ANÁLISE DE ITENS DE UMA PROVA DE RACIOCÍNIO PROBABILÍSTICO

Documentos relacionados
Análise Clássica de Testes: Uma proposta de análise de desempenho dos estudantes na primeira fase da OBMEP

9 Uma Análise Comparativa: TCT, TRI e TRIN

Teorias de Avaliação - CE095

IV CONBRATRI, 4º Congresso Brasileiro de Teoria da Resposta ao Item, Brasília, DF, 2-4 de Dezembro de 2015

Comparações entre a Teoria de Resposta ao Item e a Teoria Clássica de Medidas para Banco de Itens Simulados

A Avaliação Nacional da Alfabetização: compreendendo os resultados. André Jalles

Teorias de Avaliação - CE095

Palavras-chave: Teoria de Resposta ao Item; ENEM; Avaliação na Educação

Teorias de Avaliação - CE095

A AVALIAÇÃO EM MATEMÁTICA DO SAETHE GLAUKER AMORIM

A TRI e as proficiências

Avaliaçõe s em Larga Escala O que elas nos ensinam sobre o Ensino de Física

Trabalho de Conclusão de Curso APLICATIVO WEB SHINY PARA MODELOS DICOTÔMICOS DA TRI USANDO O PACOTE LTM DO R ANGELA MARIA DA SILVA

Avaliações Educacionais e o Ensino de Ciências e Matemática: o Enem: avaliação do desempenho dos estudantes em Ciências da Natureza

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA DIRETORIA DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA DAEB

ANÁLISE DO INSTRUMENTO DE MEDIDA UTILIZADO NA AVALIAÇÃO DOCENTE DA UFSM BASEADO NA TEORIA DA RESPOSTA AO ITEM

Avaliação aliada ao processo de ensino-aprendizagem.

PAINEL DE DISCUSSÃO 4: COMPARABILIDADE ENTRE AVALIAÇÕES. Ruben Klein (Fundação Cesgranrio)

ANÁLISE DE ITENS DE UMA PROVA DE RACIOCÍNIO ESTATÍSTICO 1 ANALYSIS OF ITEMS OF A STATISTICAL REASONING TEST

CORRELAÇÃO E REGRESSÃO. Modelos Probabilísticos para a Computação Professora: Andréa Rocha. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Dezembro, 2011

TEORIA DA RESPOSTA AO ITEM (TRI): ESTIMAÇÃO BAYESIANA DA HABILIDADE DE INDIVÍDUOS

CESET GRUPO DE PESQUISA EM CONFORTO, EFICIÊNCIA E SEGURANÇA NO TRABALHO

O CAEd está organizado em cinco unidades:

Comparação da Teoria Clássica dos Testes com a Teoria de Resposta ao Item aplicado ao subteste Semelhanças da WASI

Oficina de Apropriação de Resultados para Professores PAEBES Matemática

Teorias de Avaliação - CE095

Oficina de Apropriação de Resultados para Professores PAEBES Geografia

Prova Brasil: Descritores de Avaliação de Matemática

Processo de Composição da Prova SARESP do 5º EF de Matemática

INSTITUTO NACIONAL DE MATEMÁTICA PURA E APLICADA MESTRADO PROFISSIONAL EM MATEMÁTICA LEONARDO DA SILVA GOMES

Ajuste de um modelo de TRI aos dados do vestibular do curso de Administração Noturno da Universidade Federal de Uberlândia

INTRODUÇÃO 1. Avaliação Psicológica, 2010, 9(3), pp

Uma nova abordagem para a estimação dos coeficientes de escalonabilidade associados à Teoria de Resposta ao Item não Paramétrica

INSTITUTO NACIONAL DE MATEMÁTICA PURA E APLICADA MESTRADO PROFISSIONAL EM MATEMÁTICA CLAUDIO MENDES TAVARES

Universidade de Brasília Instituto de Ciências Exatas Departamento de Estatística. Dissertação de Mestrado

