LIVRO NA SALA DE AULA: MINIBIBLIOTECA E FORMAÇÃO DE LEITORES



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Transcrição:

LIVRO NA SALA DE AULA: MINIBIBLIOTECA E FORMAÇÃO DE LEITORES Janieli da Silva Andrique Thibes 1 ; Marizete Bortolanza Spessatto 2 ; José Reinaldo Nonnenmacher Hilário 3 RESUMO O projeto de extensão Livro na sala de aula: minibibliotecas e formação de leitores foi desenvolvido no período de julho de 2012 a junho de 2013, integrando estudantes ingressantes nas turmas de Ensino Médio Integrado do IFC-câmpus Videira. O projeto sustetou-se na possibilidade de contribuir com a formação de leitores, promovendo a leitura crítica e contribuindo para ampliar a capacidade de produção textual entre os estudantes. Os trabalhos foram desenvolvidos de forma integrada com outro projeto de extensão em vigor no mesmo período: Literatura na Rede. Dessa forma, por meio da constituição de acervo bibliográfico, confecção de estantes nas salas de aula e produções difundidas pelo blog do Literatura na Rede, possibilitou-se o envolvimento dos estudantes na leitura e reflexão sobre textos literários. A metodologia utilizada contou com a revisão de literatura da área, aplicação e análise de questionário com dados sobre o perfil de leitores dos estudantes, desenvolvimento de reuniões mensais com os envolvidos nos dois projetos e atividades focadas na participação efetiva dos alunos do Ensino Médio. Palavras-chave: Leitura. Bibliotecas. Educação Básica. INTRODUÇÃO Quando se trata de incentivar a formação de leitores, é preciso assegurar aos estudantes a condição de protagonistas. Caso não se sintam atraídos, dificilmente eles levarão adiante uma leitura e, de modo mais amplo, desenvolver-se-ão como leitores. Nesse caminho, também é necessário garantir aos sujeitos em formação a possibilidade de conhecer a leitura como prazer, mais do que um dos deveres que constituem a lista de obrigações do cotidiano escolar. É preciso, de acordo com o que aponta Perissé (2011, p. 3), fazer com que a leitura assuma uma perspectiva para além da obrigatoriedade. Magda Soares explica que a escolarização inadequada pode ocorrer não só com a literatura, mas também com outros conhecimentos, quando transformados em saberes escolares (SOARES, 1 Aluna do Intituto Feredal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense- câmpus Videira. Curso de Licenciatura em Pedagogia. E-mail: janielithibes@gmail.com 2 Professora do curso de Pedagogia do IFC-Videira, Doutora em Educação pela UFSC. E-mail: marizete.spessatto@ifc-videira.edu.br. 3 Professor Orientador do Instituto Federal Catarinense de Videira. E-mail: reinaldo@@ifc-videira.edu.br

2006, p.22). Dessa forma, o presente projeto de extensão sustentou-se na possibilidade de contribuir com a formação de leitores nas turmas de início de Ensino Médio do IFC-Câmpus Videira, a partir da implementação de minibibliotecas nas salas de aula. Foram envolvidos no projeto 130 estudantes das quatro turmas de primeiro ano do Ensino Médio Integrado. Como metas, teve-se a ampliação do gosto pela leitura literária, promovendo a leitura crítica e contribuindo para ampliar a capacidade de produção textual entre os estudantes. METODOLOGIA O projeto Livro na sala de aula: minibibliotecas e formação de leitores foi realizado no período de julho de 2012 a junho de 2012, tendo sido aprovado em edital interno do câmpus do IFC-Videira, ao qual está veiculado. Foram realizadas reuniões semanais para acompanhamento do processo e tomada de decisões, de acordo com o necessário e de forma articulada com os integrantes do projeto de extensão Literatura na Rede.. Ao mesmo tempo em que as atividades de implantação das minibibliotecas vinham sendo desenvolvidas, também foi realizada pesquisa para conhecimento do perfil do grupo, leituras para aprofundamento teórico e reflexões sobre o papel da leitura na formação dos sujeitos críticos e reflexivos. Para a constituição do acervo das minibibliotecas na sala de aula, foi realizada campanha de arrecadação de livros, organizada pelos próprios estudantes. Em seguida, eles confeccionaram as estantes que foram colocadas nas salas de aula para abrigar o acervo. Na medida em que as leituras foram incentivadas, nas aulas do componente curricular Língua Portuguesa e Literatura, as produção delas resultantes foram sendo postadas no blog do projeto parceiro Literatura na Rede. REFERENCIAL TEÓRICO O Brasil é um país de poucos leitores. Em 2001, o nível de leitura era de 1,8 livros por habitante/ano. Hoje, como apontam as estatísticas da Câmara Brasileira do Livro (cf. PERISSÉ, 2011), são 4,7 livros lidos por habitante/ano. Também enfrentamos problemas com o analfabetismo funcional, consequência direta dos baixos índices de leitura. Embora tenhamos em torno de 90% da população alfabetizada, os indicadores de analfabetismo funcional (medidos pelo INAF Indicador de Alfabetismo Funcional,

