Poder Judiciário da União TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS Órgão 2ª Turma Cível Processo N. APELAÇÃO 0713463-03.2017.8.07.0001 APELANTE(S) UBIRATAN JOSE DOS SANTOS APELADO(S) SEGURADORA LIDER DOS CONSORCIOS DO SEGURO DPVAT S.A. Relator Desembargador SANDOVAL OLIVEIRA Acórdão Nº 1101274 EMENTA PROCESSO CIVIL. APELAÇÃO. GRATUIDADE DE JUSTIÇA. AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL. PRELIMINAR. DISCUSSÃO ACERCA DA SUCUMBÊNCIA MÍNIMA. HIPÓTESE QUE DIFERE DO DISPOSTO NO ART. 99, 5º DO CPC. REJEIÇÃO. SENTENÇA. PARCIAL PROCEDÊNCIA. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. 1. Trata-se de apelação interposta em face de sentença que, nos autos de ação de conhecimento, julgou parcialmente procedente o pedido para condenar a ré a pagar R$ 2.025,00 (dois mil e vinte e cinco reais) ao autor a título de indenização por lesão decorrente de acidente de trânsito (seguro DPVAT). 2. Tendo sido deferida a gratuidade de justiça na origem, não há interesse recursal quanto à concessão desse benefício em sede recursal. 3. A apelação versa sobre o reconhecimento, pelo juiz, da sucumbência mínima da parte ré, e não acerca do valor dos honorários advocatícios, pelo que não se trata de interesse autônomo do advogado, e sim da defesa de interesse da própria parte autora, não se enquadrando a hipótese dos autos ao disposto no 5º do art. 99 do Código de Processo Civil ( Na hipótese do 4 o, o recurso que verse exclusivamente sobre valor de honorários de sucumbência fixados em favor do advogado de beneficiário estará sujeito a preparo, salvo se o próprio advogado demonstrar que tem direito à gratuidade. ). 4. Diante da parcial procedência do pedido do autor, em quase 20% (vinte por cento) do pleiteado na inicial, deve o ônus sucumbencial ser proporcionalmente distribuído entre as partes, não sendo o caso de sucumbência mínima da parte ré. 5. Recurso conhecido e parcialmente provido.
ACÓRDÃO Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 2ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, SANDOVAL OLIVEIRA - Relator, SANDRA REVES - 1º Vogal e JOAO EGMONT - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador CESAR LOYOLA, em proferir a seguinte decisão: CONHECIDO. PARCIALMENTE PROVIDO. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas. Brasília (DF), 06 de Junho de 2018 Desembargador SANDOVAL OLIVEIRA Relator RELATÓRIO Trata-se de apelação interposta por UBIRATAN JOSÉ DOS SANTOS em face de sentença proferida pelo Juízo da 20ª Vara Cível de Brasília que, nos autos de ação de conhecimento ajuizada pelo apelante em face de SEGURADORA LÍDER DOS CONSÓRCIOS DO SEGURO DPVAT S/A, julgou parcialmente procedente o pedido para condenar a ré a pagar R$ 2.025,00 (dois mil e vinte e cinco reais) ao autor (ID 4007811), referente à diferença entre o efetivamente pago e o valor devido. Por considerar que houve sucumbência mínima da ré, impôs ao autor a integralidade dos ônus sucumbenciais. Em suas razões recursais (ID 4007816), o apelante requer, preliminarmente, a concessão da gratuidade de justiça, com o consequente recebimento do recurso sem a comprovação de pagamento do preparo. No mérito, alega que não há se falar em sucumbência mínima da parte ré, pois houve o reconhecimento total do pleito autoral, que apenas sofreu parametrização diante da perícia que identificou o grau da lesão sofrida. Ausência de preparo diante do deferimento da gratuidade de justiça. Em contrarrazões (ID 4007827), a apelada sustenta, preliminarmente, ser inadmissível o recurso diante do não recolhimento do preparo, uma vez que a gratuidade de justiça concedida ao autor não deve alcançar o patrono que defende interesse autônomo. No mérito, defende a manutenção da sentença. É o relatório. VOTOS O Senhor Desembargador SANDOVAL OLIVEIRA - Relator Inicialmente, impende consignar que a sentença foi publicada no dia 23/01/2018 e o apelo interposto na mesma data, sendo, portanto, tempestivo. Sem preparo em razão da gratuidade de justiça deferida. Quanto ao pedido de concessão do aludido benefício, verifica-se inexistir interesse recursal, pois foi