Análise da Prova de Conhecimentos Gerais do Vestibular da UNESP 2012 por Modelos Uni e Multidimensionais da Teoria da Resposta ao Item

UMA APLICAÇÃO DA TEORIA DA RESPOSTA AO ITEM NA AVALIAÇÃO DO ENADE DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO

Denis da Silva Paranhos PROCESSO DE INCORPORAÇÃO DE ITENS NA ESCALA DO SAEB PARA A CRIAÇÃO DE UM BANCO DE ITENS

AULA 09 Regressão. Ernesto F. L. Amaral. 17 de setembro de 2012

1 Que é Estatística?, 1. 2 Séries Estatísticas, 9. 3 Medidas Descritivas, 27

INSTITUTO NACIONAL DE MATEMÁTICA PURA E APLICADA MESTRADO PROFISSIONAL EM MATEMÁTICA

AVALIA MACEIÓ Oficina de Apropriação de Resultados

Análise dos Itens de um Teste de Reconhecimento de Emoções por Meio do Modelo Logístico de Dois Parâmetros da TRI

Oficina de Apropriação de Resultados para Professores PAEBES Língua Portuguesa

Universidade São Francisco, Brasil,

Anais do XI Encontro Nacional de Educação Matemática ISSN X Página 1

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DE RIBEIRÃO PRETO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA LILIANE UBEDA MORANDI

OFICINA DE APROPRIAÇÃO DE RESULTADOS Analista de Instrumento de Avaliação : Tatiane Moraes

ANASEM AVALIAÇÃO NACIONAL SERIADA DOS ESTUDANTES DE MEDICINA. Professora Doutora Maria Inês Fini Presidente do Inep. Brasília-DF Agosto 2017

Oficina de divulgação. Educacional do Estado de Goiás. Mirian Carvalho

Prova Brasil, Saresp etc. Heliton Ribeiro Tavares

Considerações sobre o estudo de dimensionalidade em instrumentos de medida baseados em itens

2 Origem dos dados: Estudo longitudinal da geração escolar 2005 GERES 2.1 Definição e metodologia

Apresentação Prof. Hugo Gomes

Estatística: Aplicação ao Sensoriamento Remoto SER ANO Avaliação de Classificação

MÉDIA ARITMÉTICA E PONDERADA: UM ESTUDO SOBRE O DESEMPENHO DE ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

6 Um estudo de simulação para avaliação dos estimadores associados aos coeficientes de escalonabilidade da TRIN

Estatística. Correlação e Regressão

PLANO DE CONTEÚDO MÍNIMO (PCM) - UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE COMPUTAÇÃO. Professora Rosana da Paz Ferreira CCB1052 (2018.2)

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA SAEB PRIMEIROS RESULTADOS:

PLANO DE CONTEÚDO MÍNIMO (PCM) - UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE COMPUTAÇÃO. Professora Rosana da Paz Ferreira CCB1052 (2018.2)

A Teoria de Resposta ao Item (TRI) e sua aplicação ao ENEM Mauro Luiz Rabelo Decano de Ensino de Graduação Universidade de Brasília

ATUALIZAÇÃO DE NORMAS DO RAVEN AVANÇADO: DISCUSSÃO DE MODELOS NORMATIVOS E DESENVOLVIMENTO DO MODELO PONDERADO DE NORMATIZAÇÃO DE ESCORES VIA TRI

Frederico Neves Condé - Efeito dos modelos de teste na habilidade 1

UMA DISCUSSÃO SOBRE A FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA NO BRASIL MEDIANTE OS RESULTADOS DO ENADE 2011

Escala de Atitudes em relação à Estatística: estudo de validação. Resumo

MANUAL SOBRE A CONSTRUÇÃO DA NOTA POR TEORIA DA RESPOSTA AO ITEM (TRI)

