VIII/25. Medidas de incentivo: aplicação de ferramentas para a valoração da biodiversidade e recursos e funções da biodiversidade



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Transcrição:

Página 242 VIII/25. Medidas de incentivo: aplicação de ferramentas para a valoração da biodiversidade e recursos e funções da biodiversidade A Conferência das Partes, Reconhecendo que a biodiversidade e seus recursos e funções fornecem serviços ambientais importantes para a humanidade que precisam ser adequadamente reconhecidos e levados em consideração nos processos decisórios privados e públicos, Reconhecendo também que as decisões públicas e privadas podem ser melhoradas se forem informadas sobre o valor econômico desses serviços ambientais no âmbito das opções de manejo alternativo e envolverem mecanismos deliberativos que também tenham em conta considerações não econômicas, Relembrando que o programa de trabalho sobre medidas de incentivo adotado pela decisão VI/15, prevê como um de seus resultados esperados a avaliação, conforme apropriada e aplicável às circunstâncias das Partes, dos valores da biodiversidade para internalizar melhor esses valores nas iniciativas de políticas públicas e decisões do setor privado, Enfatizando que o desenvolvimento e a aplicação de métodos práticos para avaliar as mudanças do valor dos recursos e funções da biodiversidade e serviços ambientais associados que resultam dos processos decisórios públicos e privados podem contribuir para o alcance da meta de 2010, Relembrando que a Conferência das Partes, na decisão VI/15, reconheceu que a internalização completa freqüentemente não é possível devido às limitações dos métodos de valoração, mas que a identificação e avaliação do valor da biodiversidade e dos serviços ambientais que ela fornece pode ser um incentivo por si só e pode apoiar o desenvolvimento de outras medidas de incentivo, Relembrando também que as recomendações para cooperação adicional endossadas pela decisão VI/15 lançam um apelo para, entre outros, mais trabalhos cooperativos sobre metodologias e ferramentas de valoração, incluindo sua exploração contínua, assim como o desenvolvimento e refinamento de métodos e ferramentas de valoração que não sejam de mercado, e para o estabelecimento ou fortalecimento de sistemas de informação, inclusive sobre metodologias de valoração, Consciente de que uma aplicação cuidadosa das metodologias de valoração é razoavelmente exigente em termos de capacidade e tempo e que as principais dificuldades são provavelmente o custo de implementação, o entendimento sobre como as abordagens se complementam, e a falta de especialistas treinados, especialmente para os países em desenvolvimento, particularmente para os menos desenvolvidos e pequenos Estados insulares em desenvolvimento entre eles, e países com economias em transição, Reconhecendo que a transferência de benefícios foi motivo de controvérsias consideráveis na literatura sobre economia, Reconhecendo também que desafios teóricos e metodológicos permanecem, particularmente com relação à incorporação adequada dos valores da biodiversidade em indicadores macro-econômicos de crescimento convencionais, e que pesquisas adicionais direcionadas ao desenvolvimento de um ajuste da contabilidade nacional para incluir a biodiversidade parecem ser um meio importante para refletir melhor as perdas de biodiversidade do discurso macro-econômico,

Página 243 Registrando com reconhecimento o trabalho das organizações e iniciativas internacionais que desenvolveram protocolos e diretrizes sobre a valoração de recursos e funções da biodiversidade e serviços ambientais associados, 1. Fica informada sobre as opções para a aplicação das ferramentas para a valoração da biodiversidade e dos recursos e funções da biodiversidade anexadas à presente decisão; 2. Convida as Partes e outros Governos a levar em consideração suas capacidades e essas opções, de acordo com suas políticas e legislações nacionais e tendo em mente outros instrumentos internacionais, como possíveis contribuições para conduzir análises quando considerarem, de forma voluntária, a aplicação de métodos para avaliar as mudanças do valor dos recursos e funções da biodiversidade e dos serviços ambientais associados, que resultam de seus processos decisórios, inclusive através de projetos piloto; 3. Encoraja as organizações e iniciativas nacionais, regionais e internacionais relevantes a ampliar a capacitação e os treinamentos sobre a valoração dos recursos e funções da biodiversidade e serviços ambientais associados, de acordo com os processos de desenvolvimento humano dos países e as necessidades e prioridades nacionais; 4. Convida as organizações e iniciativas nacionais, regionais e internacionais a promover análises sistemáticas e a troca de informações com o propósito de promover o entendimento comum das técnicas de valoração e qualificações de gerenciamento entre os funcionários técnicos dos Governos e lideranças para facilitar a ampliação da capacitação e treinamento referidos no parágrafo 3 acima; 5. Convida as instituições que apóiam sistemas virtuais de