Adaptação transcultural do instrumento Parent-Child Conflict Tactics Scales (CTSPC) utilizado para identificar a violência contra a criança



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Transcrição:

ARTIGO ARTICLE 1701 Adaptação transcultural do instrumento Parent-Child Conflict Tactics Scales (CTSPC) utilizado para identificar a violência contra a criança Michael Eduardo Reichenheim 1 Claudia Leite Moraes 1 Portuguese-language cross-cultural adaptation of the Parent-Child Conflict Tactics Scales (CTSPC), an instrument used to identify parental violence against children 1 Núcleo de Pesquisa das Violências, Departamento de Epidemiologia, Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rua São Francisco Xavier 524, 7o andar. Rio de Janeiro, RJ 20559-900, Brasil. michael@ims.uerj.br clmoraes@ims.uerj.br Abstract This article concerns the first phase of the assessment of the cross-cultural equivalence between the Parent-Child Conflict Tactics Scales (CTSPC) designed in English and used to identify child abuse and neglect, and a Portuguese-language version to be used in Brazil. Evaluating conceptual and item equivalences involved expert groups. Assisted by a broad literature review, discussions focused on the existence and pertinence of the underlying theoretical concepts and the corresponding component items in the Brazilian context. The appraisal of semantic equivalence involved the following steps: two translations and respective back-translations; an evaluation regarding referential (literal) and general (meaning) equivalences between the original instrument and each version; further discussions with experts in order to produce a final version; and pre-testing the latter on 774 women. It proved possible to establish a satisfactory conceptual, item, and semantic equivalence between the Portuguese-language version and the original CTSPC. Acceptability of the version was excellent. Albeit encouraging, results should be reassessed in the light of forthcoming psychometric analysis (measurement equivalence), as well as through ongoing criticism from interested professionals. Key words Domestic Violence; Child Abuse; Questionnaire Resumo Este artigo enfoca a primeira fase da avaliação da equivalência transcultural entre o instrumento Parent-Child Conflict Tactics Scales, concebido em inglês e usado para identificar violência contra a criança, e uma versão em português a ser proposta para uso no Brasil. Subsidiada por uma ampla revisão bibliográfica, a avaliação da equivalência conceitual e de itens envolveu discussões com grupo de especialistas sobre a existência e pertinência em nosso meio dos conceitos teóricos subjacentes e dos itens componentes do instrumento original. A avaliação da equivalência semântica constou das seguintes etapas: duas traduções e respectivas retraduções; uma avaliação da equivalência de significado referencial (literal) e geral (sentido) entre as retraduções e o original; novos encontros com especialistas para a definição de uma versão-síntese e um pré-teste realizado em 774 mulheres. Constatou-se boa equivalência conceitual de itens e semântica entre a versão final em português e o original, bem como uma excelente aceitabilidade do instrumento adaptado. Apesar de encorajadores, os resultados obtidos merecem ser revistos após avaliações psicométricas futuras (equivalência de mensuração) e através de crítica contínua por parte dos profissionais interessados. Palavras-chave Violência Doméstica; Maus-tratos Infantis; Questionário

1702 REICHENHEIM, M. E. & MORAES, C. L. Introdução Em diferentes partes do mundo, a violência na família vem assumindo um crescente papel na morbi-mortalidade de mulheres, crianças e adolescentes (Heise, 1994; Moraes & Reichenheim, 2002b; Rossman et al., 1999; Straus & Gelles, 1995; Watts & Zimmerman, 2002). Sua repercussão biopsicossocial tem fomentado um crescente interesse na elaboração de propostas de ação para a prevenção, acompanhamento de vítimas e no desenvolvimento de programas de investigação. Também no Brasil, há indicação de que a violência entre pais e filhos, um dos principais componentes da violência familiar, é um fenômeno expressivo, devendo ser encarada como prioridade na agenda dos diversos segmentos sociais (Deslandes et al., 2000; MS, 1997, 2001, 2002). Um dos principais desafios a enfrentar no campo da violência familiar é a identificação adequada dos eventos. Incentivos vêm sendo dados à elaboração de novos e mais acurados instrumentos de aferição, bem como ao aprimoramento dos já habitualmente utilizados no âmbito clínico e em contextos de pesquisa (Aldarondo & Straus, 1994; Archer, 1999; Milner, 1994; Straus & Hamby, 1997; Straus et al., 1998; Weiss et al., 2000). Aceitando-se que é de grande interesse comparar perfis epidemiológicos de diferentes culturas, vários autores recomendam que um instrumento consolidado em um certo contexto seja somente utilizado em outro após uma rigorosa adaptação que permita ligar e harmonizar os construtos e dimensões subjacentes (Behling & Law, 2000; Guillemin et al., 1993; Herdman et al., 1998; Reichenheim & Moraes, 2002). As primeiras adaptações de instrumentos