Design de Embalagens: Caracterização de Tendências de Consumo e Percepção dos Consumidores em Relação às Embalagens de Refrigerantes

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Transcrição:

Design de Embalagens: Caracterização de Tendências de Consumo e Percepção dos Consumidores em Relação Packaging Design: Characterization of Consumption Trends and Consumer Perception in Relation to Soft Drink Packaging Miranda, Carlos Alberto Silva de; MSc; UEMG Escola de Design carlosasmiranda@gmail.com Silva, Diego Gonçalves; Graduando; UEMG Escola de Design diegogoncalves84@gmail.com Resumo A partir dos objetivos de analisar a importância da embalagem na cadeia produtiva como fator de competitividade e identificar as tendências de consumo e percepção dos consumidores, foi aplicada a metodologia proposta neste trabalho, buscando a validação dos dados obtidos em levantamentos bibliográficos em um estudo de caso, delimitado na escolha de um segmento específico de mercado de produtos de consumo, os refrigerantes. A limitação deste estudo, no que tange à percepção dos consumidores, também se estabelece na escolha da região metropolitana de Belo Horizonte, que delimita as variáveis relacionadas à caracterização da categoria, variedade e disponibilidade de produtos. Palavras Chave: Design de Embalagens; Comportamento de Consumo; Refrigerantes. Abstract From the purposes of analyzing the importance of packaging in the supply chain as a competitive factor and identify consumer trends and consumer perception, the proposed methodology was applied in this work, aiming to validate the data obtained from literature surveys on a case study, bounded in choosing a specific market segment of consumer products, soft drinks. The limitation of this study, when it comes to consumer perception, it also provides the choice of the metropolitan region of Belo Horizonte, which defines the variables related to the characterization of the class, variety and availability of products. Keywords: Packaging Design, Consumer Behavior, Soft Drinks.

Introdução O estudo da dinâmica das variáveis na criação e utilização de embalagens se faz importante pela sua alta responsabilidade na complementação de um determinado produto. A embalagem torna-se um produto essencial, carregado de significado, um elemento decisivo no momento da escolha de compra. Estas variáveis se relacionam com o contexto histórico, o conceito do produto que ela armazena e principalmente com a sociedade que ela comunica. A embalagem passou de um simples meio de proteção e transporte de materiais para a maior ferramenta de propaganda atual dos produtos, por seu baixo custo de investimento em relação a outras mídias e sua necessidade constante de existência. Funcionalidade e usabilidade se unem a requisitos normativos de segurança e responsabilidade ecológica dentro da construção dessa nova estrutura de sustentabilidade. O Design de embalagens transforma a essencial necessidade de transporte e proteção dos produtos em um novo produto de tamanha ou maior complexidade em relação ao produto que armazena. Esse trabalho nasce pelo mesmo motivo no qual qualquer produto é desenvolvido, desde a queda de vendas, concorrência, reposicionamento de produtos etc. A interdisciplinaridade entre o Design Gráfico e Design de Produtos passa ser então peça fundamental para o sucesso de uma boa embalagem, pois relacionam no projeto fatores econômicos, sociais, culturais, ambientais, funcionais, estéticos, simbólicos, tecnológicos, de comunicação e de utilização. O presente trabalho de pesquisa, conduzido sob a forma de projeto de iniciação científica, teve por objetivo principal levantar os conhecimentos relacionados aos fatores evolutivos do conceito de embalagem e sua relação com o mercado, analisar a importância da embalagem na cadeia produtiva como fator de competitividade e desenvolvimento e identificar as tendências de consumo e percepção dos consumidores. A partir destes objetivos, foi aplicada a metodologia proposta e buscar a confrontação dos dados obtidos em levantamentos bibliográficos em um estudo de caso, delimitado na escolha de um segmento específico de mercado de produtos de consumo, os refrigerantes. A limitação deste estudo, no que tange à percepção dos consumidores, a qual será mensurada através de entrevistas, também se estabelece na escolha da região metropolitana de Belo Horizonte, que delimita as variáveis relacionadas à caracterização da categoria, variedade e disponibilidade de produtos. Metodologia Segundo Silva & Menezes (2001) existem várias classificações para pesquisa, segundo pontos de vista diferentes. A partir destas classificações, do ponto de vista da sua natureza, esta pesquisa se classifica como uma pesquisa aplicada, na qual objetivamos gerar conhecimentos para aplicação prática dirigidos à solução de problemas específicos, ou seja, gerar conhecimento a ser aplicado em projetos de design orientados ao segmento escolhido: refrigerantes. Do ponto de vista da forma de abordagem do problema, ainda segundo os autores, o presente trabalho se classifica como uma pesquisa qualitativa, e a partir de seus objetivos, uma pesquisa exploratória, tendo em vista a necessidade de proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses. Envolve, portanto, um levantamento bibliográfico, a execução de entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado, além da análise de exemplos que estimulem a compreensão. Do ponto de vista dos procedimentos técnicos, também dos autores, trata-se de uma proposta de pesquisa bibliográfica, a ser elaborados a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e de material disponibilizado na Internet. Buscamos também delimitar o problema a partir da definição de um direcionamento

