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Transcrição:

Ano 20 N 2 julho/dezembro 2012 ISSN 2238-6807 Sinal Verde Metrópoles vão reduzir emissões Uma das mais poluídas aponta caminhos Fred Gelli: todo design deve ser sustentável Pré-sal: o impacto das pesquisas sísmicas

Capa: foto Dreamstime Senac Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial Departamento Nacional Av. Ayrton Senna, 5.555, Barra da Tijuca Rio de Janeiro - RJ - Brasil - 22775-004 www.senac.br Conselho Nacional Antonio Oliveira Santos Presidente Departamento Nacional Sidney Cunha Diretor-geral A revista Senac Ambiental é uma publicação semestral produzida pelo Gerência de Marketing e Comunicação do Senac Nacional. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores. Sua reprodução em qualquer outro veículo de comunicação só deve ser feita após consulta aos editores. Contato: educaambiental@senac.br Expediente Editor Fausto Rêgo Colaboraram nesta edição Ana Bittencourt, Katia Costa, João Roberto Ripper, Elias Fajardo, Luísa Gockel e Francisco Luiz Noel Editoração Gerência de Marketing e Comunicação Projeto gráfico e diagramação Cynthia Carvalho Produção gráfica Sandra Amaral Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Senac ambiental / Senac, Departamento Nacional. n. 1 (1992)-. Rio de Janeiro : Senac/Departamento Nacional/Gerência de Marketing e Comunicação, 1992-. v. : il. color ; 26 cm. Semestral. Absorveu: Senac e educação ambiental. ISSN 2238-6807. 1. Educação ambiental Periódicos. 2. Ecologia Periódicos. 3. Meio ambiente Periódicos. I. Senac. Departamento Nacional. CDD 574.505 Ficha elaborada pela Gerência de Documentação Técnica do Senac/DN.

Editorial foto: Michel Willian/SMCS Hora de respirar novos ares Sinais de fumaça já vemos no ar faz tempo. Mas o sinal verde que se esperava acendeu ao final da Rio+20, a Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada no ano passado. Ele não veio dos chefes de Estado, mas dos prefeitos de algumas das maiores cidades do planeta. Metas de redução das emissões de carbono na atmosfera foram acordadas entre os prefeitos de 58 metrópoles entre as quais figuram três municípios brasileiros. Londres, que acabou de receber os Jogos Olímpicos, é uma dessas cidades e uma das mais poluídas do mundo. Mas está tentando se transformar. Por isso fomos conhecer as iniciativas de mobilidade urbana que estão mudando os ares da capital inglesa. Também conversamos com o premiado designer Fred Gelli para saber mais sobre design sustentável. Investigamos o impacto das pesquisas sísmicas do pré-sal sobre a fauna marinha. E mostramos que uma vacina contra a esquistossomose está sendo produzida no Brasil. Tem ainda muito mais para você. É só virar a página.

Sumário foto: Cesar Brustolin/SMCS foto: TfL 12 Capa Compromisso das metrópoles Grupo de grandes cidades mundiais faz acordo para reduzir emissões poluentes. 18 Mobilidade Sinal verde As medidas que mudaram os ares de uma das cidades mais poluídas da Europa. Correção: diferentemente do que foi publicado na edição anterior, a data de capa correta era janeiro/junho 2012 e o CEP do Departamento Nacional do Senac é 22775-004. 4 Senac Ambiental

foto: Ecohub 6 Entrevista Fred Gelli Ecoinovação, biomimética e as soluções de design que vêm da natureza. 28 Notas 30 Saúde Ciclo perto do fim Cientistas da Fiocruz produzem vacina contra esquistossomose. 34 Documento Das águas e dos povos Do semiárido nordestino à Cúpula dos Povos, a luta pela sustentabilidade. 42 Impacto Ambiental Baleia à vista! O impacto da pesquisa sísmica, intensificada com o pré-sal, sobre as baleias. 48 Legislação Falando em Código A polêmica em torno do novo Código Florestal brasileiro. 54 Estante Ambiental 56 Retrato Ilha risonha e franca A vida em Paquetá, em meio às poluídas águas da Baía de Guanabara. junho/dezembro 2012 5

