área o resto estaria coberto pela vegetação. As marcas Esquerda, faces humanas em relevo em urnas funerárias da região do Oiapoque. Direita, urna antropomórfica dos índios Cunaní do Amapá são visíveis pelo Google Earth uma ferramenta preciosa para os estudos na área, segundo os cientistas, já que é mais fácil observar essas figuras do alto do que no nível do solo. As estátuas da Ilha de Páscoa são um testemunho de uma cultura que não resistiu a obstáculos criados por ela mesma e pelos visitantes ocidentais, segundo as mais recentes teorias. Na página ao lado, um dos geoglifos recentemente encontrados na Amazônia. oásis. arqueologia 8/38

Grande superfície pavimentada com pedras na zona de Karouabo, na Guiana Francesa fome que degeneraram inclusive em canibalismo. O biólogo norte-americano Jared Diamond abordou o caso detalhadamente em seu livro Colapso, de 2005, citando- -o como amostra do que os homens podem gerar ao destruir o ambiente que os abriga. O antropólogo Terry Hunt, da Universidade do Havaí, e o arqueólogo Carl Lipo, da Universidade Estadual da Califórnia, Long Beach, têm reparos a fazer em relação a esse roteiro. Segundo seus estudos, divulgados em 2006, o desflorestamento, por exemplo, foi causado não apenas pelo corte para a produção de embarcações, mas também pela ação de ratos que vieram nos barcos dos primeiros Na região do Xingu, Brasil central, certamente já viveram os membros de várias civilizações extintas Ilha de Páscoa Quando o navegador holandês Jacob Roggeveen chegou a esse remoto ponto do Pacífico, em 1722, encontrou uma terra escassamente povoada, cuja aparência desgastada não daria outra impressão que não fosse a de uma singular aridez e pobreza. A partir dos relatos dos habitantes locais, encadeou-se uma série de eventos que explicava como a ilha chegara àquela condição: degradação ambiental, superpopulação, disputas entre clãs, surtos de oásis. arqueologia 9/38

Mas e a descrição de Roggeveen? Hunt e Lipo não a explicam, mas contrapõem a ela o relato de um membro de uma expedição francesa à ilha em 1789: Em vez de encontrar homens exaustos pela fome (...), deparei, ao contrário, com uma população considerável, com mais beleza e graça do que os que encontrei depois em qualquer outra ilha; e um solo que, com muito pouco trabalho, oferecia excelentes provisões. Os relatos tradicionais da derrocada da Ilha de Páscoa estão sendo revistos. Não há, por exemplo, muitas evidências que confirmem uma onda de fome que teria feito perecer boa parte dos seus habitantes ocupantes da ilha. Os dados disponíveis sobre a erosão do solo foram extrapolados de um único ponto da ilha para todo seu território. E as severas ondas de fome produzidas enquanto Páscoa era desmatada têm poucas evidências comprobatórias. Pesquisas mais recentes, aliás, apontam na direção contrária: a população da Ilha cresceu durante o processo de desflorestamento. As únicas evidências mais nítidas de um colapso populacional, segundo Hunt e Lipo, surgiram apenas depois da chegada de navegadores ocidentais à ilha. Entre 1722 e 1862, cerca de 50 navios europeus aportaram ali. Há relatos da difusão de doenças transmitidas sexualmente nos anos 1830, e a varíola se espalhou após a passagem de navios escravos com bandeiras do Peru e da Espanha, nos anos 1860. Em 1877, as doenças e as expedições em busca de escravos reduziram a população pascoana a cerca de 100 pessoas. Em suma: foi a presença europeia, e não a devastação ambiental, a principal responsável pelo desastre pascoano, afirmam Hunt e Lipo. As coisas funcionaram bem oásis. arqueologia 10/38