a um segmento específico do mercado de produtos de consumo, para permitir um estudo mais profundo e exaustivo de um objeto, de maneira que se permita o seu amplo e detalhado conhecimento. O projeto foi organizado em duas fases, a serem descritas a seguir. Na Primeira Fase foi feito um resgate de estudos referentes à história dos refrigerantes e suas embalagens, seu conceito, funções, psicologia da embalagem e comportamento do consumidor. Logo após foram definidas as diretrizes de uma pesquisa para verificar a atual interação consumidor/embalagem/produto. Com relação ao desenvolvimento histórico das embalagens, recorremos a Nitzke (2009), que trata da pesquisa em alimentos da pré-história à contemporaneidade, e ao texto dissertativo de Lautenschläger (2001), cujo embasamento da pesquisa foi precedido deste levantamento, feito de forma bastante apropriada e didática. Para embasamento com relação às metodologias de projeto de produtos e design, recorremos a Baxter (1998) e Bonsiepe (1978), que estabelecem as metodologias e principais ferramentas aplicadas ao processo, recorrendo também a autores que apresentam metodologias e pontos de vista aplicados, como Seragini (1994), Mestriner (2002) e Miranda (2008). Com relação ao entendimento do material base de composição das embalagens analisadas, bem como dos fatores relacionados à segurança alimentar e conservação dos alimentos, recorremos aos conhecimentos técnicos relatados por Evangelista (1998) e pelos autores Brandrup & Immergrup (1989). Como metodologia de avaliação visual das embalagens e para a construção do questionário, utilizamos os conceitos de semiótica e de psicologia da percepção aplicados por Gomes Filho (2004) e a partir direcionamentos indicados por Carpes Júnior (2004), que descreve as formas de despertar a atratividade do consumidor. A metodologia de avaliação foi adaptada de Lautenschläger (Op. Cit.), que dissertou sobre a avaliação de embalagens de consumo com base nos requisitos ergonômicos informacionais. Na Segunda Fase, que se refere propriamente à realização da pesquisa e à análise e contextualização dos resultados, tal estrutura permitiu que fossem levantadas e analisadas as variáveis que interfeririam no desenvolvimento das novas embalagens para o mercado atual e futuro. Esta pesquisa qualitativa, na qual a intenção era confirmar de maneira geral as expectativas dos consumidores em relação às embalagens PET de refrigerante e verificar algumas características, puderam nos caracterizar que a adequação das embalagens dos produtos também leva em consideração o poder aquisitivo e comportamento de compra dos consumidores, para este tipo de produto. A metodologia utilizada na condução desta pesquisa, contemplou a realização de 200 entrevistas entre os dias 30 de Novembro e 1 de dezembro de 2009 em supermercados da cidade de Belo Horizonte, cuja amostragem de sujeitos buscou a escolha de 100 pessoas pertencentes as classes A e B, com renda de acima de R$4.800,00, (IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). A escolha destes sujeitos se deu a partir de uma estratégia de pesquisa de mercado orientada pela proximidade geográfica entre os estabelecimentos de comercialização escolhidos e bairros notadamente ocupados por famílias cujo poder aquisitivo também é notadamente maior. A rede escolhida contemplava esta situação, onde seu público principal são as classes A e B, interessados na grande variedade de produtos gourmet, como frutos do mar, carnes nobres, bebidas e outros produtos importados. As demais entrevistas foram direcionadas para a escolha de 100 indivíduos pertencentes às classes C e D, cuja renda situa-se abaixo de R$4.800,00 (IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Tal como a amostragem anterior, o critério de escolha foi contemplado a partir da realização das entrevistas no local de comercialização, considerando a proximidade geográfica entre o supermercado e bairros de classes correspondentes. Foi escolhida uma rede