Apontamentos de Introdução às Probabilidades e à Estatística

Aula 3. Introduçao à TRI

OFICINA DE DE RESULTADOS

3 Teoria da Resposta ao Item (TRI) 3.1 Introdução

Cerca de um quarto da prova será fácil, dois quartos terão grau

Oficina de Apropriação de Resultados de Matemática. Paebes 2013

1 Introdução, 1 2 Polo Epistemológico, 9 3 Polo Teórico, 25

Incorporando Informações de Covariáveis para Explicar a Habilidade dos Indivíduos no Modelo de Teoria de Resposta ao Item

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE DE RIBEIRÃO PRETO EEFERP - USP. Prof. Dr. Dalmo Roberto Lopes Machado

ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA E GESTÃO

PALAVRAS-CHAVES: Banco de itens de matemática, software gerador de testes de matemática, construtor de provas de matemática, ENEM.

HISTÓRIA DA MATEMÁTICA: UMA INVESTIGAÇÃO NAS ESCOLAS DE ENSINO MÉDIO NA CIDADE DE AREIA - PARAÍBA

Plano de Ensino IDENTIFICAÇÃO SEMESTRE DA TURMA: 1º ANO DA TURMA:2015

Teoria de Resposta ao Item na análise de uma prova de estatística em universitários

RESOLUÇÃO Nº 01/2016

Análise da dificuldade e da discriminação de itens de Matemática do ENEM

EDUCAÇÃO E DESIGUALDADES: UMA ANÁLISE A PARTIR DA INFRAESTRUTURA ESCOLAR

Metodologia: TCT e TRI Matriz de Referência e Descritores Escala de Proficiência Intepretação Pedagógica de Resultados

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

A SEQUÊNCIA FEDATHI: CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS PARA USO NO ENSINO DE MATEMÁTICA

Ficha da Unidade Curricular (UC)

6 Um Modelo para a Satisfação do Consumidor Baseado na Teoria de Resposta ao Item

CURSO DE SPSS AULA 1. UFBA/FACED José Albertino Lordello Sheila Regina Pereira

José Ivelton Siqueira Lustosa; Fabiana Dantas da Costa; Orminda Heloana Martins da Silva

Cap. 4 - Estimação por Intervalo

Oficina de Apropriação de Resultados Professores SPAECE 2014

Modelos de Regressão Linear Simples parte I

ANÁLISES ESTATÍSTICAS TRI. CAEd/UFJF (32)

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS - INEP DIRETORIA DE AVALIAÇÃO PARA CERTIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIAS

Oficina de Apropriação de Resultados do IDEPB/2013. Disciplina: Matemática por Carolina Augusta Assumpção Gouveia

O CIRCUITO QUATRO DESAFIOS. Atividade lúdica apoiada pelo Pensamento Computacional

Transcrição:

