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Transcrição:

UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE - UNIVALE FACULDADE DE DIREITO, CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E ECONÔMICAS - FADE ALINE CHAVES SILVA EDILENE DOMINGOS DE SOUZA JACI FERREIRA RIBEIRO A TAXA DE LIXO NO MUNICÍPIO DE GOVERNADOR VALADARES/MG À LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Governador Valadares - MG 2008

ALINE CHAVES SILVA EDILENE DOMINGOS DE SOUZA JACI FERREIRA RIBEIRO A TAXA DE LIXO NO MUNICÍPIO DE GOVERNADOR VALADARES/MG À LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Monografia para obtenção do grau de bacharel em Direito, apresentada à Faculdade de Direito, Ciências Administrativas e Econômicas da Universidade Vale do Rio Doce. Orientador: Douglas G. Genelhu Governador Valadares MG 2008

ALINE CHAVES SILVA EDILENE DOMINGOS DE SOUZA JACI FERREIRA RIBEIRO A TAXA DE LIXO NO MUNICÍPIO DE GOVERNADOR VALADARES/MG À LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Monografia apresentada como requisito para obtenção do grau de bacharel em Direito pela Faculdade de Direito, Ciências Administrativas e Econômicas da Universidade Vale do Rio Doce Orientador: Douglas G. Genelhu Governador Valadares, de de. Banca Examinadora: Prof. Orientador Universidade Vale do Rio Doce Prof. Examinador Universidade Vale do Rio Doce Prof. Examinador Universidade Vale do Rio Doce

AGRADECIMENTO Agradeço aos meus amigos de verdade, Edilene e Jaci, que me fizeram chegar até aqui. Agradeço a Deus e aos meus grandes amigos e companheiros, Aline e Jaci.

RESUMO O poder de tributar conferido ao Estado deve atender a algumas limitações. Tais limitações advêm da obediência a preceitos e definições constitucionais e se dão quando da instituição de impostos, contribuições de melhoria e taxas. Somente respeitado o conceito de taxa torna-se passível sua instituição, que, no caso da taxa em razão da prestação de serviços, será instituída e cobrada pelo ente que presta a atividade. Portanto, para que o Município de Governador Valadares/MG possa instituir a taxa de lixo em razão da atividade de coleta, remoção, tratamento e destinação final do lixo é essencial que preencha os requisitos legais de especificidade e divisibilidade, descritos na definição constitucional. Do contrário, a instituição da taxa de lixo, por parte do poder municipal, será ilegal e inconstitucional. A inconstitucionalidade é o que se pode depurar ao analisar as características da atividade de coleta prestada por tal município, que não atende ao requisito de divisibilidade. Impossível a utilização do serviço de forma individualizada pelos moradores da cidade, impossível também mensurar a quantidade de lixo que cada usuário produz; daí advém apenas um dos fundamentos da inconstitucionalidade da taxa em questão. A cobrança não atende à relação custo x serviço prestado ou à disposição. Para fixação do quantum a ser pago pelo contribuinte, o município utilizou-se de base de cálculo própria de imposto, outro aspecto que torna a referida taxa inconstitucional. Há violação ao art. 145, 2º, da Carta Magna. E mais, a LC nº 87/06 faz incidir a cobrança da taxa aos proprietários de imóveis urbanos. Trata-se de incorreta sujeição passiva, pois, nem sempre são os reais usuários do serviço, o que realmente gera a obrigação de pagar ao indivíduo. Resta, assim, descaracterizada a qualidade de taxa, da forma ilegal como foi instituída pelo município, sendo, portanto, irregular sua cobrança. Palavras-chave: taxa de lixo inconstitucionalidade - base de cálculo imprópria indivisibilidade sujeição passiva incorreta

SUMÁRIO INTRODUÇÃO... 06 1 TRIBUTO: CONCEITO, PRINCÍPIOS E ESPÉCIES... 09 1.1CONCEITO DE TRIBUTO... 09 1.2 PRINCÍPIOS TRIBUTÁRIOS... 11 1.2.1 Princípio da Capacidade Contributiva... 11 1.2.2 Princípio da Vedação do Confisco... 12 1.2.3 Princípio da Igualdade ou Isonomia... 13 1.2.4 Princípio da Legalidade... 14 1.3 ESPÉCIES TRIBUTÁRIAS... 14 1.3.1 Impostos... 16 1.3.2 Contribuições de Melhoria... 17 1.3.3 Taxas... 19 1.3.3.1 Taxas de polícia... 21 1.3.3.2 Taxa de Serviço... 22 2 LEI COMPLEMENTAR Nº87/06 E SEUS DECRETOS... 25 2.1ASPECTOS LEGAIS DA LC nº 87/06: FATO GERADOR E BASE DE CÁLCULO... 26 2.1.1 Fato Gerador... 26 2.1.2 Base de cálculo... 30 2.2 SUJEIÇÃO PASSIVA... 32 2.3 DECRETOS 8.607/2007 E 8.634/2007... 32 2.3.1 Da concessão de descontos... 37 3 ANÁLISE DA LEI COMPLEMENTAR Nº 87/06 FRENTE A CF/88 E O CTN... 40 3.1 ESPECIFICIDADE E DIVISIBILIDADE... 41 3.1.1 Mensurabilidade e Isonomia... 45 3.2 BASE DE CÁLCULO IMPRÓPRIA... 47 3.3 SUJEIÇÃO PASSIVA REFERIBILIDADE... 54 3.3.1 Contribuinte e Responsável... 56 3.4ALTERAÇÕES NA LC nº 87/06 ATRAVÉS DE DECRETOS... 58 CONCLUSÃO... 60 REFERÊNCIAS... 62