2009) indicam que 15% da população brasileira com idade entre 15 e 24 anos é considerada analfabeta funcional. Desses jovens, 2% são analfabetos absolutos (não sabem ler e escrever, embora alguns consigam ler números familiares) e 13% são alfabetizados de nível rudimentar (leem textos curtos, como cartas, e lidam com números em operações simples, como o manuseio de dinheiro). Apenas 33% da população é considerada plenamente alfabetizada. Este problema não é recente. Já no século XIX alguns dos mais importantes homens das Letras nacionais o percebiam. Machado de Assis diz: A nação não sabe ler. Há só 30% dos indivíduos residentes neste país que podem ler; destes uns 9% não lêem letra de mão. 70% jazem em profunda ignorância. (...). 70% dos cidadãos votam do mesmo modo que respiram: sem saber porque nem o quê. Votam como vão à festa da Penha - por divertimento. A Constituição é para eles uma coisa inteiramente desconhecida. Estão prontos para tudo: uma revolução ou um golpe de Estado. [ ] As instituições existem, mas por e para 30% dos cidadãos. Proponho uma reforma no estilo político. (Machado de Assis,1879) Embora já tenhamos avançado, ainda estamos atrás dos índices de alguns de nossos vizinhos latinos. Segundo o Centro Regional para el Fomento del Libro en América Latina y el Caribe (CERLALC): [...] los índices de lectura en América Latina y reveló que Argentina registra el más alto porcentaje de lectura de libros en la población (55%), seguido por Chile (51%), Brasil (46%) y Colombia (45%). En la parte baja de la gráfica se encuentran Perú (35%) y México (20%). España registró en 2011 un índice de lectura de libros de 61%. 4 Mudar esses dados passa diretamente pela formação linguística competente assegurada pela Educação Básica. Passa, também, por garantir aos sujeitos em formação a possibilidade de conhecer a leitura como prazer, mais do que um dos deveres que constituem a lista de obrigações do cotidiano escolar. É preciso, de acordo com o que aponta Perissé (2011, p. 3), fazer com que a leitura assuma uma perspectiva para além da obrigatoriedade, já que: 4 [ ] os índices de leitura na América Latina revelaram que a Argentina registra a mais alta percentagem de leitura entre a sua população (55%), seguida pelo Chile (51%), Brasil (46%) e Colômbia (45%). Entre os índices mais baixos estão o do Peru (35%) e do México (20%). A Espanha registrou em 2011 um índice de leitura de livros de 61%. Disponível em http://www.cerlalc.org/. Acesso em 30 mai. 2012.