de supermercados da região metropolitana da cidade de Belo Horizonte cujo público principal é constituído de indivíduos das classes C e D, interessadas em produtos em geral com menor custo, oferecidos pelos estabelecimentos que tem como foco a venda em grande volume de produtos. Esta forma de divisão, por si só já se constituiu em um método de segregação que consideramos eficiente aos objetivos propostos nesta pesquisa. Resultados obtidos Com relação à percepção dos usuários, foram levantadas algumas características que são descritas a seguir, a partir da compilação dos dados dos questionários e respostas dos entrevistados. Nestes aspectos não foi considerada a classe social dos interpretantes para a subdivisão das respostas, pois não foi apresentada nenhuma evidência de interferência destes aspectos nos resultados. Com relação ao formato das garrafas PET, este fala por si mesmo na função de conter o líquido, apresentando-se de forma padronizada, alongado verticalmente, cilíndrico e propiciando sua colocação em pé por sua base petalóide. Com relação às cores, garrafas fabricadas em PET têm a grande vantagem de poder ser transparentes, o que possibilita a visualização fácil do líquido no interior da embalagem. Constatamos que os refrigerantes nos sabores cola, laranja e uva utilizam este artifício, enquanto os de limão e guaraná utilizam garrafas verdes. Isto se dá no caso dos refrigerantes de limão, principalmente segundo os entrevistados, que são transparentes pela necessidade de agregar valor ao produto que visualmente não se distingue de água. Este produto na garrafa verde cria a impressão de também ser verde, além de remeter à cor da fruta, neste caso o limão. No caso dos refrigerantes de guaraná prefere-se não exibir sua cor bege que pode trazer associações não interessantes à bebida, pois se pode remeter a cor da urina por exemplo. Os outros sabores têm a cor como uma aliada como é o caso dos refrigerantes de cola que já tem a cor preta associada a este sabor, os de laranja e uva remetem às cores das frutas correspondentes (Figura 1), apesar de alguns entrevistados citarem que sabem que estas cores são decorrentes da adição de corantes, portanto não-naturais. a) b) c) d) Figura 1 Análise da categoria: Esquemas de cores comumente aplicados em refrigerantes: a) refrigerantes sabor guaraná; b) refrigerantes sabor uva; c) refrigerantes sabor laranja; d) refrigerantes sabor cola.

Com relação à rotulagem, que além do caráter informativo obrigatório, carrega o que é mais importante - em termos comerciais - do produto que é a sua marca. As cores precisam ser condizentes com a marca, o sabor da bebida, as cores da embalagem e as expectativas do cliente. Este, a partir desta pesquisa, determinou que precisasse perceber no rótulo, sob a forma de ilustrações, cores, formas e tipografia, suas necessidades de informação e identificação com o produto devidamente atendidas. Quanto à volumetria, encontra-se uma diversidade de opções influenciada pelas novas necessidades de ocasião de consumo. Temos uma gama que vai desde o menor tamanho do mercado, como exemplo a embalagem de 250 ml, destinada a pequenos lanches e consumo imediato, principalmente para o público infantil. No mercado encontramos também consolidadas as embalagens de 500 ml e 600 ml que também focam no consumo imediato, porém visa um público mais adulto. Encontramos as embalagens de 1,5L, que acabam concorrendo por preço com outras marcas mais baratas de volumetria de 2L. Temos ainda as pioneiras garrafas de 2L, destinadas para o consumo futuro e que são as mais utilizadas pela maioria das marcas, tendo em vista a grande utilização do formato padrão de ampola, amplamente adotado por fabricantes de menor porte e participação no mercado, que concorrem a partir do baixo preço, as conhecidas e denominadas tubaínas. Tamanhos de 2,25L, e 2,5L são utilizados por grandes marcas na intenção de aumentar o custo benefício do produto, tornando o preço deste menor por quantidade de líquido, onde se caracteriza o impacto do peso e custo da embalagem no preço final do produto. E temos ainda as embalagens promocionais de 3L, que são disponibilizadas no mercado em determinadas épocas do ano, tais como no natal, onde está fortemente presente a idéia de consumo em família e necessita-se de uma maior quantidade do produto. Para este quesito foi observada uma estratégica de mercado adotada pela maioria das empresas, na qual as garrafas maiores, cujo impacto do custo de embalagem é menor sobre o custo final do produto são mais amplamente disponibilizadas nos supermercados localizados em bairros de classe mais baixa. O mesmo ocorre com embalagens retornáveis (vidro). Já nos supermercados localizados nos bairros mais nobres, cuja clientela teoricamente pode apresentar um poder aquisitivo maior, foi mais fácil encontrar embalagens menores (500 ml/600 ml, 250 ml e latas), o que reforçou nossa percepção. Quanto à ergonomia, observamos principalmente nas maiores marcas um estudo mais apurado na ergonomia, criando embalagens com superfícies e saliências que além de dar estilo e personalidade à garrafa, trazem com isso uma maior facilidade na pega, abertura, etc. Quanto ao mercado, no cenário apontado torna-se interessante o estudo deste promissor setor, que caminha fortemente atrelado às evoluções tecnológicas, estéticas e principalmente mercadológicas. Cabe aos profissionais envolvidos neste processo entender profundamente as exigências dos vários níveis que terão contato com o produto, desde o transporte, o lojista e o consumidor final. É de grande importância sabermos quem hoje domina o mercado, para visualizarmos as ações e conceitos que atualmente funcionam melhor nesta cadeia. Segundo a ABIR (2009) a empresa líder do mercado detém 56,6% de todo mercado de refrigerantes, enquanto o segundo concorrente mais bem colocado detém o segundo lugar com 10,9%. Algumas atitudes e ferramentas utilizadas pela empresa líder de mercado nos ajuda a entender como a ela consegue atingir tamanho patamar de domínio sobre as outras marcas, alguns destes dados foram obtidos em documentos da empresa, pelo fato de alguns pontos serem sigilosos a explicação tange a superficialidade em alguns pontos, focando naqueles que podem ser observados no dia-a-dia dentro dos estabelecimentos revendedores de seus produtos. A principal ferramenta utilizada para entendimento do consumidor é notadamente uma forma de clusterização. Cluster é a inter-relação e a alocação dos clientes em grupos de