6 INTRODUÇÃO Diante das discussões em todo o país acerca da cobrança de taxa de lixo pelos municípios, o presente estudo tem por fim analisar e demonstrar a inconstitucionalidade da Taxa de Resíduos Sólidos, mais vulgarmente conhecida como Taxa de Lixo, instituída pelo Município de Governador Valadares/MG, assinalando a ilegalidade de sua cobrança pelo poder público municipal. Para compreensão da instituição da taxa de lixo em Governador Valadares/MG necessário se faz um estudo no que se refere às instituições dessa espécie tributária (taxa), seu conceito, princípios e suas especificidades. A opção metodológica incide na vertente teórica caracterizada pelos aspectos conceituais, ideológicos e doutrinários. O tipo de pesquisa adotado refere-se ao descritivo compreensivo, e o procedimento, teórico, enfatizando levantamento bibliográfico, com ênfase em doutrina, jurisprudência, e demais fontes relacionadas ao tema. O trabalho está estruturado em três capítulos, de forma que, no primeiro capítulo far-se-á uma apresentação e explanação dos preceitos e definições, existentes na Constituição Federal vigente (CF/88 e no Código Tributário Nacional (CTN), acerca das espécies tributárias, das limitações quando da tributação e, mais especificamente, análise do conceito de taxa; o segundo capítulo trata da apresentação da Lei Complementar municipal, LC nº 87/06, apresentando o fato gerador, a base de cálculo utilizada para a cobrança e o sujeito passivo eleito pelo poder municipal para arcar com o ônus do pagamento. No terceiro capítulo, a análise é feita no sentido de apontar os aspectos falhos na forma como foi instituída a referida taxa frente a CF/88 e o CTN. Observar-se-á que, tal inconstitucionalidade se deve a três fatores: fixação da referida taxa utilizando base de cálculo imprópria, violação de requisito de divisibilidade exigido nessa espécie de tributo e sujeição passiva incorreta. O preceito constitucional inserido no artigo 145, II, da Constituição Federal de 1988 (CRFB/1988) traz a definição legal de taxa como sendo o tributo cobrado em razão de uma contraprestação realizada pelo contribuinte, seja por valer-se de uma atividade ou serviço estatal, específico e divisível, que lhe foi prestado ou, pelo menos, colocado à sua disposição; ou ainda em virtude do exercício do poder de polícia. E mais, o atual ordenamento jurídico, também no artigo 145 da CRFB/1988, em seu 2º, impõe que a espécie de tributo taxa não poderá ser instituída com a

7 mesma base de cálculo dos impostos, sob pena de se tributar duplamente idêntica situação fática. Diante do exposto e analisando os pressupostos jurídicos para a instituição da denominada Taxa de Lixo no Município de Governador Valadares/MG, observa-se que seus requisitos violam preceitos constitucionais inseridos no artigo acima descrito. Claramente, como taxa de serviço cobrada em razão de coleta e remoção de lixo de cada domicílio ou imóvel, a atuação do poder público municipal valadarense, nesse sentido, não atende às exigências da atual Constituição no que tange à utilização da base de cálculo imprópria, ou seja, utilização de critério já estabelecido na fixação do Imposto sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), tampouco no que diz respeito à divisibilidade exigida no serviço prestado pelo Ente Público para a espécie tributária em questão. Além do que, ao atribuir a cobrança da taxa ao proprietário de um imóvel urbano, a referida taxa não observou a real condição de usuário do serviço para fazer incidir a cobrança nele; ou seja, o real usuário do serviço nem sempre será o proprietário do referido imóvel, eleito pelo ente público como o obrigado ao pagamento, fazendo com que a sujeição passiva se torne incorreta. Detalhadamente, o estudo irá explanar que a mencionada taxa de lixo utilizase do critério de base de cálculo próprio do IPTU, qual seja, a área do imóvel pertencente ao contribuinte, e não o real custeio do serviço prestado ao mesmo. E, como já dito, tal utilização é vedada pela Carta Magna. Não há atendimento da referida taxa ao caráter contraprestacional dessa espécie tributária. Ao observar os requisitos de especificidade e divisibilidade próprios das taxas, aquele é obedecido quando na instituição da taxa de lixo em razão do município aparelhar-se para executar tal atividade (de coleta e remoção). Porém, quanto ao caráter divisível, não há meios de o ente público competente pela atividade atribuir a sua utilização isolada por cada usuário, sendo um serviço exercido na forma coletiva, impossibilitando a suspensão da atividade para um usuário, especificamente, e, além da impossibilidade de fruição de tal serviço, isoladamente, a incapacidade de mensurar o quanto foi ofertado a cada contribuinte, para que possa repartir as despesas de acordo com o uso, obtendo cobrança compatível com o serviço prestado a cada um, de acordo com o que cada usuário produziu de lixo.

8 Assim, resta violado o requisito de divisibilidade próprio das taxas, não tendo o município razão ao utilizar a área e localização do imóvel do usuário para instituir a base de cálculo da taxa de lixo. Portanto, violada a natureza divisível dessa espécie tributária, não refletindo a cobrança no custo da atividade estatal, utilizou-se base de cálculo própria de imposto, além se atribuição do ônus do pagamento a pessoa alheia ao serviço prestado. Descaracterizada a qualidade de taxa do objeto desse estudo, tem-se a mesma por inconstitucional.

