A COMEMORAÇÃO DO DIA INTERNACIONAL DA MULHER NAS ESCOLAS DE EDUCAÇÃO BÁSICA: PROBLEMATIZAÇÕES A PARTIR DE PRODUÇÕES ESTÉTICAS DOS/AS ESTUDANTES

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Transcrição:

A COMEMORAÇÃO DO DIA INTERNACIONAL DA MULHER NAS ESCOLAS DE EDUCAÇÃO BÁSICA: PROBLEMATIZAÇÕES A PARTIR DE PRODUÇÕES ESTÉTICAS DOS/AS ESTUDANTES Resumo Lucas Alves Lima Barbosa 1 Silmara Aparecida dos Santos 2 Questões e inquietações acerca do universo feminino estão cada vez mais presentes ao nosso redor. Tais discursos ganham maior ênfase próximo ao Dia Internacional da Mulher, 08 de março. Manifestações, intervenções artísticas, ações públicas, homenagens, e textos multiplicam-se intensamente nesse dia tão simbólico. Ruas, praças, teatros, escolas, entre outros, são ocupados com a finalidade de levantar questionamentos em relação às complexidades que envolvem o Dia da Mulher. Sendo assim, diante de vários discursos que (des) constroem verdades, que muito tem a nos dizer e possibilitam inúmeras discussões, que problematizaremos algumas produções de estudantes realizadas em uma escola pública de Minas Gerais a fim de comemorar o dia 08 de março. Palavras-chave: Dia da Mulher; problematizações; relações de gênero. Introdução Cada vez mais, no Brasil e no mundo, as mulheres e tudo que envolve o seu universo são alvo de discussões e problematizações. Essas discussões progressivamente estão conquistando os mais variados espaços, seja nas ruas, nas praças, igrejas, redes sociais, escolas, entre outros. Esses espaços se configuram como campos de lutas e também de produção de saberes, isto é, um meio em que circulam inúmeros discursos repletos de verdades (FOUCAULT, 2004). Há (des) construção de discursos que estão carregados de significados e representatividade que muito tem a nos dizer e que transitam por contextos históricos, sociais e culturais. O discurso, não apenas classifica, divide, mas também é algo produtivo. O discurso faz, incita, produz sujeitos. Por meio dele os sujeitos vão se fabricando, se construindo, a partir dele se fazem formas de ser e de estar no mundo, formas de falar, de agir, condutas e 1 Mestre em Educação pela Universidade Federal de Lavras. Professor da rede pública de ensino de Minas Gerais. lucaslima_62@hotmail.com 2 Mestre em Educação pela Universidade Federal de Lavras. Professora da rede pública de ensino de Minas Gerais. silmarasantos93@gmail.com

posturas apropriadas e até mesmo maneiras de se pensar (LOURO, 1997). O discurso faz mais que parte dos sujeitos ele o constitui. A escola é um lugar em que a produção de saberes está presente diariamente e, nela também se produz discursos. Discursos que transitam por diferentes temáticas que expressam perspectivas, possibilitando interpretações e problematizações. E é justamente esse o objetivo da elaboração deste trabalho, que a partir dos pressupostos apresentados até o momento, tem como finalidade levantar discussões a partir dos vários discursos que (des) constroem verdades, problematizando especificamente algumas produções realizadas por estudantes em uma escola pública de Minas Gerais com o propósito de celebrar o dia 08 de março - Dia Internacional da Mulher. Para auxiliar na problematização, o referencial teórico será fundamentado em pesquisadores e pesquisadoras como Foucault, 1996; Louro, 1997; entre outros/as. As discussões nos permitem levantar indagações como: quem diz? Quem está autorizado a dizer? Onde pode ou deve ser dito? Essas e outras instigações serão enfatizadas na tentativa de provocar a (re) pensar nos discursos elaborados que fabricam verdades e saberes que permitem refletir sobre as relações de gênero, sobre o contexto em que são produzidas e, até mesmo a pensar no que está sendo dito e também silenciado. Gênero: a historicidade imbricada no contexto Atualmente, as mulheres são reconhecidas enquanto indivíduos que fazem parte e contribuem para o meio social, mas nem sempre foi assim. O sexo feminino era considerado o sexo frágil, ou seja, oposto ao sexo forte os homens. As mulheres eram apenas percebidas como objeto para a procriação, somente para trazer novos sujeitos a sociedade e, assim, aumentar a mão de obra e a produtividade. Não sendo considerada sujeito, a mulher não tinha seus direitos básicos garantidos. Não podiam votar e menos ainda trabalhar. Sua principal e única função era cuidar dos filhos, do marido e da casa, sendo, portanto, uma mulher para casar (LOURO, 1997). Diante disso, a mulher que ousasse resistir a essa ordem natural era julgada por toda a sociedade, podendo ser excluída do meio social e muitas vezes abandonada em conventos para que pudesse recobrar o juízo. Mas, houve resistência! Houve quem resistisse. Resistir na concepção foucaultiana (2004), não significa somente estar em oposição, ir contra, dizer simplesmente não. O conceito navega pelas relações de poder, pelo criar e recriar como possibilidades para as transformações. É nesse campo das resistências que enfatizamos as relações de gênero repletas de contradições, de lutas por direitos; um resistir que passou