calcavam-se em simples traduções realizadas pelos próprios pesquisadores ou, quando muito, em processos de tradução-retradução nos quais se avaliava somente o grau de equivalência semântica entre o original e sua versão. Mais recentemente, diferentes estratégias vêm sendo propostas. A literatura sobre o tema tem aumentado progressivamente, principalmente às custas dos numerosos estudos comparativos internacionais desenvolvidos por pesquisadores das áreas de Antropologia e Sociologia (Behling & Law, 2000). Dentre os diferentes métodos em debate, chama atenção o apresentado por Herdman et al. (1998) para adaptação de instrumentos na área de qualidade de vida e saúde. Por sua complexidade e discussão pormenorizada de diferentes aspectos da equivalência transcultural, este foi o modelo escolhido para a adaptação do instrumento focalizado no presente artigo. Segundo os autores, o processo de adaptação deve iniciar com uma apreciação da pertinência dos conceitos e domínios apreendidos pelo instrumento original na cultura-alvo da nova versão (equivalência conceitual). O modelo também prescreve que se avalie a adequação de cada item proposto no instrumento original em termos da capacidade de representar tais conceitos e domínios na população-alvo (equivalência de itens). Somente então se passa à avaliação da equivalência semântica e lingüística entre os itens originais e vertidos (equivalência semântica). A adequação e a pertinência de aspectos operacionais forma de administração, instruções, número de opções de resposta etc. também necessitam de atenção (equivalência operacional). Na seqüência, avalia-se a equivalência entre as propriedades psicométricas do instrumento original e de sua nova versão (equivalência de mensuração). Diante das excelentes avaliações anteriores das propriedades psicométricas das Conflict Tactics Scales (CTS) e de suas versões em diferentes idiomas (Archer, 1999; Assis, 1995; Hasselmann et al., 1998; Lucente et al., 2001; Moraes et al., 2002; Moraes & Reichenheim, 2002a; Straus, 1979; Straus et al., 1996), decidiu-se pela adaptação formal do instrumento Parent-Child Conflict Tactics Scales (CTSPC), específico para lidar com a relação entre pais e filhos. O instrumento foi concebido por Straus et al. (1998) em língua inglesa e consiste em um refinamento da primeira CTS, elaborada pelo Family Research Laboratory, nos Estados Unidos, há cerca de duas décadas (Straus, 1979). O módulo básico da CTSPC é composto por 22 itens divididos em três escalas disciplina não-violenta, agressão psicológica e violência física. A última é subdividida em três, cada qual encampando atos de distintas gravidades menores ou punição corporal; graves ou maus-tratos físicos e muito graves ou maus-tratos físicos grave. O instrumento compreende ainda três módulos suplementares que abordam as táticas utilizadas para disciplinamento infantil na semana anterior à entrevista, situações de negligência e abuso sexual. Neste artigo, são enfocadas as três primeiras fases do processo de adaptação sugerido por Herdman et al. (1998), envolvendo somente o módulo básico do instrumento. Essa restrição se justifica, de um lado, pela magnitude da violência psicológica e física contra a criança em nosso meio e, de outro, pela insuficiência de informações sobre a acurácia das escalas complementares do instrumento original (negligência e abuso sexual). Também é um objetivo do artigo propor uma versão-síntese para testes e subseqüente uso no Brasil.

ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL DO INSTRUMENTO PARENT-CHILD CONFLICT TACTICS SCALES 1703 Métodos Avaliação da equivalência conceitual e de itens Essas duas fases de avaliação foram desenvolvidas de forma concomitante por um grupo de especialistas composto por cinco profissionais que atuam na área de violência familiar. O grupo procurou explorar se as diferentes dimensões abarcadas pelo instrumento original na definição e apreensão da violência contra a criança seriam relevantes e pertinentes em nosso meio. No processo, avaliou a pertinência dos itens do instrumento original para a captação de cada uma dessas dimensões da violência familiar no Brasil. A apreciação focalizou especialmente o contexto brasileiro, abarcando os seguintes pontos: (1) a pertinência das táticas de disciplina não violenta, agressão psicológica e violência física na educação infantil; (2) a existência de outras estratégias de disciplinamento que, por serem relevantes no Brasil, devessem, necessariamente, ser incluídas em um instrumento epidemiológico de identificação da violência entre pais e filhos; (3) a adequação das duas dimensões presentes no questionário original (agressão psicológica e violência física) para expressar o conceito de violência e a necessidade de inclusão de outras; (4) a capacidade dos itens que compõem as três escalas de representar as dimensões abarcadas pelo instrumento e (5) a pertinência da classificação dos mesmos segundo a sua gravidade. As discussões foram subsidiadas por uma revisão bibliográfica que priorizou as publicações das CTSs sobre os processos envolvidos em sua construção (Straus, 1979; Straus et al., 1996, 1998). Essa etapa visou