acordo com características comuns que são o canal, porte e renda. Os canais referem-se à ocasião de consumo do produto pelo consumidor final e podem ser agrupados em dois grandes grupos: - Consumo Imediato: os produtos vendidos são gelados e geralmente consumidos no ato da compra. O valor mais elevado pago pelo produto não é considerado um motivo para deixar de comprá-lo. É um público que tem menor sensibilidade a preço e é induzido pelas ocasiões de consumo. É importante, por isso, ter uma ótima divulgação e colocação dos produtos no mercado. As embalagens retornáveis são mais rentáveis tanto para os clientes quanto para o fabricante. - Consumo Futuro: neste segmento, temos a situação inversa, os produtos geralmente não são consumidos na hora. O preço é fator essencial para a decisão de compra do cliente. O foco são as embalagens descartáveis. Têm a vantagem de precificações mais baixas e maiores margens para o cliente e para a empresa. Existe uma maior concorrência neste canal. Outros pontos são o porte que é uma classificação dos clientes relacionando quantidade de compra e quantidade de visitação aos estabelecimentos e a renda que é a quantidade de rendimentos que estes diversos tipos de consumidores têm. Portanto a clusterização é uma estratégia de segmentação de mercado utilizada com a intenção de agrupar os clientes de acordo com características comuns. Esta ferramenta permite entender melhor cada grupo de clientes e oferecer serviços diferenciados para cada grupo de acordo com suas necessidades e percepções pois o que é importante para um grupo de clientes nem sempre é percebido ou valorizado por outros e, consequentemente, focalizar estratégias personalizadas e com foco em otimização de recursos e de trabalho. Os Resultados do questionário permitiram ainda caracterizar a preferência, onde se confirmou o domínio de escolha por refrigerantes da linha da empresa líder, com 76% dos entrevistados respondendo em questão aberta que algum produto desta linha era seu preferido. Quanto aos principais motivos de escolha de produto, verificou-se que a fidelidade à marca foi o principal fator de decisão independente da classe. Essa fidelização se deu principalmente pela qualidade do produto mantida ao longo do tempo e por sua constante atualização de embalagem. Porém observou-se nas classes C e D uma abertura maior em adquirir outra marca por falta ou mesmo por questões financeiras, quando da alta do preço do seu produto de preferência, enquanto nas classes superiores, quando da falta do produto preferido, estes preferem muitas vezes não levar nenhum concorrente inferior ou preferem mesmo ir a outro estabelecimento. Quanto à atração da embalagem sobre o consumidor, os atributos mais relatados pelos entrevistados foram a presença de cores joviais e ilustrações modernas, a beleza, superfícies diferenciadas ao tato, ergonomia da embalagem e também a questão da volumetria, que tem interferência na percepção do produto como um todo, a partir da interferência do quesito volume de massa. Uma questão interessante deu-se em relação a embalagens de 1,5L, onde algumas pessoas da classe A ou B relataram preferência por este formato. Segundo os entrevistados, a menor quantidade de produto em relação às embalagens de 2 litros permite o consumo mais rápido do produto com maior concentração e duração do efeito do gás CO2, o que é um ponto a favor da praticidade destas embalagens. Enquanto nas classes C e D foi observada uma preferência por garrafas superiores a 2L, como é o caso de algumas de 2,5L ou especiais de 3L pela economia de valor que geralmente as acompanha. Os aspectos emocionais são encontrados dentre os motivos de escolha do refrigerante, muitos deles estão intimamente relacionados com a embalagem. Como foram relatadas sensações de alegria, jovialidade, família reunida, remetidos pela lembrança de momentos passados na qual se consumia o refrigerante e principalmente pelo marketing bem posicionado a este respeito feito pelas marcas líderes. A embalagem expressa bem isso quando mantém certos pontos