Entrevista Inspiração na natureza Tudo que não atenda aos preceitos básicos de impacto ambiental será insustentável em breve. A inovação, segundo o designer Fred Gelli, virá do que já está diante de nós há bilhões de anos Katia Costa O verdadeiro design sustentável é ecossexy. Deve combinar baixo impacto ambiental com alto impacto sensorial e ser amigável, possuir uma interface atraente e sedutora em outras palavras: sexy. Também é essencial que seja produzido com o mínimo de recursos e o máximo de simplicidade. Quem afirma é Fred Gelli, professor do departamento de Design da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, onde ministra os cursos de Ecoinovação e Biomimética. Ele também é sócio e diretor de Criação da Tátil, agência de branding que fez as logomarcas dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio 2016 e conquistou mais de 70 prêmios internacionais, incluindo o Leão de Bronze no Cannes Lions em 2009. Neste bate-papo sobre sustentabilidade, Gelli conta que busca inspiração nas soluções apresentadas pela natureza, seguindo os princípios de otimização, ciclo e junho/dezembro 2012 7

Cartões de visita feitos com embalagens PET: o design do futuro deve ser obrigatoriamente sustentável interdependência. Para ele, a expressão design sustentável tende a se tornar redundante e desaparecer, pois todo design deverá ser, num futuro próximo, obrigatoriamente sustentável. Senac Ambiental: O que significa ecoinovação? E qual a sua relação com design sustentável? Fred Gelli: Ecoinovação é a ampliação do conceito de ecodesign. O design do presente e do futuro tem de ser eco, senão não é design. Para isso, busquei a fusão de conceitos com objetivo de ampliar o olhar das pessoas que vão desenhar coisas, não é simplesmente colocar mais objetos no mundo com menos impacto ambiental. Estamos numa fase de mudança de paradigma, e o que não atende aos preceitos básicos de impacto ambiental será insustentável num futuro muito próximo. Por isso, ecoinovação inclui outras dimensões que transcendem o design como é proposto nas universidades, ainda com forte conexão com o objeto. Somos costuradores de informação e o nosso desafio criativo é juntar conhecimentos. A profissão de designer é naturalmente isso por vocação, devido à formação multidisciplinar e por estarmos mais próximos do que qualquer outra profissão dessa lógica da inovação. Senac Ambiental: Então qual seria o papel do designer no mundo atual? Fred Gelli: O designer não sabe profundamente nada, e nem deve. O mais importante é saber juntar expertises, pontos de vistas, saberes. A inovação surge desse encontro. Não adianta um ecodesigner saber tudo sobre como colocar um objeto no mundo com menos impacto ambiental sem estar conectado às razões do acontecimento. Ele precisa estar antenado com outras dimensões, como a política e os macromovimentos da economia global, que transcendem a função de designer. Entre dez diretores executivos de companhias de sucesso, hoje, nove são designers, mesmo que eles próprios não saibam disso. Isso se refere ao jeito do designer de pensar (o que hoje se chama design thinking), que transcendeu o design e foi para o universo da economia e da inovação. Significa uma ampliação muito grande de espectro, pois deixa simplesmente de ser uma conexão com o objeto para se tornar uma conexão com o movimento de impulso evolutivo. Senac Ambiental: Como surge essa importância do papel do designer na sociedade atual? Fred Gelli: No processo evolutivo, a natureza gera variações e, quando o contexto muda, alguém se dá bem. De alguma forma, o contexto atual pede competências que os designers têm, assim como há milhões de anos somente alguns mamíferos conseguiram sobreviver. Favorecidos por essa mudança de contexto, os designers, com seu jeito de olhar o mundo, possuem relevância para o tipo de desafio que se apresenta atualmente. Não é 8 Senac Ambiental

