GLOBALIZAÇÃO, ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS DAS EXPORTAÇÕES E TERMOS DE TROCA DE PORTUGAL*



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Transcrição:

Artigos Primavera 2008 GLOBALIZAÇÃO, ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS DAS EXPORTAÇÕES E TERMOS DE TROCA DE PORTUGAL* Fátima Cardoso** Paulo Soares Esteves** 1. INTRODUÇÃO As flutuações dos termos de troca constituem um imortante tema de análise económica. Além dos seus efeitos directos no bem-estar, medidos elos recursos que são necessários desender ara continuar a assegurar o mesmo nível de imortações, os termos de troca são extremamente voláteis, constituindo uma origem imortante de flutuações económicas. Assim, tornou-se frequente utilizar fórmulas mecânicas ara medir o imacto dos termos de troca no PIB [Gutman (1981)] e incluir os termos de troca como um factor exlicativo dos ciclos económicos [Backus e Crucini (2000)]. Este artigo analisa a evolução dos termos de troca de Portugal ao longo das últimas décadas. A análise centra-se no comércio externo de bens excluindo energéticos, atendendo a que os efeitos de curto e médio razos dos reços de imortação de combustíveis nos termos de troca são bem ercetíveis e fáceis de quantificar devido à significativa volatilidade do reço do etróleo, ao elevado eso das imortações líquidas e à baixa elasticidade-reço da rocura. A Secção 2 descreve os dados disoníveis, tentando caracterizar os recentes ganhos de termos de troca (excluindo energéticos) evidenciados ela economia ortuguesa. É imortante enquadrar este fenómeno numa ersectiva histórica e verificar se tal evolução é uma situação esecífica da economia ortuguesa. Adicionalmente, tenta-se analisar se o aumento dos termos de troca resultou maioritariamente da evolução dos reços de exortação ou de imortação. A Secção 3 aresenta uma decomosição da evolução dos termos de troca or tio de rodutos, seguindo uma abordagem em linha com a aresentada em Baxter e Kouaritsas (2006). A rimeira comonente desta decomosição mede o efeito da esecialização sectorial de cada aís. Uma economia tende a aresentar um aumento dos termos de troca se estiver esecializada em rodutos cujos reços internacionais aresentam um maior crescimento. Estes efeitos odem considerar-se relativamente exógenos, elo menos no curto razo, na medida em que habitualmente não é fácil ou é mesmo imossível deslocar a rodução ara outros sectores. Tiicamente, este tio de esecialização deende das dotações do aís em recursos humanos, caital e recursos naturais. A segunda comonente está relacionada com diferenças entre reços de exortação e de imortação ara cada tio de roduto, isto é, com a osição da rodução nacional nos diferentes segmentos de mercado bem como com a caacidade ara imortar de mercados com reços mais baixos. Os resultados mostram que a evolução dos termos de troca foi dominada elos efeitos de esecialização relacionados com os reços do etróleo. Excluindo os energéticos e considerando os bens manufacturados, o aumento dos termos de troca está fortemente relacionado com a subida dos reços * As oiniões exressas no artigo são da resonsabilidade dos autores não coincidindo necessariamente com as do Banco de Portugal. Os autores agradecem a Nuno Alves, Sónia Cabral, Mário Centeno e Ana Cristina Leal os comentários e sugestões a versões anteriores do artigo. Um esecial agradecimentoa Pedro Prósero elo aoio informático no tratamento dos dados de comércio externo cedidos elo Instituto Nacional de Estatística. Todos os erros e omissões são da inteira resonsabilidade dos autores. ** Deartamento de Estudos Económicos, Banco de Portugal. Boletim Económico Banco de Portugal 113

Primavera 2008 Artigos relativos das exortações em diversos gruos de rodutos, em articular nos designados sectores tradicionais: têxteis, vestuário e calçado. As Secções 4 e 5 tentam arofundar estes resultados, que sugerem os efeitos da globalização nos reços de imortação e algumas alterações estruturais em sectores exortadores tradicionais como factores exlicativos do recente aumento dos termos de troca. Na Secção 4, é aresentada uma estimativa do efeito directo dos aíses de baixos custos na evolução dos reços das imortações ortuguesas de manufacturas, usando o mesmo tio de metodologia utilizada em alguns estudos ara outros aíses. Na Secção 5, o sector do vestuário é aresentado como case-study ara avaliar o ael das alterações estruturais no sector exortador. Existe evidência de que se verificou uma alteração da comosição neste sector, no sentido de um aumento do eso relativo de rodutos de gama mais elevada, contribuindo ara um acréscimo dos reços médios de exortação. Finalmente, a Secção 6 sintetiza as rinciais conclusões. 