Registro: 2016.0000736955 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0018580-90.2013.8.26.0562, da Comarca de Santos, em que é apelante/apelado CARITAS ADMINISTRAÇÃO E PARTICIPAÇÕES LTDA, é apelado/apelante CONDOMINIO EDIFICIO BISCAYNE BOULEVARD. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 28ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: negaram provimento ao recurso do autor e deram provimento ao recurso da ré. v. u., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores DIMAS RUBENS FONSECA (Presidente), CESAR LUIZ DE ALMEIDA E GILSON DELGADO MIRANDA. São Paulo, 6 de outubro de 2016. Dimas Rubens Fonseca Relator Assinatura Eletrônica
APELAÇÃO Nº 0018580-90.2013.8.26.0562 COMARCA: SANTOS (11ª VC) APTES/APDOS: CARITAS ADMINISTRAÇÃO E PARTICIPAÇÕES LTDA E CONDOMÍNIO EDIFÍCIO BISCAYNE BOULEVARD JD 1º GRAU: RODRIGO GARCIA MARTINEZ VOTO Nº 19.425 AÇÃO DE COBRANÇA. Multas por infração condominial. Instalação de toldo externo retrátil em unidade autônoma localizada no último pavimento do edifício. Comprovação de que a falta de uniformidade estrutural deste pavimento com os demais tornou a existência do toldo insuscetível de prejudicar a estética e a harmonia da fachada do prédio. Ausência de justa causa para a aplicação das multas condominiais que as tornam inexigíveis, por se revelarem abusivas na espécie. Honorários advocatícios arbitrados sobre valor irrisório dado à causa que legitima a sua fixação por equidade, para o fim de majoração. Aplicação do artigo 85, 8º, do CPC/2015. Recurso do autor desprovido e apelo da ré provido. Trata-se de apelações interpostas por CARITAS ADMINISTRAÇÃO E PARTICIPAÇÕES LTDA e CONDOMÍNIO EDIFÍCIO BISCAYNE BOULEVARD nos autos da ação de cobrança que o segundo move contra a primeira, com pedido julgado improcedente pela r. sentença de fls. 209/210, cujo relatório se adota, que condenou o autor ao pagamento das despesas processuais e honorários advocatícios, estes fixados em dez por cento (10%) do valor atualizado da causa. A r. decisão de fl. 215 rejeitou os embargos declaratórios de fls. 214/214vº. Alegou a ré que os honorários advocatícios Apelação nº 0018580-90.2013.8.26.0562 -Voto nº 2
não devem ser fixados com base no reduzido valor dado à causa, mas arbitrados com fulcro no artigo 85, 2º e 8º, do CPC/2015 (fls. 224/224vº). O autor, por sua vez, sustentou que a ação tem por objeto a cobrança de multa por infração condominial, a qual foi ratificada por assembleia específica e deve ser paga pela ré, não tendo a demanda fim cominatório para a retirada do toldo indevidamente instalado na unidade autônoma (fls. 227/232). Foram oferecidas contrarrazões com pleitos de desprovimento dos recursos. É o relatório. Consta que o autor moveu a presente ação de cobrança objetivando a condenação da ré ao pagamento de multas por infração condominial, aplicadas pela instalação de toldo na fachada principal do condomínio. Ora, o perito judicial apurou em seu laudo que a unidade autônoma da ré está localizada no último pavimento do edifício, o qual, originalmente, não é uniforme com os demais pavimentos ao se analisar a fachada do prédio como um todo, vindo o expert a concluir que a introdução do toldo não caracteriza uma desuniformidade, uma vez que esta já existe (fl. 173). Ademais, as fotografias juntadas com o laudo pericial revelam que o toldo instalado pela ré é retrátil (fls. 166/169), tendo o perito esclarecido que o toldo, quando retraído, somente é perceptível para quem está na calçada da rua, desde que a pessoa olhe com muita atenção para a fachada do edifício, não sendo perceptível para quem olha de dentro das áreas comuns do Apelação nº 0018580-90.2013.8.26.0562 -Voto nº 3
