Cabral, A.P.T., et al. Carlos Henrique Cavalcante Barbon (Programa de Iniciação Científica, Fundação Araucária, GEPEB, PUCPR, Maringá-PR, Brasil); Ana Maria Teresa Benevides-Pereira (Profa.Adjunta, GEPEB, PUCPR. Maringá-PR, Brasil) Palavras-chave: Estresse. Professores universitários. Trabalho docente. Introdução contato: anamariabenevides@hotmail.com A literatura tem demonstrado o quanto o estresse interfere na vida pessoal, bem como profissional das pessoas, levando-as a transtornos físicos, psicológicos, assim como sociais, com resultados nocivos em vários níveis (SANDÍN, 1995; SAPOUSKI, 1995; SELYE, 1965). Cabral et al. (1997) afirmam que a palavra estresse quer dizer pressão, tensão ou insistência, portanto estar estressado quer dizer estar sob pressão ou estar sob a ação de estímulo insistente. (p.1) O estresse possui diferentes causas, podendo ocorrer por eventos ou situações em que o indivíduo se encontre ou condições em que este terá que lidar futuramente. Entretanto, deve-se lembrar que o perfil de cada indivíduo também interfere nos níveis de estresse percebido, desde como acomete o indivíduo e no modo em que ele irá reagir assim como este varia em uma mesma pessoa dependendo de seu momento de vida (Benevides-Pereira, 2010). Quando o estresse ocorre por agentes presentes no âmbito laboral é denominado de estresse ocupacional, sendo que este pode repercutir de forma negativa no local de trabalho (Bakker, Demerouti & Euwema, 2005; Benevides-Pereira, 2010; Demerout, Bakker, Nachreiner & Schaufeli, 2001). Pesquisas tem mostrado que a atividade docente possui características que propiciam o desenvolvimento do estresse, em especial no ensino fundamental (Benevides-Pereira, 2010). A docência universitária, apesar de requerer características diversas, também possui aspectos que podem desencadear este processo, no entanto, comparativamente, o número de investigações é bastante menor do que os que se referem ao ensino fundamental e médio. Desta forma, o presente estudo teve como objetivo realizar um levantamento do que já foi produzido sobre estresse em professores com foco no ensino superior. Método
Foram realizados levantamentos no Portal CAPES, no SciELO (Scientific Eletronic Library OnLine), no SCIRP (Scientific Research Publishing), no Pepsic (Periódicos Eletronicos em Psicologia) e na Bireme (Biblioteca Virtual em Saúde). Como descritores foi utilizado: estresse e professores universitários, docentes universitários. As etapas para a realização do trabalho foram: a) busca de artigos nos; b) verificação preliminar observando se efetivamente o material se referia ao objetivo do estudo; c) análise quanto às características do material (ano, autoria, local, tipo de método empregado, amostra, resultados, etc). Resultados Dos 65 trabalhos encontrados, após passarem por análise, foram descartados 54, por se referirem a pesquisas mais amplas abrangendo o estresse em outras profissões, em que os professores universitários era uma delas ou como docentes em geral. Dos 11 restantes foram retiradas as informações para a elaboração do estudo. Verificou-se que 4 estavam na língua portuguesa, outros 4 em espanhol e 3 em inglês. Os trabalhos foram publicados entre os anos de 1999 2014, sendo dois nos anos de 2005 e 2014, nenhum de 2000 a 2004, assim como em 2008, 2009 e 2011, e um nos demais anos. Quanto ao método, todos os trabalhos eram empíricos, 9 quantitativos empregando principalmente questionários para o levantamento das informações, sendo que um destes também utilizava abordagem qualitativa. Das publicações, apenas uma era tese. Dos estudos nacionais, houve publicações de Porto Alegre, Canoas, Campinas, Natal e Foz de Iguaçu. Dos espanhóis, encontrou-se estudos em Valencia, Murcia e Madri. Americanos houve um na Colômbia e outro no México. O número amostral esteve entre 17 a 510, sendo que 5 deles tinham menos de 60 participantes, dois entre 100 e 220, um com 331 e outro com 510. Discussão Observou-se como limitação o fato de alguns sites de pesquisa, apesar de possuírem um vasto acervo, a busca por artigos que tratassem de estresse em professores exclusivamente universitários foi árida e em alguns casos em vão. Bellido, Ferrer e García (2006), apontaram a dificuldade dos professores universitários colaborarem com a pesquisa, acarretando um baixo número de participação. Estes afirmam que de los 589 cuestionarios iniciales remitidos, se recibieron 331 debidamente cumplimentados lo que supone una tasa de respuesta del 56,190/0. (p.753). Navarro, Mas e