9 1TRIBUTO: CONCEITO, PRINCÍPIOS E ESPÉCIES O Estado, para prestar serviços à sociedade, deve criar meios para organizála e mantê-la. O art. 3º da Constituição Federal (CF/88) determina os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: Art.3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I construir uma sociedade livre, justa e solidária; II garantir o desenvolvimento nacional; III erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV promover o bem de todos, sem preconceitos, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. O Estado busca maneiras de satisfazer as necessidades públicas por meio de sua atividade financeira, e um desses meios é através de arrecadação das receitas, ou seja, a utilização dos tributos, que é a fonte normal para que o Estado retire seus recursos a fim de intervir nos domínios econômicos, social e político. O autor Luiz Emygdio F. da Rosa Jr., em sua obra Manual de Direito Tributário e Direito Financeiro, diz: Os tributos são enquadrados na categoria de receita pública derivada porque decorrem do patrimônio do particular e são auferidas pelo Estado em decorrência de atividade em que age investido de sua soberania, sendo receitas obrigatórias. (1997, p.191) Assim, a instituição de tributos é uma forma de o Estado, diante do poder de soberania que detém, auferir receita em detrimento do patrimônio do particular, para a mantença das necessidades públicas dessa mesma sociedade. 1.1CONCEITO DE TRIBUTO A Lei Complementar n. 5.172/66, titulada como Código Tributário Nacional (CTN), em seu art.3, define tributos nos seguintes termos: Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sansão de ato ilícito,

10 instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Diante da definição do que seja tributo, observa-se que uma série de requisitos, ou características, devem ser constatados para que se tenha caracterizado o referido instituto. Tais características são de observância obrigatória em razão de proteção ao contribuinte no tocante ao poder estatal. Analisando a definição acima, tem-se que o caráter pecuniário do tributo é devido à prestação que somente se dá em moeda, ou seja, o contribuinte deve pagar o tributo em dinheiro (pecúnia). Ou seja, o crédito tributário deve ser satisfeito em moeda, mas, a legislação admite a dação em pagamento, mediante a entrega de bem imóvel (art. 156, XI, do CTN), já que aí o valor poderá ser expresso em moeda. O dever de prestar o tributo é imposto por lei, abstraída a vontade das partes que vão ocupar os pólos ativo e passivo da obrigação tributária, pondo-se, dessa forma, a compulsoriedade de tributo à voluntariedade de outras prestações pecuniárias. Ainda, o tributo não é, e nem pode ser, sansão de ato ilícito; paga-se o tributo pelo desenvolvimento normal das atividades que ensejam sua incidência: ser proprietário de um imóvel, de um automóvel, adquirir disponibilidade econômica ou jurídica de renda, prestar serviços, vender mercadorias, enfim, são fatos que desencadeiam a incidência da tributação, por estarem previstos na norma instituidora do tributo. Não se confundem, portanto, tributos com penalidades. O tributo é determinado por lei e não pela vontade das partes que irão figurar como credor e devedor da obrigação tributária. É necessário que a atividade de instituir tributo se efetue com plena observância ao princípio da legalidade. A cobrança do tributo deve ser feita através de agente público competente, este, por sua vez, não dispõe de flexibilidades relativas à conveniência ou oportunidade (ato administrativo discricionário), uma vez constatada a situação que desencadeie a incidência da norma tributária, deverá o agente aplicar a regra imediatamente (ato administrativo vinculado). Enquanto o Estado tem um direito ao crédito, o agente público tem um dever de constituí-lo. Quanto à natureza jurídica ou característica fundamental do tributo, numa de suas acepções mais comuns, é ser o objeto da relação jurídica obrigacional decorrente de lei. Ao contrário das obrigações privadas (civis e comerciais), onde

11 predomina a manifestação de vontade e o acordo entre as partes, a obrigação tributária, como vimos no próprio conceito de tributo, nasce ou surge a partir de uma situação estabelecida em lei, onde a vontade do contribuinte é irrelevante. jurídica: Márcio Severo Marques, em sua obra, conceitua tributo como sendo norma (...) podemos nos reportar a tributo como sendo norma jurídica, que disciplina a conduta consistente no dever jurídico de o particular entregar determinada quantia em dinheiro ao erário, na hipótese de realizar concretamente um a ação ou se encontrar materialmente em uma dada situação descrita em lei (...) como necessária e suficiente para dar nascimento à obrigação tributária. (2000, p.86) 1.2 PRINCÍPIOS TRIBUTÁRIOS Os princípios tributários são normas explícitas ou implícitas na Constituição Federal que limitam o poder de tributar. É forma de proteção ao contribuinte, limitando o poder estatal de empregar meios arbitrários à instituição e cobrança de tributos. Sobre esta limitação ao poder de tributar, o autor Aliomar Baleeiro traz o seguinte preceito: as limitações constitucionais ao poder de tributar são especiais manifestações dos direitos e garantias fundamentais do cidadão-contribuinte. (1997, p.35). Alguns princípios devem ser destacados, em razão da relevância para o estudo deste trabalho: 1.2.1 Princípio da Capacidade Contributiva O art.145, 1º da Constituição Federal, estabelece que: Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. Isso significa que, ao criar os impostos, o legislador deve levar em conta, sempre que possível, a situação particular de cada contribuinte, permitindo com isso

12 que seja realizada a justiça tributária ao não exigir imposto acima do suportável. O princípio da capacidade contributiva é realizado, por exemplo, no imposto de renda, onde existem alíquotas diferenciadas e se permitem várias deduções de acordo com a situação do contribuinte. Para Aliomar Baleeiro: O princípio fundamental, fonte principal de critérios discriminatórios, é o da capacidade contributiva(...), que recomenda a personalização do imposto e a sua graduação, segundo as possibilidades econômicas do contribuinte. (1997, p.520). O princípio da capacidade contributiva é observado com veemência nos impostos, vez que estes são estipulados em razão do patrimônio do contribuinte, da sua renda, ou seja, de critérios inerentes à pessoa obrigada ao pagamento. Já nas taxas e contribuições de melhoria, difícil se faz a incidência deste princípio em virtude da cobrança dessas espécies tributárias ensejar uma reparação, restituição, ressarcimento ao gasto do poder público ou valoração de imóvel 1. 1.2.2 Princípio da Vedação do Confisco A vedação do confisco no âmbito tributário está atrelada ao princípio da capacidade contributiva, impedindo que o tributo absorva parcela expressiva da renda ou do patrimônio dos contribuintes, sendo constatado, principalmente, pelo exame da alíquota e base de cálculo (art. 150, IV, da CF/88). 1 O princípio da capacidade contributiva é aplicável a todas as espécies tributárias. No tocante aos impostos, o princípio é aplicável em toda a sua extensão e efetividade. Já no caso dos tributos vinculados, que são as taxas e as contribuições de melhoria, é aplicável restritivamente, devendo ser respeitados apenas os limites que lhe dão os contornos inferior e superior, vedando a tributação do mínimo vital e a imposição tributária que tenha efeitos confiscatórios. Em relação às taxas o princípio da capacidade contributiva há de ter um tratamento específico, distinto do que há de ter no que pertine aos impostos. O fato gerador das taxas, como tributos vinculados que são, decorrem de uma atuação estatal específica e direcionada ao contribuinte, seja através da prestação de serviços ou do exercício do poder de polícia, sendo coerente que a dimensão do fato imponível seja a o valor gasto. Daí porque não se deve dimensionar a taxa conforme a capacidade contributiva de quem deve pagar. Isso não quer dizer que rigorosamente não observará esta norma constitucional. Todavia, a aplicação do princípio ficou à mercê do bom senso do Ente tributante competente para cobrar a referida exação.