a visão mais difundida pelas escolas de designers. Infelizmente, a maioria delas não está preparada formalmente para isso. A ecoinovação e a biomimética são duas disciplinas que ajudam a acordar esse inovador em potencial que existe em cada estudante de design, agente de transformação, mas que fica adormecido devido à inércia do processo educativo. Senac Ambiental: O que podemos aprender por meio da biomimética? Fred Gelli: Nessa visão de termos um grande desafio criativo pela frente, de redesenhar nossa relação com o mundo e mudar nosso conceito de consumo, a biomimética tem um papel importante. Há mais de três bilhões de anos, a natureza vem exercitando soluções de design, engenharia e arquitetura. Não somos os primeiros a armazenar grande quantidade de informação e transportar grande volume de matéria de um lugar para o outro. A gente pode olhar para a vida nessa perspectiva de projeto, utilizando as inspirações da natureza no jeito de projetar e, por consequência, gerando soluções com mais inteligência. Senac Ambiental: Quais foram seus primeiros passos rumo a esses conceitos? Fred Gelli: Ainda no meu curso de graduação, na década de 1980, mergulhei no conceito da biônica e fui estudar como a natureza embalava as coisas. A barriga da mulher, a atmosfera do planeta e a banana são exemplos de superembalagens. A partir daí, cheguei aos três princípios básicos que permeiam meu trabalho: a natureza projeta com economia, com a maior quantidade de energia e o mínimo de matéria (otimização). Recurso e resíduo têm o mesmo valor e se realimentam (ciclo), e tudo é uma grande teia que se mexe de forma interligada (interdependência). Nós, humanos, operamos numa lógica totalmente inversa. Somos máximos, cartesianos e lineares. Senac Ambiental: Como é feita a transposição da natureza para os projetos de design? Fred Gelli: Somamos os princípios da biônica às premissas do ecodesign, que se baseia na desmontabilidade do objeto, fundamental para reciclar as partes independentemente. Outras duas premissas são usar a menor quantidade de matéria-prima possível, para reduzir o processo de produção, e gastar o mínimo de energia com o processo produtivo. Em tudo que se coloca no mundo temos de pensar como volta para o mundo. Ficamos dez anos pensando em soluções sustentáveis e criamos os primeiros objetos no Brasil com papel reciclável e papelão, em 1986. Estamos na vanguarda desse pensamento. Senac Ambiental: Qual o significado do design sustentável? Fred Gelli: De modo geral, as pessoas entendem design sustentável como algo Fred Gelli: Estamos hipotecando o futuro. Isso é o mesmo que usar o cheque especial sem olhar o extrato junho/dezembro 2012 9

A barriga de uma mulher grávida e as frutas são exemplos de embalagens perfeitas oferecidas pela natureza de baixo impacto ambiental, mas que, na maioria das vezes, produz soluções muito ruins, ecochatas. O verdadeiro design sustentável é ecossexy, ou seja, possui alto impacto sensorial aliado ao baixo impacto ambiental. A gente precisa continuar desfrutando das coisas, utilizando equipamento com interface amigável, usar móveis e utensílios de cozinha que dão mais prazer, uma roupa que seja bacana e em que você se sinta mais bonito. Senac Ambiental: Qual sua visão do processo de substituição de bens em um mundo com escassos recursos? Que tipo de transformação está em jogo nesse processo? Fred Gelli: Isso tem a ver com a lógica do hiperconsumo, nascido na década de 1950, a partir do conceito da obsolescência programada. Na época, tínhamos recursos sobrando e quanto mais rápido o consumo, mais gerávamos bens para perpetuar o ciclo produtivo e alimentar a economia. O outro tipo de obsolescência é a percebida e tem a ver com o design, o estilo, as cores, a tendência. Ambas estão a serviço dessa lógica e incentivam a substituição de produtos no menor tempo possível. Mas as pessoas começam a se ligar nisso a partir de agora. Inevitavelmente, daqui a 30 anos, seremos 10 bilhões de pessoas no planeta e precisamos inventar uma nova lógica. O preço verdadeiro das coisas, somado à parcela das externalidades e do passivo ambiental, é uma conta a ser paga pelas gerações futuras. Estamos hipotecando o futuro. Isso é o mesmo que usar o cheque especial sem olhar o extrato. Senac Ambiental: De que forma, na prática, isso vai acontecer? Fred Gelli: Deixaremos de ser consumidores e passaremos a ser desfrutadores. Ser puramente consumidor é uma redução da nossa razão de ser e somente se aplica em um mundo com recursos em abundância. Em um mundo de recursos escassos, poucos espaços e mais gente, como o atual, rompe-se a lógica perversa da obsolescência. Na medida em que os preços subirem, o descarte será bem menor. Um computador gera 200 vezes o peso dele em resíduos pelo caminho, da extração da bauxita à embalagem na caixa. E quem paga por isso? Eu não pago, nem a empresa. Existem desequilíbrios e externalidades no processo de produção que não estão embutidos no preço, que é artificial nessa lógica de hiperconsumo. Por isso acredito que as leis serão cada vez mais rigorosas, como a de resíduos sólidos, que exige das empresas responsabilidade por todas as embalagens colocadas no mundo. Isso vai encarecer essa dinâmica e frear de vez o consumo. Senac Ambiental: Você compara a metrópole a um ecossistema, como o banco de corais, que não tem pontas soltas e se realimenta a partir da sequencia de fluxos 10 Senac Ambiental

