POTENCIALIDADES DO SIMULADOR DE RISCO SÍSMICO DA ÁREA METROPOLITANA DE LISBOA NO APOIO À DECISÃO Maria ANDERSON (1), Sandra SERRANO (1) e Carlos S. OLIVEIRA (1,2) (1) (2) Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil, Lisboa, Portugal; manderson@snbpc.pt; sandras@snbpc.pt DECivil/ICIST, Instituto Superior Técnico, Av. Rovisco Pais 1049-001 Lisboa, csoliv@civil.ist.utl.pt SUMÁRIO O simulador sísmico para a Área Metropolitana de Lisboa, reflecte com pormenor os aspectos essenciais à análise integral do risco sísmico da AML e concelhos limítrofes, realizando rapidamente, estimativas de danos consequentes de um sismo. Permite obter a visualização cartográfica de elementos de interesse para a gestão de emergência como: pontos de decisão afectados; vias interrompidas ou áreas que não foram afectadas e que poderão ser utilizadas para outro fim. Outras potencialidades estão a ser exploradas, estando de momento em curso a definição das áreas sistematicamente afectadas, para definição das classes de risco. 1. APRESENTAÇÃO Um sismo com epicentro na AML pode provocar em poucos segundos uma enorme catástrofe para o território e perante a qual, o próprio sistema nacional tenha que responder em tempo útil. Por esse facto, todas as acções no sentido de aferir com rapidez os danos causados, serão preciosos no pedido de auxílio ao mecanismo europeu de Protecção Civil. Esta potencialidade do simulador de cenários, a ser considerada na gestão pós-catástrofe, tem como requisito prévio apenas o acesso aos parâmetros do sismo (Local e Magnitude), que serão fornecidos pelo Instituto de Meteorologia (IM), podendo visualizar-se um cenário de danos potenciais antecedendo o reconhecimento no terreno, tarefa mais morosa. Os resultados de danos e perdas são generalizados na sua distribuição geográfica pela área afectada e com grau de incerteza difícil de determinar, devido à complexidade e níveis de informação de que se compõem. No entanto, no presente, este nível de detalhe de resultados é razoável para os objectivos de protecção civil propostos, no sentido de serem orientadores para os fins de planeamento de emergência. 2. MODELOS INSERIDOS A estrutura base do simulador sísmico assenta na interligação dos modelos matemáticos de ocorrência, modelo estatístico da casualidade e modelo de atenuação da energia sísmica com as metodologias utilizadas na geração de danos, cujos resultados são visualizados no simulador (Figura 1).
Modelo de geração da acção sísimica Elementos em risco Modelação Ocorrência da Espectro resposta bed- rock Liquefacção Parque edificado Mobilidade humana Redes infraestruturas Sismogênese: Sismotectónica Zonas Sismogénicas F(x) transferência Espectro resposta solo potencial deslizamentos Amplificação/ atenuação Efeitos sítio Funções de vulnerabilidade Curvas de casualidade DANOS Epicentro Magnitude Momento SIMULADOR cenários Figura 1: Descrição do processo: risco, avaliação e gestão
Maria ANDERSON, Sandra SERRANO, Carlos S. OLIVEIRA 505 3. MAIS VALIAS Do ponto de vista da protecção civil, as mais valias que se destacam de toda a informação contida no simulador de cenários sísmicos são, por um lado a visualização de mapas de casualidade sísmica em valores de intensidades macrosísmicas calculadas, em rocha e no solo, conjuntamente com valores em aceleração, ao contrário dos mapas de perigosidade normalmente expressos apenas em acelerações. Este facto, permite em termos práticos ter uma análise visual das áreas mais intensamente afectadas. Directamente associado à acção sísmica, visualiza-se de forma cartográfica uma série de mapas com áreas associadas aos danos. Por outro lado, o facto de conter nomeadamente uma informação detalhada das estruturas sismogénicas activas na área em estudo, é possível quantificar melhor: (i) a dimensão do sismo típico; (ii) o máximo que cada estrutura geológica pode gerar; (iii) o tempo de ocorrência dos sismos. Esta informação irá permitir explorar o comportamento dos mecanismos de rotura das estruturas sismogénicas, o que se traduz numa maior aproximação a um cenário real. Por último, o manuseamento sistemático do simulador sísmico, possibilita uma elaboração de carta de risco para a área de estudo, possibilitando o apoio na elaboração dos planos de emergência. 4. SISMOTECTÓNICA Na avaliação da perigosidade sísmica em zonas de baixa deformação tectónica, como acontece com o território continental, é essencial o conhecimento das estruturas sismogénicas potencialmente activas. Para a AML foram realizados estudos de levantamento de evidências de falhamento activo no registo geológico superficial que permitiram concluir a existência das estruturas apresentadas na figura 2, e as suas características, no quadro 1. Figura 2: Representação gráfica das estruturas activas e potencialmente activas na área de estudo.