também por protestos, marchas, mobilizações que criaram novos olhares, novas maneiras de ver e perceber o mundo e, recriaram outras possibilidades de se compreender homens e mulheres e os espaços ocupados por eles e elas. Entretanto, resistir não foi e continua não sendo tarefa fácil; é imensamente difícil ir em direção oposta aos determinismos que circulam como é assim que tem que ser, as coisas são assim e não podem ser diferentes ; resistir é mostrar, é fazer, é dizer, sim, pode ser diferente e não, conforme diz Foucault, unicamente uma negação. Compreendo que a resistência não é unicamente uma negação. Ela é um processo de criação. Criar e recriar, transformar a situação, participar ativamente do processo, isso é resistir (FOUCAULT, 2004, p. 17). E foram muitas as mulheres que resistiram! Mulheres que foram as ruas gritarem e lutarem por seus direitos, por reconhecimento enquanto indivíduo imerso em meio social, por igualdade. Esta luta representou e representa ainda nos dias atuais inúmeras conquistas para o campo feminino. Mulheres passaram a trabalhar, a votar, a sair do espaço do privado, considerado como a casa onde era permitido estar e a ocuparem o público (empresas, bares, praças, escolas, faculdades, entre outros) (LOURO, 1997). Entretanto, essas conquistas possuem uma história que precisa ser levada em consideração. O que fortaleceu a luta por direitos e igualdade para as mulheres foi o Movimento Feminista 3 que desencadeou diversas ações em prol de uma sociedade mais igualitária para homens e mulheres. A primeira das ações foi o que historicamente é chamado de o Sufragismo - que passou a ser reconhecido como a primeira onda do feminismo. A segunda onda aquela que se inicia na década de 1960 que o feminismo, além das preocupações sociais e políticas, irá se voltar para as construções teóricas (LOURO, 1997). A década de 60 pode ser considerada como a década das revoluções, e revolução no sentido de construção de uma nova história, ou melhor, de outra história, de outra forma de ver o mundo, marcada por marchas, protestos públicos, conscientização e mobilizações; uma luta por direitos iguais. A luta por um lugar onde não se reconhecesse somente homens como parte de uma sociedade, mas homens e mulheres. Mulheres essas não só como reprodutoras, donas de casa, mães, mas também como alguém que trabalha, que escreve, que vota, enfim, 3 O feminismo designa uma perspectiva política apoiando-se na convicção que as mulheres sofrem uma injustiça específica e sistemática enquanto mulher, e que é possível e necessário acabar com essa injustiça com lutas individuais e coletivas. Se o feminismo, enquanto discurso, tem raízes históricas antigas (Sec. XV) é só a partir do séc. XIX que ele se estrutura politicamente. O que é comumente chamado de feminismo da segunda onda corresponde às lutas dos anos sessenta que denunciaram o lado político de questões consideradas até então como privadas: contracepção, aborto, sexualidade, casamento. A primeira onda corresponde às lutas pelo voto e à educação do início do século XX (KOVALESKI; TORTATO; CARVALHO, 2011, p. 50).

