CT 6. INTERAÇÃO DE PAREDES EM EDIFÍCIOS DE ALVENARIA ESTRUTURAL Rodrigo Piernas Andolfato, Marcio Antônio Ramalho e Jefferson Sidney Camacho*

Documentos relacionados
JUNTAS VERTICAIS: INFLUÊNCIA NO COMPORTAMENTO MECÂNICO DA ALVENARIA ESTRUTURAL. Gihad Mohamad; Paulo Brandão Lourenço e Humberto Ramos Roman

Pisos intertravados convencionais e permeáveis são utilizados para pavimentar as vias do Parque Olímpico, a maior das 34 sedes cariocas da Olímpiada

9º ENTEC Encontro de Tecnologia: 23 a 28 de novembro de 2015

Interação de paredes

Princípios de uso da Alvenaria Estrutural

ESTUDO TEÓRICO E EXPERIMENTAL DA INTERAÇÃO DE PAREDES EM EDIFÍCIOS DE ALVENARIA ESTRUTURAL. ENG. RODRIGO PIERNAS ANDOLFATO

Palavras chave: Alvenaria estrutural, Ações horizontais, Painéis de contraventamento.

1) Considerem as cargas residenciais usuais e de ventos quando corresponde de acordo com a norma vigente;

5 Resultados Experimentais

uniformização de cargas

Sistemas Estruturais

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Reitor: Prof. Dr. JOÃO GRANDINO RODAS. Vice-Reitor: Prof. Dr. HÉLIO NOGUEIRA DA CRUZ ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS

PROJETO ESTRUTURAL. Marcio A. Ramalho ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND

INTERAÇÃO DE PAREDES EM ALVENARIA ESTRUTURAL CERÂMICA SOB AÇÕES VERTICAIS THE INTERACTION OF CERAMIC STRUCTURAL MASONRY WALLS UNDER VERTICAL LOADS

DISTRIBUIÇÃO DE AÇÕES HORIZONTAIS

ALVENARIA ESTRUTURAL. Adriano Maboni Alex Pimentel Arléia Teixeira Fabrício Machado Liliane Trombini Pereira

Influência da junta vertical no comportamento mecânico da alvenaria de blocos de concreto

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Reitor: Prof. Dr. MARCO ANTONIO ZAGO. Vice-Reitor: Prof. Dr. VAHAN AGOPYAN ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS

Alvenaria Estrutural CADERNO TÉCNICO

Estudo de Painéis com Abertura Constituídos por Alvenaria Estrutural de Blocos

INTRODUÇÃO CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 1.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Reitor: Prof. Dr. JOÃO GRANDINO RODAS. Vice-Reitor: Prof. Dr. HÉLIO NOGUEIRA DA CRUZ ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS

Neste capítulo são apresentadas as principais conclusões deste trabalho e algumas sugestões para futuras pesquisas.

METAL FÁCIL FERRAMENTA COMPUTACIONAL PARA LANÇAMENTO DE ESTRUTURAS E PRÉ-DIMENSIONAMENTO DE SEUS ELEMENTOS ESTRUTURAIS EM AÇO

Programa Analítico de Disciplina CIV354 Concreto Armado I

Fundações por estacas Introdução

5 Descrição do modelo estrutural

1.8 Desenvolvimento da estrutura de edifícios 48

Introdução às Estruturas de Edificações de Concreto Armado

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA UniCEUB FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS FATECS PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

Faculdades Integradas Einstein de Limeira Fiel Engenharia Civil

DETERMINAÇÃO DA FORÇA DEVIDA AO VENTO EM ESTRUTURAS DE EDIFÍCIOS ALTOS SEGUNDO DUAS VERSÕES: A SUGERIDA PELA NBR 6123 E OUTRA SIMPLIFICADA.

Engenharia Civil Alvenaria Estrutural

4 Exemplos de Validação e Análise de Resultados

ANÁLISE EXPERIMENTAL E NUMÉRICA DO COMPORTAMENTO DE JUNTA DA ALVENARIA EXPERIMENTAL AND NUMERICAL ANALYSIS OF MASONRY JOINT BEHAVIOR

ESTUDO NUMÉRICO E EXPERIMENTAL DE TUBOS DE CONCRETO ARMADO SUBMETIDOS À COMPRESSÃO DIAMETRAL

PROVA COMENTADA. Carga acidental (Q) = 0,5 kn/m² Carga permanente (G) = (0,12 cm X 25 kn/m³) + 1,0 kn/m² + 1,0 kn/m² = 4,0 kn/m²