13 No art.150, IV, da Lei Maior, temos o seguinte preceito: Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: utilizar tributo com efeito de confisco. Aliomar Baleeiro, a respeito do Princípio da Vedação do Confisco, tem os seguintes preceitos: Esse princípio é alinhado pela Carta Magna entre aqueles que configuram Limitações do Poder de Tributar (Seção II, art.150). É norma de restrição, endereçada primacialmente ao legislador ao legislador, o qual, ao instituir tributos, deverá graduá-los sem expropriar. (1997, p.570) ----------------- Tecnicamente, tributo e confisco não se confundem, mas o que no art.150,iv, da CF/88, se veda é que a lei regule o tributo de modo que ele gere os mesmos efeitos econômicos que o confisco geraria. (1997, p.573) 1.2.3 Princípio da Igualdade ou Isonomia A lei não poderá instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função exercida, como preceitua o art.150, II da Constituição Federal: Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos. O Estado poderá tratar diferentemente aos desiguais na exata proporção das desigualdades, observados os seguintes requisitos: razoabilidade da discriminação, baseada em diferenças efetivas; existência de objetivo que justifique a discriminação; nexo lógico entre o objetivo perseguido que permitirá alcançá-lo. Sobre este princípio, Aliomar Baleeiro diz: Não pode haver igualdade parcelada, justiça parcelada, pois a Constituição integra as suas partes distintas em um todo harmônico e coerente. Por isso mesmo, generalidade, capacidade contributiva (considerada proporcional ou progressivamente) e outros valores, ditados pela política econômica e social do País, são

14 desdobramentos de um mesmo e único princípio, o da igualdade. (1997, p.523) 1.2.4 Princípio da Legalidade Os tributos não poderão ser instituídos ou majorados, senão através de lei. A Constituição Federal limita o poder de tributar em seu art. 150, I: Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça. Assim preceitua Aliomar Baleeiro: O princípio da legalidade refere-se à lei tributária própria, estranha à lei orçamentária. É absolutamente independente e não se satisfaz com a inclusão de normas na lei orçamentária. (1997, p.47) É interessante relevar que o "princípio da legalidade" não aparece como um direito do Fisco, mas como limitação a sua ação. Em outras palavras, a legalidade, isto é, a produção de lei com todo o perfil da imposição bem definido, tipificado, sem generalidades ou abrangências convenientes ou coniventes, é uma garantia do contribuinte contra a voracidade fiscal. Importante ressaltar que, a própria CF/88, em seu art. 153, 1º, exclui do dever de observância do princípio da legalidade apenas os seguintes impostos: Imposto de Importação II; Imposto de Exportação IE; Imposto sobre Produtos Industrializados IPI; e Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Título ou Valores Mobiliários - IOF, em razão de possibilidade de alteração de suas alíquotas, atendidas as condições e os limites legais, pelo Poder Executivo. 1.3 ESPÉCIES TRIBUTÁRIAS O art. 5. do Código Tributário Nacional, bem como o art. 145 da Constituição Federal, elencam três espécies de tributos: impostos, taxas e contribuições de melhoria. No entanto, a própria Constituição disciplina, no Título XI - DA TRIBUTAÇÃO, outras duas modalidades ou espécies tributárias: empréstimos compulsórios e contribuições sociais. Assim, vem se generalizando o entendimento,

15 já consagrado pelo Supremo Tribunal Federal (RE 138.284, RE 146.733), de que existem cinco modalidades ou espécies de tributos, a saber: impostos, taxas, contribuições de melhoria, empréstimos compulsórios e contribuições sociais (especiais ou parafiscais). O Código Tributário Nacional, assim como fez através do conceito de tributo, consagra definições legais para as primeiras três espécies do gênero tributo. Nestes termos, encontramos nos artigos 16, 77 e 81 da lei de normas gerais do sistema tributário brasileiro (CTN) as seguintes definições: - Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, instituídos pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios UEDFM (arts.153, 154, 155 e 156 da CF/88). - Taxas, cobradas pelos mesmos entes políticos, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição (art.145,ii, da CF/88). - Contribuição de melhoria, também cobrada pela UEDFM, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado (art.145,iii, da CF/88). Pode-se registrar não ter o legislador constituinte, ou mesmo o da lei de normas gerais do Sistema Tributário Nacional (CTN), fixado de forma expressa definições ou conceitos para as duas últimas espécies de tributos (empréstimos compulsórios e contribuições sociais). Quanto a estes últimos, podemos distingui-los a partir dos seguintes traços caracterizadores: o empréstimo compulsório é tributo restituível e causal, instituível pela União, nas hipóteses arroladas no art.148 da CF/88 e a contribuição social conforme o art.149 da CF/88 apresenta destinação constitucional específica (para a seguridade social, para as corporações, para intervenção no domínio econômico, entre outros), também instituível pela União. Faremos uma explanação e explicação acerca do conceito e características referentes às três espécies tributárias definidas constitucionalmente: imposto, taxa e