conhecer os conceitos e definições teóricas de violência familiar em geral e, especificamente, contra a criança, assim como as estratégias utilizadas para a escolha dos itens componentes. Adicionalmente, procurou-se identificar as mesmas questões no material bibliográfico publicado pelas principais instituições nacionais envolvidas com a prevenção, diagnóstico e acompanhamento de vítimas de violência familiar (ABRAPIA, 1992; BEMFAM, 1998; Branco et al., 1996; Deslandes, 1997; MS, 2002). Avaliação da equivalência semântica Seguindo o mesmo roteiro descrito detalhadamente em estudo conexo (Moraes et al., 2002), a avaliação de equivalência semântica envolveu cinco etapas. A primeira consistiu na reali- zação de duas traduções do original em inglês para o português, executadas independentemente por profissionais bilíngües. Na segunda etapa do processo, as versões preliminares foram retraduzidas por outros dois profissionais, novamente de forma independente. Uma avaliação externa foi efetuada por um quinto tradutor, não só proficiente e fluente nos dois idiomas, como também ligado à área de Saúde Coletiva (etapa 3). Duas facetas distintas, mas complementares, foram apreciadas: a equivalência entre o original e as retraduções quanto ao significado referencial (literal) dos termos constituintes e, para cada item, o significado geral (sentido) dos textos (Herdman et al., 1998). Em relação à primeira faceta, julgou-se a equivalência entre pares de assertivas de forma contínua (0% a 100%) através de escalas visuais Visual Analogue Scale (Streiner & Norman, 1995). O significado geral foi qualificado em quatro níveis, a saber, inalterado, pouco alterado, muito alterado ou completamente alterado. A quarta etapa da avaliação semântica foi realizada pelo mesmo grupo de especialistas que participou da avaliação da equivalência conceitual e de itens, tendo como objetivo identificar e solucionar os problemas surgidos nas etapas pregressas. A partir daí, pôde-se propor uma versão-síntese, ora incorporando itens oriundos de uma das duas versões trabalhadas, ora optando-se por introduzir novas modificações para melhor atender os critérios expostos acima. A quinta e última etapa de avaliação envolveu o pré-teste da versão-síntese proposta. A CTSPC foi aplicada em estudo realizado em três maternidades públicas do Município do Rio de Janeiro (Moraes, 2001). Uma equipe composta por cinco entrevistadoras especialmente treinadas e pela coordenadora do trabalho de campo (CLM) entrevistou 774 mães nas primeiras 48 horas de puerpério, focalizando situações vivenciadas com outras crianças de convívio íntimo. Durante a coleta de dados, realizaram-se reuniões da equipe com o grupo de especialistas a fim de discutir a aceitabilidade da versão e demais observações decorrentes da aplicação do instrumento. Resultados e discussão As discussões do grupo de especialistas e a consulta bibliográfica indicaram que os conceitos relacionados à violência entre pais e filhos utilizados para a elaboração do instrumento original são pertinentes ao contexto

1704 REICHENHEIM, M. E. & MORAES, C. L. cultural brasileiro. Concordando com o proposto por Straus et al. (1998), julgou-se que as definições e dimensões da violência contra a criança no Brasil também englobam, dentre outros aspectos, a agressão psicológica e a violência física. Todavia, nas várias fases de atuação do grupo de especialistas, contemplou-se a inclusão de outras facetas da violência contra crianças e adolescentes na versão a ser usada no Brasil. Ficou a indagação se a prostituição ou o trabalho infantil não seriam também formas de maus-tratos e merecedoras de enfoque. Apesar de acordado que estas dimensões fazem parte de um quadro maior de violências, julgou-se que não seria interessante introduzi-las na versão, pois as mesmas não se restringem ao contexto dos conflitos de foro íntimo, foco central do instrumento original. Segundo os especialistas, de forma geral, os 22 itens escolhidos para compor a CTSPC original também representam adequadamente as dimensões da violência contra a criança na população-alvo. Não obstante, o grupo debateu a possibilidade de inclusão de novos itens, que abarcassem outras ações de violência particularmente comuns em nosso meio. Ao se avaliar a escala de agressão psicológica, por exemplo, sentiu-se falta de perguntas que abordassem estratégias de amedrontamento. Pais freqüentemente lançam mão de figuras como bichopapão ou homem do saco para intimidar e modificar comportamentos julgados inadequados. Foram lembradas, também, certas estratégias atemorizantes e a utilização de figuras simbolicamente restritivas/punitivas como forma de disciplinamento. Trancar no quarto escuro ou chamar o guarda ou a polícia são intimidações freqüentes que talvez merecessem itens específicos. Ainda assim, a despeito dessas sugestões interessantes, entendeu-se que não seria prudente modificar a estrutura vigente do instrumento. Vale lembrar que a inclusão de um ou mais itens configura um novo instrumento, cujas propriedades psicométricas não são necessariamente equivalentes às do original. Mesmo julgando todos os itens componentes da CTSPC pertinentes