Artigos técnicos. Contribuição ao estudo das normas para o dimensionamento de paredes de alvenaria estrutural de blocos de concreto

ANÁLISE NUMÉRICA DE BLOCOS E PRISMAS DE ALVENARIA ESTRUTURAL SUBMETIDOS AO ESFORÇO DE COMPRESSÃO

ENGENHARIA DE FORTIFICAÇÃO E CONSTRUÇÃO CADERNO DE QUESTÕES 2015/2016

Dimensionamento e análise da deformação de um grupo de estacas

elementos estruturais

PARTE 2 METODOLOGIA DE DOSAGEM PARA BLOCOS DE CONCRETO EMPREGADOS EM ALVENARIA ESTRUTURAL

ESPECIALIZAÇÃO EM ESTRUTURAS

ESTRUTURAS NOÇÕES BÁSICAS

CÁLCULO DOS DESLOCAMENTOS EM VIGAS DE AÇO COM ABERTURAS NA ALMA

Caderno de Estruturas em Alvenaria e Concreto Simples

Parâmetros para o dimensionamento

TÍTULO: ANÁLISE DA VIABILIDADE TÉCNICA EM VIGA DE CONCRETO ARMADO CLASSE I E II

Interação da Alvenaria com Estruturas de Concreto Armado

TÍTULO DO ARTIGO: INFLUÊNCIA DE ESCADAS E LAJES NO DESLOCAMENTO ESTRUTURAL DE EDIFÍCIOS ALTOS. Carlos Eduardo de Oliveira 1. Nara Villanova Menon 2

PROJETO ESTRUTURAL. Márcio R. S. Corrêa ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND

Edifício pré-moldado com ligação rígida

7 Considerações finais 7.1. Introdução

Comparativo do comportamento de vigas de alvenaria estrutural e de concreto armado solicitadas à flexão simples

Relatório Técnico. Analise de sistemas de lajes.

ANÁLISE EXPERIMENTAL COMPARATIVA DE LAJES UNIDIRECIONAIS NERVURADAS PARA DIFERENTES PROCESSOS CONSTRUTIVOS.

6. Conclusões e Sugestões

ALVENARIA ESTRUTURAL SERVIÇOS

Cisalhamento Horizontal

NOVIDADES E MODIFICAÇÕES DA ALVENARIA ESTRUTURAL NBR15961

RELATÓRIO DE PROJETO DE PESQUISA - CEPIC INICIAÇÃO CIENTÍFICA

DEFORMAÇÃO EM VIGAS DE CONCRETO PROTENDIDO: UM ESTUDO DE CASO Strain in Prestressed Concrete Beams: Case Study

7 Conclusões e Sugestões para Trabalhos Futuros

Resumo. Palavras-chave Alvenaria estrutural armada; bloco de concreto; painel de contraventamento; limite de escoamento do aço.

INTERAÇÃO DE PAREDES EM ALVENARIA ESTRUTURAL CERÂMICA SOB AÇÕES VERTICAIS

7 Análise Método dos Elementos Finitos

Palavras-chave Usina hidrelétrica de Belo Monte; elementos sólidos; elementos de placa; vertedouro; modelagem computacional; elementos finitos.

Distribuição de Ações Horizontais

3. Descrição dos Testes Experimentais

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DA FUNDAÇÃO SUPERFICIAL EM RADIER PARA UMA EDIFICAÇÃO EM PAREDES DE CONCRETO

Fundamentos de Estruturas

ESTUDO DO COMPORTAMENTO ESTÁTICO E DINÂMICO DE LAJES NERVURADAS DE CONCRETO ARMADO

Avaliação Sísmica e Reforço de Edifícios Antigos de Alvenaria. Parte 4

3º FORUM MINEIRO DE ALVENARIA ESTRUTURAL

Alvenaria Estrutural CT 4

ESTUDO DA REDISTRIBUIÇÃO DE ESFORÇOS EM EDIFICAÇÕES COM RECALQUES DIFERENCIAIS

EDI-49 Concreto Estrutural II

21/10/2010. Origem das estruturas... Homem. Sobrevivência. Agua, alimentos, proteção. IF SUL Técnicas Construtivas Profa.