informações e bases de dados sobre valoração a, de acordo com seus mandatos, incluir casos completos sobre a valoração dos recursos e funções da biodiversidade e dos serviços ambientais associados em suas bases de dados, especialmente as instituições de países em desenvolvimento, em particular dos menos desenvolvidos e pequenos Estados insulares em desenvolvimento entre eles, e países com economias em transição, e a facilitar o acesso às bases de dados, particularmente para os especialistas e profissionais dos países referidos acima; 6. Convida as instituições nacionais, regionais e internacionais de financiamento a identificar lacunas e necessidades para apoiar a capacitação ou o aprimoramento da capacidade nacional, assim como a pesquisa e o treinamento, inclusive através de projetos piloto, de acordo com as necessidades e prioridades identificadas pelas Partes, para valorar os recursos e as funções da biodiversidade e os serviços ambientais associados; a apoiar o desenvolvimento adicional da capacidade regional e internacional, tais como sistemas de informação e bases de dados regionais e internacionais sobre valoração, e a explorar opções para mecanismos interconectados de financiamento com o propósito de apoiar o planejamento e uso harmonizados das ferramentas de valoração entre diferentes acordos ambientais multilaterais; 7. Encoraja as instituições nacionais, regionais e internacionais relevantes de pesquisa a fortalecer as atividades de pesquisa, incluindo a cooperação e intercâmbio de pesquisa nos níveis nacional, regional e internacional, inclusive através da cooperação sul-sul e/ou do estabelecimento de consórcios de pesquisa conforme apropriado, para promover um entendimento comum das técnicas de valoração entre governos e lideranças sobre, entre outros: (a) Integração do valor dos recursos e funções da biodiversidade e dos serviços ambientais associados na contabilidade nacional e nos processos decisórios, levando em consideração a estrutura conceitual da Avaliação Ecossistêmica do Milênio;

Página 244 (b) Realização de um número limitado de estudos-piloto de valoração nos países em desenvolvimento, em particular nos menos desenvolvidos e pequenos Estados insulares em desenvolvimento entre eles, em países com economias em transição e em países que são centros de origem de biodiversidade, com o propósito de habilitar as Partes a desenvolver, com base nessas experiências, ferramentas apropriadas de valoração; (c) Retenção dos valores calculados através da análise e planejamento cuidadoso dos mercados para serviços ambientais onde apropriado, levando em consideração os três objetivos da Convenção; 8. Na realização dos trabalhos indicados nos parágrafos 6 e 7 acima, encoraja as instituições relevantes a apoiar a participação das comunidades indígenas e locais, para facilitar a inclusão de valores culturais no trabalho de valoração dos recursos e funções da biodiversidade e dos serviços ambientais associados, com o propósito de criar mecanismos de valoração que sejam adequados para as comunidades indígenas e locais; 9. Convida as instituições nacionais, regionais e internacionais de financiamento a apoiar as atividades de pesquisa identificadas no parágrafo 7 acima; 10. Solicita ao Secretário Executivo que: (a) Continue, em colaboração com as Partes, Governos e organizações internacionais relevantes e com as contribuições deles, a compilação de informações sobre métodos para a valoração dos recursos e funções da biodiversidade e dos benefícios ambientais associados, e a disseminar essas informações através do mecanismo de intermediação de informações da Convenção e outros meios, inclusive através da Série Técnica da CDB, para promover um entendimento comum sobre as técnicas de valoração entre os Governos e as lideranças; (b) Explore, juntamente com organizações relevantes, opções para atividades cooperativas que fortaleçam sistemas existentes de informações sobre metodologias de valoração e casos existentes para os propósitos da Convenção, de acordo com o anexo II da decisão VI/15, para promover um entendimento comum sobre as técnicas de valoração entre Governos e lideranças; (c) Explore opções para o planejamento e aplicação de ferramentas inovadoras flexíveis e confiáveis para a avaliação e valoração dos recursos e funções da biodiversidade e dos serviços ambientais associados; (d) Prepare, em cooperação com organizações e iniciativas relevantes, termos de referência para um estudo sobre como o monitoramento pode apoiar a implementação das ferramentas de valoração e medidas positivas de incentivo. O estudo deve propor uma estrutura que capture a relação entre o monitoramento e a valoração dos recursos e funções da biodiversidade, e deve ser direcionado a fornecer às Partes uma ferramenta prática para facilitar seus estudos nacionais. Anexo OPÇÕES PARA A APLICAÇÃO DE FERRAMENTAS PARA A VALORAÇÃO DA BIODIVERSIDADE E DOS RECURSOS E FUNÇÕES DA BIODIVERSIDADE A biodiversidade e seus recursos e funções geram serviços ambientais substanciais, muitos dos quais não são comercializados nos mercados e cujos valores não são, portanto, refletidos nos preços de mercado. Conseqüentemente, os processos decisórios públicos e privados e a alocação de recursos financeiros serão distorcidos se a repercussão das atividades relacionadas aos recursos e funções da biodiversidade e aos