2. COMO CARACTERIZAR O RECENTE GANHO DOS TERMOS DE TROCA DE PORTUGAL? Quão invulgar foi esse aumento? O Gráfico 1 aresenta a evolução dos termos de troca ortugueses ao longo dos últimos 60 anos, com base nas séries históricas habitualmente utilizadas elo Banco de Portugal [Pinheiro et al.(1999)] ara o eríodo anterior a 1995 e nos deflatores do comércio externo do Instituto Nacional de Estatística (INE) ara o eríodo osterior. Desde o final da década de 80 e contrastando com a aarente estabilidade observada anteriormente, os termos de troca começaram a registar uma tendência de subida, interromida nos anos mais recentes, num contexto de um significativo aumento do reço do etróleo. Essa tendência de subida não ode ser exlicada elos efeitos directos do reço de etróleo. Com efeito, excluindo a comonente energética, a tendência de subida dos termos de troca desde o final dos anos 80 é ainda mais evidente. Gráfico 1 TERMOS DE TROCA DE PORTUGAL Comércio externo de mercadorias, 1995=100 110 Total Excluindo energéticos 100 90 80 70 60 1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 Fontes: INE e Banco de Portugal [Pinheiro et al. (1999)]. 114 Banco de Portugal Boletim Económico

Artigos Primavera 2008 Gráfico 2 Gráfico 3 TERMOS DE TROCA NOS PAÍSES DA OCDE Bens e serviços excluindo matérias-rimas Taxas de variação médias anuais TERMOS DE TROCA EM 23 PAÍSES DA OCDE Bens e serviços excluindo matérias-rimas, 2000=100 Islândia Noruega Re. Checa 110 105 Média Excluindo valores extremos(a) Esanha EUA Austrália 100 Nova Zelândia Portugal 95 Suiça França Re. Eslováquia Dinamarca Alemanha 90 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 Fonte: OCDE. Nota: (a) Excluindo observações fora do intervalo definido or 2 desvios-adrão em torno da média. Luxemburgo Finlândia Gráfico 4 Canadá Jaão Áustria Hungria PREÇOS DO COMÉRCIO EXTERNO DE PORTUGAL Bens excluindo energéticos, 2000=100 P.Baixos Polónia R.Unido 105 100 Exortações Imortações Turquia Irlanda 95 Itália Bélgica 90 México Suécia 2000-2006 1993-2006 85 Fonte: OCDE. Re. Coreia -2 0 2 4 6 80 1990 1994 1998 2002 2006 Fonte: INE. Boletim Económico Banco de Portugal 115

Primavera 2008 Artigos Foi esse aumento uma característica esecial da economia ortuguesa? O Gráfico 2 aresenta a evolução dos termos de troca ara os aíses da OCDE, considerando o comércio externo de bens e serviços excluindo matérias-rimas. Parece evidente que se verificou um ganho generalizado de termos de troca desde o início dos anos 90, e que esses ganhos foram mais acentuados no eríodo mais recente. Com base na média não onderada dos aíses da OCDE, a taxa de crescimento médio anual foi de 0.8 or cento desde 2000, contra um aumento anual de 0.5 or cento desde 1993. A mesma evidência é obtida quando se considera um eríodo mais longo. O Gráfico 3 aresenta a evolução dos termos de troca (bens e serviços excluindo matérias-rimas) ara o eríodo osterior a 1975, considerando uma amostra de 23 aíses da OCDE. Os termos de troca ermaneceram em níveis sueriores na segunda arte da amostra, com uma tendência de subida mais evidente nos anos mais recentes, quando os termos de troca registaram níveis máximos. Essa evolução esteve mais relacionada com os reços de exortação ou de imortação? O aumento dos termos de troca (excluindo energéticos) de Portugal na rimeira metade dos anos 90 verificou-se num contexto de aumento dos reços de exortação e de imortação (Gráfico 4). O comortamento foi diferente a artir de 2000, quando ambos os reços assaram a registar evoluções mais contidas. Esta evolução é ainda mais evidente quando se excluem os bens intermédios nesse caso, tanto os reços das exortações como o das imortações registaram uma diminuição desde 2000 (4.9 e 1.8 or cento resectivamente). Este tio de evolução dos reços não ocorreu aenas em Portugal. O Gráfico 5 aresenta a evolução dos reços de exortação e imortação (excluindo matérias-rimas) ara os aíses da OCDE, realçando que os ganhos de termos de troca desde o final dos anos 90 ocorreram num contexto de estagnação dos reços de imortação. Gráfico 5 PREÇOS DO COMÉRCIO EXTERNO DOS PAÍSES DA OCDE Bens excluindo matérias-rimas, 2000=100 120 115 Exortações Imortações 110 105 100 95 90 85 80 1993 1996 1999 2002 2005 Fonte: OCDE. 116 Banco de Portugal Boletim Económico