ANÁLISE DA ESTABILIDADE GLOBAL DE UM EDIFÍCIO DE 30 PAVIMENTOS EM CONCRETO ARMADO COM DIFERENTES SISTEMAS DE CONTRAVENTAMENTO¹

TÉCNICO EM EDIFICAÇÕES CÁLCULO ESTRUTURAL AULA 02

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Reitor: Prof. Dr. JOÃO GRANDINO RODAS. Vice-Reitor: Prof. Dr. HÉLIO NOGUEIRA DA CRUZ ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS

UNIP - Universidade Paulista SISTEMAS ESTRUTURAIS CONCRETO SEC

Curso de Dimensionamento de Estruturas de Aço Ligações em Aço EAD - CBCA. Módulo

Efeitos do vento sobre edifícios de alvenaria estrutural

Instabilidade e Efeitos de 2.ª Ordem em Edifícios

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

6 Apresentação e Análise dos Resultados

3 Estudo experimental

Análise dos Efeitos de Segunda Ordem em Edifícios de Diferentes Pavimentos pelos Processos P-Delta e Coeficiente Gama-Z

ANÁLISE NUMÉRICA E EXPERIMENTAL DE TRELIÇAS PARA PISOS EM LIGHT STEEL FRAME

06/10/2009. Alvenaria. Origem das estruturas... Pórticos(viga/pilar) No Egito, primerio sistema de alvenaria.

DETERMINAÇÃO DA FORÇA CRÍTICA DE FLAMBAGEM DE TUBOS CILÍNDRICOS DE PAREDES FINAS

Dimensionamento de Estruturas em Aço. Parte 1. Módulo. 2ª parte

Um Breve Resumo da Revisão da Norma 9062

ESTUDO NUMÉRICO SOBRE AS DIMENSÕES MÍNIMAS EM PILARES DE CONCRETO ARMADO PARA EDIFICAÇÕES RESIDENCIAIS TÉRREAS

AVALIAÇÃO UNIFICADA 2016/1 ENGENHARIA CIVIL/6º PERÍODO NÚCLEO I CADERNO DE QUESTÕES

MODELAGEM DE UM EDIFÍCIO EM ALVENARIA ESTRUTURAL NO TQS. Diego Guimarães Luciano Melchiors Martin

Escrito por TQS Admin Qui, 05 de Fevereiro de :13 - Última revisão Qui, 05 de Fevereiro de 2009

Transcrição:

CT 6 Artigos Técnicos podem ser encaminhados para análise e eventual publicação para alvenaria@revistaprisma.com.br INTERAÇÃO DE PAREDES EM EDIFÍCIOS DE ALVENARIA ESTRUTURAL Rodrigo Piernas Andolfato, Marcio Antônio Ramalho e Jefferson Sidney Camacho* Um edifício construído com alvenaria estrutural de blocos de concreto foi submetido a ensaio de cargas e monitorado com células especiais. Instrumentos permitiram verificar os efeitos de diferentes carregamentos nos vários pontos da estrutura. O objetivo, segundo os autores, é contribuir para o conhecimento da distribuição das ações verticais em edifício de alvenaria estrutural não-armada e, daí, demonstrar a possibilidade de aumentar os vãos nessa modalidade de construção Palavras-chave: Alvenaria estrutural, modelo experimental, escala real, ações verticais EXPEDIENTE O Caderno Técnico Alvenaria Estrutural é um suplemento da revista Prisma, publicado pela Editora Mandarim Ltda. ISSN 1809-4708 Artigos para publicação devem ser enviados para o e-mail alvenaria@revistaprisma.com.br Conselho Editorial: Prof. Dr. Jefferson Sidney Camacho (coordenador) Eng. Dr. Rodrigo Piernas Andolfato (secretário); Eng. Davidson Figueiredo Deana; Prof. Dr. Antonio Carlos dos Santos; Prof. Dr. Emil de Souza Sanchez Filho; Prof. Dr. Flávio Barboza de Lima; Prof. Dr. Guilherme Aris Parsekian; Prof. Dr. João Bento de Hanai; Prof. Dr. João Dirceu Nogueira Carvalho; Prof. Dr. Luis Alberto Carvalho; Prof. Dr. Luiz Fernando Loureiro Ribeiro; Prof. Dr. Luiz Roberto Prudêncio Júnior; Prof. Dr. Luiz Sérgio Franco; Prof. Dr. Márcio Antonio Ramalho; Prof. Dr. Márcio Correa; Prof. Dr. Mauro Augusto Demarzo; Prof. Dr. Odilon Pancaro Cavalheiro; Prof. Dr. Paulo Sérgio dos Santos Bastos; Prof. Dr. Valentim Capuzzo Neto; Profa. Dra. Fabiana Lopes de Oliveira; Profa. Dra. Henriette Lebre La Rovere; Profa. Dra. Neusa Maria Bezerra Mota; Profa. Dra. Rita de Cássia Silva Sant Anna Alvarenga. Editor: jorn. Marcos de Sousa (editor@revistaprisma.com.br) - tel. (11) 3337-5633 35