ao contexto cultural brasileiro, alguns mereceram um debate adicional, conforme apresentado na Tabela 1. O item L, pertencente à escala agressão psicológica, por exemplo, não parece de todo adequado ao trato com crianças muito pequenas, pois a ameaça de expulsão de casa não cabe nessa situação. De forma semelhante, os itens D e H, da escala de castigo corporal, ainda que sejam táticas de disciplinamento bastante utilizadas em crianças pré-escolares e escolares, não costumam fazer parte das relações entre pais e filhos adolescentes. A preocupação com a capacidade de generalização motivou a manutenção dos dois itens cogitados como pouco ajustados às diferentes idades-alvo do instrumento. Possivelmente, seria vantajoso haver módulos separados para menores de 12 anos e adolescentes, já que as estratégias utilizadas no disciplinamento variam conforme a idade. No entanto, além de acarretar um aumento do questionário, isso poderia prejudicar as comparações de achados obtidos no Brasil e em localidades que usam o instrumento na sua forma original. As discussões trazidas à baila no artigo que apresenta o instrumento original reforçaram essa decisão (Straus et al., 1998). Mesmo reconhecendo que a heterogeneidade das formas de violência psicológica e física nas diferentes faixas etárias tenha levado a alguma dificuldade na sua construção, os autores ressaltam que a diversidade dos itens componentes acaba permitindo uma representação adequada do espaço de conteúdo desejado nas diferentes faixas etárias. Enfatizam que as vantagens de um instrumento único e de ampla cobertura sobrepujam quaisquer limitações. Questionou-se também a pertinência dos itens B e Q na representação do conceito de disciplina não-violenta em populações com precárias condições de vida, como é o caso de uma importante parcela da população brasileira. Famílias desse estrato social freqüentemente vivem em casas de poucos cômodos, em que crianças e adultos dividem espaços diminutos. Pôs-se em dúvida se, nessas circunstâncias, um item como o B, referindo-se designadamente ao quarto próprio da criança, não tenderia a diminuir a sensibilidade da detecção dessa estratégia de disciplinamento. Do mesmo modo, o termo privilégios contido no item Q também pode ser impróprio, já que a maioria das crianças menos favorecidas socialmente não tem sequer o essencial, quanto mais, supostas regalias. Decidiu-se fazer uma alteração semântica apenas no item B, acrescentando-lhe ou em qualquer outro lugar para contemplar as famílias que, na perspectiva de infligir castigo, utilizam outros ambientes domiciliares como local de restrição da criança. Como a crítica ao item Q não foi inteiramente compartilhada por todo o grupo de especialistas, optouse por não modificá-lo. Ainda nesta fase, debateu-se a alocação do item V na escala de punição corporal. Segundo o grupo de especialistas, atos como dar uma bofetada na cara ou tapa na orelha parecem re-

ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL DO INSTRUMENTO PARENT-CHILD CONFLICT TACTICS SCALES 1705 Tabela 1 Problemas identificados durante o processo de avaliação da equivalência de itens e algumas modificações implementadas. Item original Comentário Tipo de problema Ação Put him in time out A maioria das famílias entrevistadas Prejuízo na equivalência Modificação semântica: (or sent to his room) (B) mora em casas pequenas onde as de item colocou-o de castigo do tipo: crianças não têm quarto próprio mandou-o ficar em seu quarto ou em qualquer outro lugar Hit him on the bottom with O item não parece adequado Problema no item original Não modificado something like a belt, a crianças maiores hairbrush, a stick or some other hard object (D) Spanked him on the bottom O item não parece adequado Problema no item original Não modificado with your bare hand (H) a crianças maiores Swore or cursed at him (J) No Brasil, o primeiro verbo não é Prejuízo na equivalência Modificação semântica: xingou muito utilizado. O sentido do item de item e semântica ou praguejou, quer dizer, rogou parece conotar violência mais praga contra ele grave aqui do que nos Estados Unidos Said you would send him Não parece adequado Problema no item original Não modificado away or kick him às crianças pequenas out of the house (L) Took away privileges No Brasil, o termo privilégio pode Prejuízo na equivalência Não modificado or grounded him (Q) significar algo sobressalente, supérfluo. de item Caso o instrumento seja utilizado em populações de baixa renda, o item pode não conseguir captar o mesmo conteúdo do original Called him dumb Não parece cobrir o mesmo conteúdo. Prejuízo na equivalência Modificação semântica: chamou-o or lazy or some other Talvez, no Brasil, outros adjetivos de item de estúpido, burro, preguiçoso name like that (U) depreciativos fossem mais indicados ou de outra coisa parecida Slapped him on the Não parece pertencer ao construto Prejuízo na equivalência Não modificado face, head or ears (V) de violência física menor, mas, de item sim, ao de violência física grave presentar uma situação de violência mais grave em virtude de suas possíveis conseqüências à saúde, principalmente quando utilizados contra