Artigos Primavera 2008 3. DECOMPOSIÇÃO DA EVOLUÇÃO DOS TERMOS DE TROCA Os termos de troca resultam da diferença entre índices de reços que medem os deflatores das exortações (P x ) e das imortações (P m ), os quais odem ser exressos como uma média onderada das suas várias comonentes 1 : P n x i, t P x i, t i 1 x t i, x, t m, t m i, t 1 m i, t1 m i, t (1) com xi e w xi ( mi e w mi ) a reresentarem o reço e o eso de cada comonente i nas exortações (imortações). Em linha com Baxter e Kouaritsas (2006), a maniulação da equação anterior ermite decomor a evolução dos termos de troca em duas comonentes 2 : P n * i, t P i i * i 1 x, t m, t x, t m, t n x x i, t m i, t i, t1 i 1 i, t1 m i, t1 * i, t, (2) * i, t * i, t1 x i, t m i, t x i, t1 m i, t1 2, * i, t x i, t m i, t 2 O rimeiro termo ode ser designado como um efeito de esecialização inter-sectorial, o qual mede os efeitos das diferentes comosições sectoriais das exortações e imortações. Um aís tende a registar ganhos (erdas) de termos de troca se estiver mais (menos) esecializado em bens cujos reços registam um maior crescimento. O exemlo mais óbvio está relacionado com as matérias-rimas, em articular com o etróleo. Quando se verifica um aumento do reço do etróleo, os aíses imortadores tendem a registar uma deterioração dos seus termos de troca. O outro termo ode ser designado como um efeito intra-sectorial, o qual está relacionado com o reço relativo entre as exortações e as imortações do mesmo tio de roduto. Este efeito deende da osição da rodução nacional nas diferentes gamas de mercado bem como da caacidade ara imortar de mercados com reços mais baixos. O Gráfico 6 aresenta o resultado desta decomosição ara o eríodo osterior a 1995, enquanto o Quadro 1 contém informação detalhada da evolução dos reços de exortação e imortação nos vários gruos de rodutos bem como o contributo ara a evolução dos termos de troca através destes dois tios de efeitos. A evolução dos termos de troca de Portugal foi significativamente influenciada elo efeito de esecialização inter-sectorial relacionado com o reço do etróleo (o contributo da comonente energética e a evolução total dos termos de troca aresentam um coeficiente de correlação suerior a 0.8). A comonente energética contribuiu negativamente em 9.7.. ara a descida de 6.4 or cento registada elos termos de troca desde 1995. Este contributo foi articularmente negativo durante os anos mais recentes. (1) Os deflatores do comércio externo (P x e P m ) são calculados como índices do tio Paasche, que medem as variações de reços face ao eríodo anterior. 21111111 1 (2) Este tio de decomosição foi utilizado em Baxter e Kouaritsas (2006) ara estudar a volatilidade de termos de troca. Uma limitação deste tio de análise rende-se com o facto dos resultados deenderem do nível de desagregação utilizado. Boletim Económico Banco de Portugal 117

Primavera 2008 Artigos Gráfico 6 TERMOS DE TROCA DE PORTUGAL Contributos ara o crescimento acumulado, em ontos ercentuais 6.0 Total 6.0 Excluindo energéticos 4.0 5.0 2.0 0.0 4.0-2.0 3.0-4.0 2.0-6.0 1.0-8.0-10.0-12.0 Efeito intra-sector Efeito inter-sector Total 0.0-1.0-14.0 1996 1998 2000 2002 2004 2006-2.0 1996 1998 2000 2002 2004 2006 Fonte: Cálculos efectuados com base em informação do INE. Quando se exclui a comonente energética e se centra a análise no comércio de manufacturas, o efeito de esecialização intra-sectorial emerge como o rincial resonsável ara o aumento dos termos de troca, em esecial desde 2000. Este tio de flutuações ode estar relacionado com efeitos de qualidade, relacionados com uma evolução diferenciada da comosição das exortações e imortações em cada um dos sectores. Os termos de troca no comércio de manufacturas registaram um aumento de 2.6 or cento durante o eríodo considerado. No entanto, esse aumento não foi generalizado entre os vários gruos de rodutos considerados. Esses efeitos estiveram muito relacionados com o comortamento dos reços dos rodutos dos têxteis, vestuário e calçado, os quais contribuíram ositivamente em mais de 4.. ara a evolução global dos termos de troca. Esses ganhos foram comuns aos três sectores, reflectindo a forte queda dos reços de imortação, os quais registaram uma taxa de crescimento negativa de cerca de 14 or cento desde 1995, enquanto os reços de exortação aumentaram em mais de 11 or cento. O mesmo tio de fenómeno verificou-se nos rodutos de