energéticos, sem desperdícios, ao contrário de uma grande cidade. Como resolver o caos insustentável das metrópoles se espelhando no processo simbiótico e no sistema de comunicação móvel e instantâneo desse ecossistema? Fred Gelli: É um desafio criativo gigantesco. Vamos ter de mudar a nossa maneira de fazer planejamento urbano e passar a entender que as cidades precisam parecer mais com ecossistemas. Para isso, algumas premissas são fundamentais. Uma delas é a ganância, que funciona como uma dimensão do nosso jeito de operar e fazer negócios. Ela é completamente contraditória e não acontece na natureza. A crise de 2008 é um retrato do desequilíbrio entre competição e cooperação, movido pela ganância. Em um ecossistema, o lucro só é garantido se todos estiverem lucrando, senão um organismo sucumbe e a não existência do vizinho desequilibra o ecossistema do qual ele depende. A natureza não é nada altruísta, todos pensam no seu lado, mas existe um pacto, e a competição e a cooperação são dois vetores que atuam juntos. Senac Ambiental: Você tem conhecimento de estudos sobre modelos de cidade baseados nesses conceitos fora do Brasil? E de que forma a questão da acessibilidade está incluída nesses projetos? Fred Gelli: A gente vai ter de mudar radicalmente Biomimética A biomimética é uma área da ciência que tem por objetivo o estudo das estruturas biológicas e das suas funções, procurando aprender com a natureza, suas estratégias e soluções, e utilizar esse conhecimento em diferentes domínios da ciência. A designação provém da combinação das palavras gregas bíos, que significa vida, e mímesis, que significa imitação. Dito de modo simples, a biomimética é a imitação da vida. Fonte: Wikipédia muita coisa e seguir os três princípios básicos. O automóvel, por exemplo, precisa ser desinventado. É evidente que essa é uma ideia máxima, pois pagar o preço do impacto ambiental causado pelo carro seria inviável. O automóvel deve se tornar um meio de transporte público compartilhado, no qual as pessoas seriam desfrutadoras em vez de consumidoras, e utilizado para transportá-las dos centros urbanos para a periferia, onde elas vão morar, como já acontece no Japão, em Nova York e Londres, entre outras. Vai haver um desestímulo crescente do uso do carro, com aumento do preço do veículo, do estacionamento etc. As cidades se tornariam mais verticais, com integração dos suprimentos de energia, para se viver bem em grandes concentrações. Mas eu não tenho a menor dúvida de que a gente vai conseguir se redesenhar, se reinventar. Para o designer, nosso comportamento precisa mudar. Não é possível que a sociedade seja puramente consumidora em um mundo com recursos escassos junho/dezembro 2012 11

Curitiba: uma das primeiras referências em sustentabilidade no Brasil

Capa O compromisso das metrópoles Grandes cidades se comprometem a reduzir significativamente suas emissões de carbono nos próximos anos Fausto Rêgo foto: Michel Willian/SMCS Em meio à discussão plenária que envolvia chefes de Estado e diplomatas de todo o planeta, veio de um painel formado por prefeitos de grandes metrópoles mundiais uma das melhores notícias da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada no Rio de Janeiro, em junho do ano passado. Presidido por Michael Bloomberg, prefeito de Nova York, EUA, o grupo C40 formalizou um acordo significativo para reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa, grande vilão do aquecimento global. Durante esse encontro, batizado como Rio+C40, foi firmado o compromisso de obter uma redução de aproximadamente 248 milhões de toneladas até 2020, chegando a 1,3 bilhão de toneladas até o ano de 2030. Se, por um lado, as negociações entre os governos de cada país na Rio+20 resultaram em um documento final tímido, o acordo firmado pelos prefeitos pode ser a chave para transformações significativas para conter as mudanças climáticas. Segundo dados da organização não governamental junho/dezembro 2012 13