INTERAÇÃO DE PAREDES EM EDIFÍCIOS DE ALVENARIA ESTRUTURAL 1. INTRODUÇÃO A crescente demanda por projetos de edifícios em alvenaria estrutural, com a progressiva elevação do número de pavimentos, impõe a necessidade do aprimoramento dos modelos de cálculo. Busca-se uma melhor representação das trajetórias de forças ao longo da estrutura do edifício. Sem esse melhoramento pode-se incorrer em dois erros extremos: o desenvolvimento de um projeto que seja economicamente inviável ou que apresente problemas relativos às condições de segurança (Capuzzo Neto & Correa, 2005). Figura 3 - Modelo do edifício para prévia análise de tensões A alvenaria estrutural é amplamente usada, mas o estudo científico a seu respeito tem sido mais vagaroso do que os estudos sobre aço ou concreto. Assim, muitos problemas relevantes continuam sem respostas. A análise teórica do sistema estrutural de qualquer obra de alvenaria apresenta uma série de dificuldades, por se tratar de sistema estrutural de placas e chapas, composto por materiais heterogêneos e de comportamento não-linear. No processo de análise do comportamento estrutural, é de fundamental importância que a distribuição das ações entre as paredes Figura 2 - Pontos de leitura e de análise de tensões Figura 1 - Medidas de deformação obtidas por Stockbridge resistentes seja adequadamente estabelecida (Camacho et al., 2001). Um dos primeiros programas de pesquisa no assunto das distribuições das ações verticais foi desenvolvido por Stockbridge, por volta de 1967. O autor conduziu medidas de deformação em um edifício de cinco pavimentos, em escala real, e encontrou evidências da homogeneização das tensões verticais de compressão, não somente em paredes isoladas, mas também em grupos de paredes. Suas observações experimentais confirmaram dois aspectos importantes do fenômeno: a existência de forças de interação nas faces das paredes amarradas e a influência das restrições horizontais fornecidas pelos pisos. Stockbridge concluiu, a partir de suas medições, a cada pavimento construído, que as cargas convergiam para completa homogeneização (Figura 1). Em seus comentários, indicou que a tendência para homogeneização das tensões verticais é maior em edifícios altos, mesmo tendo verificado o fato em um edifício de poucos pavimentos. A justificativa para estudar a distribuição das ações verticais em edifícios de alvenaria estrutural deve-se ao fato de que os modelos propostos hoje em dia são usados mais por preferência do calculista do que por qualquer motivo cientificamente embasado, o que comprova o desconhecimento do problema ainda nos dias atuais. Os estudos realizados acerca do tema não compreendem experimentações em escala real de edifícios. Ocorre, dessa forma, escassez de resultados experimentais sobre as transferências de cargas verticais. Uma vez conhecido o mecanismo de transferência de cargas verticais entre paredes auto-portantes, os projetistas terão conhecimento das taxas de transferência, o 36 p r i s m a