borracha e lástico, o qual também deu um contributo imortante ara os ganhos de termos de troca. A forte redução dos reços de imortação (cerca de 13 or cento) e a manutenção de um crescimento ositivo dos reços de exortação (acima de 18 or cento) traduziram-se num ganho de termos de troca suerior a 30 or cento. Os rodutos químicos deram também um contributo ositivo, mas que não esteve relacionado com uma descida dos reços de imortação, os quais continuaram a crescer embora a um ritmo mais lento do que os reços de exortação. As máquinas e equiamento registaram também uma assinalável redução dos reços de imortação, embora neste caso o mesmo também tenha ocorrido com os reços de exortação, de forma que o contributo ara a evolução dos termos de troca foi ligeiramente negativo. Refira-se que este resultado tem subjacentes situações muito diferentes a nível mais desagregado, reflectindo a habitual falta de homogeneidade deste tio de rodutos. Na classificação considerada, existiu um forte aumento dos termos de troca no gruo máquinas de escritório e comutadores, reflectindo a descida dos reços de imortação; o sector rádio, televisão e comunicações registou uma descida dos reços de 118 Banco de Portugal Boletim Económico

Quadro 1 COMÉRCIO EXTERNO E TERMOS DE TROCA POR GRUPOS DE PRODUTOS (1995-2006) Em ercentagem Pesos médios imlícitos Variação acumulada Contributos ara a variação acumulada dos termos de troca Exortações Imortações Preços de exortação Preços de imortação Termos de troca Efeito inter-sector Efeito intra-sector Efeito total Agric.silv.e escas 1.3 5.3 27.9 3.0 24.9-0.6 0.7 0.1 Energéticos 2.2 9.0 189.3 219.1-29.8-8.9-0.8-9.7 Produtos das Indústrias Extractivas 0.8 0.3 78.2 20.6 57.6 0.3 0.2 0.5 Manufacturas 95.7 85.4 5.1 2.5 2.6-1.1 3.8 2.7 Alimentares e bebidas 6.3 8.5 6.5 11.7-5.2-0.2-0.3-0.5 Têxteis, Vestuário e calçado 23.9 9.0 11.6-14.1 25.8 0.3 3.9 4.2 Têxteis 8.8 4.8 4.4-14.9 19.3-0.2 1.3 1.2 Vestuário 9.1 2.2 8.3-20.0 28.3-0.1 1.5 1.4 Calçado 6.0 2.0 30.7-2.8 33.5 0.6 1.1 1.6 Madeira, cortiça e ael 9.4 3.8-2.0-2.2 0.3-0.2 0.1-0.1 Minerais e rodutos metálicos 9.4 9.6 18.4 17.8 0.7 0.2-0.2 0.0 Produtos químicos 5.4 10.8 28.0 12.4 15.6-1.0 1.5 0.5 Artigos de borracha e de matérias lásticas 3.0 3.2 18.5-13.0 31.5 0.1 1.0 1.1 Máquinas e equiamentos 19.3 22.4-8.8-7.3-1.5-0.2 0.0-0.2 Máq. escritório e comutadores 1.1 2.7 44.4-41.9 86.3-0.1 1.6 1.5 Equi. de som e imagem 6.2 5.8-32.9-0.2-32.7 0.0-2.2-2.2 Outras máquinas e equiamentos 12.0 14.0 4.2-0.5 4.6-0.1 0.5 0.5 Material de transorte 16.1 15.6-7.3 10.9-18.2-0.1-2.7-2.8 Outros 2.9 2.5 15.9-2.5 18.3 0.0 0.6 0.5 TOTAL 100.0 100.0 8.9 15.7-6.8-10.3 4.0-6.4 Total excluíndo energéticos 97.8 91.0 5.8 2.6 3.3-1.4 4.7 3.3 Fonte: Cálculos efectuados com base em informação do INE (índices trimestrais do tio Paasche). Artigos Primavera 2008 Boletim Económico Banco de Portugal 119

Primavera 2008 Artigos exortação e logo dos termos de troca; o item outras máquinas e equiamento registou equenas variações dos reços de imortação e de exortação, e consequentemente termos de troca relativamente estáveis. Os reços do comércio externo do material de transorte registaram uma evolução singular. Os reços de imortação continuaram a crescer enquanto os reços de exortação aresentaram alguma diminuição, de forma que este sector deu o contributo mais negativo ara a evolução dos termos de troca. 4. OS EFEITOS DOS PAÍSES DE BAIXOS CUSTOS NOS PREÇOS DE IMPORTAÇÃO DE MANUFACTURAS DE PORTUGAL Como referido anteriormente, o recente ganho de termos de troca nas manufacturas, ocorreu num contexto de uma relativa estabilização dos reços de imortação. Nesta secção, tenta-se erceber até que onto essa evolução está relacionada com o aumento do eso dos aíses de baixos custos nas imortações ortuguesas. Isto orque a crescente integração desses aíses é frequentemente aontada como um factor exlicativo da evolução muito contida dos reços de imortação de manufacturas. Este imacto nos reços está relacionado com um simles efeito de comosição: os rodutos com reços mais baixos rovenientes de alguns aíses em desenvolvimento aumentaram o seu eso no total das imortações, baixando os valores unitários de imortação. O Quadro 2 aresenta o eso nas imortações ortuguesas de manufacturas de 41 aíses considerados como de custos baixos, ara o eríodo de 1998 a 2006 3. Este eso registou um aumento (em esecial nos anos mais recentes), o qual foi comum a todos os rodutos, com a exceção dos