foto: Fábio Pozzebom/Ag. Brasil Investimento em ciclovias é cada vez mais importante nas grandes cidades Trânsito no Rio de Janeiro: poluição, estresse e tempo perdido foto: Cesar Brustolin/SMCS Carbon Disclosure Project (em tradução livre, Projeto de Informações sobre Carbono), é o poder municipal que detém o controle direto de 75% das fontes urbanas de emissões de gases poluentes. E hoje o C40 reúne 58 municípios, o que representa mais ou menos 14% das substâncias liberadas na atmosfera. Apenas em 2011, as emissões de dióxido de carbono em todo o mundo tiveram um aumento de 2,5%, chegando a 34 bilhões de toneladas, segundo o Instituto de Energia Renovável da Alemanha (IWR). A ser mantida essa tendência, a previsão é que as emissões globais alcancem a marca de 40 bilhões de toneladas em 2020. O país-líder do ranking de poluidores é a China, com EUA, Índia, Rússia, Japão e Alemanha vindo em seguida. Mas é possível ter esperança quando consideramos que cidades como Pequim e Xangai (na China), Nova York, Houston e Los Angeles (nos EUA), Nova Délhi e Mumbai (na Índia), Moscou (na Rússia), Tóquio e Yokohama (no Japão), Berlim e Heidelberg (na Alemanha) integram o C40. O planeta terá, portanto, muito a agradecer caso os compromissos firmados pelas grandes metrópoles mundiais saiam de fato do papel. Participação ativa O C40 foi formado em outubro de 2005, quando o então prefeito de Londres, Ken Livingstone, conclamou representantes de 18 metrópoles mundiais a participar de um esforço conjunto para reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa. Assim foi firmado o primeiro acordo de cooperação e construção de políticas públicas comuns sobre o tema. A partir do ano seguinte, o grupo passou a atuar em parceria com a fundação Clinton Climate Initiative, criada por Bill Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos. Os membros do C40 têm realizado, isoladamente ou com apoio dos governos nacionais, uma série de ações voltadas para a sustentabilidade: substituição de combustíveis fósseis por fontes limpas de energia, como a eólica (em Copenhague, Dinamarca); plano de eficiência energética em grandes prédios (em Nova York, EUA); redução do gás metano em aterros sanitários (na Cidade do México), entre outros projetos. 14 Senac Ambiental

O intercâmbio entre as cidades que integram o grupo é frequente, com reuniões técnicas eventuais para compartilhar know-how e experiências, além de conferências de cúpula que são realizadas a cada dois anos. A mais recente, aliás, ocorreu na capital paulista, no ano passado. As resoluções do encontro foram expressas na Carta de São Paulo, documento usado para reivindicar aos membros das Nações Unidas uma participação mais ativa na discussão global sobre as transformações no clima, bem como o interesse em assumir um papel de liderança na questão ambiental. Após firmar com a prefeitura de Paris um termo de cooperação que envolve áreas como desenvolvimento urbano, tratamento de resíduos e saneamento, o então prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, destacou o papel das grandes metrópoles na busca do desenvolvimento sustentável e afirmou que os municípios detêm a chave e a condução do processo de combate às mudanças climáticas. Dentre as ações conduzidas pela capital paulista, mencionou a criação de parques lineares, a implantação de uma frota verde, o incentivo à eficiência energética nas edificações, os programas de adensamento populacional e a captação de gases nos aterros sanitários. Rio investe em mobilidade Além da capital paulista, mais dois municípios brasileiros fazem parte do C40: Rio de Janeiro e Curitiba. Sede dos próximos Jogos Olímpicos, o Rio de Janeiro incluiu o desafio de ser uma cidade mais verde em seu planejamento. A prefeitura trabalha com metas de redução de 16% em 2016, com relação às emissões registradas em 2005, chegando a 20% em 2020. O total de emissões do Rio registrado em 2005 foi de 11,35 milhões de toneladas de CO 2, disse o prefeito Eduardo Paes. Obtivemos uma redução parcial equivalente a 9% até 2012, foto: C40/licença CC BY-SA2.0 cumprindo a meta de 8% na legislação até o fim deste ano. Paes aposta alto na reorganização do modelo viário, em especial com a criação de faixas expressas para ônibus sistema conhecido pela sigla em inglês BRS, de Bus Rapid System e de um modelo de ônibus articulados que trafegam em corredores exclusivos, o BRT de Bus Rapid Transit. A prefeitura calcula que apenas uma das vias criadas para o tráfego do BRT, a TransOeste, será responsável por reduzir em 2,8 mil toneladas por ano a emissão de gases do efeito estufa. A mobilidade urbana sustentável é premissa da reorganização do sistema de transporte do Rio. Estamos ampliando as alternativas de transporte de alta capacidade na cidade, diz o prefeito. A rede atual atende a 18% da população. Esse percentual chegará a 63% em 2015, com a expansão da rede de BRTs, metrô, trens e barcas, além da otimização da frota, com redução do número de ônibus nas ruas. Outro aspecto é a utilização de combustíveis menos poluentes. Já existe previsão de evolução na utilização de diesel com menor nível de enxofre e maior percentual de biodiesel na composição. Estão sendo avaliadas alternativas energéticas como geração híbrida ou elétrica. O prefeito menciona ainda a expansão da malha cicloviária e o incentivo Reunião do C40 na Rio+20: Eduardo Paes, prefeito do Rio, é o quarto a partir da esquerda; Gilberto Kassab, de São Paulo, o segundo a partir da direita junho/dezembro 2012 15