crianças mais novas. O entendimento do que vem a ser castigo violento em contraposição ao que pode ser descrito como método coerente e aceitável para educação e disciplinamento de uma criança é um campo dinâmico, aberto e em franca discussão. Essas definições tendem a variar segundo o contexto social. Falta consenso sobre o que é ou não aceitável, e quais valores pessoais, culturais e religiosos que as influenciam (Bauman & Friedman, 1998). Atos violentos inicialmente considerados graves vão sendo progressivamente trivializados, passando a ser aceitos e percebidos como necessários à educação de crianças. É possível que este percurso tenha culminado com inclusão do item V na escala de violência física menor. No contexto brasileiro, no entanto, há de se questionar se, pelo menos hoje, dar um tapa ou bofetada no rosto, na cabeça ou nas orelhas pode ser considerado um ato corriqueiro. Talvez a melhor solução fosse transferir o item para a escala de maus-tratos físicos. No entanto, vale notar que, fazendo-se a substituição, a escala de violência física menor se reduziria, ao passo que a grave acabaria com um item a mais. Essa mudança poderia distorcer as propriedades psicométricas de ambas subescalas, um problema já assinalado anteriormente. Como no caso do item Q, optou-se por manter a estrutura original e aguardar os resultados das avaliações psicométricas para uma proposta mais definitiva. Passando para a avaliação dos aspectos estritamente semânticos, concluiu-se que, em ambos os pares de tradução/retradução, havia

1706 REICHENHEIM, M. E. & MORAES, C. L. se alcançado uma adequada equivalência de significado referencial e geral vis-à-vis o instrumento original (etapa 3). Conforme mostra a Tabela 2, a maioria dos itens foi julgada como tendo mais de 90% de equivalência, com uma ligeira vantagem do primeiro sobre o segundo. Apesar dessa avaliação positiva, 12 itens ainda demandaram pequenos ajustes durante a etapa subseqüente (etapa 4). Esse refinamento teve como objetivo tornar a versão mais sintonizada com a população-alvo e procurou evitar uma possível perda do sentido geral dos itens. A maioria das mudanças envolveu a substituição de pronomes e artigos (cerca de 70%) para tornar o texto mais coloquial. Como exposto na Tabela 1, apenas três itens necessitaram ser alterados de forma mais substantiva. Além da mudança no item B, já comentada anteriormente, ao U adicionou-se estúpido para ressaltar a idéia de que os adjetivos depreciativos propostos seriam apenas exemplos de um conjunto variado de termos utilizados com intuito de humilhar ou diminuir a auto-estima da criança. Ao J, acrescentou-se...quer dizer, rogou praga... no intuito de facilitar o entendimento. Se as mudanças nos itens B e U parecem ter sido bem sucedidas, já que as respondentes não demonstraram dificuldade na compreensão dos itens, o mesmo não parece ter acontecido com o J. Apesar da modificação proposta pelo grupo de especialistas, o pré-teste continuou indicando um problema. As entrevistadoras, de forma consistente, relataram o quanto o item acarretava uma reação de espanto por parte das respondentes, dando-lhes a impressão de que este parecia estar conotando uma situação mais grave do que a pretendida pelo instrumento original. Essa questão ainda carece de alguma luz. Seria importante realizar discussões que também incorporassem membros da população para a qual a versão foi pensada. Nesse sentido, grupos focais poderiam ser bastante proveitosos (Krueger, 1994; Chor et al., 2001). Ainda no pré-teste, outros dois itens foram identificados como problemáticos. Segundo depoimento das entrevistadoras de campo, o item A, pertencente à escala de disciplina nãoviolenta, e o E, da escala de agressão psicológica, permaneciam pouco coloquiais. Unanimemente, a equipe apontou para a forma rebuscada de construção das duas sentenças e relatou que, em várias entrevistas, fora necessário repetir mais de uma vez essas perguntas para que se obtivesse resposta. Não obstante, observou-se uma excelente aceitabilidade do instrumento. Apenas duas entre as 774 respondentes se recusaram a terminar a entrevista. A versão pré-testada pode ser apreciada na íntegra na Tabela 3. Considerações finais As diferenças existentes entre as definições, crenças e comportamentos relacionados aos temas de pesquisa impõem que a utilização de instrumentos elaborados em outros contextos culturais seja precedida de uma avaliação meticulosa da equivalência entre o original e sua versão. A necessidade de se adaptarem ferramentas de aferição não é restrita às situações envolvendo países e/ou idiomas distintos. Ajustes locais e regionais também requerem atenção. O alcance de sintonia com a população na qual a versão será usada é algo difícil de caracterizar. Uma decisão deve ponderar o quanto se ganha com a aproximação cultural e o quanto se perde em termos de generalização e comparabilidade. Como apontado na Introdução, historicamente as adaptações de instrumentos elaborados em outros idiomas se confinavam a simples traduções ou, excepcionalmente, à comparação literal dos originais com versões retraduzidas. Mais recentemente, pesquisadores de diferentes áreas