A B C D E F Figura 4 Colagem dos extensômetros elétricos que lhes permitirá elaboração de projetos mais seguros e racionais, com utilização do material alvenaria sem excessos desnecessários. 2. TRABALHO EXPERIMENTAL O modelo experimental real é um edifício de alvenaria estrutural não-armada de blocos de concreto com quatro pavimentos (térreo e mais três). Esse modelo teve pontos instrumentados em parte da estrutura para que fosse possível conhecer os valores de tensão nessas localidades. Foram escolhidos 30 pontos (Figura 2) na estrutura para o estudo. Essa localização foi definida a partir de estudo em modelo numérico de elementos finitos (Figura 3). Esses 30 pontos estavam localizados na meia altura da segunda fiada dos três primeiros pavimentos da edificação, ou seja, a 30 cm das lajes-piso. Dessa forma, ficou definido como pontos do nível 1, os pontos localizados no térreo. Nível 2 e 3, do segundo e terceiro pavimentos respectivamente. Dado os três níveis instrumen- Figura 5 - Piscinas usadas na prova de carga tados, totalizou-se 90 pontos de leitura. de lona plástica, com 1.000 litros de água cada, A idéia central da transformação de edifício de foram dispostas sobre os pisos dos cômodos, de alvenaria estrutural em corpo-de-prova consistiu modo a aplicar a carga desejada em cada área (Figura 5). O carregamento foi aplicado primeiramen- na transformação de suas unidades básicas construtivas os blocos de concreto em dispositivos te na laje-piso do último pavimento. Esse carregamento foi denominado PC1. Na seqüência, foram de medida de deformação. Assim, o esquema foi concebido de forma que esses blocos não interferissem no comportamento estrutural e ainda carregamentos PC2 e PC3, respectivamente. As- carregadas as lajes dos níveis 2 e 3, denominados permitissem conhecer a deformação num dado sim, o PC2 oferecia carregamento de dois níveis ponto da estrutura e, portanto, conhecer a tensão atuante naquele dado ponto, dada uma prévia carregados e o PC3 de três níveis. calibração desses blocos. 3. RESULTADOS OBTIDOS Os resultados experimentais são expressos em INSTRUMENTAÇÃO DOS BLOCOS tensão, em decorrência da calibração aplicada Diferentes métodos, não-destrutivos, de inspeção nos blocos antes de seu assentamento. Exibe-se de medidas de tensões vêm sendo explorados e ainda a curva média das leituras em cada etapa desenvolvidos, mas nenhum outro dispositivo tem da prova de carga, com as curvas do modelo numérico em elementos finitos. Os valores apresen- utilização mais ampla do que os extensômetros. Isso devido à precisão das medidas, à facilidade tados nos gráficos para o modelo numérico são de manipulação e à capacidade de monitorar as divididos em dois tipos de valores. O primeiro tipo deformações até às cargas últimas em ensaios de valor é resultado do valor de tensão no ponto, destrutivos. Todos os procedimentos de manipulação e colagem dos extensômetros nos blocos nas paredes causado pela flexão das lajes carre- não se levando em consideração o efeito da flexão seguiram a boa prática recomendada (Figura 4) gadas, chamado no gráfico de MEF sem flexão. por várias empresas de fabricação desses dispositivos (Andolfato et. al, 2004). flexão leva em consideração o flexionamento das O segundo tipo de valor, chamado de MEF com paredes por parte das lajes. Em razão da grande PROVA DE CARGA quantidade de pontos e da semelhança de seus A carga de 2,0 kn/m² foi distribuída nas lajes dos comportamentos estruturais, neste trabalho são dormitórios do apartamento, na parte instrumentada do edifício (Figura 2). Para isso, duas piscinas dos em cada nível apresentados apenas alguns dos resultados obti- instrumentado. 37

RESULTADOS PARA O NÍVEL 1 (TÉRREO) A Figura 6 expõe os resultados experimentais do ponto 1 no primeiro pavimento, onde os valores experimentais se alternaram entre os valores esperados no modelo numérico de elementos finitos. O ponto 4, que não tem parede de contraventamento, apresentou maior concordância com o modelo numérico que contempla a flexão das paredes (Figura 7). O ponto 18 (Figura 8) revelou-se mais carregado no modelo experimental do que no modelo numérico, mostrando maior interação entre paredes que o esperado. O mesmo fato foi verificado para o ponto 27 (Figura 9). RESULTADOS PARA O NÍVEL 2 O ponto 2 no nível 2 (Figura 10) apresentou comportamento muito interessante no aspecto do alívio de carga devido ao flexionamento da parede (esforços de tração). O modelo numérico também previu tal comportamento. O ponto 3 (Figura 11), localizado em encontro de paredes em T, apresentou valores de tensão abaixo do esperado no modelo numérico. Uma hipótese para justificar tal comportamento pode ser a grande rigidez esperada pelo modelo numérico nesse ponto da estrutura, fato não verificado no modelo experimental. No ponto 10 (Figura 12), os valores de tensão se mostraram bastante similares na comparação entre o modelo experimental e o numérico, que contempla a flexão nas paredes. Pontos mais afastados do carregamento apresentaram comportamento significativamente diferente entre modelos, uma vez que o modelo numérico não previu influência da prova de carga nesses pontos mais afastados do carregamento. Contudo, conforme pode ser visto nas figuras, o comportamento nos pontos 22 (Figura 13) e 23 (Figura 14) são semelhantes entre si, sendo que esses pontos se encontram num mesmo distanciamento do carregamento da prova de carga. Muitos outros pontos nesse nível apresentaram comportamento semelhante. 38 p r i s m a

