Aperfeiçoamentos no Cabeçote (transcrito da Enciclopédia Mão na Roda - Guia Prático do Automóvel ED. Globo, 1982 - pg. 537 a 540) Os trabalhos realizados no cabeçote pelas oficinas especializadas atendem normalmente a dois diferentes objetivos, que algumas vezes se complementam: o primeiro deles é o conserto de alguns defeitos da peça, provocado, por exemplo, por um superaquecimento do motor, um vazamento de líquido causado por porosidade do material, por defeito ou ruptura nas válvulas, sedes e demais componentes; o segundo motivo, que pode justificar um aperfeiçoamento no cabeçote propriamente dito, é a resolução de melhorar o rendimento do motor. Em geral, junto com esses dois tipos de operação é feita também uma descabornização do cabeçote.
Retificação do cabeçote. A retificação do cabeçote consiste em processar mecanicamente sua superfície de acoplamento com o bloco dos cilindros, a fim de torná-la totalmente plana, melhorando assim seu assentamento sobre a junta e o bloco, e conseguindo uma união perfeitamente hermética entre as duas peças. Em geral, o que causa empenamento do cabeçote é o superaquecimento do motor. Toda vez que este sofre algum tipo de avaria, provocado por excessivo aquecimento, um dos componentes que mais se ressentem das conseqüências dessa elevação de temperatura é justamente o cabeçote. Quando o superaquecimento chega a consumir completamente a água do sistema de arrefecimento, o mais provável é que a junta do cabeçote se queime; devido a isso e às altas temperaturas geradas, o cabeçote sofre, então, uma sensível deformação. Quando o cabeçote se deforma podem ocorrer vazamentos de água pela junta, seja para o exterior do bloco, seja para o interior das câmaras de combustão. No primeiro caso, os vazamentos são mais fáceis de localizar, podendo ser observados como pequenos jorros ou filetes de água esbranquiçados ou ainda como pontos de oxidação na área de união entre o cabeçote e o bloco do motor. Já os vazamentos para o interior das câmaras só podem ser detectados pelo excessivo consumo de água ou, se forem muito intensos, por falhas no funcionamento do motor e pela saída de grandes quantidades de vapor e gotas de água pelo escapamento, mesmo com o motor já aquecido. Para verificar se a superfície do cabeçote está plana emprega-se normalmente uma régua (ou então o processo de negro-de-fumo, substância também conhecida como pó-de-sapato ). A régua, metálica e de precisão, deve ser disposta ao longo da superfície do cabeçote; observando então a luz que passa entre a régua e a superfície da peça pode-se ter uma idéia das condições em que esta se encontra. O processo do negro-defumo é um pouco mais trabalhoso, mas dá indicações mais precisas; consiste em estender sobre um plano de comparação uma camada de negro-de-fumo, fazendo deslizar em seguida o cabeçote sobre esse plano. As marcas deixadas pelo pó preto acumulado sobre o cabeçote deverão seu uniformes; caso contrário é sinal de que a superfície do cabeçote apresenta deformações. A usinagem do cabeçote é feita em máquinas retificadoras especiais. Nessa operação, é preciso tomar cuidado para não retificar em excesso a suerfície, o que pode aumentar a relação de compressão do motor e - caso o cabeçote tenha sido retificado outras vezes - chegar a perfurar as câmaras de arrefecimento.
Polimento das câmaras e dos condutos. Um dos trabalhos de rotina na preparação ou afinação de motores é o polimento das câmaras do cabeçote e dos condutos de admissão e de escape. Por meio do polimento dessas suérfícioes consegue-se uma melhor circulação dos gases, tanto os de admissão como os de escape, o que se traduz em melhor rendimento do motor e redução do consumo. O polimento é feito com lixa rotativa, ou com o emprego de uma furadeira. As irregularidades mais acentuadas são eliminadas com fresas de aço de forma esférica ou ovalada. Em seguida, a superfície é processada com rebolos abrasivos de rugosidade decrescente, terminando-se o trabalho com pasta de esmeril.
Cálculo do volume das câmaras. Alguns motores podem ganhar aumento de potência e rendimento por meio de pequenas substituições de componentes. Na maioria das vezes essas modificações se referem a melhorias na carburação, que devem ser acompanhadas por um aumento da relação de compressão, para que se possa tirar o máximo proveito da alteração efetuada. O aumento da compressão volumétrica deve ser precedido da medição do volume atual da câmara de combustão, pois esse dado é fundamental para calcular a quantidade de material que deverá ser retificado no cabeçote para alcançar a relação de compressão desejada. O procedimento utilizado para calcular o volume das câmaras é muito simples: coloca-se um pedaço de vidro cobrindo a câmara e preenche-se totalmente seu volume com óleo SAE-20, vertido de uma pipeta graduada, do tipo empregado em laboratórios químicos. Para diminuir o volume das câmaras do cabeçote e possibilitar dessa maneira um aumento da relação de compressão do motor, recorre-se ao rebaixamento da superfície do cabeçote (quanto maior a profundidade da retífica, maior o aumento da taxa de compressão). Para isso é preciso, primeiro, conhecer o volume total das câmaras (usando o método anteriormente descrito). A partir desse dado calcula-se então o volume que deve ser eliminado para se obter determinada relação de compressão; sabendo-se qual é esse volume calcula-se então a quantidade exata de material que deverá ser removida da superfície do cabeçote.
Cálculo do Rebaixamento do Cabeçote. Exemplo: motor de 1600 cm 3 cilindrada unitária: 400 cm 3 relação de compressão 8:1 Volume da câmara: 57 cm 3 O objetivo é aumentar a compressão para 9:1 Depois de marcar o contorno da câmara sobre o papel milimetrado, conte os milímetros contidos na linha do círculo para calcular a aproximadamente a superfície da câmara neste exemplo: 900 mm 2 cilindrada + volume da câmara Compressão = volume da câmara = 9 400 + V = 9 V V V = 3 7cm V = 50cm 3 Devem ser eliminados, portanto, 7cm 3 = 700 mm 3 A superfície da câmara multiplicada pela altura a ser rebaixada dará aproximadamente o volume que é preciso reduzir. Portanto: 900 h = 700 h = 700 900 = 0,77 mm O total a ser rebaixado é, portanto, de 0,77 mm.