foto: Maurilio Chelli/SMCS Parques: espaços para lazer, contemplação e vida saudável Luciano Ducci, prefeito de Curitiba foto: Cesar Brustolin/SMCS ao uso da bicicleta. Atualmente, o Rio conta com 300 quilômetros de ciclovias. A prefeitura promete chegar a 450 quilômetros no ano olímpico. O uso dessa alternativa de transporte é incentivado com medidas como o bem-sucedido programa Bike Rio, que oferece bicicletas de aluguel que podem ser retiradas em qualquer uma das quase 60 estações espalhadas pela cidade (embora ainda concentradas na Zona Sul) e devolvidas em outra. Segundo Paes, outras medidas de contenção dos impactos climáticos têm sido observadas pela prefeitura. Uma delas é o selo Qualiverde, regulamentação urbanística que procura incentivar empreendimentos com menor impacto ambiental. Queremos incentivar o aumento do número de construções sustentáveis na cidade, que utilizem menos recursos naturais na construção e na vida útil dos equipamentos urbanos, afirma. Curitiba usa biodiesel Referência imediata quando falamos em cidades sustentáveis no Brasil e marcada profundamente pelas intervenções realizadas durante os três mandatos do urbanista Jaime Lerner, Curitiba trabalha na construção do Plano Municipal de Mitigação e Adaptação a Mudanças Climáticas. O documento, que vai estabelecer metas e prazos para redução de emissões de CO 2 e estará pronto em 2013, é elaborado pelo Fórum Curitiba de Mudanças Climáticas, organismo que conta com a participação do poder público, de instituições de ensino e pesquisa, do terceiro setor e do setor produtivo. Enquanto o plano não é finalizado, a capital paranaense investe em soluções para conter o impacto ambiental do trânsito. Aumentamos gradativamente o uso do biodiesel em nossos ônibus e apostamos na inovação, explica o prefeito Luciano Ducci. Incluímos em nossa frota um ônibus movido a eletricidade e biodiesel, que reduz em 90% a emissão de poluentes. Estamos ampliando a nossa malha de ciclovias e instalando paraciclos em pontos estratégicos da cidade, para incentivar o uso da bicicleta e atender melhor quem já a utiliza. Ducci lembra que o controle das emissões industriais também é feito de forma rotineira pelo município e é condição para o licenciamento ambiental. Mantemos ações de fiscalização para verificar e garantir o respeito da legislação que regulamenta as emissões. Ao contrário de Eduardo Paes, que foi reeleito no Rio de Janeiro para mais quatro anos de governo, Ducci não segue à frente da prefeitura, nem fez seu sucessor. Mas não acredita que o enfrentamento das mudanças climáticas deixe de ser priorizado em função disso. Esse compromisso deve superar qualquer mudança de governo. É um tema importante e precisa ser enfrentado pelos governantes e por toda a sociedade de forma efetiva e com clareza das responsabilidades mútuas. Curitiba é referência em sustentabilidade e planejamento justamente porque diversos projetos e programas foram continuados, mesmo com as sucessões administrativas. Acredito que a própria população cobrará essa continuidade, pondera. O que membros do C40 estão fazendo Sydney, na Austrália, anunciou recentemente o plano de implementar a tecnologia de LEDs (sigla para diodo emissor de luz, que é bem mais eficiente e consome menos carbono) na iluminação pública em toda a sua área central, ao longo dos próximos três anos. Isto significa substituir 6.450 lâmpadas, o que deverá reduzir à metade o uso da energia elétrica convencional e a poluição em ruas e 16 Senac Ambiental