como alguém que faz parte de uma sociedade e não que vive à sombra de um domínio, de uma repressão, de uma opressão, mas que tenta no exercício das resistências ser dona dos seus desejos, anseios e medos. Aquela que fora silenciada e ocultada passava a ter voz, a falar e principalmente a escrever na primeira pessoa. As mulheres começavam a fazer parte de lugares antes jamais imaginados como a academia; mulheres estavam ocupando o universo acadêmico trazendo novas pesquisas, novos estudos nas áreas de Antropologia, Sociologia, Educação, Literatura, tendo como tema central a mulher, o cotidiano, a sexualidade, a família, enfim, temas que não constituíam o mundo acadêmico estavam sendo propostos pela presença feminina nas artes, nas letras, nas ciências (LOURO, 1997). Diante disso, dessa ocupação de novos espaços, desse embaralhar de funções começou-se então a problematizar, a discutir, a falar sobre o que mais tarde seria reconhecido como o conceito de gênero. Gênero: uma construção sócia histórica As relações pré-estabelecidas socialmente entre homens e mulheres começam a ser expostas e discutidas profundamente no séc. XIX. Entretanto, no séc. XX ganham ampla proporção e destaque explicitando questões relacionadas ao corpo e a sexualidade que eram evitadas no contexto social. Essas questões foram abordadas na segunda onda do feminismo, que também foi o momento que o conceito de gênero passou a ser expresso com o sentido aproximado de como é entendido atualmente. Bereni et al. (2008 apud KOVALESKI; TORTATO; CARVALHO, 2011, p. 50) explicita qual a originalidade do conceito de gênero: O que faz a originalidade do gênero [...] é que ele permite apreender o social como uma parte autônoma dotada de uma causalidade própria irredutível às leis biológicas. Essa desnaturalização é uma questão política principal: se a invocação da natureza serve sempre a justificar as desigualdades, a colocação da história em destaque contribui ao contrário, a tornar essas desigualdades mais arbitrárias [...] e facilita o seu questionamento. Gênero é tema de pesquisas de diversos pesquisadores e pesquisadoras. Progressivamente, juntamente com as mudanças da/na sociedade se faz necessário modificar as concepções sobre determinados assuntos, uma vez que é preciso atualizar as perspectivas de acordo com o meio em que está inserido, para que assim, tenha sentido real e representativo. Tal prerrogativa está sendo afirmada aqui, pois a concepção de gênero sofreu e está sofrendo transformações. Há uma ampliação que torna o conceito de gênero mais abrangente e significado, tirando, portanto, a noção simplista relacionada apenas ao homem e

mulher. Os estudos de gênero exigem uma abordagem multidisciplinar (YANNOULAS; VALLEJOS e LENARDUZZI (2000, p. 429). Apesar da ampla possibilidade de discussão acerca do conceito de gênero, atentandose ao limite deste trabalho, não exploraremos mais este conceito, mas deixamos aqui uma breve noção e concepção sobre este tema que ainda se configura como sendo tão enigmático no contexto social. Ressaltamos, a partir do conceito explicitado aqui, a importância da luta do movimento feminista e da conquista que mulheres tiveram e continuam tendo em vários âmbitos. O uso da palavra gênero, como já dissemos, tem uma história que é tributária de movimentos sociais de mulheres, feministas, gays e lésbicas. Tem uma trajetória que acompanha a luta por direitos civis, direitos humanos, enfim, igualdade e respeito (PEDRO, 2005, p. 78). 08 de março: problematizando discursos Desde a institucionalização desta data como o dia para celebrar a existência das mulheres, inúmeros discursos são produzidos e veiculados nos mais variados espaços e meios. Diversas vezes esses discursos (re) produzem estereótipos e noções preconceituosas sobre as mulheres. Especificamente aqui, iremos problematizar alguns trabalhos elaborados por estudantes de uma escola pública de Minas Gerais. Ressaltamos de antemão, que não temos a intenção de estabelecer interpretações fixas, mas de levantar questionamentos a fim de analisar e problematizar os discursos que engendram saberes e verdades. Figura 1 - Deus criou a mulher de uma costela de um osso torto. Se procurares endireita-la, quebrará. Tenham, pois, paciência com as mulheres. A primeira figura elabora pelos/as estudantes, nos permite algumas reflexões. Uma delas é pensar na imagem que está sendo veiculada neste cartaz. Quem são as mulheres representadas nas imagens? Quais os contextos que elas ocupam? O que está sendo dito? O