16 contribuição de melhoria, por ser relevante a esse estudo a diferenciação acerca dessas três espécies tributárias. 1.3.1 Impostos Os impostos são tributos de caráter genérico, que independem de qualquer atividade ou serviço do poder público em relação ao contribuinte, cujo conceito está definido no art. 16 do CTN. Os impostos, portanto, são tributos não vinculados a uma atuação estatal específica, como veremos adiante ser característica das taxas. Importante ressaltar que, diante do exposto no art. 145, I, parágrafo 1.º, da CF/88, os impostos, sempre que possível, terão caráter pessoal e serão cobrados levando-se em conta a capacidade contributiva do particular. Esta espécie tributária está compreendida na competência privativa de cada ente público, com atribuições para instituição definidas na própria Constituição. Ou seja, é a CF/88 que delimita a competência para instituir impostos, quem será o sujeito ativo competente e quais os impostos relacionados a cada um desses entes, através do texto constitucional. O fato gerador do imposto é uma situação alheia a qualquer ato estatal, por exemplo, aquisição de renda, prestação de serviços, etc., que não supõe, nem conecta, com nenhuma atividade do Estado especificamente dirigida ao contribuinte, ou seja, para exigir imposto de certo indivíduo não é preciso que o Estado lhe preste algo determinado. A atuação do Estado dirigida a prover o bem comum beneficia o contribuinte, mas este frui das utilidades que o Estado fornece porque é membro da comunidade e não por ser contribuinte. Se o fato gerador do imposto não é um ato do Estado, ele deve configurar uma situação à qual o contribuinte se vincula. O legislador deve escolher determinadas situações materiais evidenciadoras de capacidade contributiva, tipificando-as como fatos geradores da obrigação tributária. As pessoas que se vinculam a essas situações assumem o dever jurídico de pagar o imposto em favor do Estado. Essa situação típica pode já estar esboçada na norma constitucional definidora da competência tributária (impostos nominados) ou não (impostos da competência residual e impostos de guerra).

17 Poderá ser o imposto direto ou indireto a depender de sobre quem venha a recair o ônus do pagamento do tributo. Se o tributo for pago pelo próprio contribuinte de direito (aquele que a lei atribui o encargo de calcular e recolher o tributo), fala-se em imposto direto (a exemplo do Imposto sobre Propriedade Territorial Urbana - IPTU, do Imposto de Renda Pessoa Física IRPF). Caso contrário, se o ônus do recolhimento do tributo for repassado pelo contribuinte de direito para outra pessoa, o chamado contribuinte de fato, identifica-se o tributo como indireto. São clássicos exemplos de imposto indireto o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS e o Imposto sobre Produtos Industrializados -IPI. Classificam-se esses tributos, ainda, como fixos ou variáveis. Fixos são aqueles cobrados a partir de um montante determinado que não se altera, independentemente do valor da mercadoria, serviço ou patrimônio tributado. Os variáveis, por seu turno, caracterizam-se pela fixação de uma alíquota incidente sobre uma base de cálculo, ainda que esta se altere. O imposto variável poderá ainda ser progressivo ou regressivo, caso a alíquota se eleve ou se reduza, respectivamente, em função da variação do valor da base de cálculo (art. 153, parágrafo 2.º, I, CF/88), cumprimento da função social da propriedade (art. 156, parágrafo 1.º, CF/88), ou produtividade rural (art. 153, parágrafo 4.º, CF/88). O imposto será considerado pessoal se a sua hipótese de incidência tiver como núcleo uma situação subjetiva do particular, como a variação de renda, por exemplo (IRPF). Cogita-se do imposto real, por sua vez, quando a incidência é indireta sobre a pessoa, adotando-se como base para a tributação uma situação relativa aos bens ou operação do contribuinte (IPTU, ICMS, etc.) 1.3.2 Contribuições de Melhoria A Contribuição de Melhoria é um instituto previsto na Constituição Federal em seu art. 145,III, que dá poderes à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para que estes possam instituí-la através de construção de obras públicas que acarrete valorização imobiliária ao patrimônio do particular. Sob este aspecto, o Código Tributário Nacional prescreve: Art.81. A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo de

18 obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado. Existem três elementos ínsitos ao fato gerador dessa espécie de tributo: a) a realização de obra pública, sendo que a cobrança tributária só é possível após a concretização da obra, sendo vedado ao Estado realizar uma obra pública pela metade e exigir de pronto a contribuição de melhoria, até porque, nessa hipótese, não haverá valorização, face à existência incompleta da obra. b) a valorização, de fato, pois, apenas a obra não é suficiente, já que existem obras públicas que ao invés de valorizar, acabam mesmo por acarretar a desvalorização do imóvel. c) que a valorização ocorra sobre bens imóveis. O núcleo da hipótese de incidência é a valorização imobiliária, desta forma, é ilegal a conduta de determinados entes federados ao lançar a contribuição de melhoria apenas com base no custo da obra. Assim, o poder público realiza a obra, tal obra valoriza o imóvel do agora contribuinte, e, em razão da valorização, o ente competente que realizou a construção poderá instituir a espécie tributária, na proporção da valorização. Então, a base de cálculo da contribuição de melhoria, segundo parte da doutrina pátria, é o quantum de valorização imobiliária. O valor a se pagar a título de contribuição de melhoria corresponde ao quantum de valorização do imóvel, adotando-se a concepção clássica de que a base de cálculo da contribuição de melhoria seria a diferença entre o valor do imóvel antes e o valor do imóvel depois de realizada a obra pública, devendo ser aplicada uma alíquota sobre essa base. Portanto, a contribuição de melhoria é um tipo de tributo que tem por hipótese de incidência uma atuação estatal indiretamente referida ao contribuinte, porque assim, preceitua o art.145,iii, da CF/88: A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas. Essa atuação estatal só pode consistir à partir de uma obra pública que realmente causa valorização dos imóveis localizados em suas imediações.