[ ] a obrigação sempre redundou no oposto do que se desejava. O ato de ler tornou-se talvez um dever irritante e enfadonho. O livro se converteu em símbolo de constrangimento, estorvo e fracasso. A educação formal gerou analfabetos funcionais que, brincava o poeta Mario Quintana, são os que aprenderam a ler e não leem. E completo: são os que aprenderam a escrever e não escrevem, são os que pensam com menos clareza e intensidade. Na escola, na faculdade, a obrigação ainda se faz valer, mas a prática demonstra que essa obrigatoriedade redunda, mais tarde, em afastamento e indiferença. (PERISSÉ, 2011, p. 3 grifos do autor). Magda Soares (2006) focaliza os aspectos mais diretamente voltados para a escolarização da leitura literária e aponta a carga negativa, depreciativa, pejorativa que o termo escolarização carrega. A autora desenvolve uma reflexão acerca de como a literatura tem sido inadequadamente escolarizada (SOARES, 2006, p.22). Ela também mostra que a escolarização inadequada pode ocorrer não só com a literatura, mas também com outros conhecimentos, quando transformados em saberes escolares (SOARES, 2006, p.22). Na abordagem dos maus usos e abusos que se fazem da leitura na escola, não é possível desconsiderar sua relação com a inexistência de uma política de formação de leitores, com a organização do trabalho escolar, com as condições das bibliotecas, com a organização do espaço e do tempo de acesso aos livros, com a indicação, orientação ou a escolha do livro, e especialmente com a problemática da formação de professores. Resende (2000, p.21) aponta que só há como formar leitores se houver o que ler. [...] Como formar leitores se ainda não existe o que ler, por um preço acessível? Para isso é preciso disponibilidade de acervo aos estudantes, para efetivação dessa sociedade leitora preconizada nos documentos oficiais. Savelli (2007) questiona, ainda, a inexistência de uma pedagogia da leitura e as consequências que gera no trabalho com a leitura em sala de aula. Segundo a autora, o debate sobre o assunto normalmente é divulgado em termos de estudos pontuais de diferentes áreas, sejam elas da psicolinguística, da psicologia ou da sociologia. Para superar as práticas baseadas em concepções de leitura teoricamente ultrapassadas, afirma a autora, é preciso passar pela reflexão do que a escrita representa. É preciso concebê-la como um meio de construir uma visão de mundo e atribuir sentido às coisas. É o que se pretendeu com o desenvolvimento do projeto que deu origem a este artigo, através do qual pretendeu-se colocar os estudantes na condição de protagonistas na seleção de suas leituras literárias. Dessa forma, o trabalho desenvolvido visou contribuir com o processo de formação pensado para as turmas do ensino médio do IFC-Videira.

RESULTADOS E DISCUSSÕES Destacam-se entre os resultados obtidos no projeto o envolvimento dos estudantes na proposta apresentada. Das três turmas constantes na proposta inicial de atividades, duas participaram efetivamente da campanha de arrecadação de livros, alcançando mais de mil exemplares coletados, incluindo obras da literatura nacional e estrangeira, enciclopédias e obras de literatura infantil. O material arrecadado foi selecionado enciclopédias foram encaminhadas à biblioteca central do câmpus -, restaurado e catalogado pelos bolsistas dos projetos vinculados (Minibibliotecas e Literatura na Rede). Em seguida, as obras foram levadas às salas de aula. Na inauguração das minibibliotecas nas turmas de Informática e Agropecuária, foi realizado um piquenique literário, com declamação de poemas pelos estudantes envolvidos. Figuras 1 e 2 Minibibliotecas confeccionadas pelos alunos da Agropecuária e informática Fonte: http://literatura-na-rede.blogspot.com.br/ (acesso em 27 ago. 2013). Além das obras arrecadadas com a campanha organizada pelos estudantes, as coordenadoras dos dois projetos encaminharam solicitação de compra de mais de 180 títulos de livros, que já foram adquiridos pelo câmpus, estando em fase de catalogação, e que serão utilizados na continuidade dos trabalhos de leitura em sala de aula, já que foi encaminhada a solicitação de prorrogação do projeto Literatura na Rede, vinculado a este projeto, já encerrado. A aquisição das obras foi orientada por uma pesquisa realizada a partir da aplicação de questionário aos estudantes envolvidos. Os resultados da pesquisa indicam sujeitos com baixo acervo de obras literárias em casa e com poucas referências de leitura. Do total de alunos, 42% têm menos de cinco obras literárias em casa; 26% têm de seis a 10 obras; 15% têm de 11 a 20 e apenas 18% têm mais de 21 obras literárias em casa. Além de terem, de um modo geral, poucos livros de literatura em casa, de acordo com os