Alimentares e bebidas. Os têxteis, vestuário e calçado foram os gruos de rodutos onde o eso das imortações dos aíses de baixos custos registou o valor mais elevado (cerca de 16 or cento em 2006). O item Minerais e rodutos metálicos também aresentou um eso suerior a 10 or cento em 2006. Atendendo à evidência de um crescimento contido dos reços de imortação e em linha com alguns estudos disoníveis ara outros aíses [veja-se Kamin et al (2004), Røstøen (2004), Sveriges Riskbank (2005), Bank of Finland (2006), Glatzer et al (2006) e ECB (2006)], rocedeu-se à estimação do efeito directo dos aíses de custos baixos nos reços de imortação de manufacturas de Portugal. Para tal calcularam-se índices tio Paasche ara cada um dos gruos de rodutos considerados, utilizando-se valores unitários com o maior detalhe disonível (Nomenclatura Combinada a 8 dígitos) 4. Esta informação cobre cerca de 8000 rodutos diferentes, rocedendo-se a uma exclusão de outliers definidos como os itens cujo valor unitário registe um crescimento anual maior do que 100 or cento ou uma diminuição suerior a 50 or cento. Posteriormente calculou-se um deflator excluindo os aíses considerados como de baixos custos. A diferença entre estes dois deflatores de imortação (o total e o que exclui os arceiros de baixos custos) é usada como uma medida do efeito directo das imortações rovenientes dos aíses de baixos custos. Naturalmente, esta decomosição aritmética deverá ser interretada com cuidado, constituindo rovavelmente um limite inferior ara o verdadeiro (3) Como critério de selecção, consideraram-seos aíses com um nível de reços inferior a 75 or cento do valor estimado ara Portugal. Com base em dados de aridade de oder de comra ublicados no World Economic Outlook do Fundo Monetário Internacional ara o eríodo 1995-2006, 41 aíses foram classificados como de baixos custos de rodução: Albânia, Argélia, Argentina, Bangladesh, Bielorrussia, Bolívia, Brasil. Bulgária, Camarões, China, Colômbia, Costa do Marfim, Reública Checa, Egito, Estónia, Hungria, Índia, Indonésia, Kazaquistão, Quénia, Kyrgistão, Letónia, Lituânia, Macedónia, Malásia, Marrocos, Nigéria, Paquistão, Paraguai, Peru, Filiinas, Polónia, Roménia, Rússia, Reublica da Eslováquia, Sri Lanka, Tailândia, Tunísia, Turquia, Ucrânia e Vietname.43333333 3 (4) Os valores unitários odem divergir dos dados oficiais ara os deflatores do comércio externo a diferença mais imortante é que, os valores unitários não são sujeitos a ajustamentos de qualidade. No entanto, este roblema é minimizado (mas não resolvido) quando se utiliza um elevado nível de desagregação. 120 Banco de Portugal Boletim Económico

Artigos Primavera 2008 Quadro 2 PESOS DOS PAÍSES DE BAIXOS CUSTOS NAS IMPORTAÇÕES PORTUGUESAS DE MANUFACTURAS Em ercentagem 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Média Variação (em..) Total manufacturas 5.8 5.4 6.3 6.5 6.8 6.8 6.9 7.5 8.6 6.7 2.9 Alimentares e bebidas 8.7 8.8 7.4 7.2 6.4 7.5 7.5 7.7 7.5 7.6-1.3 Têxteis, Vestuário e calçado 13.3 11.9 13.0 14.7 13.0 13.4 14.5 14.7 16.1 13.8 2.8 Madeira, cortiça e ael 6.0 6.9 6.9 6.9 7.5 6.8 9.2 8.5 7.6 7.4 1.7 Pordutos químicos 2.3 2.4 3.4 3.3 3.3 3.2 3.5 4.5 4.6 3.4 2.3 Artigos de borracha e de matérias lásticas 3.8 4.1 4.2 4.3 4.3 5.1 5.1 5.5 6.2 4.7 2.5 Minerais e rodutos metálicos 7.0 7.2 8.0 8.8 9.5 10.3 9.1 11.8 13.8 9.5 6.8 Máquinas e equiamentos 3.3 3.2 3.5 3.2 4.6 4.3 4.5 5.0 6.4 4.2 3.1 Material de transorte 3.9 3.4 6.7 7.3 8.0 7.0 6.9 6.5 7.9 6.4 4.0 Outros rodutos 6.6 6.7 8.0 7.8 7.9 8.4 9.4 9.5 9.7 8.2 3.1 Fonte: INE. efeito dos aíses de custos baixos nos reços de imortação. Em rimeiro lugar, esta estimativa é aenas uma aroximação do verdadeiro efeito directo, uma vez que não considera os rodutos rovenientes indirectamente dessas economias de baixos custos mas registados como imortações rovenientes de outros aíses. Em segundo lugar, esta medida não incorora os efeitos indirectos através dos reços de exortação dos restantes aíses. O Quadro 3 aresenta uma estimativa do efeito directo nos reços de imortação de manufacturas ara o eríodo 1998-2006. Como eserado, em termos gerais, esse efeito é negativo, em articular ara o eríodo osterior a 2003. O efeito ositivo ara 2006 é uma exceção, a qual está relacionado com o facto do maior crescimento dos reços de exortação dos aíses de baixos custos mais do que comensar as ressões descendentes decorrentes do aumento do eso das imortações rovenientes desses aíses com níveis de reços