19 O art.81 do CTN também preceitua sobre a determinação da natureza específica dessa espécie tributária, o referencial a ser tomado, que é o da análise do conteúdo da materialidade do seu fato gerador: Art.81. A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada, e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado. A base de cálculo deste tributo é diferenciada dos demais, pois não se trata de imposto, nem tampouco taxa. A Constituição autorizou, na mesma medida, a criação de impostos, taxas e contribuições de melhoria. A hipótese de incidência da contribuição de melhoria não é ser proprietário de imóvel urbano ou rural, mas a realização de obra pública que valoriza o imóvel, urbano ou rural. A base de cálculo será o quantum da valoração que a obra pública proporcionou ao imóvel, e não o valor deste. Para verificarmos se determinada obrigação tributária é contribuição de melhoria, é necessária uma análise acerca do art.3º c/c arts. 4º ao 81 do CTN. 1.3.3 Taxas Federal: A taxa, como espécie de tributo, está prevista no art.145, II, da Constituição A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: I - pelo exercício regular do poder de polícia; II - em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestando ao contribuinte ou postos a sua disposição; A taxa é o tributo cobrado de alguém que se utiliza de serviço público especial, de caráter administrativo ou jurisdicional, ou o tem à sua disposição; Quando provoca em seu benefício, por ato seu ou não, despesa especial dos cofres públicos. Podem ser cobradas pelo exercício do poder de polícia ou pela utilização de serviços públicos por parte da população. É, portanto, tributo vinculado.

20 E mais, as taxas não podem ter base de cálculo idêntica a dos impostos. É o que conceitua o 2º do art.145 da CF/88: As taxas não poderão ter base de cálculo própria de impostos. Em conformidade com o 2º do art.145 da CF/88, está o art.77, parágrafo único do CTN: Art 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição. Parágrafo único: A taxa não pode ter base de cálculo ou fato gerador idêntico aos que correspondam a imposto, nem ser calculada em função do capital das empresas. É expressa a proibição pela CF/88 de que as taxas tenham base de cálculo própria de impostos. O CTN também traz tal vedação, seguindo o preceito da Lei Maior, e mais, veda sejam calculadas em virtude do capital das empresas. A taxa tem por hipótese de incidência sempre uma atividade estatal diretamente dirigida ao contribuinte (vinculação), sendo que sua base de cálculo deverá exibir a cobrança na medida da intensidade da participação estatal. É importante a análise da diferenciação entre taxa e preço público (tarifa), que muitas vezes são confundidas. Enquanto a taxa cria apenas uma relação jurídica do Poder Público para com o usuário, os preços públicos criam duas relações jurídicas, a do Poder Público com a concessionária ou permissionária do serviço público e destas com o usuário. Taxa tem o regime jurídico tributário (legal) de direito público, tem como característica a compulsoriedade, não havendo autonomia de vontade, não admitindo rescisão, podendo ser cobrada pela utilização potencial do serviço. A taxa está sujeita aos princípios tributários. Já preço público ou tarifa tem regime jurídico contratual, de direito privado, decorre de autonomia de vontade do usuário, admite rescisão, só a utilização efetiva enseja a cobrança e o pagamento é proporcional à utilização, não estando sujeita aos princípios tributários. Sobre a diferença entre a taxa e preço público o Supremo Tribunal Federal (STF), através da súmula nº545, estabeleceu o seguinte critério:

21 Preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque estas, diferentemente daqueles, são compulsórias e têm sua cobrança condicionada a prévia autorização orçamentária, em relação à lei que as instituiu. Neste trecho, o STF estabeleceu o critério de diferença entre taxa e preço público como sendo a compulsoriedade e o caráter legal, no tocante a compulsoriedade e a cobrança condicionada a prévia autorização orçamentária, em relação à lei que instituiu a taxa, quando, para a criação da tarifa, não depender disso. Conforme já mencionado, existem duas espécies de taxa: a taxa de polícia e a taxa de serviço. 1.3.3.1 Taxas de polícia Essa espécie de taxa é cobrada pelo exercício regular do poder de polícia pela autoridade competente, e está definida no art.78 do CTN, quando trata do que seja poder de polícia e o seu exercício regular: Art.78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou de fato, em razão de interesse público concernente à segurança à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. Parágrafo único: Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder. Não é o simples ato do Poder de Polícia que enseja a cobrança da taxa de polícia, mas o que se consubstancia num agir concreto e específico da Administração, praticado com base em lei, que levanta uma abstenção ou que os mantém ou fiscaliza uma exceção já existente. Ou seja, tal cobrança dependerá do desempenho efetivo da atividade dirigida ao administrado. Os agentes públicos desempenham atividades, como verificações, perícias, entre outros, como condição ou preparo do ato propriamente de polícia, consistente em autorizar, licenciar,