para os antigos ilhéus por séculos antes de os forasteiros chegarem, diz Hunt. Os visitantes europeus viram um estado patético e quiseram saber sobre um passado mais glorioso. O que eles não reconheceram foi que as doenças que haviam introduzido explicavam o triste estado que testemunharam. Vista do oásis de Dakhla, no oeste do Egito. O local teria sido ponto de passagem de uma civilização que habitava o deserto, cujos conhecimentos permitiram aos antigos egípcios atingir um elevado grau de evolução. Civilizações do Saara Em 1999, o alemão Carlo Bergmann encontrou três cacos de cerâmica antiga nas redondezas do oásis de Dakhla, a 350 quilômetros a oeste do Cairo. A descoberta levou-o a pesquisar mais, com a ajuda de dois arqueólogos conterrâneos, e em 2001 os três localizaram os vestígios de 27 estações ao longo de uma trilha usada no passado, denominada Abu Ballas, que corria 350 quilômetros a sudoeste de Dakhla, em pleno Saara, e desaparecia de repente. É a primeira estrada transaariana e mostra que havia expedições faraônicas que mergulhavam no deserto, afirma Stefan Krö, da Universidade de Colônia (Alemanha), um dos arqueólogos envolvidos na expedição. Mas Imagem da Ilha de Páscoa do século 19, com alusão ao suposto canibalismo que teria grassado centenas de anos antes entre a população. Para Hunt e Lipo, não há confirmação histórica de onda de fome na ilha Bergmann e outros estudiosos sugerem uma hipótese mais ousada: em vez de uma rota concebida pelos antigos egípcios, ela seria obra de outra civilização, instalada no deserto, cujos conhecimentos permitiram ao Egito faraônico chegar ao seu elevado grau de evolução. Como reforço à tese, pesquisadores encontraram ferramentas de pedra datadas de cerca de 5500 a.c. em Djara, local situado entre os oásis ocidentais e o vale do Rio Nilo. Essas peças só surgiram no vale do Nilo por volta de 500 anos depois. O deserto a oeste do Nilo também oásis. arqueologia 11/38

influência externa no antigo Egito. O Deserto do Saara, norte da África, já foi um mar interior. Ao redor dele viviam várias importantes civilizações já desaparecidas foi objeto de escavações do norte-americano Fred Wendorf, da Universidade Metodista do Sul, em Dallas. O material ali descoberto sugere que o culto a animais de criação, importante na época dos faraós, nasceu ali. Para Wendorf, a cultura ali baseada também desenvolveu conhecimentos astronômicos, adotados depois pela era pré- -dinástica outro reforço à hipótese de uma inesperada Mas não foram esses os únicos segredos expostos pelo deserto ocidental. No sul da Líbia, pesquisadores das Universidades de Leicester e Newcastle (Grã-Bretanha) encontraram restos de cidades e uma grande rede de canais de irrigação espalhada por milhares de quilômetros. As obras são atribuídas aos garamantes, povo cujo ápice se deu nos primeiros séculos depois de Cristo. Eles teriam comerciado com seus contemporâneos romanos e, por vezes, atacado suas bases. Uma das curiosidades achadas pelos pesquisadores foi um azulejo de banho romano mil quilômetros deserto adentro. Os garamantes desapareceram misteriosamente, mas, para David Mattingly, da Universidade de Leicester, não há dúvida de que eles formaram um dos primeiros Estados saarianos. oásis. arqueologia 12/38

OBESIDADE As causas de uma epidemia contemporânea saúde oásis. saúde 13/38

Comidas que viciam, falha no sistema de compensação neurológico e fatores genéticos mostram por que é tão difícil manter o peso Por: Equipe Oásis Acada ano aumenta a quantidade de obesos e de pessoas com excesso de peso no mundo. E, pior, esse número crescente não é mais uma particularidade de países desenvolvidos, como os Estados Unidos. Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008-2009), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), metade da população adulta brasileira está acima do peso. A mudança no padrão de alimentação aumento no consumo de comidas industrializadas e a vida sedentária são os principais fatores de sobrepeso. Ao longo dos anos, com o aumento da obesidade e da preocupação sobre o tema, foram desenvolvidos muitos estudos para se combater esse mal. É muito aceita a hipótese de que a obesidade pode ser uma doença sem uma única causa, mas várias. Predisposição genética, meio ambiente, vírus e distúrbio alimentar estão entre os fatores que podem desencadear um quadro de obesidade. Pode ser hereditária Uma teoria é de que a obesidade pode ser hereditária. Pesquisas feitas pelo Consórcio de Investigação Genética de Traços Antropométricos (Giant), que conta com mais de 400 cientistas de 280 instituições de pesquisa ao redor do mundo, mostraram novos determinantes genéticos relacionados ao alto índice de massa corpórea (IMC) e à distribuição de gordura no corpo. No primeiro estudo sobre o IMC, os cientistas identificaram 32 regiões que podem estar associadas ao IMC, 18 das quais nunca haviam sido relacionadas à obesidade antes. Uma das novas variantes descobertas está no gene que faz a codificação para um oásis. saúde 14/38