temáticas têm sugerido que a avaliação semântica seja considerada apenas um dos passos necessários ao processo de a- daptação transcultural (Badia & Alonso, 1995; Behling & Law, 2000; Bravo et al., 1991; Guillemin et al., 1993; Herdman et al., 1997). Ainda que na literatura se encontrem várias propostas metodológicas, utilizou-se o modelo sugerido por Herdman (1998) pela sua ênfase na a- preciação de diferentes aspectos do processo de adaptação. Contudo, por ser apenas um dentre os vários roteiros disponíveis, torna-se fundamental que todas as fases/etapas realizadas sejam explicitadas e postas à crítica. Apreciando os diferentes passos do processo de avaliação da equivalência semântica, merecem destaques as duas últimas etapas. O envolvimento do grupo de especialistas em uma nova rodada de encontros serviu como um momento crucial de reflexões e debates, contribuindo para um ajuste fino. A importância desta quarta etapa é facilmente identificada ao se perceber que 12 entre os 22 itens sofreram alguma mudança no decorrer do processo, a despeito de uma avaliação satisfatória na anterior. É possível que as semelhanças de estrutura lingüísticas entre os idiomas, ou mesmo a presença de um jargão, tenham facilitado o processo de retradução, aproximando ao original sem

ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL DO INSTRUMENTO PARENT-CHILD CONFLICT TACTICS SCALES 1707 Tabela 2 Equivalência semântica entre a versão em português da Parent-Conflict Tactics Scales (CTSPC) e o original em inglês. Formulário original Versão 1 Versão 2 (inglês) Tradução Retradução Tradução Retradução (inglês português) (português inglês) A1a A2b (inglês português) (português inglês) A1a A2b a) Explained why Explicou por que You explained to 100 IN Explicou por que You explained why 100 IN something was wrong alguma coisa him why something algo estava errado something was wrong estava errada was wrong b) Put him in "time out" Colocou-o "de molho" You grounded him (or 100 IN Colocou-o de castigo You punished 85 IN (or sent to his room) (ou mandou-o para sent him to his room) (ou mandou-o him or made him o seu quarto) ficar no quarto) stay in his room c) Shook him Sacudiu-o You shook him hard 95 IN Sacudiu-o You shook him 100 IN d) Hit him on the bottom Bateu no traseiro You hit him on his 100 IN Bateu nele por trás, You hit him on the 50 PA with something like dele/a com alguma backside (spanked him) com um cinto, uma back, with a belt, a belt,hairbrush, coisa como um cinto, with something like escova, um bastão brush, bat or any a stick or some other escova de cabelo, a belt, a hairbrush, ou outro objeto duro other hard object hard object vara ou outro objeto a rod or any other duro hard object e) Gave him something Deu-lhe outra coisa You gave him 100 IN Mandou-o fazer algo He was doing 100 IN else to do instead of para fazer em vez something else to do diferente do que ele something wrong, what he/she was doing daquilo que estava instead of whatever he estava fazendo errado and you told him to wrong fazendo errado was doing that was do something else wrong f) Shouted, yelled, Gritou, berrou, urrou You shouted, yelled, 100 IN Falou alto, berrou You spoke loud, 100 IN or screamed at him com ele or hollered at him ou gritou com ele screamed or yelled at him g) Hit him with a fist or Acertou-o com o punho You struck him with 100 IN Bateu nele com a You hit him hard 90 IN kickedhim hard ou deu-lhe um chute your fist, or kicked mão fechada ou with a closed hand com força him hard bateu nele com força h) Spanked him on the Deu um tapa com You slapped him on 100 IN Bateu nas nádegas You hit his buttocks 96 IN bottom with your bare a palma da mão the backside with the dele com as mãos with both hands hand no seu traseiro palm of your hand i) Grabbed him around Agarrou-o pelo pescoço You grabbed him by 100 IN Agarrou-o pelo You grabbed him by 79 IN the neck and choked him e o sufocou the neck and pescoço e sacudiu the neck and shook him smothered him j) Swore or cursed Xingou-o ou You abused him 94 PA Xingou ou praguejou You insulted him 100 IN at him amaldiçoou-o or cursed him contra ele or swore k) Beat him up, that is Deu-lhe uma surra, ou You gave him a severe 100 IN Bateu muito nele, You hit him hard 100 IN you hit him over and seja, bateu nele "sem beating, that is, you hit isto é, bateu nele s and repeatedly, as over as hard as you parar" com o máximo him relentlessly and as em parar, o máximo much as you could could de força que podia hard as you could que conseguiu l) Said you would send Disse que iria mandá-lo You said you would 100 IN Disse que iria expulsá-lo You said you would 100 IN him away or kick him embora ou para fora send him away or throw de casa ou enxotá-lo throw or kick him out out of the house de casa him out of the house para fora de casa of the house m) Burned or scalded Queimou-o ou You burnt or scalded 100 IN Queimou-o ou You burnt him or 100 IN him on purpose escaldou-o him on purpose derramou líquido spilled hot liquid de propósito quente nele de on him on purpose propósito n) Threatened to spank Ameaçou dar um You threatened to slap 100 IN Ameaçou espancá-lo You threatened to 100 IN or hit him but did not tapa mas não o him but did not ou bater nele mas spank or hit him actually do it fez na verdade actually do it não o fez but did not do so (continua)

