A Psicologia e a Saúde Coletiva nas Políticas de Saúde Mental ¹



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Transcrição:

A Psicologia e a Saúde Coletiva nas Políticas de Saúde Mental ¹ LARA, M. P. 2 ; TRAESEL, E. S. 3 1 Relato de Estágio Específico- UNIFRA 2 Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil 3 Docente do Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil E-mail: mica_pivetta@yahoo.com.br; elisetetraesel@unifra.br RESUMO Este trabalho apresenta o relato de uma experiência de estágio final de graduação na 4ª Coordenadoria Regional de Saúde, na cidade de Santa Maria-RS. O mesmo insere-se na perspectiva da Saúde Coletiva, que realiza um conhecimento acerca da saúde, efetivando ações em instituições, fundamentadas na multidisciplinaridade. A psicologia, inserida nesse meio, pode desempenhar tarefas ligadas ao planejamento e gestão de trabalho, nas quais todos os profissionais de saúde devem estar envolvidos. Dessa forma, buscou-se realizar um levantamento das necessidades mais emergentes e, a partir dessas, elaborar um plano de ação com foco em avaliação, planejamento e intervenção em saúde mental. A atividade de estágio encontra-se em andamento desde o início do ano de 2009. Pode-se constatar a importância e necessidade do trabalho da Psicologia neste local, de maneira efetiva e permanente, procurando trabalhar em conjunto com os gestores e buscando refletir sobre as melhores formas de intervenção, que possibilitem uma integração entre os serviços de saúde. Palavras-chave: saúde mental, saúde coletiva, psicologia. INTRODUÇÃO A partir da reforma psiquiátrica, foram reformuladas as ações referentes à saúde mental, tendo como objetivo a atenção integral ao sujeito com sofrimento psíquico, e a descentralização dos serviços de saúde mental. Mas, ainda hoje, assistimos a fragmentação dos serviços de saúde mental, que não conseguem dar conta desses usuários e como saída buscam pela internação psiquiátrica, principalmente, quando não há rede para atender este sujeito. Em relação aos usuários de crack, o que é percebido, é uma realidade enfrentada nos diversos serviços de saúde, onde a única solução é a internação e, muitas vezes, a internação compulsória, sendo esta por via judicial. Por isso, a Saúde Coletiva, em seus diversos campos, realiza um conhecimento acerca da saúde, efetivando ações em diversas coordenações e instituições tendo como característica a multidisciplinaridade. Segundo Spink et. al.(2007) o psicólogo inserido na saúde coletiva pode desempenhar tarefas ligadas ao planejamento e gestão de trabalho, nas quais todos os profissionais de saúde devem estar envolvidos. Dessa forma, este trabalho propõe-se a apresentar um relato de uma experiência de estágio final de graduação na 4ª Coordenadoria Regional de Saúde, na cidade de Santa Maria-RS. Buscou-se realizar um levantamento das necessidades mais emergentes e, a partir dessas, elaborar um plano de ação com foco em avaliação, planejamento e intervenção em saúde mental. Entre as principais ações desenvolvidas está a organização do fluxograma das internações compulsórias de usuários de crack; a regulação dos leitos que são disponibilizados em dois hospitais psiquiátricos, localizados em duas cidades do interior do estado, para usuários de crack que se 1

encontram na lista de espera para internação compulsória; e o desenvolvimento de um projeto para implementar na atenção básica de saúde o serviço de saúde mental, principalmente no que se refere ao acompanhamento dos usuários de crack, pósinternação, possibilitando a construção de uma rede de atendimento em saúde mental. REFERENCIAL TEÓRICO Conforme Campos (2006), os princípios orientadores do SUS são a universalidade, a integralidade e a eqüidade. A universalidade consiste no direito à saúde a todos os cidadãos e acesso sem discriminação as ações e serviços de saúde oferecidos pelo SUS. A integralidade implica na prestação de serviços e ações de saúde de forma continuada, garantindo a promoção, a proteção, a