Tanto fatores genéticos quanto ambientais interferem no peso. No segundo estudo foram encontrados 13 determinantes genéticos que influenciam a distribuição de gordura corporal, a razão cintura/quadril. De acordo com essa razão, o fato de a gordura ser armazenada na região do abdômen aumenta o risco de diabetes tipo 2 e doenças cardíacas. Por outro lado, ao se estabelecer no quadril ou coxas, ela pode ser benéfica, nos protegendo desses males. receptor de proteína que responde a sinais vindos do estômago e influencia no nível de insulina e no metabolismo. Outra variável fica próxima a um gene conhecido por codificar proteínas que afetam o apetite. Embora se diga que o efeito de cada variante seja modesto, os voluntários que têm mais de 38 delas eram, em média, de 6 a 9 quilos mais pesados que os que tinham 22 variantes ou menos. É importante lembrar que a expressão dessas variantes é muito pequena quando se quer determinar se, no futuro, uma pessoa será obesa. oásis. saúde 15/38

Dezenove crianças apresentavam o adenovírus 36 e, desse total, 78% tinham quadro de obesidade. Outra observação foi que as crianças que portavam o vírus pesavam, em média, 22 quilos a mais que aquelas que não o tinham. Os cientistas alertam que esse excedente pode significar um aumento no risco de outras doenças, como problemas cardíacos, diabetes e doenças no fígado. A ideia de uma causa viral para a obesidade foi levantada uma década atrás por Nikhil Dhurandhar, professor do Centro de Pesquisa em Biomedicina de Pennington, nos Estados Unidos. Ele notou que os frangos que morriam durante uma epidemia de gripe (causada pelo adenovírus) na Índia, nos anos 1980, eram mais gordos, ao invés de serem magros, perfil esperado de um organismo doente. 42% de obesos Vírus da obesidade Já pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, acreditam que a obesidade seja transmitida de pessoa para pessoa como se fosse uma infecção. Não por acaso, os cientistas apelidaram a doença de infectobesidade, causada pelo adenovírus 36, uma variação do vírus associado ao resfriado. O estudo foi feito com 124 crianças de 8 a 18 anos e constatou-se que 54% delas eram obesas. Pesquisadores da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, estimam que a epidemia de obesidade na América do Norte não vai parar até que pelo menos 42% dos adultos estejam obesos. O estudo de matemática modular, que levou em consideração dados de 40 anos do estudo Framingham Heart sobre doenças cardiovasculares, foi publicado no periódico PloS Computational Biology. oásis. saúde; 16/38

Gordura vicia Além da predisposição genética e de um vírus da obesidade, evitar essa doença se torna muito difícil, já que alimentos extremamente gordurosos e deliciosos estão ao nosso alcance a toda hora. Um artigo que saiu no periódico Nature Neuroscience dá uma outra perspectiva do porquê é tão difícil deixar de comer alguns pratos e alimentos gordurosos, mas muito palatáveis. Em uma experiência com ratos foi constatado que aqueles que se alimentavam de comida gordurosa apresentavam um déficit nos receptores de dopamina D2, hormônio que está associado à sensação de prazer e satisfação. No experimento, os ratos foram divididos em três grupos: um que só se alimentava de ração, um que tinha acesso limitado a comidas gordurosas e um que poderia comer todos os alimentos gordurosos que quisesse. Depois de 40 dias, os ratos que tinham acesso ilimitado à gordura ganharam muito mais peso se comparados aos demais roedores. O desenvolvimento da obesidade em ratos com acesso ilimitado à comida palatável está muito associado à piora do sistema de recompensa do cérebro, escrevem os cientistas. Os pesquisadores afirmam que déficits similares no sistema de recompensa do cérebro foram reportados em ratos viciados em drogas, como cocaína injetável. Logo, essa deficiência de receptores de dopamina D2 pode levar ao exagero na comilança, contribuindo para a obesidade. Por que as dietas falham? Segundo cientistas da Universidade da Pensilvânia, seguir uma dieta de emagrecimento faz com que o cérebro fique mais sensível ao estresse e busque recompensas oásis. saúde 17/38