parques. O investimento é de aproximadamente 7 milhões de dólares, mas a economia prevista é de 800 mil dólares ao ano. A iluminação pública é responsável por um terço do uso de energia elétrica em toda a cidade e por 30% das emissões de carbono. Berlim (Alemanha), Barcelona (Espanha), Los Angeles e São Francisco (EUA) também estão adotando medidas semelhantes. A cidade se propõe ainda a instalar painéis para captação de energia solar em seus prédios, o que poderá reduzir as emissões anuais em outras 2.250 toneladas. Amsterdam, na Holanda, criou o Open Data Program (Programa Dados Abertos). Desde março de 2012, o Departamento Municipal de Infraestrutura e Transporte passou a liberar publicamente todas as informações sobre estacionamento (tarifas, disponibilidade e tempo de uso), pontos de táxi, paradas de ônibus, ciclovias e trânsito nas principais vias da cidade. Dessa forma, desenvolvedores de aplicativos para celulares puderam criar produtos e serviços inovadores no campo da mobilidade urbana. O aplicativo MyTrafficJam, por exemplo, mapeia o trânsito na cidade, informa onde há retenções e os melhores caminhos alternativos. Para quem anda de bicicleta, o BikeCityGuide apresenta os melhores roteiros. E o AmsterdamApp se propõe a ser um guia de mil e uma utilidades, capaz de dizer até que horas um estacionamento fica aberto ou quando a coleta de lixo será feita na sua rua. A Cidade do México conseguiu reduzir seu volume de emissões de carbono em 7,7 milhões de toneladas no período de 2008 a 2012. O resultado, animador por si só, representa um avanço de 10,2% com relação à meta estabelecida pelo seu Programa de Ação Climática, uma iniciativa que programou ações nas áreas de biodiversidade, clima, saúde, agricultura, reflorestamento e combate à pobreza. Do total das emissões evitadas, 62% foram obtidos em ações de transporte; 15,3% em resíduos sólidos; 11,6% em sequestro de carbono por reflorestamento e 10,8% em eficiência energética. Ao pé da letra, o termo inglês brownfield, que não tem correspondente em português, pode ser traduzido como campo marrom. Trata-se de um contraponto a greenfield (campo verde), que se refere às áreas florestais ou de plantio, afastadas dos centros urbanos. O que brownfield designa (e está definido em lei nos EUA) são instalações industriais ou comerciais abandonadas ou ociosas que podem ter sofrido algum tipo de contaminação, mas ainda mantêm potencial para serem reutilizadas. Nova York (EUA) tem um bom punhado de instalações desse tipo, muitas delas em áreas estratégicas da cidade. Revitalizar essas áreas degradadas poderia beneficiar toda a população, abrindo espaços de lazer, integração, comércio ou moradia. Por essa razão, a prefeitura começou a trabalhar no Programa de Limpeza de Brownfields (BCP), atrelado ao plano local de sustentabilidade de longo prazo. Foi a primeira iniciativa desse gênero a ser desenvolvida em todo o país. Apenas 18 meses após ser iniciado, o BCP comemorou a aprovação do seu 50º projeto. Segundo estima o poder público municipal, o sucesso do programa representa a criação de 2 mil novos empregos permanentes, 5.100 empregos temporários e mais de 730 milhões de dólares em receitas fiscais para o governo. Principais poluidores País Emissão de CO 2 em 2011 (em toneladas) China 8,87 bilhões EUA 6,02 bilhões Índia 1,78 bilhão Rússia 1,67 bilhão Japão 1,31 bilhão Alemanha 804 milhões Coreia do Sul 739 milhões Canadá 628 milhões Arábia Saudita 609 milhões Irã 598 milhões Grã-Bretanha 513 milhões Brasil 488 milhões México 464 milhões Indonésia 453 milhões África do Sul 452 milhões Fonte: IWR/Ministério da Economia da Alemanha junho/dezembro 2012 17