cura e a reabilitação dos sujeitos e do coletivo, prestando atenção integral ao indivíduo. E a eqüidade refere-se a igualdade de acesso aos serviços e ações de saúde, assegurando prioridade no acesso à saúde aos grupos de excluídos e com precárias condições de vida. Assim, o SUS tem como objetivo fundamental formular e implementar a política nacional de saúde, proporcionando condições de vida saudável, prevenindo riscos, doenças e agravos à saúde da população assegurando acesso igualitário ao conjunto dos serviços disponíveis e garantindo a atenção integral à saúde. (CAMPOS, 2006). Dessa forma, a unidade de saúde é referência de entrada no SUS para o usuário de saúde mental no município. Destacam-se, como princípios e ações de saúde mental no Programa da Saúde da Família, a sensibilização para ouvir e compreender a dinâmica familiar e as relações sociais envolvidas, além de compreender e identificar questões de vulnerabilidade que poderão provocar desajuste dos vínculos familiares e sociais. Objetiva, dessa forma, aliar a saúde mental em ações designadas para hipertensão, diabete, saúde da mulher, alcoolismo e outras drogas, entre outros. Deve-se também acompanhar usuários que obtiveram alta de internações psiquiátricas, egressos dos CAPS e de outros serviços ambulatoriais especializados. (RIO GRANDE DO SUL, 2008). Sendo o CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), um dos substitutos dos hospitais psiquiátricos no processo da Reforma psiquiátrica, designados a receber pacientes com transtornos mentais, integrando-os em um ambiente social e cultural sólido, estimulando sua integração social e familiar, apoiando-os em suas iniciativas de busca de autonomia e oferecendo-lhes atendimento médico e psicológico. Dessa forma, o CAPS tem como objetivo oferecer atendimento à população de sua área de abarcamento, desempenhando o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários através do trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. (BRASIL, 2004). Deste modo, os CAPS devem se integrar com as equipes da rede básica de saúde de seu território, com a função de acompanhar, capacitar e apoiar o trabalho dessas equipes com os indivíduos com transtornos mentais. Portanto, o CAPS deve conhecer e interagir com as equipes de atenção básica de sua região e, em conjunto, levantarem dados relevantes sobre os fundamentais problemas e necessidades de saúde mental da região. O CAPS deve realizar apoio matricial às equipes da atenção básica, fornecendolhes orientação e supervisão e, se necessário atender casos complexos a pedido da equipe da atenção básica e desempenhar atividades de educação permanente sobre saúde mental. (BRASIL, 2004). Na Saúde Coletiva, em seu campo científico, é produzido saberes e conhecimentos acerca da saúde e atuam diferentes disciplinas que a contemplam sob diversos ângulos. No campo de práticas, é realizado ações em diferentes organizações e instituições por vários agentes, dentro e fora do espaço conhecido como setor de 2

saúde, além de ser uma das principais características da saúde coletiva a multidisciplinaridade. (PAIM e ALMEIDA FILHO apud SPINK e MATTA, p. 42, 2007). Segundo Scarcelli e Alencar (2009), a Saúde Coletiva propõe modificações significativas no campo da saúde que concerne à organização e ao processo de trabalho; à reorientação da assistência com ênfase na promoção, prevenção e proteção da saúde; à preocupação com os modos de vida e as relações entre os sujeitos no contexto social. Em relação à Saúde Mental, conforme os autores, também pode ser percebida como campo de saber e práticas, que exige diálogo com várias disciplinas e tipos de saberes, além da desconstrução de saberes e práticas da psiquiatria clássica e das instituições totais, podendo assim apresentar contribuições na ampliação do campo da Saúde Coletiva e, nesse diálogo, ressignificações e acréscimos ao seu próprio campo. No que se refere ao papel da psicologia neste âmbito, conforme Spink et. al.