ANÁLISE DE ITENS DE UMA PROVA DE RACIOCÍNIO PROBABILÍSTICO Elisa Henning Marcelo Sávio Ramos Andréa Cristina Konrath elisa.henning@.udesc.br marcelo.ramos26@yahoo.com.br andreack@gmail.com Universidade do Estado de Santa Catarina, UDESC, Brasil Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Brasil Tema: I.5 - Pensamento relacionado à Probabilidade e à Estatística. Modalidade: CB Nível educativo: Terciário Universitário. Palavras-chave: Teoria de resposta ao item. Educação Estatística. Probabilidades. Resumo Este artigo tem como objetivo analisar os itens e resultados de uma prova da disciplina de Probabilidade e Estatística considerando-se aspectos quantitativos e alguns qualitativos. Os aspectos quantitativos foram analisados, considerando-se propriedades estatísticas, as quais incluíram procedimentos da análise da teoria Clássica dos Testes e da Teoria de Resposta ao Item (TRI). A análise pedagógica de alguns itens compõe os aspectos qualitativos. A prova abordava o conteúdo de Probabilidade e foi aplicada a 117 estudantes de cursos de graduação de uma instituição de ensino superior. Os itens foram considerados dicotômicos, ou seja, com resposta certa ou errada. Na TRI foi aplicado o modelo logístico de dois parâmetros. Os resultados apontam que as duas abordagens concordaram quanto à dificuldade e discriminação dos itens. A questão apontada como mais difícil envolvia os conteúdos de probabilidade condicionada e eventos mutuamente exclusivos. O item mais fácil apresentava um problema de confiabilidade envolvendo eventos independentes. O item com maior poder de discriminação era relacionado ao Teorema de Bayes. Conclui-se que a TRI é uma técnica importante para a construção de instrumentos que permitam uma avaliação mais abrangente. Introdução A avaliação pode ser contemplada de várias formas e por meio de métodos distintos, e suas abordagens se conectam aos diversos paradigmas que se contextualizam através do tempo. Para (Rodrigues, 2006), independentemente da postura filosófica, há um eixo comum entre as diversas concepções de avaliação educacional: todas elas associam-se a um processo interpretativo, supondo um juízo de valor, qualidade ou mérito que tem por alvo diagnosticar e verificar a abrangência dos objetivos propostos no processo ensinoaprendizagem. Uma simples verificação da aprendizagem não permite concluir se tais objetivos foram alcançados, sendo que este diagnóstico vai muito além, pois há toda uma conjuntura que propicia a aprendizagem do aluno. Portanto uma avaliação mais completa deve estar embasada em um modelo que contemple todas as relações possíveis de serem avaliadas (Rodrigues, 2006). Actas del VII CIBEM ISSN 2301-0797 2025

Todavia as provas fazem parte deste processo de avaliação. E, neste sentido consideramos essencial investigar que subsídios este instrumento (a prova) pode trazer no intuito de melhorar o processo de ensino aprendizagem. Afinal, de acordo com (Borgatto e Andrade, 2012) a avaliação do desempenho dos estudantes depende fundamentalmente da qualidade dos itens da prova. Assim sendo, a Teoria Clássica dos Testes (TCT) e a Teoria da Resposta ao Item (TRI) constituem métodos estatísticos que podem contribuir para esta finalidade. A Teoria da Resposta ao Item (TRI) supõe que o desempenho de um teste pode ser explicado por características ou variáveis latentes subjacentes do respondente, proficiências ou habilidades (Francisco, 2005). Deste modo esta metodologia permite uma melhor validação de análises das respostas, no qual parte-se do pressuposto que os itens constitutivos do instrumento de avaliação adotam a característica de elementos centrais da análise, em contraponto ao paradigma observado na Teoria Clássica, em que a centralização faz referência à prova como um todo (Valle, 1999). Sob esta ótica, o objetivo principal deste trabalho é investigar aspectos referentes ao grau de dificuldade e poder de discriminação das questões de uma prova de Probabilidade e Estatística aplicada a alunos de graduação. O trabalho de Vendramini, (Silva & Canale, 2004), que aplicaram a TCT e TRI para avaliar uma prova de raciocínio estatístico motivou a realização desta pesquisa. Face à importância da Estatística como Ciência na graduação, acredita-se ser importante que o aluno compreenda os principais conceitos de probabilidade, que formam a base dos problemas de inferência. Sentimos que os alunos têm dificuldades com probabilidades, principalmente em relação aos conceitos. E, a partir dos resultados podem ser delineadas ações com objetivo de melhorar o processo de ensino aprendizagem. Teoria Clássica dos Testes A Teoria Clássica dos Testes (TCT) procura conhecer o comportamento que os respondentes de um teste apresentam, por meio de seu resultado final, ou seja, de seu escore total (Maia, 2009). A TCT baseia-se em parâmetros descritivos, que auxiliam na interpretação da distribuição das respostas de acordo com cada alternativa. As propriedades psicométricas dos itens de uma prova relacionam-se aos parâmetros a seguir: índice de dificuldade, índice de discriminação e correlação bisserial (Borgatto & Andrade, 2012). Actas del VII CIBEM ISSN 2301-0797 2026