Página 245 serviços ambientais associados não for adequadamente levada em consideração. Essa distorção é uma importante causa subjacente do declínio da biodiversidade. A valoração dos recursos e funções da biodiversidade e dos serviços ambientais associados não comercializados tem o potencial de melhorar os processos decisórios públicos e privados, contribuindo dessa forma para a meta da Convenção de reduzir significativamente, até 2010, a taxa atual de perda de biodiversidade. Valor Econômico Total (TEV, na sigla em inglês). A maior parte das decisões públicas e privadas de gerenciamento e investimento de recursos é fortemente influenciada por considerações sobre os custos e benefícios monetários de escolhas políticas alternativas. A valoração deve buscar abordar os componentes relevantes do Valor Econômico Total dos serviços ambientais não comercializados, mantendo em mente que o conceito de Valor Econômico Total inclui tanto o valor do uso direto como do uso indireto, assim como o valor do não-uso dos serviços ambientais e, portanto, vai além dos benefícios imediatos das explorações comerciais de recursos da biodiversidade. As decisões podem ser melhoradas se forem informadas sobre o valor econômico de opções alternativas de gerenciamento e se envolverem mecanismos que incluam também considerações não-econômicas. As opções de ferramentas de valoração fornecidas no apêndice abaixo não devem ser tratadas como um conjunto fechado de ferramentas, considerando o caráter evolutivo desse campo. A. Ferramentas de valoração Várias ferramentas de valoração estão disponíveis e, quando usadas cuidadosamente e de acordo com as melhores práticas, podem fornecer informações úteis e confiáveis sobre as mudanças no valor dos serviços ambientais não comercializados que resultam (ou resultariam) de decisões de gerenciamento ou de outras atividades humanas (veja o apêndice abaixo). A necessidade de dados pode ser bastante exigente para uma série de ferramentas, assim como os pré-requisitos em termos de especialidade técnica. Além disso, a realização de estudos preliminares de valoração é tipicamente demorada e cara. Portanto, outras abordagens, incluindo mecanismos deliberativos que incluem considerações não-econômicas, serão freqüentemente necessárias para apoiar os processos decisórios finais. Eficiência. Um critério de custo/benefício deve ser aplicado, conforme apropriado, ao próprio estudo de valoração. Em princípio, técnicas ou ferramentas de valoração devem ser usadas quando as melhoras incrementais (inclusive de longo prazo) previstas na decisão forem proporcionais ao custo de realizar a valoração. Escolha das ferramentas de valoração. A escolha da ferramenta ou das ferramentas de valoração em uma dada instância será baseada nas características do caso, incluindo a escala do problema e os tipos de valor considerados mais relevantes, e a disponibilidade de dados. Várias técnicas foram desenvolvidas especificamente para atender às características de problemas específicos, enquanto outras são amplamente aplicáveis, mas podem ter outras limitações que devem ser plenamente consideradas quando da escolha da ferramenta ou conjunto de ferramentas apropriado. Diferentes abordagens podem ser utilizadas de forma complementar. Em geral, ferramentas baseadas no comportamento observado (conhecidas como técnicas da preferência revelada) são preferidas a ferramentas baseadas no comportamento hipotético (chamadas técnicas da preferência declarada). Técnicas da preferência declarada. As técnicas da preferência declarada são, entretanto, as únicas técnicas capazes de incluir valores correspondentes ao não-uso (ou uso passivo), os quais tendem a ser importantes em certos contextos de biodiversidade, e podem fornecer informações úteis e confiáveis quando usados cuidadosamente e de acordo com a melhor prática oficial. As limitações das técnicas da preferência declarada incluem: (i) o nível de detalhe das informações necessárias fornecidas pelos respondentes para valorar processos complexos ou espécies e funções ecossistêmicas pouco conhecidas; (ii) a difícil validação externa dos resultados; e (iii) a necessidade de extensos testes prévios e trabalho de