dados do questionário preenchido pelos alunos, eles também não têm nos pais uma forte referência de leitura literária. Quando indicaram os pais como leitores, eles citaram as seguintes categorias de leitura: 57% dos pais leem jornais e revistas; 17% obras religiosas ou espíritas. Dezoito por cento dos pais, de acordo com o que indicaram os estudantes, são leitores de literatura. Quando questionados sobre como classificam a leitura literária, 37% classificaram-na como um lazer, 8% como algo dispensável e 36% como algo importante. Por outro lado, 19% dos estudantes referenciaram-na como apenas uma obrigação escolar. A partir dos dados, justificou-se o desenvolvimento do projeto, sendo que teve como meta levar os alunos a perceberem a leitura literária como um prazer e fonte de conhecimentos, para além da escola, para a vida. 4. Considerações finais: formação para a leitura na graduação em Pedagogia O desenvolvimento do projeto pode ser considerado exitoso por inúmeras razões. Um primeiro aspecto a ser considerado foi o fato de ter possibilitado a coleta de dados acerca do perfil de leitores e das concepções de leitura literária dos sujeitos que constituem o corpo discente de Ensino Médio dos cursos integrados do IFC-câmpus Videira. Com os dados em mãos, é possível pensar tanto na necessidade de ampliação do acervo de leitura, alargando os horizontes culturais dos estudantes, quando em estratégias para o trabalho em sala de aula, no componente curricular Língua Portuguesa e Literatura. Em seguida, é preciso citar o fato de que, ao serem motivados, os estudantes se sentiram envolvidos com o projeto e buscaram na comunidade onde moram auxílio para a arrecadação de livros e, dessa forma, trouxeram para a sala de aula obras de diferentes gêneros e autores, aproximando a possibilidade de leitura no cotidiano da sala de aula, porém sem a relação com obrigatoriedade de leitura, apontada por muitos como a imagem de leitura até então estabelecida pelas experiências escolares. Além disso, observa-se a motivação os alunos nas produções escritas a partir das experiências de leitura, via blog do projeto Literatura na Rede. Citamos como importante, também, a possibilidade de troca de experiências que o projeto permitiu. Inspirado em trabalho na mesma perspectiva, em desenvolvimento no Instituto Federal do Rio Grande do Sul - câmpus Canoas, o projeto permitiu a aproximação com outros pesquisadores. No andamento dos trabalhos, o projeto foi apresentado em evento interno do câmpus Videira, na primeira edição da FICE Feira de Iniciação Científica e de Extensão, em setembro de 2012, e no SELES-SELM 2012 VIII Seminário de Ensino de Línguas Estrangeiras E IV Seminário de Ensino de Língua Materna, em Passo Fundo, no qual foram estalecidos importantes contatos com pesquisadores que compartilham da mesma perspectiva de valorização da leitura e da literatura na formação de estudantes e, acima de tudo, cidadãos com horizontes de mundo ampliados graças à

leitura. 5. Referências ASSIS, Machado de. Obra Completa. Crônica, vol. III. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. PERISSÉ, Gabriel. Ler, pensar e escrever. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. RETRATOS DA LEITURA NO BRASIL. Instituto Pró-livro, 2012. Disponível em http://www.prolivro.org.br/ipl/publier4.0/texto.asp?id=48. Acesso em 20 mai. 2013. SAVELI, Esmélia de Lourdes. Por uma pedagogia da leitura. In.: CORREA, Djane A.; SALEH, Pascoalina B. de O. Práticas de letramento no ensino: leitura, escrita e discurso. São Paulo: Parábola; Ponta Grossa: UEPG, 2007. SOARES, Magda. A escolarização da literatura infantil e juvenil. In: EVANGELISTA, Aracy A. Martins; BRANDÃO, Heliana M. Brina; MACHADO, Maria Z. V. (orgs.). A escolarização da leitura literária: o jogo do livro infantil e Juvenil. 2.ed. Belo Horizonte:Autêntica, 2006.