22 homologar, etc. Estas atividades criam a hipótese de incidência da taxa, são elas que justificam a cobrança dessa espécie de taxa. 1.3.3.2 Taxa de Serviço Taxa de serviço é o tipo de tributo que tem por incidência uma prestação de serviço público diretamente referido a alguém. Não é qualquer serviço, tem que ser específico e divisível, conforme preceitua a 2ª parte do inciso II, do art.145 da CF/88:... pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição. A disponibilidade que autoriza a tributação por via de taxa de serviço há de ser direta e imediata, e não difusa. Se o serviço público estiver à disposição de todos, mas não diretamente do contribuinte, ou, ainda que à disposição direta deste, a taxa não poderá ser exigida. O CTN (art.79) explica o que venha a ser serviço específico e divisível, e a diferença entre utilização efetiva e potencial: Os serviços públicos a que se refere o artigo 77 consideram-se: I - utilizados pelo contribuinte: a) efetivamente, quando por ele usufruídos a qualquer título; b) potencialmente, quando, sendo de utilização compulsória, sejam postos à sua disposição mediante atividade administrativa em efetivo funcionamento; II - específicos, quando possam ser destacados em unidades autônomas de intervenção, de unidade, ou de necessidades públicas; III - divisíveis, quando suscetíveis de utilização, separadamente, por parte de cada um dos seus usuários. A utilização efetiva ocorre quando o serviço de fato é utilizado pelo contribuinte, enquanto a utilização potencial, mesmo quando não utilizado efetivamente o serviço, considera-se potencialmente utilizado pelo contribuinte, em razão do caráter compulsório da prestação do referido serviço. Sobre a utilização potencial, Aliomar Baleeiro tem o seguinte conceito: O indivíduo racional quer e pede todos os serviços propícios à higiene, à saúde pública, à incolumidade própria, da família ou de terceiros etc. Mas, se irracionalmente os recusa ou os negligência, a lei pode obrigá-lo ao uso de tais serviços, até no interesse da coletividade. Certos serviços trazem vantagem pela sua existência

23 mesmo, na previsão de que possam ser dispensáveis numa emergência, como os de combate ao incêndio, o de ambulâncias de pronto-socorro etc. Se permanecem de prontidão, noite e dia, representam vantagem efetiva para quem pode dispor deles numa vicissitude, que pende sobre a cabeça de todos. O custo seria esmagador se fosse cobrado de cada um que a eles tivesse de recorrer. Cobrado pelo uso potencial, assemelha-se a um seguro ou previdência contra o risco certo quanto à probabilidade e incerto quanto à pessoa que vá sofrê-lo.(1992, p.352). Serviço específico é quando puderem os mesmos serem destacados em unidade autônomas de atuação da administração, ou seja, quando o contribuinte sabe exatamente por qual atividade estatal específica ele está pagando o tributo. Na lição de Roque Antonio Carrazza: Os serviços públicos específicos, também chamados singulares, são os prestados uti singuli. Referem-se a uma pessoa ou a um número determinado de pessoas, são de utilização individual e mensurável (...). (1998, p.327). Já o requisito da divisibilidade trata da possibilidade de avaliar-se a utilização efetiva ou potencial individualmente considerada. O contribuinte goza, de forma isolada, de um serviço prestado pela administração pública, sendo tal serviço cobrado proporcionalmente à utilização. Aliomar Baleeiro descreveu sobre a divisibilidade da taxa de serviço público, nas seguintes palavras: é divisível quando possa ser utilizado em condições tais que se apure a utilização individual pelo usuário. (1992, p.351). O autor Luciano Amaro evidencia a questão da divisibilidade: (...)no caso dos serviços que ensejam a cobrança de taxa, sua necessária divisibilidade pressupõe que o Estado os destaque ou os especialize, segregando-os do conjunto de suas tarefas, para a eles vincular a cobrança de taxas. A partir do momento em que o Estado se aparelha para executar o serviço, está atendida a exigência de especificação. Se (específico embora) o serviço for indivisível, descabe taxá-lo; se divisível, a taxa pode ser instituída. Ou seja, o que importa é a divisibilidade, e não a especificidade do serviço.(2007, p.34) A própria Constituição determina que as taxas sejam o instrumento tributário de custeio direto dos serviços públicos, e no caso da taxa de serviço especificamente, que elas tratem não apenas de serviços específicos, mas também divisíveis.

24 Diante do exposto, têm-se as seguintes conseqüências do caráter signalagmático das taxas: sempre a hipótese das taxas configurará uma atuação do Estado, realizada em razão de interesse público e referente diretamente ao obrigado. O núcleo da hipótese é assim o atuar do ente estatal relacionado ao obrigado, que sofre aquela atuação. As pessoas que integram o aspecto pessoal da hipótese são, de uma lado, o Estado, e de outro, o obrigado ou pessoa que sofre a ação do Estado. Ainda, a norma legal somente poderá eleger como sujeito ativo a mesma pessoa estatal que realiza o serviço ou exerce o poder de polícia (para os quais é competente) e, como contribuinte, a pessoa que se beneficiou do exercício do poder de polícia, do serviço prestado ou colocado à disposição, caso obrigatório. E mais, reflete-se ainda o caráter sinalagmático na base de cálculo das taxas, a qual deve mensurar o custo da atuação do Estado, proporcionalmente a cada obrigado, daí tem-se caracterizada a divisibilidade. A cobrança da taxa não deve variar em função de coisa própria do contribuinte, fato estranho e alheio à atividade realmente prestada, ao custo desta. Taxas que elegem base de cálculo diversa do custo da atuação estatal relativa ao contribuinte (valor do imóvel, do veículo, valor da causa, valor da obra, etc.) são impostos disfarçados, em regra instituídos contra as normas da Constituição. Para finalizar, a taxa de serviço público deve ser prestada ao contribuinte, ou o serviço deve estar à disposição deste. Isso significa que, o sujeito passivo da taxa já está predefinido na própria conceituação da espécie tributária, ou seja, a definição somente permite a cobrança incidente sobre quem realmente é o usuário do serviço prestado. Há uma relação pessoal e direta do contribuinte com o fato gerador da taxa.