Página 246 levantamento, significando que essa técnica pode ser cara e demorada. Sua aplicação pode ser considerada, portanto, se todas as seguintes condições forem atendidas: (i) espera-se que os valores do não-uso sejam um componente importante do valor do serviço ecossistêmico em questão; (ii) pode-se assegurar que o grupo amostral de respondentes é representativo e tem um entendimento adequado da questão em pauta; e (iii) os requerimentos de capacitação para uma aplicação de acordo com a melhor prática, inclusive qualificações adequadas para planejar levantamentos, foram cumpridos. Abordagens baseadas no custo. As abordagens baseadas no custo podem fornecer orientações úteis, se a natureza e extensão do dano esperado forem previsíveis e se o custo de substituir ou restaurar os bens danificados e os serviços ambientais resultantes possa ser estimado com um grau razoável de precisão, e não exceda o valor dos serviços ambientais em primeiro lugar. Essas abordagens podem ser particularmente usadas quando o problema decisório específico precisar de uma comparação dos custos resultantes de diferentes opções de substituição ou restauração para alcançar um objetivo específico, e exista uma visão geral de que os benefícios associados com o alcance do objetivo superam os custos. Transferência de benefícios. A transferência de benefícios pode fornecer estimativas válidas e confiáveis sob certas condições, incluindo: (i) que o produto ou serviço sendo valorado seja muito similar no local onde as estimativas foram feitas e no local onde está sendo usado; (ii) que as populações afetadas tenham características similares; e (iii) que as estimativas originais sendo transferidas sejam confiáveis. Quando usada cuidadosamente, ela tem o potencial de aliviar os problemas relacionados a conjuntos deficientes de dados primários e recursos financeiros limitados, freqüentemente encontrados na valoração. Entretanto, a transferência de benefícios ainda está em desenvolvimento. Mais trabalhos precisam ser realizados para avaliar sua validade em estudos onde foi utilizada para valorar a biodiversidade. A aplicação cautelosa e o desenvolvimento adicional desse método precisam ser realizados. B. Considerações institucionais Desenvolvimento ou aprimoramento das instituições. Arranjos institucionais adequados podem geralmente ser identificados como uma pré-condição importante para a promoção adicional da valoração como uma ferramenta no gerenciamento da biodiversidade e na geração de estudos confiáveis sobre a valoração. Esses arranjos devem fornecer, entre outros, uma clara designação de responsabilidades para a realização de processos de avaliação e auditoria para controle de qualidade. Valor da biodiversidade e cálculo da receita nacional. Durante as últimas duas décadas foram feitas várias tentativas, tanto no nível nacional quanto internacional, de incluir as externalidades ambientais no cálculo da receita nacional, inclusive através de dados de satélite, e para aplicar medidas de depreciação ambiental para refletir as perdas ambientais que ocorrem como resultado de atividades econômicas. Tais medidas podem servir de base para priorizar as políticas ambientais nacionais e dar um foco à mitigação ou reversão de atividades danosas ao meio ambiente. O desenvolvimento de um ajuste de biodiversidade para a contabilidade nacional pode ser útil para refletir as perdas de biodiversidade de maneira mais adequada. Desenvolvimento de diretrizes nacionais. Diretrizes e protocolos nacionais de valoração podem ser meios úteis para assegurar que o valor da biodiversidade seja considerado adequadamente e/ou integrado nos processos domésticos de avaliação e cálculos de receitas. Eles podem também assegurar que as ferramentas de valoração sejam aplicadas de acordo com as condições domésticas e possam, assim, contribuir para aumentar a credibilidade e aceitabilidade dos processos de avaliação, e da aplicação de métodos de valoração inclusive. Envolvimento de lideranças, assim como das comunidades indígenas e locais. O envolvimento completo de todas as lideranças relevantes, assim como das comunidades indígenas e locais, é outro meio importante de aumentar a credibilidade e aceitabilidade dos processos decisórios, e da aplicação dos

Página 247 métodos de valoração inclusive. Assegurando que os grupos amostrais sejam representativos, seu envolvimento pleno e efetivo também pode contribuir para a qualidade da aplicação de certas ferramentas de valoração. As instituições devem, portanto, ter mecanismos instalados que assegurem o envolvimento pleno e efetivo das lideranças relevantes, assim como das comunidades indígenas e locais, nos processos de avaliação, inclusive na aplicação das ferramentas de valoração. Conscientização e medidas de incentivo. A identificação e a avaliação do valor dos recursos e funções da biodiversidade e dos serviços ambientais associados podem criar uma conscientização, criando assim incentivos para a conservação e uso sustentável da biodiversidade, e podem também apoiar o planejamento e calibração adequados de outras medidas de incentivo para a conservação e uso sustentável da biodiversidade, 36/ tendo em mente que as medidas de incentivo não devem afetar negativamente a biodiversidade nem os modos de vida de comunidades em outros países. Adicionalmente, a conscientização de todas as lideranças sobre o valor da biodiversidade melhora as chances de sucesso de outras medidas de incentivo. Conscientização e projetos piloto. A realização de estudos de valoração como projetos piloto sobre ecossistemas domésticos chave pode ser outro meio efetivo de conscientizar sobre o valor dos recursos e funções da biodiversidade e serviços ambientais associados, e para avançar a aplicação da valoração da biodiversidade nos procedimentos