que não está sendo dito? Primeiramente, são mulheres brancas, que representam uma heterogeneidade padrão que circula no contexto social. E consequentemente, ao se colocar somente mulheres brancas, exclui outros tipos de mulheres. É importante ressaltar que essas imagens foram tiradas de revistas, que se configuram enquanto artefato cultural e, sendo assim, possui significados que explicita sua produção e seu contexto. Segunda reflexão possível, é o enunciado construído. Ao dar a entender que a mulher saiu da costela de um homem, que sua criação divina aconteceu ao retirar parte do corpo de um homem, a mulher é um ser inerentemente inferior e, a narrativa afirma que jamais poderá ser superior, assim, é preciso ter paciência, uma vez que sua natureza é imutável. Figura 2 - É no doar-se aos outros que a mulher encontra sua verdadeira vocação. Complementando a discussão apresentada até o momento, a figura 2 permite outras interpretações. Nesta produção estética, os estudantes elaboraram um enunciado que expressa concepções que já foram explicitadas neste trabalho. A ideia de que a mulher é um ser que está imersa na sociedade como uma espécie de indivíduo que nasceu para doar-se infinitamente, independentemente de qualquer circunstância. Aqui, podemos compreender o ideal de mulher baseada nos aspectos do séc. XVII, em que era percebida apenas como objeto para casar, reproduzir e cuidar dos filhos e maridos. Essas atividades eram/são determinadas ainda hoje como vocação, isto é, algo do qual nasceu para praticar, para exercer com perfeição. Considerações Finais Diariamente são produzidos incontáveis discursos que muitas vezes estão carregados de saberes que fabricam e propagam verdades. A partir disso, o discurso se configura enquanto algo extremamente significante, uma vez que é capaz de não apenas falar sobre

algo, mas constrói aquilo do qual fala. Isto é, o discurso fabrica, constrói, institui. Dessa forma, para entender um discurso é preciso deixar de lado as interpretações simplistas, as formas básicas de ver e entender uma determinada coisa e perceber a possibilidade de o discurso ir muito além de signos, ou seja, meras palavras que se referem a determinado conteúdo ou coisa, mas compreender que também é uma construção histórica, política, que as palavras também são construções. Construções essas que transitam por questões que estão no cerne do contexto social e são capazes de evidenciar noções pré-estabelecidas socialmente. Diante disso, tentamos problematizar discursos construídos a partir do dia 08 de março, a fim de levantar indagações que permitam nos tirar da nossa posição de conforto e nos transportar para um espaço inédito, incômodo e que propicie o repensar criticamente nas narrativas elaboradas e vinculadas e quais os significados que são difundidos como verdades. Referências FOUCAULT, Michel. Por Uma Vida Não-Facista. Coletivo Sabotagem. 2004. KOVALESKI, Nadia Veronique Jourda; TORTATO, Citia de Souza Batista; CARVALHO, Marilia Gomes de. Gênero: Flashes de uma construção. In: CASAGRANDE, Lindamir Salete; LUZ, Nanci Stancki da; CARVALHO, Marilia Gomes de. (Orgs). Igualdade na diversidade enfrentando o sexismo e a homofobia. 1º ed. Editora: UTFPR Curitiba. 2011. 305 p. LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pósestruturalista. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. PEDRO, Joana Maria. Traduzindo o debate: o uso da categoria gênero na pesquisa histórica. História, São Paulo, v. 24, n. 1, 2005. YANNOULAS, Silvia Cristina; VALLEJOS, Adriana Lucila; LENARDUZZI, Zulma Viviana. Feminismo e academia. R. bras. Est. Pedag. Brasília, v. 81, n. 199, p. 425 451, set/dez, 2000.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURG Catalogação na Publicação: Bibliotecária Simone Godinho Maisonave CRB -10/1733 S471a Seminário Corpo, Gênero e Sexualidade (7. : 2018 : Rio Grande, RS) Anais eletrônicos do VII Seminário Corpo, Gênero e Sexualidade, do III Seminário Internacional Corpo, Gênero e Sexualidade e do III Luso-Brasileiro Educação em Sexualidade, Gênero, Saúde e Sustentabilidade [recurso eletrônico] / organizadoras, Paula Regina Costa Ribeiro... [et al.] Rio Grande : Ed. da FURG, 2018. PDF Disponível em: http://www.7seminario.furg.br/ http://www.seminariocorpogenerosexualidade.furg.br/ ISBN:978-85-7566-547-3 1. Educação sexual - Seminário 2. Corpo. 3. Gênero 4. Sexualidade I. Ribeiro, Paula Regina Costa, org. [et al.] II. Título III. Título: III Seminário Internacional Corpo, Gênero e Sexualidade. IV.Título: III Luso-Brasileiro Educação em Sexualidade, Gênero, Saúde e Sustentabilidade. CDU 37:613.88 Capa e Projeto Gráfico: Thomas Aguiar Diagramação: Thomas Aguiar