Mobilidade Sinal verde Uma das cidades mais poluídas da Europa, Londres investe em ciclovias, pedágio urbano e carros elétricos para melhorar o trânsito e a qualidade de vida Luísa Gockel fotos: Transport for London Em geral, as pessoas conhecem e percebem a cidade onde vivem quando estão em movimento seja a caminho da escola, do trabalho ou ao se deslocarem para ter acesso a áreas de comércio e serviços em geral. Por isso a forma como a população se locomove nos grandes centros urbanos é um dos maiores desafios das metrópoles do século 21. E a cidade que tem o metrô mais antigo do mundo mostra que tradição e inovação podem andar juntas quando o assunto é mobilidade urbana. Com planejamento, investimento e a ajuda da população, Londres vem evoluindo rapidamente para oferecer um sistema de transporte mais sustentável, acessível e eficiente. Se estivesse localizada no Brasil, Londres com uma população de mais de 8 milhões de pessoas seria o segundo maior município do país e só ficaria atrás de São Paulo, com mais de 11 milhões de habitantes. Em termos de transporte, os desafios que as grandes cidades brasileiras e a capital inglesa enfrentam são semelhantes, como junho/dezembro 2012 19

fotos: Transport for London congestionamento e poluição do ar. A grande diferença está na estratégia bem-sucedida que Londres tem adotado na última década: uma combinação da diminuição do uso de veículos particulares com a ampliação do sistema público de transporte. A fórmula parece simples, mas colocá-la em prática nas cidades brasileiras implicaria uma mudança cultural grande. O modelo brasileiro de transporte foi moldado nas décadas de 1950 e 1960 e prioriza o carro particular em detrimento de pedestres, ciclistas e do transporte público em geral. Há exceções e algumas capitais já são reconhecidas por suas inovações, como é o caso de Curitiba, no Paraná, com seus corredores de ônibus. No entanto a maioria das grandes cidades brasileiras ainda sofre com sistemas de transporte ultrapassados, pouco integrados e que não valorizam opções mais sustentáveis, como a bicicleta. Conhecer a forma criativa e eficiente como Londres tem vencido esses desafios pode servir de inspiração. Pedestres e ciclistas em uma cidade medieval Se é possível em Londres, é possível em qualquer lugar. Segundo Philipp Rode, pesquisador da London School of Economics and Political Science (Escola de Ciências Econômicas e Políticas de Londres LSE) e diretor executivo do programa LSE Cities (Cidades LSE), um centro de estudos dedicado à sociedade urbana contemporânea, a capital inglesa é uma das poucas cidades no mundo que não passaram por nenhuma grande mudança em termos de distribuição das ruas desde o século 19. Especialmente no centro, ainda é possível observar a antiga distribuição medieval. Como resultado, após os carros terem sido integrados a essa área, pedestres e ciclistas ficaram sem espaço, explica o pesquisador. Para vencer esse desafio, a prefeitura tem feito muitas obras para adaptar a cidade à nova era, como a ampliação de calçadas, a construção de pontes e a adição de mais faixas para pedestres. Segundo Rode, se levarmos em consideração o plano da cidade há alguns anos, já é possível notar os avanços. De acordo com o Departamento de Transporte de Londres (TfL, do inglês Transport for London), 25 milhões de viagens são realizadas a cada dia no sistema público. Esse número inclui residentes e a chamada população diurna, cerca de 1 milhão de turistas, visitantes e trabalhadores que não vivem na cidade, mas utilizam o sistema público de transporte todos os dias. As jornadas feitas a pé correspondem a 25% do total de viagens e são levadas muito a sério pelo TfL. No website da organização é possível planejar qualquer trajeto e visualizar várias opções, combinando diferentes meios de transporte, 20 Senac Ambiental