decisórios domésticos. C. Capacitação e treinamento Capacitação. A aplicação efetiva de ferramentas para a valoração dos recursos e funções da biodiversidade e dos serviços ambientais associados requer capacidade considerável e especialização técnica. Em muitos países, a capacidade precisa ser melhorada para estabelecer instituições adequadas, para realizar processos efetivos de avaliação incluindo a valoração da biodiversidade e dos serviços ambientais associados, para uma melhor supervisão e auditoria para controle de qualidade, assim como para colocar os resultados da valoração em bom uso nos processos decisórios governamentais através de um acompanhamento efetivo e confiável. Capacidades também seriam necessárias para, conforme apropriado: melhorar as informações biofísicas para apoiar a valoração da biodiversidade; abordar preocupações éticas sobre a valoração dos impactos ambientais em termos monetários; e abordar preocupações técnicas em torno do uso das ferramentas de valoração para a biodiversidade. Oficinas regionais de trabalho. As oficinas regionais de trabalho sobre a valoração dos ecossistemas são meios importantes para trocar experiências nacionais sobre as melhores práticas na valoração dos recursos e funções da biodiversidade e dos serviços ambientais associados, e no desenvolvimento de diretrizes e protocolos nacionais, e para ampliar o treinamento. Cooperação e treinamento regional e internacional. O treinamento é um componente importante das atividades para desenvolver ou aprimorar as capacidades domésticas. Existem vários mecanismos que abrangem treinamento sobre a valoração dos recursos e funções da biodiversidade e dos serviços ambientais associados, e que poderiam ser mais fortalecidos. Eles incluem: (a) Centros regionais de especialistas que oferecem atividades de treinamento; (b) Programas acadêmicos de intercâmbio de longo prazo e de curto prazo; (c) Cursos de curto prazo oferecidos por organizações internacionais; 36/ Ver decisões IV/10 A e VI/15, anexo I, parágrafo 22.

Página 248 (d) Arranjos bilaterais entre agências para substituição temporária; (e) Recursos e manuais de treinamento baseados na internet. Bases de dados internacionais para a transferência de benefícios. Existem bases de dados baseadas na internet que reúnem dados sobre valoração para uso na transferência de benefícios. Como o uso desse conceito parece ser uma forma cada vez mais atraente de avançar no uso das informações sobre valoração, particularmente face às exigências de tempo e recursos para realizar extensas pesquisas básicas, a promoção do seu desenvolvimento adicional e a sua aplicação mais ampla devem ser consideradas. Isso poderia também incluir uma maior cooperação entre as iniciativas existentes com o propósito de assegurar, de acordo com seus respectivos mandatos, uma ampla cobertura dos casos de valoração dos recursos e funções da biodiversidade e dos serviços ambientais associados, especialmente em países em desenvolvimento, em particular nos menos desenvolvidos e pequenos Estados insulares em desenvolvimento entre eles, e países com economias em transição. D. Pesquisas adicionais Cooperação internacional em pesquisa. Houve um progresso considerável nas últimas duas décadas no desenvolvimento de ferramentas confiáveis e de protocolos para sua aplicação, para a valoração dos recursos e funções da biodiversidade e dos serviços ambientais associados. Entretanto, ainda existem oportunidades importantes para novas pesquisas e desenvolvimento adicional. As iniciativas de pesquisa que contemplam essas oportunidades e buscam estabelecer cooperações regionais ou internacionais devem ser apoiadas. Valoração da biodiversidade e contabilidade nacional. Pesquisas adicionais direcionadas ao desenvolvimento de um ajuste de biodiversidade para a contabilidade nacional parecem ser um meio importante para refletir melhor as perdas de biodiversidade na elaboração de políticas macro-econômicas. Ferramentas de valoração. Pesquisas adicionais sobre as condições para a validade e robustez das técnicas de valoração, em particular das técnicas da preferência declarada, podem contribuir para melhorar a confiabilidade das informações de valoração dos serviços ambientais não comercializados, particularmente com relação ao valor do não-uso. Transferência de benefícios. Pesquisas adicionais sobre as condições para a validade e robustez da transferência de benefícios podem avançar ainda mais o uso das informações sobre valoração num cenário de restrições de tempo e recursos, que impede a realização de amplas pesquisas básicas. Elos entre a biodiversidade, funções da biodiversidade, e serviços ambientais associados. Apesar do recente progresso obtido no entendimento dos elos entre a diversidade biológica, as funções da biodiversidade e os serviços ambientais associados, muitas perguntas permanecem sem resposta. Pesquisas adicionais que abordem essas perguntas importantes são portanto justificadas e podem também levar ao desenvolvimento de ferramentas e metodologias inovadoras para a valoração da biodiversidade e dos recursos e funções da biodiversidade.