Jiménez (2010), do mesmo modo, enfatizaram a dificuldade ao relatar que dos 720 questionários distribuídos aos professores apenas 315 foram válidos. De modo geral, as pesquisas sugerem presença significativa de estresse na vida destes profissionais sendo que muitos dos fatores que ocasionam este processo estavam descritos de modo preponderante nos estudos encontrados, enfatizando assim tais causas. Assim sendo, como principais agentes estressores em docentes universitários verificou-se más condições de trabalho, a baixa remuneração, cobranças institucionais, o descompromisso dos alunos, a jornada excessiva de trabalho, a falta de incentivos ao professor, as incertezas quanto a carga horária e às dificuldades na administração do tempo. (Barreto, 2007, p.8) De modo geral é apontado que os níveis de esforço-recompensa influenciam diretamente no desenvolvimento de estresse, depressão e burnout, além do distúrbio do sono (INOCENTE, 2005). Ayres, Brito e Feitosa (1999) ao realizarem um estudo em professores com cargo de chefia em uma universidade no nordeste, notaram que os questionários apontavam itens relativos à rede de comunicação do próprio instituto, assim como a relação entre os colegas de trabalho e alunos, como fatores de potenciais no desencadeamento do estresse. Observa-se como este processo está intimamente relacionado com a interelação emocional presente nesta categoria profissional. Bosi (2007) salienta que A competição é naturalizada, tornando-se a regra. A escassez de recursos para pesquisa (e para o trabalho docente em geral) também é naturalizada e se transforma em realidade que avaliza a competência dos que conseguem acessar tais recursos. E o resultado dessa dinâmica traz consequências comuns ao mundo do trabalho, tais como o estresse, o estado permanente de cansaço, a depressão e até o suicídio. (p.1517) Desta forma tem-se diversos fatores propiciam o desencadeamento dos sintomas de estresse em professores universitários. Oliveira (2006) discorrendo sobre o mal-estar docente, aponta o desinteresse, a apatia, a desmotivação e sintomas psicossomáticos como angústia, fobias, crises de pânico. Pesquisas apontam para a precarização do trabalho do professor universitário, evidenciada pela desvalorização da imagem do professor, baixos salários, intensidade de exposição a agentes de risco, carência de recursos materiais e humanos, aumento do ritmo e intensidade do trabalho (Bosi, 2007; Mancebo et al., 2007; Araújo et al., 2005; Gasparin et al., 2005; Leite et al., 2003; Carvalho, 1995). Estas situações
configuram fatores psicossociais do trabalho que podem gerar sobrecargas de trabalho físicas e mentais que trazem consequências para a satisfação, saúde e bem-estar dos trabalhadores (Martinez, 2002). Considerações finais O estresse é considerado um dos principais problemas atuais no âmbito ocupacional dos professores. Isso se dá pelo fato destes serem submetidos a más condições de trabalho e a uma enorme responsabilidade social, sem contrapartida seja salarial, ou como prestígio social. Contudo, o estresse não só interfere negativamente em nível individual quando afeta a saúde física e psicológica do professor, mas também em nível social e profissional, diminuindo o desempenho docente e prejudicando seu trabalho com os discentes e demais colegas, repercutindo diretamente na qualidade da educação. Para Witter (2003, p. 13), as situações de trabalho responsáveis por um quadro exacerbado de estresse docente estão requerendo pesquisas cuidadosas: há que se considerar a necessidade de se conhecer melhor as variáveis das condições de trabalho que geram o estresse no professor. Referências Araújo, T. M.; Sena, I.P., Vina, M.A. e & Araújo, E.M. (2005). Mal-estar docente: avaliação de condições de trabalho e saúde em uma instituição de ensino superior. Revista Baiana de Saúde Pública. 29, p. 6-21. Ayres, K., Brito, S. & Feitosa, A. (1999). Stress ocupacional no ambiente acadêmico universitário: um estudo em professores universitários com cargos de chefia intermediária. Anais do Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 23. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/diversos/trabalhos/enanpad/enanpad_1999/rh/1999_rh22.pdf > Acesso em: 11 mar. 2015. Bakker, B., Demerouti, E. E. & Euwema, M.C. (2005). Job resources buffer the impact job demands on burnout. A Journal of Ocupational Health Psychology.10 (2), p.170-180. Barreto, M.A. Ofício, estresse e resiliência: os desafios dos professores universitários. (2007). Tese (Doutorado em Educação) Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Disponível em http://bdtd.ufrn.br/tde_arquivos/9/tde-2008-09-17t042742z- 1429/Publico/MariaAB.pdf. Bellido, J., Ferrer A.E. & García, J. (2015). La prevalencia del estrés laboral asistencial entre los profesores universitarios. Disponível em: <http://www.uhu.es/publicaciones/ojs/index.php/amc/article/viewarticle/1236>. Acesso em 21 março de 2015. Benevides-Pereira, A. M. T. (2010). Burnout: uma tão conhecida desconhecida síndrome. In: Gisele C. T. de Machado Levy; Francisco de P. Nunes Sobrinho. (Org.). A Síndrome de
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