mais baixos. De acordo com estes resultados, as imortações rovenientes de aíses de custos baixos contribuíram directamente ara uma redução da taxa de crescimento média anual dos reços de manufacturas em cerca de 0.2.. (0.4.. desde 2003). Entre os vários gruos de rodutos considerados, este imacto negativo foi mais ronunciado nos têxteis, vestuário e calçado (um valor anual médio de -0.5..). Este efeito revela-se mais equeno do que as estimativas obtidas ara outros aíses com o mesmo tio de metodologia. Kamin et al. (2004) estimam que a China terá tido um efeito negativo de 1.. na taxa de variação média anual dos reços de imortação dos EUA no eríodo 1993-2002. Alicando a mesma metodologia ara 26 aíses, estes autores estimam um imacto da China no crescimento médio anual do reço das imortações de cerca de -0.25.. (-0.1.. ara Portugal) com imactos mais exressivos de cerca de -1.0.. ara os aíses com mais fortes relações comerciais com a China (EUA, Coreia e Jaão). Outros estudos ara alguns aíses esecíficos aontam igualmente ara efeitos sueriores. Bank of Finland (2006) estima que as imortações rovenientes dos aíses de baixos custos terão diminuído a taxa de crescimento anual dos reços de imortação de bens industriais da Finlândia em aroximadamente 1.. entre 1996 e 2005, em esecial aós 2000. Glatzer et al. (2006) aontam ara um imacto anual médio de -0.7.. nos reços de imortação de manufacturas da Áustria ara o eríodo 1995-2005. Resultados semelhantes são reortados or Sveriges Riskbank (2005) ara a Suécia e or Røstøen (2004) ara a Noruega. Como seria de eserar, os resultados ara a área do euro como um todo aontam ara um efeito mais forte, atendendo à exclusão dos fluxos de comércio intra-área e Boletim Económico Banco de Portugal 121

Primavera 2008 Artigos Quadro 3 EFEITOS DOS PAÍSES DE BAIXOS CUSTOS NOS PREÇOS DE IMPORTAÇÃO Em ontos ercentuais 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Média Total manufacturas -0.4-0.1 0.5 0.0-0.1-0.7-0.6-0.4 0.3-0.2 Alimentares e bebidas -0.8-0.1 1.0 0.1 0.1-0.5 0.1-0.3 0.4 0.0 Têxteis, Vestuário e calçado -1.4-1.1 1.5 0.2-1.5-0.7-0.8-1.1 0.9-0.5 Madeira, cortiça e ael -0.2 0.0 0.7-0.1 0.0-0.8 0.9 0.2 0.7 0.2 Produtos químicos 0.0 0.1 0.5-0.6-0.2-0.3-0.2 0.4 0.3 0.0 Artigos de borracha e de matérias lásticas -0.1-0.9-0.1 0.2 0.2-1.3-0.8 0.2 0.4-0.2 Minerais e rodutos metálicos -0.3-0.1 0.5-0.4-0.2 0.7 1.0-1.3-1.3-0.2 Máquinas e equiamentos -0.4 0.0-0.3 0.3-0.1-1.1-1.1-0.4 0.6-0.3 Material de transorte -0.4 0.7 1.2-0.3 0.2-1.1-1.8-0.1-0.1-0.2 Outros rodutos -0.1 0.3-1.2 0.4 0.3-1.0-0.6-1.3-0.4-0.4 Fonte: Cálculos efectuados com base em informação do INE. logo ao aumento do eso atribuído às imortações rovenientes dos aíses de baixo custo: ECB (2006) estima uma significativa diminuição do crescimento dos reços de imortação da área do euro, em cerca de 2.. or ano no eríodo 1996-2005. Como em Kamin et al. (2004), o menor efeito directo estimado ara Portugal está relacionado com o menor eso das imortações rovenientes directamente dos aíses caracterizados or custos de rodução muito baixos. O Quadro 4 comara o eso destes aíses nas imortações de manufacturas de vários aíses da área do euro. Com efeito, Portugal é o aís onde esse eso é menor (tanto em níveis como em termos de variações acumuladas), e essa diferença é basicamente exlicada elo menor eso das imortações rovenientes da China e dos aíses da Euroa Central e de Leste. Esta diferença assinalável entre Portugal e os restantes aíses da área do euro ode estar relacionada com algumas características geográficas ou com uma esecialização rodutiva mais semelhante entre Portugal e esses Quadro 4 PESOS DOS PAÍSES DE BAIXOS CUSTOS NAS IMPORTAÇÕES DE MANUFACTURAS (PAÍSES DA ÁREA DO EURO) Em ercentagem Total dos 41 aíses dos quais Euroa Central e de Leste (a) China 1998 2006 variação 1998 2006 var 1998 2006 variação Áustria 9.9 14.3 4.3 8.0 10.2 2.1 1.0 2.8 1.8 Bélgica-Luxemburgo (b) 9.0 12.9 3.9 3.0 4.8 1.8 2.3 4.7 2.4 Finlândia 8.8 20.4 11.6 5.6 10.2 4.7 1.7 7.6 5.9 França (b) 12.8 20.3 7.5 3.7 7.4 3.7 2.8 5.7 2.9 Alemanha 16.8 24.4 7.6 10.1 13.7 3.6 3.1 7.4 4.3 Grécia 10.6 17.8 7.2 5.2 9.1 4.0 2.5 5.2 2.7 Irlanda 4.6 8.4 3.9 0.9 2.4 1.5 1.5 3.8 2.3 Itália 12.9 23.3 10.4 5.7 10.8 5.2 2.7 7.2 4.4 Países Baixos 11.2 24.4 13.2 3.4 5.1 1.6 2.5 13.1 10.6 Portugal 5.1 8.1 3.0 1.4 3.4 2.0 0.9 1.9 1.0 Esanha 7.5 16.0 8.5 2.0 5.4 3.4 2.4 6.3 3.9 Fonte: World Trade Atlas. Notas: As diferenças observadas nos esos ara Portugal entre o quadro 2 e o quadro 4 são devidas a diferentes fontes dos dados. (a) Bulgária, Reública Checa, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Macedónia, Polónia, Roménia, Rússia, Eslováquia, Turquia e Ucrânia. (b) Primeiro ano disonível é 1999. No caso da França, os esos referem-se ao total das imortações de bens. 122 Banco de Portugal Boletim Económico