Página 249 Apêndice PRINCIPAIS TÉCNICAS DE VALORAÇÃO (FONTE: ADAPTADO DA AVALIAÇÃO ECOSSISTÊMICA DO MILÊNIO) Método Descrição Aplicações Dados necessários Desafios/limitações potenciais Métodos da preferência revelada Mudança na produtividade Monitora o impacto das mudanças nos serviços ambientais sobre os bens produzidos Qualquer impacto que afeta os bens produzidos Mudança no serviço; impacto sobre a produção; valor líquido dos bens produzidos Falta de dados sobre mudanças nos serviços e conseqüente impacto sobre a produção Custo de doenças, capital humano Abordagens baseadas no custo (ex.: custos da substituição, custos de restauração) Monitora o impacto da mudança nos serviços ambientais sobre a morbidez e mortalidade Usa o custo de substituir ou restaurar o serviço Custo de viagem (TCM) Deriva a curva de demanda dos dados sobre os custos reais de viagem Preços hedônicos Efeito da extração do serviço ambiental sobre o preço de bens que incluem aqueles fatores Métodos da preferência declarada Valoração contingente (CV) Pergunta diretamente aos respondentes sua disposição de pagar por um serviço específico Modelagem baseada na escolha Outros métodos Transferência de benefícios Pede que os respondentes escolham sua opção preferida de um grupo de alternativas com atributos específicos Usa os resultados obtidos em um caso para outro caso diferente, porém que seja bastante similar Qualquer impacto que afeta a saúde (ex.: poluição do ar ou da água) Qualquer perda de bens ou serviços; Identificação da opção de menor custo para alcançar um dado objetivo Recreação específica de um local; visita turística (ex.: áreas protegidas) Qualidade do ar, beleza cênica, benefícios culturais Particularmente nos casos onde os valores do não-uso são considerados importantes Particularmente nos casos onde os valores do não-uso são considerados importantes Qualquer caso para o qual estudos de comparação adequados e de boa qualidade estejam disponíveis; usado em casos onde a economia de tempo e custo supera alguma perda de precisão (ex.: avaliações rápidas) Mudança no serviço; impacto sobre a saúde (funções de resposta-dose); custo da doença ou valor da vida Extensão da perda de bens ou serviços, custo da sua substituição ou restauração Levantamento dos custos monetários e de tempo até o destino, distância viajada Preços e características dos bens Levantamento que apresenta o cenário e desperta a disposição de pagar por um serviço específico Pesquisa de opinião Dados de valoração de alta qualidade, de outros locais similares Falta de funções de resposta-dose ligando as condições ambientais à saúde; o valor da vida não pode ser estimado Risco de superestimar o valor real se os benefícios desconhecidos forem maiores que os custos identificados Limitado a aplicações descritas; difícil de usar quando as viagens são para vários destinos Requer mercados transparentes e com bom funcionamento, e vastas quantidades de dados; muito sensível à especificação É importante assegurar a representatividade da amostra, mas um grande levantamento é demorado e caro; o conhecimento dos respondentes pode ser insuficiente; fontes potenciais de parcialidade nas respostas; existem diretrizes para o uso confiável Similar à Valoração Contingente, mas minimiza algumas parcialidades; a análise dos dados gerados é complexa Pode ser descontroladamente impreciso quando não for usado de maneira cuidadosa, uma vez que muitos fatores podem variar, mesmo quando os casos parecem similares