produtos que priorizem a praticidade e o sabor acentuado. Esse tipo de alimento geralmente contém muitas substâncias que, em excesso, fazem mal ao organismo, levando ao ganho de peso, ao aumento de colesterol e de triglicérides, entre outros problemas. A oferta de alimentos palatáveis de alta caloria favorece episódios de transtorno alimentar compulsivo periódico. Mas também a questão da aprendizagem influi, diz Hermano Tavares, médico psiquiatra e coordenador do Ambulatório dos Transtornos por Impulso do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo. calóricas, como comidas gordurosas. Um experimento feito com ratos mostrou que o nível de cortisol, hormônio relacionado ao estresse, é muito maior naqueles que perderam peso em relação ao grupo de controle. Foi constatado que houve mais episódios de descontrole alimentar e ganho de peso nos roedores que passaram por dieta. Descontrole com a comida De fato, a oferta de comida extremamente palatável aumenta cada vez mais. Indústrias trabalham muito com Segundo ele, existe a necessidade de uma figura que zele pela boa alimentação das crianças e pelo aprendizado alimentar. E hoje, em razão do ritmo de vida e da inserção da mulher no mercado de trabalho, é mais difícil encontrar lares com tal figura de autoridade. Às vezes, as pessoas comem de maneira equivocada porque não foram ensinadas como se alimentar de maneira apropriada, argumenta. Além disso, há estudos que mostram que há doenças que têm fatores contribuintes de origem intrauterina. Maus hábitos alimentares podem comprometer a saúde do bebê no período em que ele está na barriga da mãe. Tavares aponta que a reeducação alimentar seria um bom modo de combater a obesidade. Isso porque ela pode estar associada a outras dependências, como a ansiedade. É possível combater a ansiedade com psicoterapias e medicamentos, mas ainda assim é necessário ter um hábito alimentar saudável. O psiquiatra observa que uma linha de pesquisa da disciplina de telemedicina da Faculdade de Medicina da USP, batizado de Acade oásis. saúde 10/14 18/38

O quarto pilar seria alimentar um bichinho virtual (representação do aluno), como modo de trabalhar a conscientização e a honestidade consigo mesmo. O último fundamento é a formação de comunidades para estimular a boa alimentação e a experimentação de novos sabores. mia Nutricional, para estimular a reeducação alimentar. A Academia Nutricional funcionaria como um colégio, com aproximadamente 3 anos de duração, e se fundamentaria em cinco pilares. O primeiro diz respeito a experimentar novos sabores e alterar, numa taxa de 3% ao mês, o cardápio da pessoa. Já o segundo pilar se basearia na conscientização dos benefícios que cada alimento traz ao corpo. No terceiro momento, o nutricionista agiria como um negociador, que tiraria algum alimento do prato do paciente e o substituiria por um mais saudável. Tavares afirma que esse método de reeducação alimentar pode ser muito eficaz, já que se está lidando com um comportamento praticado por anos. É preciso de métodos muito criativos para se promover uma mudança comportamental. Tudo, claro, num ambiente afetivo, porque ele facilita essa mudança. A brincadeira do bichinho virtual pode envolver mais respostas afetivas, argumenta. Paladar da mãe influencia na dieta do filho Estudo publicado no periódico Proceedings of Royal Society B mostrou que a alimentação da mãe na gravidez pode influenciar no paladar do filho. O experimento foi feito com dois grupos de ratos: um em que as mães se alimentavam de comidas com sabores mentolados e cerejas, e outro em que elas tinham uma dieta branda. oásis. saúde 19/38

Os filhotes do primeiro grupo tinham um glomérulo (região do cérebro responsável pelo odor) maior. É a primeira evidência de que os odores no útero podem alterar o modo como o cérebro se desenvolve. Acredita-se que todos os mamíferos desenvolvam seu paladar do mesmo modo. Novos modos de emagrecer Em busca de combater o sobrepeso com mais eficácia, muitos métodos de emagrecimento estão sendo reformulados. Entre eles está a contagem de calorias. Os Vigilantes do Peso do Reino Unido implantaram recentemente o sistema ProPoints, em que os alimentos ganham pontuação por suas características e seu modo de preparo e não pela quantidade de calorias que possuem (antigo método). Pesquisas realizadas pela própria instituição constataram que o sucesso em emagrecer não diz respeito somente à contagem de calorias, mas quão rápido nosso corpo processa os nutrientes. Por exemplo, de acordo com o antigo sistema, uma barra de chocolate e um bife tinham a mesma pontuação. Mas o corpo pode queimar 25% mais energia digerindo proteínas e fibras (carne) que processando açúcares e gordura (chocolate). O ProPoints trabalha com uma meta de consumo de pontos diários, baseada em gênero, idade, peso e altura. Ao mesmo tempo, há um bônus de pontos por semana que podem ser gastos em qualquer dia, como preferir. Então, a pessoa, caso tenha um jantar ou uma festa, não precisa se limitar tanto pela dieta. Por enquanto, a medida do ProPoints só foi implantada no Reino Unido. Mas possivelmente, em breve, será utilizada pelo Vigilantes do Peso do Brasil. Outro método de emagrecimento que tem sido posto em xeque são os exercícios físicos. Estudos recentes mostram que, a partir de um certo ponto, o corpo para de queimar energia e começa a querer repô-la, fazendo com que a pessoa coma mais e engorde. Um experimento realizado na Universidade de Louisiana, nos Estados Unidos, analisou quatro grupos de mulheres com sobrepeso durante 6 meses. No primeiro, elas se exercitavam 72 minutos por semana. No segundo, por 136 minutos. Já o terceiro grupo, por 194 minutos. As mulheres oásis. saúde 20/38