1708 REICHENHEIM, M. E. & MORAES, C. L. Tabela 2 (continuação) Formulário original Versão 1 Versão 2 (inglês) Tradução Retradução Tradução Retradução (inglês português) (português inglês) A1a A2b (inglês português) (português inglês) A1a A2b o) Hit him on some other Bateu-lhe em alguma You whipped him 100 IN Bateu nele em outra You hit some other 82 IN part of the body besides parte do corpo além on some other part parte do corpo além part of his body the bottom with do traseiro, com of the body besides das nádegas, com besides his buttocks, something like a belt, alguma coisa como his behind, with algo como cinto, with a belt, hairbrush, hairbrush, a stick or um cinto, escova de something like a belt, escova de cabelo, bat or any other some other hard object cabelo, vara ou outro a hairbrush, a rod or bastão ou outro hard object objeto duro any other hard object objeto duro p) Slapped him on the Deu-lhe um tapa na You slapped him on 100 IN Deu um tapa na mão, You slapped his 100 IN hand, arm, or leg mão, braço ou perna his hand, arm or leg braço ou perna dele hand, arm or leg q) Took away privileges Tirou-lhe os privilégios You withdrew the 100 IN Tirou privilégios You deprived him 100 IN or grounded him ou deixou-o sem sair privileges he enjoyed ou o reteve em casa of privileges or made or forbade him to go out him stay home r) Pinched him Deu-lhe um beliscão You pinched him 100 IN Deu-lhe um beliscão You pinched him (her) 100 IN s) Threatened him Ameaçou-o com uma You threatened him 100 IN Ameaçou-o com You threatened him 100 IN with a knife or gun faca ou arma de fogo with a knife or firearm uma faca ou arma with a knife or a gun t) Threw or knocked Jogou-o no chão You threw him 100 IN Atirou-o ao chão You threw him on the 100 IN him down on the floor ou bateu nele, floor or hit him throwing jogando-o ao chão him on the floor u) Called him dumb Chamou-o de estúpido You called him stupid 100 IN Chamou-o de pateta You called him stupid 100 IN or lazy or some other (burro) ou preguiçoso (dumb), or lazy, or ou preguiçoso ou or lazy or a similar name tike that ou de outra coisa something of the kind coisa parecida name parecida v) Slapped him on the Deu-lhe uma bofetada You slapped him across 100 IN Deu-lhe um tapa You slapped him on 100 IN face or head or ears na cara, cabeça ou the face, head or over no rosto, na cabeça his face, head or ears orelha the ear ou na sorelhas aa1 Avaliação/apreciação em termos do percentual de concordância do significado referencial (ver texto para detalhes) ba2 Avaliação/apreciação do significado geral (ver texto para detalhes) IN = inalterado; PA = pouco alterado; MA = muito alterado; CA = completamente alterado. que isso implicasse, necessariamente, uma versão bem adaptada ao contexto cultural local. Foi também nesse momento que os problemas que levaram à falta de equivalência entre o original e as retraduções puderam ser identificados. Eles foram decorrentes de falhas na tradução, retradução ou em ambas as etapas. O exame cuidadoso impediu o inadvertido descarte de itens bem traduzidos, mas que, na realidade, foram mal retraduzidos. Algumas incongruências também puderam ser identificadas pelo grupo de especialistas. Por exemplo, apesar de os significados gerais dos itens C, G, H e O terem sido considerados inalterados pelo avaliador externo, identificou-se que as diferenças de significado referencial implicavam modificações reais no sentido dos itens. Talvez, o lapso na terceira etapa tenha se dado pela pouca experiência do profissional na área de violência familiar. Isso corroboraria Behling & Law (2000), que, ao debaterem as várias fases de um processo de adaptação, propõem a incorporação dos tradutores ao programa de investigação. Enfatizam que, fazendo-os participar mais intensa e dinamicamente de todas as etapas do processo de adaptação, as experiências dos pesquisadores e as especificidades da área temática podem ser mais bem discutidas por todo o grupo, aprimorando o produto final. A relevância da quinta fase, envolvendo as entrevistadoras de campo como partícipes do processo de adaptação, é nitidamente expressa no valioso feedback dado aos itens A, E e J. As informações carreadas sobre as reações verbais e não-verbais a cada pergunta; sobre as possíveis dissintonias entre os textos neutros e o conteúdo efetivamente percebido e sentido pelas respondentes; as críticas e sugestões semânticas ou operacionais apresentadas durante as muitas reuniões de trabalho agendadas ao longo do pré-teste, foram e continuarão sendo fundamentais na construção de um instru-

ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL DO INSTRUMENTO PARENT-CHILD CONFLICT TACTICS SCALES 1709 Tabela 3 Versão-síntese do intrumento Conflict Tactics Scales Parent-Child (CTSPC) em português. Crianças muitas vezes fazem coisas que são erradas, desobedecem, ou fazem os pais ficarem zangados. A gente gostaria de saber o que V/S (ou mmm pessoa escolhida/sorteada) costuma fazer quando o (xxx nome da criança) faz alguma coisa errada, ou faz V/S ficar irritada ou zangada. Eu vou ler algumas coisas que V/S pode ter feito nessas horas. Eu gostaria de saber se, desde que a V/S soube que estava grávida, essas coisas aconteceram. Itema Escalab A DNV Você explicou a (xxx nome da criança) por que o que ele/a estava fazendo estava errado? B DNV Você o/a colocou de castigo do tipo: mandou-o ficar em seu quarto ou em qualquer outro lugar? C PC Você sacudiu (xxx nome da criança)? D PC Você bateu no bumbum dele/a com alguma coisa como um cinto, chinelo, escova de cabelo, vara ou outro objeto duro? E DNV Você deu a ele/a outra coisa para fazer em vez daquilo que ele/a estava fazendo de errado? f AP Você falou alto, berrou ou gritou com (xxx nome da criança)? G MF Você bateu com a mão fechada ou deu um chute com força nele/a? H PC Você deu uma palmada no bumbum de (xxx nome da criança)? I MFG Você o agarrou pelo pescoço e o sacudiu? J AP Você xingou ou praguejou, quer dizer, rogou praga, contra ele/a? K MFG Você bateu muito em (xxx nome da criança), ou seja, bateu nele/a sem parar, o máximo que V/S conseguiu? L AP Você disse alguma vez que iria expulsá-lo/a de casa ou enxotá-lo/a para fora de casa? M MFG Você queimou (xxx nome da criança) ou derramou líquido quente nele de propósito? N AP Você ameaçou dar um tapa nele/a, mas não deu? O MF Você bateu em alguma parte do corpo dele diferente do bumbum com alguma coisa como um cinto, chinelo, escova de cabelo, vara ou outro objeto duro? P PC Você deu um tapa na mão, no braço ou na perna de (xxx nome da criança)? Q DNV Você tirou as regalias dele/a ou deixou-o/a sem sair de casa? R PC Você deu um beliscão em (xxx nome da criança)? S MFG Você o/a ameaçou com uma faca ou arma? T MF Você jogou (xxx nome da criança) no chão? U AP Você o/a chamou de estúpido/a, burro/a, preguiçoso/a ou de outra coisa parecida? V PC Você deu um tapa/bofetada no rosto, na cabeça ou nas orelhas de (xxx nome da criança)? aletras correspondem às do instrumento original em inglês (Straus et al., 1998). DNV = disciplina não-violenta; AP = agressão psicológica; PC = punição corporal; MF = maus-tratos físicos; MFG = maus-tratos físicos graves.

1710 REICHENHEIM, M. E. & MORAES, C. L. mento ainda mais conectado com a populaçãoalvo. De toda a sorte, essa experiência mostra que a proposta de Behling & Law (2000), comentada acima, merece ser estendida também aos trabalhadores de campo. Em estudos futuros, seria interessante dar ainda mais um passo e integrá-los também às jornadas de debates aqui descritas na quarta etapa. Divergências de apreciação nas diferentes etapas ratificam a importância da explicitação e crítica das estratégias de adaptação utilizadas. A falta de um roteiro único impõe que se debatam experiências, divulgando aquelas bem-sucedidas. Se dentro de um mesmo país já se observam importantes diferenças sócioculturais que podem diminuir a validade de instrumentos pouco adaptados ao contexto local, a utilização dos elaborados em outras culturas requer atenção redobrada. Torna-se cada vez mais evidente que uma simples tradução não é o suficiente. O alerta é ainda mais pertinente em áreas temáticas culturalmente modeladas, como é o caso da violência familiar e tantas outras abordadas no campo da Saúde Coletiva. Com base na presente avaliação da equivalência conceitual, de itens e semântica da CTSPC, é oportuno propor essa primeira versão em português. Contudo, ainda restam alguns passos importantes para que se possa aceitar com segurança a existência de equivalência transcultural entre o original e a versão. Como indicado na Introdução, a apreciação da equivalência de mensuração, estudada através da comparação entre as propriedades psicométricas da versão em português e do instrumento original, é uma tarefa essencial nesse processo e será implementada proximamente. Não obstante, é fundamental que essa primeira versão seja posta à crítica pelos profissionais interessados. A vasta gama de detalhes e opções, muitas delas intrinsecamente subjetivas, demanda que o aprimoramento do instrumento adaptado seja guiado por debates e negociações contínuas entre pares. Agradecimentos Este estudo foi parcialmente financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq Programa de Apoio a Núcleos de Excelência), processo 663073/9987, e Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, processos E-26/171.223/98 e E-26/150.893/99. M. E. R. foi parcialmente apoiado pelo CNPq, processo 300234/94-5. C. L. M. teve o apoio parcial da Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. Os autores agradecem aos participantes do grupo de especialistas, Maria Helena Hasselmann, Simone de Assis e Barbara Musumeci Soares, pela disponibilidade em participar do estudo e pela riqueza de suas contribuições; a Christopher Peterson, por sua engajada participação na terceira etapa de avaliação da equivalência semântica, e às entrevistadoras Alessandra Veggi, Fernanda Faria de Almeida, Isabella Mota Rezende, Joelma Castro e Juliana Toshica Kunisawa, pelos valiosos comentários oferecidos durante a fase de pré-teste do instrumento.

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