fundamentais de identificação da marca e ao mesmo tempo a torna cada vez melhor em design e tecnologia. Deparamos-nos também com atributos oriundos da razão quando a escolha também leva em consideração a praticidade, facilidade, funcionalidade, comodidade, conservação, proteção, e modernidade que a embalagem pode oferecer. Algumas pessoas fizeram observações quanto a importância da conservação do gás, vedação, percepção de resistência, praticidade, manuseio fácil, ergonomia. Um fato interessante observado nas entrevistas é que o público de todas as classes revela algum conhecimento em relação à embalagem PET, suas possibilidades de reciclagem e de poluição quando abandonadas no ambiente sem devido cuidado. Mas a valorização acontece no discurso na prática há pouca relevância efetiva, no entanto, observa-se que indicações claras nas embalagens de que ela de alguma forma está contribuindo para a melhoria do ambiente ou mesmo não causando malefícios a ele agregam valor e sugerem diferenciação ao produto. Apesar de um conhecimento equivalente dentro deste campo da maioria das pessoas entrevistadas independente da classe social observou-se que para as classes A e B, muitas vezes, os gastos mais altos são compensado pela identificação com a marca e a praticidade, o que caracteriza um discurso mais emocional. Enquanto a classe C e D a relação de custo-benefício é sempre mais presente, o que caracteriza um discurso mais racional. Conclusões O conceito de embalagem é composto por um universo simbólico e abrangente. No passado ela tinha diversas limitações de conhecimento estético e de tecnologia era algo estagnado, padrão e com foco racional, porém até neste ponto não era completamente trabalhada. O que se observa no presente é que ela faz referência ao consumidor e sua realidade, seus hábitos de consumo e dificuldades que aparecem no dia-a-dia. Há cada vez mais diversidade de tamanhos e tipos, são mais fáceis de manusear, transportar e armazenar, além de trazerem informações precisas e completas. A embalagem imprime vida na relação do consumidor e o produto/marca, compõem a identidade e personalidade do produto. Permite a projeção de valores e sensações importantes envolvendo sempre duas dimensões que interagem: Racional, que preza principalmente pela questão da funcionalidade, manuseio, transporte; Emocional, valor que supre necessidades subjetivas do consumidor, tendo a Gestalt trabalhada em função da sedução, prazer, gratificação e aumento da auto-estima. Tudo isso faz com que o consumidor tenha segurança e sinta-se valorizado e reconhecido. Este por sua vez será capaz de inserir e sinalizar: classe social, estilo de vida, seus valores e traços da sua personalidade. Da mesma forma a embalagem pode trazer conceitos totalmente contrários e negativos quando não há um correto planejamento do projeto de produto. Pelas informações coletadas e pelo repertório já adquirido podemos traçar os principais pontos de uma embalagem ideal atual: Beleza estética é fundamental para a sedução; Praticidade (rapidez no uso, conforto, segurança, fácil transporte e manuseio, armazenamento e conservação); Segmentação clara (diferentes formatos, tamanhos, diversidade, tipos) atender cada vez mais as necessidades especificas, despertando a compreensão imediata da função do produto; Preservação do meio ambiente (expectativa de maior divulgação, conscientização e incorporação);