concedido na origem, conforme consignado na sentença (ID 4007811 Pág. 1). Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso. Da preliminar Em sede de contrarrazões, a apelada sustenta a inadmissão do apelo, porquanto não se providenciou o recolhimento do preparo, realçando que a gratuidade de justiça concedida ao autor não deve alcançar o seu patrono, estando o mesmo defendendo interesse autônomo. O art. 99, 5º do Código de Processo Civil estabelece que o recurso que verse exclusivamente sobre o valor dos honorários de sucumbência fixados em favor de advogado de beneficiário de gratuidade de justiça está, em regra, sujeito a preparo. Confira-se: Art. 99.O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo ou em recurso. (...) 4oA assistência do requerente por advogado particular não impede a concessão de gratuidade da justiça. 5oNa hipótese do 4 o, o recurso que verse exclusivamente sobre valor de honorários de sucumbência fixados em favor do advogado de beneficiário estará sujeito a preparo, salvo se o próprio advogado demonstrar que tem direito à gratuidade. (Grifo nosso) No entanto, não é essa a hipótese dos autos, uma vez que não se discute, na apelação, acerca do valor dos honorários advocatícios, e sim sobre o fato de o autor ter que arcar com a totalidade das custas e honorários advocatícios diante do reconhecimento, pelo juiz, da sucumbência mínima da ré. Não deve incidir no presente caso, pois, o mencionado dispositivo processual. Assim, tendo sido concedido o benefício da gratuidade de justiça à parte autora na origem, não é necessário o recolhimento de preparo na instância recursal. Rejeito, pois, a preliminar. Do mérito O apelante alega que a hipótese não enseja o reconhecimento de sucumbência mínima da parte ré, pois o seu pedido foi integralmente acolhido, havendo apenas adequação ao laudo pericial que identificou o grau da lesão sofrida. Historiam os autos que o autor sofreu lesão decorrente de acidente de trânsito, tendo pleiteado, a título
de indenização pelo seguro DPVAT, o valor de R$ 12.150,00 (doze mil cento e cinquenta reais), correspondente à diferença entre o valor do teto previsto na Lei n.º 6.194/1974, de R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais), e o valor já recebido administrativamente, de R$ 1.350,00 (mil trezentos e cinquenta reais). O Juízo sentenciante, diante do grau da lesão sofrida, apurado em análise pericial, reconheceu o direito à indenização no valor de R$ 3.375,00 (três mil trezentos e setenta e cinco reais), condenando a ré, descontado o montante pago administrativamente, ao pagamento de R$ 2.025,00 (dois mil e vinte e cinco reais). A sentença reconheceu, assim, a sucumbência mínima da parte ré, impondo ao autor o pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios em sua totalidade. Confira-se: (...) Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido autoral para CONDENAR a ré a pagar R$ 2.025,00 (dois mil e vinte e cinco reais) ao autor, e, por conseguinte, resolvo o mérito da demanda, nos termos do artigo 487, inciso I, do CPC. Em face da sucumbência mínima da parte ré, arcará o autor com o pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, que arbitro em 10% sobre o valor da causa, nos termos do artigo 85, 2º, do CPC, observado o disposto no artigo 98, 3º, do mesmo diploma legal. (Grifo nosso) Assiste razão ao apelante, em parte. Não se trata de reconhecimento total do pleito autoral, mas sim, de julgamento de parcial procedência do pedido, pois postulado um valor e reconhecido o direito a apenas uma parcela deste. No entanto, a indenização deferida ao autor corresponde a quase 20% (vinte por cento) do pleiteado na inicial, razão por que incabível a tese de sucumbência mínima, e sim recíproca não equivalente, devendo, pois, ser observado o caput do art. 86 do CPC ( Se cada litigante for, em parte, vencedor e vencido, serão proporcionalmente distribuídas entre eles as despesas. ) e assim distribuídos os ônus sucumbenciais: 80% ao autor e 20% a cargo da ré. Ante o exposto, conheço e DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso, para estabelecer a verba sucumbencial no importe de 80% (oitenta por cento) ao autor e 20% (vinte por cento) a cargo da ré. É como voto. A Senhora Desembargadora SANDRA REVES - 1º Vogal Com o relator O Senhor Desembargador JOAO EGMONT - 2º Vogal Com o relator DECISÃO
CONHECIDO. PARCIALMENTE PROVIDO. UNÂNIME.