condomínio (fl. 175). Pontifique-se que o assistente técnico da ré, em seu parecer técnico não impugnado pelo autor, concordou com o laudo pericial e ressaltou que o toldo não representa alteração ou descaracterização da fachada, tratando-se de um elemento leve e removível, usado somente para a proteção de águas pluviais, não causando, assim, prejuízo estético ou desarmonia com a fachada frontal (fl. 184). Neste sentido, de rigor reconhecer que não há justa causa para a aplicação das multas condominiais à ré, as quais lhe foram impostas por excesso de formalismo por parte do autor, sem considerar a ausência de qualquer prejuízo estético e arquitetônico à fachada do edifício pela instalação do toldo externo. A propósito, mutatis mutantis: CONDOMÍNIO EDILÍCIO - Alteração de fachada terraço de cobertura Colocação de toldo em Providência que, por si só, não constitui ofensa à proibição prevista na lei ou na norma condominial - Hipótese em que o produto é de pequena dimensão, não ultrapassa os limites da área privativa, nem interfere na estética da fachada - Vedação legal que deve ser interpretada de acordo com os usos e costumes atuais e com vista a impedir condutas que ponham em risco a segurança do edifício ou contrariem o interesse coletivo - Recurso desprovido 1. Idem: Obrigação de fazer. Condôminos que instalaram cortinas plásticas na sacada do apartamento de sua propriedade. Laudo pericial produzido a indicar 1 SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. (10ª Câmara de Direito Privado). Apelação nº 0042774-17.2001.8.26.0000. Rel. Des. Galdino Toledo Júnior. Julgado em 22 de novembro de 2005. Apelação nº 0018580-90.2013.8.26.0562 -Voto nº 4
que não ocorreu alteração de fachada, nem descumprimento da convenção condominial. Sentença de improcedência da ação e da reconvenção reformada. Recurso do Autor não provido e provido o recurso dos Réus para tornar inexigíveis as multas aplicadas em razão da instalação de cortinas plásticas na sacada do apartamento de sua propriedade, alterada a sucumbência 2. Alinhe-se que a cláusula quinze (15) da Convenção Condominial prevê que o síndico pode autorizar a instalação de toldos externos (fl. 17), não tendo o autor, porém, comprovado nos autos justo motivo para recusar o toldo instalado pela ré. Não se olvide, ainda, que a ratificação da aplicação das multas por assembleia condominial não legitima, por si só, a exigibilidade de encargos impostos de forma abusiva e meramente formalista à condômina, como ocorreu na espécie. Por fim, considerando a ausência de condenação e o reduzido valor dado à causa (R$1.749,64), de rigor a fixação equitativa dos honorários advocatícios, com fulcro no artigo 85, 8º, do CPC/2015 3, os quais ficam arbitrados no valor de R$1.000,00 (um mil reais), tendo em vista a natureza e 2 SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. (3ª Câmara de Direito Privado). Apelação nº 0033500-82.2008.8.26.0000. Rel. Des. João Pazine Neto. Julgado em 21 de agosto de 2012. 3 Artigo 85, CPC/2015. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor. 8 o Nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda, quando o valor da causa for muito baixo, o juiz fixará o valor dos honorários por apreciação equitativa, observando o disposto nos incisos do 2 o. Apelação nº 0018580-90.2013.8.26.0562 -Voto nº 5
importância da causa e os trabalhos realizados pelos causídicos da ré, verba que deverá ser corrigida monetariamente, segundo a Tabela Prática do Tribunal de Justiça, a partir desta decisão colegiada. Ante o exposto, pelo meu voto, nego provimento ao recurso do autor e dou provimento ao apelo da ré, para o fim acima delineado. DIMAS RUBENS FONSECA RELATOR Apelação nº 0018580-90.2013.8.26.0562 -Voto nº 6