RESULTADOS PARA O NÍVEL 3 O ponto 2 no nível 3 (Figura 15) apresentou comportamento semelhante entre modelo experimental e numérico para o primeiro carregamento da prova de carga. O modelo numérico com flexão nas paredes apresentou valor distante dos modelos experimental e numérico sem flexão, os quais se mostraram com valores semelhantes entre si. No PC3, o modelo experimental mostrou valores de tensão maiores que os esperados nos dois modelos numéricos. O ponto 3 no nível 3 (Figura 16) apresentou no modelo experimental a mesma tendência de alivio de tensões na face instrumentada do bloco, verificada no ponto 2, para o PC2. Esse comportamento, verificado na prova de carga no nível 3 para os pontos 2 e 3, também foi observado nos pontos 1 e 4. O ponto 13 (Figura 17) apresentou, assim como no ponto 2, comportamento semelhante entre modelo experimental e modelo numérico sem flexão nas paredes até o PC2, passando no PC3 a apresentar valores semelhantes entre modelo experimental e modelo numérico com flexão nas paredes. O ponto 17 (Figura 18) apresentou comportamento semelhante entre modelos. Esse ponto apresenta uma característica importante quanto à sua localização fora das paredes diretamente carregadas, mostrando que as paredes estão trabalhando em grupo e não de forma isolada. Pontos mais afastados apresentaram acréscimos de tensão que não foram previstos em nenhum modelo numérico, mostrando uma grande interação entre paredes. O ponto 28 (vide Figura 19) apresenta um fenômeno repetido na maioria dos pontos afastados do carregamento, conforme pode ser visto na seqüência para os pontos 29 e 30 (Figura 20 e Figura 21). Esses pontos mostraram que quando carregado o PC1, cujo carregamento estava diretamente acima do nível 3, esses pontos mais afastados sofreram acréscimos de tensão maiores do que os esperados nos modelos numéricos. E ainda, com o carregamento do PC2, ou seja, no nível 3, houve uma redistribuição de esforços na estrutura que passou a carregar esses pontos. O mesmo fato aconteceu quando do carregamento PC3, mostrando a interatividade da distribuição das ações entre as paredes devido ao próprio carregamento. 4. CONCLUSÕES Como principal conclusão, pode-se inferir que existe sim uma grande interação entre paredes devido às ações verticais no edifício. Isto pode ser constatado nas Figuras 8, 9, 13, 14, 19, 20 e 21, cujos gráficos mostram que os valores de tensão medidos no modelo experimental foram sempre maiores do que os previstos nos modelos numéricos. Pontos mais afastados das paredes diretamente carregadas revelaram as maiores diferenças entre os modelos experimental e numérico, devido à grande interação do conjunto frente a uma deformação da estrutura. Nos pontos localizados no interior das paredes diretamente carregadas, o modelo experimental mostrou a grande influência da flexão das lajes no flexionamento das paredes, em concordância com o modelo numérico, que leva em conta esse efeito para a determinação das tensões. Comprova-se assim que modelos simplistas, de paredes isoladas, não retratam bem o fenômeno que ocorre na estrutura de alvenaria de blocos. Desta forma, deve-se, no mínimo, utilizar os procedimentos de grupos de paredes para seu mais correto dimensionamento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDOLFATO, R. P.; CAMACHO, J. S.; DE BRITO, G. A. (2004). Extensometria Básica. 45p. Ilha Solteira. Apostila - Curso de Extensometria Básica - Nepae. CAMACHO, J. S. (1986). Alvenaria estrutural não armada - parâmetros básicos a serem considerados no projeto dos elementos resistentes. Porto Alegre. 153p. Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. CAMACHO, J. S.; RAMALHO, M. A.; ANDOLFATO, R. P. (2001). An experimental study of the interaction among walls submitted to vertical loads. In: AUSTRALASIAN MASONRY CONFERENCE, 6, Adelaide, Australia, 2001. Proceedings Griffith. v. 1, p. 95-104. CAPUZZO NETO, V; CORREA, M. R. S. (2005). A interação de paredes de alvenaria estrutural submetidas a ações verticais. Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 93-119. STOCKBRIDGE, J. G. (1967). A study of High-Rise load bearing brickwork in Britain. Edinburgh. Thesis (M. Arch.) - University of Edinburgh. AUTORES Rodrigo Piernas Andolfato Doutor em Engenharia de Estruturas pela EESC-USP rpa@cyrillojr.com.br Marcio Antônio Ramalho Professor Doutor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP ramalho@sc.usp.br Jefferson Sidney Camacho Professor Doutor do Departamento de Engenharia Civil da FEIS-UNESP jsc@dec.feis.unesp.br 39