membros do último seguiam sua rotina normal, sem exercícios adicionais. No final do estudo, os pesquisadores não constataram nenhuma diferença significativa de perda de peso entre aquelas que se exercitaram em relação ao grupo de controle. Os cientistas sugerem que isso aconteceu em virtude de um sistema de compensação do corpo, pois aquelas que se exercitaram compensaram as calorias gastas comendo mais, como uma forma de autorrecompensa. Obsessão por comer O transtorno alimentar compulsivo periódico (TCAP) é um distúrbio em que, por muitos episódios, a pessoa perde o controle e come até passar mal ou até a comida acabar. Grande parte dos pacientes com esse transtorno tem sobrepeso e cerca de 30% dos obesos têm esse comportamento. A perda de controle com a comida não é obesidade. Ela é frequentemente associada a outras formas de perda de controle, como jogo, sexo, compras, explica Hermano Tavares, coordenador do Ambulatório dos Transtornos por Impulso do Instituto de Psiquiatria da USP. Esse descontrole é mais comum do que se pensa. Imagine uma noite mal dormida, estresse no trânsito, período de pressão no trabalho somados a um jejum de 12 horas. Depois desse dia, quando for a uma churrascaria, tente se controlar. A tendência de perder o controle está associada a fatores genéticos e ambientais, conclui. oásis. saúde 21/38

INDÚSTRIA DA CAÇA ENLATADA Quando leões são criados para serem mortos reportagem oásis. reportagem 22/38

O Na África do Sul existem mais leões em cativeiro do que em estado selvagem. Muitos desses animais são criados especificamente para serem abatidos por turistas ricos da Europa e da América do Norte nos programas batizados de indústria da caça enlatada Por: Patrick Barkham, da África do Sul Fonte: Jornal The Guardian jornalista britânico Patrick Barkham visitou uma fazenda de criação de leões no North Eastern Free State, África do Sul, para investigar a relação entre a reprodução de leões em cativeiro e a assim-chamada indústria da caça enlatada. A reportagem de Barkham é completada por fotos. A ela acrescentamos um vídeo que mostra esses caçadores em plena ação. De forma covarde e debochada, apenas para se divertir, eles matam animais habituados à presença humana desde que nasceram: leões que nunca conheceram a vida selvagem, e que foram soltos de seus recintos horas antes da carnificina. Eles são adoravelmente bonitos, com um pelo marrom-dourado tão suave que parece escapar por entre meus dedos, como se fosse farinha. Somente quando um dos filhotes de nove semanas de idade agarra meu braço, usando seus dentes para brincar, é que me lembro de que ele é um leão, um animal selvagem. Estes quatro filhotes, no entanto, não são selvagens. Eles nasceram e são mantidos em um pequeno rancho, no meio de um campo desolado, situado cerca de 200 quilômetros ao sul de Johanesburgo. Muitos turistas param para acariciar os filhotes, mas não se aventuram sobre a colina onde os donos do rancho mantêm quase 50 outros leões, entre jovens e adultos, e dois tigres, todos eles presos no interior de cercados. O Rancho Moreson é apenas uma das mais de 160 fazendas de criação legal de grandes felinos na África do Sul. Há agora mais leões em cativeiro (mais de 5 mil) no país do que leões soltos e selvagens (cerca de 2 mil). Os donos dessas fazendas dizem não caçar nem matar os seus oásis. reportagem 23/38