O índice de dificuldade analisa o grau de dificuldade de cada item por meio da porcentagem de acerto. Quanto menor for a porcentagem de acertos, maior será o grau de dificuldade. O índice de discriminação mede a capacidade de um item de distinguir os participantes com maior habilidade (27% dos respondentes com notas mais altas) daqueles com menor habilidade (27% dos respondentes com notas mais baixas). Corresponde à diferença entre a proporção de acertos do primeiro grupo (notas mais altas) e a do segundo grupo (notas mais baixas). Já, o coeficiente de correlação bisserial é uma medida que de associação entre o desempenho no item e o desempenho na prova (Borgatto & Andrade, 2012). Teoria de Resposta ao Item A Teoria da Resposta ao Item (TRI) é um conjunto de modelos matemáticos que procuram representar a probabilidade de um indivíduo dar uma certa resposta como função dos parâmetros do item e da habilidade do respondente. Esta função especifica que, quanto maior a habilidade, a probabilidade de uma resposta correta no ítem também é maior (Andrade, Tavares & Valle, 2000) A idéia básica da TRI apóia-se em dois postulados fundamentais. O primeiro é que o desempenho do examinando em um item pode ser predito a partir de um conjunto de fatores (traços latentes). Outro postulado é de que a relação entre o desempenho e os traços latentes pode ser descrita por uma função monotônica crescente, cujo gráfico é chamado de Curva Característica do Item (Pasquali, 2007). Segundo (Josemberg, 2010) os vários modelos de TRI dependem fundamentalmente do número de atributos ou dimensões assumidas (uma ou mais); do formato dos itens (por exemplo, múltipla escolha/resposta aberta, dicotômico/politômico) e do número de parâmetros dos itens a serem estimados. Na educação prevalecem os modelos logísticos de um, dois e três parâmetros para itens dicotômicos, que consideram respectivamente: somente a dificuldade do item; a dificuldade e a discriminação; a dificuldade, a discriminação e a probabilidade de resposta correta dada por indivíduos de baixa habilidade (Andrade et al. 2000). Todavia, antes de empregar os modelos matemáticos da TRI, deve-se comprovar o cumprimento de dois pressupostos teóricos fundamentais para a utilização de modelos unidimensionais que são: o critério da unidimensionalidade e o critério da independência. Para a unidimensionalidade verifica-se se o teste possui somente um Actas del VII CIBEM ISSN 2301-0797 2027

único construto (traço latente). Já no critério da independência local, as respostas dos participantes aos itens não devem ser influenciadas pelas respostas fornecidas a outros itens, para indivíduos com uma mesma habilidade. Como neste trabalho é usado o modelo logístico de dois parâmetros considerando itens dicotomizados, apresentamos apenas este modelo, que é sumarizado pela Equação (1): P( X ij 1 1 j ) Pi ( ) Da ( ) 1 i b e i, (1) onde b i é o índice de dificuldade (ou parâmetro de posição) do item i, medido na mesma escala da habilidade θ; a i corresponde ao parâmetro de discriminação do item (inclinação), também chamado de parâmetro de discriminação; D denota um fator introduzido para tornar a função logística mais próxima possível da função da ogiva normal (em geral igual a 1 ou a 1,7) e n é o número de itens no teste. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O enquadramento metodológico utilizado deste trabalho é o mesmo de (Vendramini et al, 2004) e (Bahkta et al. 2005). Nesta pesquisa foram utilizados os dados referentes às avaliações de 117 alunos de cursos de graduação. A mesma prova foi aplicada em três turmas de Probabilidade e Estatística de três cursos diferentes: licenciatura, engenharia e computação. A prova foi composta por 5 (cinco) questões, chamadas a partir daqui de itens, abrangendo os seguintes assuntos, conforme Tabela 1. Tabela 1: Assunto por item Itens Assunto 1 Espaço Amostral 2 Eventos mutuamente exclusivos e probabilidade condicionada 3 Regra da adição, eventos complementares e principio multiplicativo 4 Teoria de Bayes 5 Confiabilidade e eventos independentes Tanto para a análise da TCT quanto para a TRI foram consideradas as respostas dos alunos como sendo, 1 (um) o acerto, e 0 (zero) o erro. Para as análises foi utilizado o R (R Core Team, 2013), com auxílio dos pacotes ltm (Latent Traint Model) (Rizopoulos, 2006), e o psych (Revelle, 2013). Actas del VII CIBEM ISSN 2301-0797 2028