Artigos Primavera 2008 Gráfico 7 PREÇOS DE IMPORTAÇÃO DE MANUFACTURAS EM PAÍSES DA ÁREA DO EURO Variações médias anuais: 1998-2006 Esanha Bélgica França Áustria Itália Alemanha Grécia Portugal Luxemburgo Países Baixos Finlândia Irlanda 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 Fonte: Eurostat(Comext). aíses em desenvolvimento [Esteves e Reis (2005)]. No entanto, refira-se que esse menor efeito directo não se traduziu numa evolução diferenciada dos reços de imortação utilizando dados do Eurostat, a taxa de crescimento dos reços de imortação de manufacturas em Portugal situou-se róxima da observada ara a média dos aíses da área do euro (Gráfico 7). 5. O SECTOR DO VESTUÁRIO COMO UM CASE STUDY Atendendo ao seu imortante contributo, é imortante exlorar a evolução dos termos de troca nos sectores tradicionais. Enquanto a descida dos reços de imortação é frequentemente relacionada com a crescente concorrência dos aíses de custos baixos, a evolução diferenciada dos reços de exortação ode constituir um sinal de algumas alterações estruturais. Em termos gerais, a evolução dos valores unitários de exortação ode ser decomosta em: (i) a evolução onderada dos reços individuais; (ii) as variações de esos onderadas elos níveis de reços; (iii) e um termo cruzado que considera tanto as variações de reços como de esos. i i i i i i i O segundo termo mede um efeito de comosição. Uma alteração da estrutura de exortações, no sentido de uma maior esecialização em rodutos com reços mais (menos) elevados, imlica um aumento (diminuição) do reço médio das exortações. O Gráfico 8 aresenta esta decomosição ara a evolução dos reços do sector do vestuário, utilizando a informação disonível ara cerca de 420 diferentes rodutos, tanto em termos nominais como em volume (em Kg) 5. Os resultados aontam ara um efeito de comosição ositivo, estimando-se um contributo de 1.2.. ara a taxa de (5) Em rimeiro lugar, excluíram-se os rodutos não exortados em dois anos consecutivos. Os rodutos com reços a crescer fora do intervalo (-25%, +25%) ou com quantidades a evoluir fora do intervalo (-50%, +50%) foram igualmente excluídos. Refira-se que o mesmo tio de exercício foi ensaiado ara os sectores dos têxteis e do calçado. No entanto, os dados micro não ermitiram reroduzir razoavelmente a evolução dos resectivos reços de exortação. Tal oderá estar relacionado com alguns ajustamentos de qualidade efectuados aquando da rodução dos valores oficiais ara os deflatores do comércio externo. Em termos gerais, esses ajustamentos não são ossíveis de reroduzir, devendo ser articularmente imortantes nos sectores com menor homogeneidade de rodutos. Boletim Económico Banco de Portugal 123

Primavera 2008 Artigos Gráfico 8 PREÇOS DE EXPORTAÇÃO NO SECTOR DO VESTUÁRIO Contributos ara a variação anual, em ontos ercentuais 10.0 8.0 6.0 4.0 2.0 0.0-2.0-4.0 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Observado Estimado (correlação=0.87; cobert. média 77 or cento) Efeito estrutura (média anual 1.2 or cento) Outros (média anual 0.4 or cento) Fonte: Cálculos efectuados com base em informação do INE. crescimento anual dos reços de exortação do sector de vestuário. Este resultado sugere alguma recomosição deste sector, no sentido de um aumento do eso relativo dos rodutos com reços mais elevados, através de uma descida das exortações de rodutos de gama mais baixa e de um redireccionamento da rodução ara gamas de qualidade mais elevadas. A informação utilizada não ermite concluir qual destes dois efeitos de comosição foi reonderante. De qualquer forma, o facto destes sectores terem registado quebras de rodução nos anos mais recentes sugere que uma arte desse efeito de alteração de estrutura ossa estar relacionado com alguma destruição de rodução de rodutos de gama mais baixa. 