(2007) o psicólogo nas ações em saúde pode desempenhar tarefas ligadas ao planejamento e gestão de trabalho, nas quais todos os profissionais devem estar envolvidos, como por exemplo, o conhecimento das demandas da região, dos recursos públicos e comunitários que esta região dispõe e o trabalho integrado com o gestor para governar e aperfeiçoar o seu aproveitamento. Como estratégia, o planejamento, de acordo com Gil et al (2001), expressa definir objetivos a serem alcançados e determinar quais destes objetivos têm prioridade, elaborando um plano de ação baseado nas prioridades definidas, utilizando recursos disponíveis ou a serem obtidos. Avaliar, neste contexto, é acompanhar sempre as ações priorizadas, verificando se os objetivos preferidos estão sendo alcançados ou não, além de averiguar se os resultados obtidos mudaram ou não a situação almejada, sendo que estes dois segmentos têm como proposta, mudanças nas práticas institucionais. Segundo Dimenstein (2001), o modelo curativo e assistencialista tornou-se um forte paradigma para a atuação dos psicólogos com formas de atenção em saúde mental bastante limitadas gerando dificuldades na adaptação ao complexo perfil exigido pelo SUS, advindo daí sua dificuldade em desenvolver novas práticas rumo à construção da cidadania. Um dos pilares fundamentais da psicologia é o compromisso social e a construção de novas possibilidades de existência, através de novas práticas de saúde. Conforme a autora, os psicólogos necessitam incorporar uma nova concepção de prática profissional, associada ao processo de cidadanização, de construção de sujeitos com capacidade de ação e proposição. (DIMENSTEIN, 2001, p.62). Assim, o psicólogo precisa compreender a relação saúde e subjetividade articulados à sua dimensão social. METODOLOGIA O estágio específico está sendo realizado na 4ª Coordenadoria Regional de Saúde, no Núcleo Regional de Ações em Saúde, no setor de Saúde Mental. Este tem como objetivo prestar apoio técnico para o desenvolvimento de projetos e programas de saúde e acompanhar a execução das ações suplementares e serviços em saúde, em conjunto com os demais serviços regionais, supervisionando e acompanhando junto aos gestores municipais, a implantação e implementação de ações em saúde mental. O estágio é realizado três vezes por semana, fechando uma carga horária de doze horas semanais, preenchendo 210 horas no semestre, juntamente com as supervisões realizadas na instituição de ensino proveniente, com professora e psicóloga designada para este fim. 3

As ações desenvolvidas são: organizar fluxograma das internações compulsórias de usuários de crack; realizar a regulação dos leitos que são disponibilizados em Pelotas e Rio Grande, para usuários de crack que se encontram na lista de espera para a internação compulsória (por via judicial); realizar um projeto para implementar nas Atenção Básica de Saúde o serviço de Saúde Mental(primeira versão em Apêndice), principalmente o acompanhamento dos usuários de crack, pós-internação; efetuar visitas às cidades que fazem parte da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde, participando de reuniões com os responsáveis pela saúde local, verificando a dinâmica da gestão local, bem como a situação dos leitos psiquiátricos em Hospital Geral (como está funcionando os atendimentos) e a relação com os CAPs, bem como, analisar os planos terapêuticos dos CAPS, comunidades terapêuticas e dos hospitais que desejam contratualizar leitos psiquiátricos e após verificar se estes planos estão sendo seguidos pelos locais. Este estágio propõe-se, ainda, a efetivar um levantamento dos atendimentos realizados nos CAPS situados na região de abrangência da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde, criando estratégias a partir de um planejamento de intervenção e elaborar, aplicar, tabular instrumento de diagnóstico da situação atual dos CAPS efetuando a devolução dos resultados obtidos, desde que este levantamento seja viabilizado a partir do retorno das informações solicitadas. Foi construído a partir