Resultados Inicialmente foi calculada a proporção de acertos, que corresponde à proporção de participantes que responderam ao item corretamente; a proporção de erros e a correlação bisserial. Os resultados da análise clássica podem ser visualizados na Tabela 2 e os escores totais na Tabela 3. Tabela 2: Proporção de acertos, erros e correlação bisserial Número do item Proporção de acertos Proporção de erros Correlação bisserial 1 0.5385 0.4615 0.6467 2 0.2393 0.7607 0.6141 3 0.3248 0.6752 0.6699 4 0.4957 0.5043 0.7137 5 0.6581 0.3419 0.6151 Tabela 3: Escores totais Escores Totais 0 1 2 3 4 5 Freqüência 20 22 24 17 27 7 O item identificado como mais difícil foi o item 2, com cerca 24% de acertos, e o mais fácil foi o item 5, com aproximadamente 66% de acertos. Para as cinco questões o escore mínimo foi zero, com vinte alunos não acertando nenhuma questão, e o máximo foi cinco, com sete alunos acertando todas as questões. Na TCT o item que aparece como o mais discriminante é o item 4. Este item apresenta a maior diferença entre a proporção de acertos dos 27% de alunos com notas mais altas e a proporção de acertos dos 27% de alunos com notas mais baixas, com valor 0,2478. Em sequencia foi feita a análise da unidimensionalidade aplicando a Análise Fatorial e Análise Paralela Modificada. Constatou-se que o teste tem um único construto. A confiabilidade da escala medida pelo coeficiente Kuder-Richardson foi de 0,672, valor pode ser considerado como aceitável, pois se aproxima da referência (0,7), sabendo-se que os itens não foram pré-testados. Na TRI foi ajustado um modelo logístico de dois parâmetros, e as estimativas dos parâmetros de discriminação e de dificuldade podem ser visualizados na Tabela 4. Observamos que o item apresentado como o mais difícil, pela TCT, o item 2, é o mesmo pela TRI (maior valor do parâmetro de dificuldade), fenômeno que se repete para o item mais fácil (item 5). Actas del VII CIBEM ISSN 2301-0797 2029

Tabela 4: Parâmetros do modelo Item Parâmetro de discriminação Parâmetro de dificuldade 1 1.2830-0.1515 2 1.6109 1.0407 3 1.8971 0.6253 4 2.1253 0.0269 5 1.2910-0.6645 Graus de dificuldade com valores negativos apontam para itens muito fáceis. Já para os valores positivos; valores entre zero (0) a um (1) correspondem a itens fáceis; de um (1) a dois (2) itens pouco difíceis e, a partir de dois (2) assinalam itens difíceis. Podemos considerar que o teste realizado possui itens de dificuldade moderada a muito fácil, pois os itens 1 e 5 possuem valores negativos e os demais positivos, entre a faixa de 0 a 1. Na Figura 1 apresentam-se as curvas características dos itens 2 e 5. O item 2 (o mais difícil), Figura 1a, é relativo a eventos mutuamente exclusivos e probabilidade condicionada. Esta questão necessitava que o aluno tivesse assimilado os conceitos, o que por vezes é difícil para este. O item 5 (Figura 1b), considerado o mais fácil, corresponde à problemas de confiabilidade e eventos independentes. Na TCT apresentou percentual de 65,8% de acertos, sendo também o item mais fácil. Este classe de problemas, de confiabilidade, é fácil de relacionar com o conteúdo de Eletricidade, visto em Física Geral. Figura 1: Curva Característica dos Itens 2 e 5 Actas del VII CIBEM ISSN 2301-0797 2030