25 2 LEI COMPLEMENTAR Nº87/06 E SEUS DECRETOS Afigura-se preocupante para toda a sociedade valadarense a discussão a respeito da natureza jurídica e da legalidade da Taxa de Coleta de Resíduos Sólidos Urbanos TRS, instituída pelo Município de Governador Valadares, através da Lei Complementar nº 87/06. Partindo da premissa de que a natureza jurídica dos valores cobrados por aqueles serviços (coletas) é de taxa e, por conseguinte, sendo a taxa uma espécie do gênero tributo, devendo se sujeitar às normas jurídicas de direito tributário, tais direitos não têm sido respeitados, configurando a inconstitucionalidade e ilegalidade de sua cobrança pela prefeitura de Governador Valadares. Para tanto, faremos uma explanação do que trata a respectiva taxa, apontando os aspectos materiais, formais, temporais. Conforme já apresentado, a CF/88 (art. 145, II e 2 c/c art. 5, caput, e art. 150, I, II, III e IV) e o CTN (art. 77, caput e parágrafo único c/c art. 9, I ) definem taxa como espécie de tributo que não deve ter mesma base de cálculo de impostos e deve possuir como hipótese de incidência a utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos à sua disposição (no caso, de taxa de serviço), sujeitando-se aos princípios constitucionais da estrita legalidade, da igualdade tributária, da anterioridade, da irretroatividade e da vedação de confisco, dentre outros. Analisando os aspectos legais e a natureza jurídica da TRS cobrada pelo Município de Governador Valadares/MG, com fulcro na Lei Complementar N 087, de 26 de fevereiro de 2006 e seus decretos, e sancionada pelo Prefeito Municipal de Governador Valadares, traçaremos nesse capítulo breves considerações e delimitaremos alguns conceitos base que servem de premissa sobre as quais têm pairado grandes discussões no seio da comunidade jurídica não só valadarense, mas nacional, a fim obter a declaração de inconstitucionalidade dessa cobrança, que tem se tornado um tormento em muitos municípios brasileiros. Descreveremos a aplicação errônea dos conceitos de base de cálculo, sujeito passivo e fato gerador nesta malfadada lei mineira, fazendo uma breve incursão nos preceitos constitucionais tributários, a fim de traçarmos a regra-matriz da referida taxa, cotejando, de forma detalhada, todos os critérios da hipótese (critérios material,

26 espacial e temporal) e do conseqüente critério pessoal (sujeito ativo e sujeito passivo) e critério quantitativo (base de cálculo). Conforme apresentado no primeiro capítulo, depreende-se que o direito tributário positivo vigente prevê duas espécies de taxas: as cobradas pela prestação de serviços públicos e as cobradas em relação ao exercício do poder de polícia. Sabe-se também que, idéia de contra-prestacionalidade, num ou noutro caso, funciona como fator distintivo entre taxas e impostos. Pois bem. As taxas têm o seu fato gerador vinculado a uma atividade estatal específica, relativa ao contribuinte. Entre os fatos geradores da taxa, o oriundo do poder de polícia não tem relevância no caso da análise da TRS, é a cobrada pela prestação de serviço público que seja específico e divisível que nos interessa analisar. 2.1 ASPECTOS LEGAIS DA LC nº 87/06: FATO GERADOR E BASE DE CÁLCULO 2.1.1 Fato Gerador A CF/88, em seu art. 145, II, é bem clara quando assevera que taxa é o tributo exigido em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição. Em desrespeito ao conceito acima mencionado, muitos municípios brasileiros, incluindo Governador Valadares, atualmente vêm exigindo o pagamento dessa taxa, objetivando com isso, o aumento da arrecadação fiscal, gerando assim, receita para o custeio de variados gastos. Deve-se ter em mente, porém, que, como expresso no conceito trazido pela Carta Magna, a taxa deverá recair tão somente sobre serviços públicos específicos e divisíveis, isto porque a taxa é o tributo que tem sua razão de ser na contraprestação realizada pelo contribuinte em razão de serviço prestado pelo ente público ou colocado à disposição daquele. É o que acontece, por exemplo, quando se paga pelo fornecimento de certidões, pela prestação de atividade jurisdicional (custas processuais), ou quando se deseja obter licença para localização de estabelecimento comercial ou industrial em uma cidade.

27 Dispõe a Constituição Federal, em seu artigo 18, que: A organização políticoadministrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. Dentre o rol de competências dos municípios descritos no art. 30 da Carta Magna destaca-se o de "legislar sobre assuntos de interesse local" (inciso I), e a de "organizar e prestar diretamente, ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local" (inciso V). Idêntica norma é consagrada no artigo 170, inciso VI, da Constituição do Estado de Minas Gerais: Art. 170 - A autonomia do Município se configura no exercício de competência privativa, especialmente: [...] VI - organização e prestação de serviços públicos de interesse local, diretamente ou sob regime de concessão,permissão ou autorização, incluído o transporte coletivo de passageiros, que tem caráter essencial. Parágrafo único - No exercício da competência de que trata este artigo, o Município observará a norma geral respectiva, federal ou estadual. Assim, legitimamente competente, diante da prestação de tal serviço, o Município de Governador Valadares procedeu à edição da LC nº87/06 que trata em seu texto, primeiramente, da definição da Taxa de Resíduos Sólidos Urbanos: Art. 1º Fica instituída a Taxa de Coleta de Resíduos Sólidos e Urbanos TRS, destinado ao custeio dos serviços divisíveis de coleta, transporte, tratamento e destinação final de resíduos sólidos, de fruição obrigatória, prestados ou postos à disposição, em regime público, nos limites do Município de Governador Valadares. Art. 2º Constitui fato gerador da TRS a utilização efetiva ou potencial do serviço público de coleta, transporte, tratamento e disposição final de resíduos sólidos, prestados ao contribuinte ou posto à sua disposição diretamente pelo Município, por empresa contratada ou mediante concessão. Perante a competência municipal constitucionalmente definida, a Câmara Municipal de Governador Valadares editou a lei complementar n. 087 de 2006 que regulamenta, também, a definição de resíduos sólidos. Assim dispõe o texto legal citado: Art. 2º. (...)