Que façam os consumidores sentirem-se mais conectados, pertencentes a um mundo de melhores condições para todos, mais modernos, atualizados, compreendidos e atendidos em suas necessidades; mais confiantes e seguros. Já para a embalagem ideal de refrigerante, entendemos que esta deve ter todos os requisitos anteriores e respeitando as classes sociais a que se destinam, devendo trazer: Valorização de aspectos visuais (cores/design) que conotem jovialidade e modernidade que transmitam sensações de alegria, diversão, sabor (elementos visuais, cores, ilustrações, formatos, condizentes com segmento) Praticidade (transporte, manuseio, abertura fácil) Conservação do gás, percepção de resistência / segurança, boa vedação Conscientização do pós uso da embalagem para a correta interação com o meio ambiente, esta idéia deve ser trabalhada e difundida de modo claro e criativo para os consumidores que são essencial parte deste processo no ciclo de vida da embalagem. Quanto à inserção do Design, torna-se cada vez maior o desafio das empresas: lidar com a globalização de mercado, com a competição acirrada e com a similaridade tecnológica e, assim, garantir a expansão das empresas. Neste cenário o design é um diferencial capaz de atrair e cativar o consumidor. O designer deve ter a competência de analisar o projeto do produto em toda a sua extensão, necessidades e implicações. Se por um lado o projeto tornase cada dia mais complexo, por outro o consumidor está ávido por praticidade, por diferenciais e atentos aos movimentos do mercado e às novidades no ponto-de-venda, tanto em relação à atratividade quanto à ergonomia, ou seja, é uma oportunidade de crescimento do setor pelo aumento constante de trabalho e necessidade dos profissionais envolvidos no processo de design. O designer, especificamente de embalagens, precisa alinhar: forma, cor, figuras, a imagem da marca e outros diversos fatores para despertar a percepção do consumidor. Muitos fatores perceptivos são encontrados no subconsciente, nos gostos e aversões básicos humanos. Entender a percepção humana, como o ser humano enxerga e percebe as formas, as figuras e as cores é um fator crucial no momento da criação. Alguns fatores como a forma e figura estão muito amarrados pelo processo de produção ou pela própria figura do produto, como é o caso das garrafas de refrigerantes, que já tem prédefinições quanto alguns limites formais e funcionais. Figura 2 Exemplo de quebra de paradigma na categoria Refrigerantes de Guaraná (Dir.) e Padrão esquemático da categoria (Esq.)

A cor já carrega uma maior liberdade no processo e tende a ser a primeira a ser percebida pelo consumidor. Um exemplo interessante vem de um guaraná (Figura 2), que recentemente inseriu uma quebra de paradigma quando desafiou os padrões cromáticos e tipológicos típicos dos refrigerantes de guaraná, no qual as garrafas são - na sua maioria absoluta - verdes e os rótulos são esquemas de verde e vermelho. Este refrigerante lançou uma embalagem em cor fora deste padrão arriscando em uma tentativa agressiva de chamar a atenção do mercado. Referências BAXTER, M. Projeto de Produto: Guia pratico para o desenvolvimento de novos produtos. São Paulo: Edgar Blücher, 1998. BONSIEPE, G. Teoría y Práctica del Diseño Industrial: Elementos para uma Manualística Crítica. Barcelona: Gustavo Gili, Colección Comunicación Visual, 1978, 256p. BRANDRUP, J. & IMMERGUT, E. H. Polymer Handbook. 3rd ed., New York Wiley. 1989. CARPES JÚNIOR, W. P. Projeto para a Estética: despertando a atração do consumidor. Revista Produção Online. Volume 4, Número 1, Fevereiro de 2004. EVANGELISTA, J. Tecnologia de alimentos. São Paulo: Atheneu, 1998. GOMES FILHO, J. Gestalt do objeto: Sistema de Leitura Visual da Forma. São Paulo: Escrituras, 2004. IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada <http://www.ipea.gov.br> - Acessado em 20/10/2009. LAUTENSCHLÄGER, B. I. Avaliação de embalagem de consumo com base nos requisitos ergonômicos informacionais. Florianópolis: UFSC, 2001. Dissertação (Mestrado em Engenharia da Produção), Universidade Federal de Santa Catarina, 2001. MESTRINER, F. Design de Embalagem: Curso Básico. São Paulo: Makron Books. 138 p. 2002. MIRANDA, C. A. S. Métodos Aplicados no Design de Embalagens Para Produtos Alimentícios Típicos de base artesanal. Dissertação de Mestrado em Engenharia de Produção Departamento de Engenharia de Produção - Universidade Federal de Minas Gerais. 2008.

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