Probabilidade de acertar o item 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 A Figura 2 apresenta a curva característica dos cinco itens. De acordo com Baker (2001), os itens possuem poder de discriminação moderados a altos. Figura 2: Curva Característica dos itens Q1 Q2 Q3 Q4 Q5-4 -2 0 2 4 Habilidade/Proficiência O item mais discriminante é o item quatro (4), e abrangia o Teorema de Bayes, que na nossa concepção, implica que o aluno compreenda probabilidade condicionada. A partir da Figura 2 percebe-se que a curva do item é bastante íngreme, o que significa que um deslocamento no eixo das habilidades muda significativamente a probabilidade de acertar o item. Na análise clássica, este item (4) aparece como o mais discriminante (0,2478) e apresenta também o maior valor para o coeficiente de correlação bisserial, (0,7137) como se pode visualizar na Tabela 2. Quanto ao poder de discriminação do item 5 (o mais difícil), pode-se dizer que discrimina moderadamente (Baker, 2001) com uma curva mais suave ( Figura 2). Conclusão e considerações finais Este trabalho teve como objetivo a analise de itens e resultados à avaliação de uma prova de raciocínio probabilístico. Para atingir este objetivo foram utilizados os métodos estatísticos designados como Teoria Clássica dos Testes (TCT) e a Teoria da Resposta ao Item. Dentre diversos modelos existentes na TRI, neste trabalho foi aplicado o modelo logístico de dois parâmetros. As duas teorias apontam para as mesmas conclusões. Concluiu-se que o instrumento de avaliação utilizado possui itens pouco difíceis, mas com bom poder de discriminação. Actas del VII CIBEM ISSN 2301-0797 2031

Referências bibliográficas Bahkta, B., Tennant, A., Horton, M., Lawton, G. & Andrich, D. (2005). Using item response theory to explore the psychometric properties of extended matching questions examination in undergraduate medical education. BMC Medical Education, 5, 1-13. Baker, F.(2001). The basics of item response theory (2 a ed). Washington: Eric Clearinghouse on Assessment and Evaluation. Borgatto, A. & Andrade, D. (2012) Análise Clássica de Testes com diferentes graus de dificuldade. Estudos em Avaliação Educacional, São Paulo, 23 (52), 146-156. Francisco, R. (2005). Aplicação da Teoria da Resposta ao Item (TRI) ao exame nacional de cursos (ENC) da UNICENTRO. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Métodos Numéricos para Engenharia. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil. Josemberg, M.(2010). O uso da teoria de resposta ao item em avaliações educacionais: diretrizes para pesquisadores, 9 (3), 421-435. Maia, J. (2009). Uso da Teoria Clássica dos Testes e da Teoria de Resposta ao Item na Avaliação da Qualidade Métrica de Testes de Seleção. Programa de Pósgraduação em Educação Brasileira. Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil. Pasquali, L. (2007). Teoria de resposta ao item: teoria, procedimentos e aplicações. Brasília: LabPAM/UnB. Revelle, W. (2013) psych: Procedures for Personality and Psychological Research, Northwestern Univerity, Evanston, Illinois, USA, http://cran.rproject.org/package=psych. Acesso em: 23/05/2013. Rizopoulos, D. (2006). Ltm: Na R package for Latent Variable Modelling and Item Response Theory Analyses. Journal of Statistical Software, 17 (5), 1-25. Rodrigues, M.(2006). Proposta de Análise de itens das Provas do Saeb sob a Perspectiva Pedagógica e a Psicométrica. Estudos em Avaliação Educacional, 34, 43-78. Valle, R. (2000) Teoria da Resposta ao Item. Estudos em Avaliação Educacional, 21,7-88. Vendramini, C.; Silva, M.& Canale, M. (2004). Análise de itens de uma prova de raciocínio estatístico. Psicologia em Estudo, 9, 487-498. Actas del VII CIBEM ISSN 2301-0797 2032