do diagnóstico inicial e discussão com a equipe, um plano onde constam as ações e intervenções, sanando dúvidas do papel do estagiário de psicologia no local, além de ser garantido o sigilo quanto às informações levantadas. São realizadas reuniões periódicas de avaliação no local em conjunto com a supervisora do estágio. O instrumento utilizado para coleta de informações e posterior discussão é o diário de campo. (MINAYO, 2008). No final do estágio, será realizada uma devolução para o local. RESULTADOS O estágio está em andamento, sendo que as ações previstas estão sendo implementadas. Após conclusão do mesmo será feita a interpretação e discussão dos resultados construindo categorias de análise a partir do método de análise de conteúdo. (BARDIN, 2004). CONCLUSÃO Até o presente momento de realização do estágio, pode-se constatar a importância e necessidade do trabalho da Psicologia neste local, de maneira efetiva e permanente, procurando trabalhar em conjunto com os gestores e buscando refletir sobre as melhores formas de intervenção, que possibilitem uma integração entre os serviços de saúde. Além disso, considera-se importante salientar que constatação de que a psicologia tem que abrir seu espaço de atuação com uma presença mais efetiva na saúde coletiva, inserindo-se em uma conjuntura interdisciplinar de intervenção, atuando no planejamento e na gestão e contribuindo para a reflexão das políticas e estratégias de ação em saúde mental, propondo discussões com todos os envolvidos no processo e contribuindo para a desnaturalização de práticas baseadas no modelo hospitalocêntricos, na medicalização dos sintomas.e em uma percepção fragmentada e individualista do sujeito. Enfim, acredita-se que com uma visão crítica dos processos de saúde-doença, da estrutura dos serviços de saúde pública e dos modelos assistenciais, em especial no que 4

se refere à saúde mental, o psicólogo tem o importante papel de potencializar parcerias e articulação intersetorial, trabalhando ativamente na efetivação da rede de atendimento em saúde mental. 6. REFERÊNCIAS BARDIN, Laurence. Analise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2004. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE. DEPARTAMENTO DE AÇÕES PROGRAMÁTICAS ESTRATÉGICAS. Saúde Mental no SUS: os centros de atenção psicossocial. Brasília-DF: Ministério da Saúde, 2004. DIMENSTEIN, Magda. O psicólogo e o compromisso social no contexto da saúde coletiva. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 6, n. 2, p. 57-63, jul./dez. 2001 GIL, Célia R. R.; SILVA, Ana Maria R.; CAMPOS, João J. B.; BADUY, Rossana S. Avaliação em Saúde. In: ANDRADE, Selma M.; SOARES, Darli; JUNIOR, Luis C. (orgs.). Bases da Saúde Coletiva. Londrina- PR: Editora UEL, 2001. MINAYO, Mª Cecília de S. (org) Pesquisa Social - Teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2008. RIBEIRO, Paulo Rennes M. Saúde Mental: dimensão histórica e campos de atuação. São Paulo: EPU, 1996. RS. Lei Estadual Nº 9.716, de 7 de agosto de 1992. Dispõe sobre a reforma psiquiátrica no Rio Grande do Sul. RIO GRANDE DO SUL. Guia de Saúde Mental. Rio Grande do Sul: Secretaria da Saúde, 2008. SPINK, Mary J. P.; MATTA, Gustavo C.. A prática professional Psi na Saúde Pública: Configurações históricas e desafios contemporâneos. In: SPINK, Mary J. P. (org.) A psicologia em diálogo com o SUS: prática profissional e produção acadêmica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007. SPINK, Mary J. P.; BERNARDES, Jefferson; SANTOS, Liliana; GAMBA, Estêvão A.C.. A inserção de psicólogos em serviços de saúde vinculados ao SUS: subsídios para entender os dilemas da prática e os desafios da formação profissional. In: SPINK, Mary J. P. (org.) A psicologia em diálogo com o SUS: prática profissional e produção acadêmica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007. VASCONCELOS, Cipriano M.; PASCHE, Dário F. O Sistema Único de Saúde. In: CAMPOS, Gastão Wagner de Sousa (org.) Tratado de saúde coletiva. São Paulo,SP: Hucutec, 2006. 5