6. CONCLUSÕES Este artigo analisa a evolução recente dos termos de troca de Portugal. Esta evolução é enquadrada numa ersectiva mais histórica e comarada com a verificada nos aíses da OCDE. Posteriormente, em linha com a abordagem aresentada em Baxter e Kouaritsas (2006), a variação de termos de troca é decomosta em dois efeitos: a rimeira comonente mede o efeito da esecialização de cada aís nos vários sectores; a segunda comonente está relacionada com diferenças entre reços de exortação e de imortação ara cada tio de roduto. Os resultados mostram que a evolução dos termos de troca foi dominada elos efeitos de esecialização relacionados com os reços dos energéticos. Excluindo os energéticos e considerando aenas bens manufacturados, o aumento dos termos de troca está fortemente relacionado com um aumento dos reços relativos em diversos gruos de rodutos, em articular nos designados sectores tradicionais: têxteis, vestuário e calçado. Os resultados sugerem que o recente aumento dos termos de troca ossa estar associado, entre outros, a dois factores. O rimeiro é a crescente integração dos aíses de baixos custos nos mercados internacionais. O ganho de termos de troca verificou-se na generalidade dos aíses da OCDE a artir dos anos 90, quando se começou a verificar esse significativo aumento da concorrência internacional. Mais ainda, a 124 Banco de Portugal Boletim Económico

Artigos Primavera 2008 imortância da globalização é reforçada elo facto desse ganho de termos de troca estar relacionada com uma evolução muito contida dos reços de imortação. Vários estudos emíricos aontam o aumento da concorrência or arte de aíses de baixos custos de rodução como uma exlicação ara essa evolução dos reços de imortação [ver, or exemlo, Kamin e tal. (2004) e ECB (2006)]. No caso de Portugal, este efeito negativo nos reços de imortação foi articularmente evidente nos sectores habitualmente designados como tradicionais (têxteis, vestuário e calçado), isto é nos sectores onde o eso das imortações dos aíses de baixos custos registam os níveis mais elevados e onde os reços de imortação deram o contributo mais imortante ara a subida dos termos de troca. O segundo factor é mais esecífico de Portugal, estando relacionado com o aumento dos termos de troca nos sectores mais tradicionais. Em linha com resultados recentes ara a evolução do emrego e dos salários no sector dos têxteis [ver Banco de Portugal (2007)], existe evidência de que o reço das exortações do sector de vestuário terá sido influenciado or um efeito de comosição, o qual oderá estar também relacionado com a crescente concorrência internacional. Este fenómeno de integração traduziu-se numa rogressiva mudança nas vantagens comarativas globais, imlicando não só um redireccionamento de alguma rodução ara rodutos de qualidade mais elevada, mas também uma quebra do eso das exortações de rodutos de gamas mais baixas. Os resultados aresentados não ermitem concluir qual dos dois efeitos de comosição terá sido o mais imortante. REFERÊNCIAS Bank of Finland (2006), Finish imort rices and globalization, Bank of Finland Bulletin, 3/2006, Box 7,.58-59. Backus, D. e M. Crucini (2000), Oil Prices and the Terms of Trade, Journal of International Economics 50, 185-213. Banco de Portugal (2007), Recent wage develoments: comosition effects and rigidity measures, Banco de Portugal Annual Reort, 2006, Box 3.1. Baxter, M. e M. A. Kouaritsas (2006), What Can Account for Fluctuations in the Terms of Trade?, 0; International Finance, Volume 9, Number 1, 63-86. Esteves, P. S. e C. Reis (2005), Measuring exort cometitiveness: revisiting the effective exchange rate weights for the euro area countries, Banco de Portugal Working Paers, 11, May 2006. ECB (2006), Effects of the rising trade integration of low-cost countries on euro area imort rices, ECB monthly Bulletin, August 2006, Box 6,. 56-57. Glatzer, E., E. Gnan e M. T. Valderama (2006), Globalization, Imort Prices and Producer Prices in Austria, Oesterreichische Nationalbank Monetary Policy & the Economy, Q3/06. Gutman, P. (1981), The measurement of terms of trade effects, Review of Income and Wealth 27 (4), 433 453. Kamin, S. B., M. Marazzi e J. W. Schindler (2004), Is China exorting deflation?, Board of Governors of the Federal Reserve System, International Financial Discussion Paers, No 791. Pinheiro, M. (coord.) (1999), Historical series for the Portuguese economy ost II World War, Vol. I statistical series, revised and enlarged version for 1994 and 1995, Banco de Portugal. Røstøen, J. (2004), External rice imulses to imorted consumer goods, Norges Bank Economic Bulletin 3/2004,. 96-102. Sveriges Riskbank (2005), Why are Swedish imort rices so low?, Inflation Reort 2/2005,.42-45. Boletim Económico Banco de Portugal 125