506 SÍSMICA 2004-6º Congresso Nacional de Sismologia e Engenharia Sísmica Quadro 1: Características das estruturas activas e potencialmente activas na área de estudo. Falha Orientação Cin. Comp. (km) Mag. (Richter) (1) -T. Vedras E W N 15 6,4 (2) - Arrife NE SW I 15 25 6,4-6,7 (3) - Bombarral NW SE - 10-15 6,2 6,4 (4) - Sabugo NNE SSW IE 12 6,3 (5) - Santarém NW SE - 25 6,7 (6) - Azambuja NE SW I 20 6,6 (7a) - V. F. Xira NE SW I >25 > 6,7 Norte (7b) - V. F. Xira Sul NE SW I 20 6,6 (8) - Pinhal Novo N S EI > 40 > 6,9 (9) - Benavente WNW ESSE - - 6,2 (10) - Gargalo E W DI 20 6,6 (11) - Ribª de NNW SSE - 13 6,4 Coina (12) - Ribª de Muge WNW ESSE - 7, 5. EXEMPLO DE ILUSTRAÇÃO Tem sido desenvolvido um trabalho de aferição de resultados do simulador de cenários sísmicos. Nas figuras 3 e 4 ilustram-se a título de exemplo, representação cartográfica de alguns elementos que traduzem as intensidades possíveis de ser geradas bem como os danos credíveis a elas associados. Figura 3: Representação gráfica das intensidades macrossísmicas calculadas para epicentros localizados ao longo da mesma estrutura sismogénica.
Maria ANDERSON, Sandra SERRANO, Carlos S. OLIVEIRA 507 Figura 4: Representação gráfica das estimativas de uma classe de danos no edificado, calculadas para epicentros localizados ao longo da mesma estrutura sismogénica. 6. AGRADECIMENTOS Agradece-se a todos os elementos das equipas que participaram na realização do Estudo do Risco Sísmico da AML, sem os quais não teria sido possível o desenvolvimento dos trabalhos que aqui parcialmente e resumidamente se descrevem. 7. BIBLIOGRAFIA Coelho, M. N.; Oliveira, C. S.; Rocha, F.; Vicêncio, H.; Vicente, G. (1999) O Risco Sísmico na Área Metropolitana de Lisboa e Concelhos Limítrofes, 4º Encontro Nacional de Sismologia e Engenharia Sísmica, Universidade do Algarve. Oliveira, C. S. (1998) Impacto Sísmico sobre a Área Metropolitana de Lisboa. Elementos para a sua Discussão, Revista Protecção Civil, Ano X, 2ª Série, nº 14, pp. 2-11. Riquito, L. F. (1997) Estudo do Risco Sísmico na Região de Lisboa, Revista Protecção Civil, Ano IX, 2ª Série, nº 13, pp. 27-31. Rocha, F., Serrano, S., Anderson, M., Oliveira, C. S. (2002) Seismic Studies and Emergency Planning for the Metropolitan Area of Lisbon, Oral presentation, 27 th General Assembly of the European Geophysical Society, Nice. Rocha, F., Oliveira, C. S. (2000) Seismic Risk Concerns and Policies of th Portuguese National Service for Civil Protection (SNPC) Poster, Belgirate, Novembro 2000. Rocha, F. (2002) Seismic Risk Studies in Portugal for Civil Protection, Seminar Civil Protection, Finland, Novembro 2002.
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