Fraturas toracolombares do tipo explosão, fixação curta x longa: uma metanálise

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78 Review Article/Artigo de Revisão/Artículo de Revisión Fraturas toracolombares do tipo explosão, fixação curta x longa: uma metanálise Thoracolumbar burst fractures, short x long fixation: a meta-analysis Fracturas toracolumbares tipo explosión, fijación corta x larga: un meta-análisis Carlos Alberto Assunção Filho 1, Filipe Cedro Simões¹, Gabriel Oliveira Prado 1 1. Hospital Regional de Santo Antônio de Jesus, Andaiá, Santo Antônio de Jesus, BA, Brasil. RESUMO A quantidade de segmentos fixados no tratamento cirúrgico das fraturas toracolombares tipo explosão continua controverso. Este estudo tem como objetivo comparar os resultados da fixação curta e da longa nas fraturas toracolombares do tipo explosão, por meio de uma metanálise dos estudos publicados recentemente. Foram utilizadas as bases de dados MEDLINE e COCHRANE. Foram selecionados estudos controlados randomizados e estudos comparativos não randomizados (prospectivos e retrospectivos). Os dados foram analisados com o software Review Manager. Não houve diferença estatisticamente significante na medida do ângulo de Cobb da cifose pré-operatória. A fixação longa apresentou medidas médias inferiores no pós-operatório (MD = 1,41; IC = 0,73 2,08; p < 0,0001) e no último seguimento (MD = 3,98; IC =3,22 4,75; p < 0,00001). A fixação curta apresentou taxas de falha maiores (RD = 4,03; IC = 1,33 12,16; p = 0,01) e maior perda de altura do corpo vertebral (MD = 1,24; IC = 0,49 1,98; p = 0,001), com menor tempo operatório (MD = -24,54; IC = -30,16-18,91; p < 0,00001). Não houve diferença estatisticamente significante na perda sanguínea e nos desfechos clínicos. As taxas elevadas de perda da correção da cifose na fixação curta e a menor taxa de correção no pós-operatório imediato foram validadas. Não houve diferença estatisticamente significante quanto às taxas de perda sanguínea, porque a artrodese foi realizada em um segmento curto nos trabalhos analisados. A fixação curta teve menor tempo operatório, como esperado. Nenhum estudo demonstrou superioridade dos resultados clínicos. A fixação curta apresentou taxas piores de correção da cifose no pós-operatório imediato e maior perda da correção no seguimento a longo prazo, fazendo da fixação longa uma opção efetiva no manejo deste tipo de fratura. Descritores: Fratura toracolombar; curta; ; Metanálise, Posterior. ABSTRACT The number of fixed segments in the surgical treatment of thoracolumbar burst fractures remains controversial. This study aims to compare the results of short and long fixation in thoracolumbar burst fractures through a meta-analysis of studies published recently. MEDLINE and Cochrane databases were used. Randomized controlled trials and non-randomized comparative studies (prospective and retrospective) were selected. Data were analyzed with the software Review Manager. There was no statistically significant difference in the Cobb angle of preoperative kyphosis. Long fixation showed lower average measurements postoperatively (MD = 1.41; CI = 0.73 2.08; p<0.0001) and in the last follow-up (MD = 3.98; CI = 3.22-4.75; p<0.00001). The short fixation showed the highest failure rates (RD = 4.03; CI = 1.33 12.16; p=0.01) and increased loss of height of the vertebral body (MD = 1.24; CI = 0.49 1.98; p=0.001), with shorter operative time (MD = -24.54; CI = -30.16-18.91; p<0.00001). There was no significant difference in blood loss and clinical outcomes. The high rates of kyphosis correction loss with short fixation and the lower correction rate in the immediate postoperative period were validated. There was no significant difference in the blood loss rates because arthrodesis was performed in a short segment in the analyzed studies. The short fixation was performed in a shorter operative time, as expected. No study has shown superior clinical outcomes. The short fixation had worse rates of kyphosis correction in the immediate postoperative period, and increased loss of correction in long-term follow-up, making the long fixation an effective option in the management of this type of fracture. Keywords: Thoracolumbar fractures; Short fixation; Long fixation; Meta-analysis; Posterior fixation. RESUMEN El número de segmentos fijados en el tratamiento quirúrgico de las fracturas toracolumbares tipo explosión sigue siendo controvertido. Este estudio tiene como objetivo comparar los resultados de fijación corta y larga en las fracturas toracolumbares tipo explosión, a través de un meta-análisis de estudios publicados recientemente. Se utilizaron las bases de datos MEDLINE y COCHRANE. Se seleccionaron los ensayos controlados aleatorios y estudios comparativos no aleatorios (prospectivos y retrospectivos). Los datos fueron analizados con el software Review Manager. No hubo diferencia estadísticamente significativa en cuanto a la medida del ángulo de Cobb de la cifosis preoperatoria. Lar fijación larga mostró mediciones promedio más bajas en el postoperatorio (MD = 1,41, IC = 0,73-2,08; p < 0,0001) y en el último seguimiento (MD = 3,98, IC = 3,22-4,75; p < 0,00001). La fijación corta mostró las tasas de fracaso más altas (RD = 4,03, IC = 1,33-12,16; p = 0,01) y una pérdida mayor de la altura del cuerpo vertebral (MD = 1,24, IC = 0,49-1,98; p = 0,001), con un menor tiempo operatorio (MD = -24,54; IC = -30,16-18.91; p < 0,00001). No hubo diferencia significativa en la pérdida de sangre y los resultados clínicos. Se validaron las altas tasas de pérdida de corrección de la cifosis con la fijación corta y la menor tasa de corrección en el postoperatorio inmediato. No hubo diferencia significativa en las tasas de pérdida de sangre porque la artrodesis se realizó en un segmento corto en los estudios analizados. La fijación corta tuvo menor tiempo operatorio, como se esperaba. Ningún estudio ha demostrado resultados clínicos superiores. La fijación corta tuvo peores tasas de corrección de la cifosis en el postoperatorio inmediato y mayor pérdida de corrección en el seguimiento a largo plazo, por lo que la fijación larga es una opción efectiva en el manejo de este tipo de fracturas. Descriptores: Fracturas toracolumbares; Fijación corta; Fijación larga; Meta-análisis; Fijación posterior. Trabalho realizado no Hospital Regional de Santo Antônio de Jesus, Andaiá, Santo Antônio de Jesus, BA, Brasil. Correspondência: Rua Cosme e Damião, s/n, Andaiá, Santo Antônio de Jesus, Bahia, Brasil. 44572-420. assuncao.filho@yahoo.com.br Recebido em 28/09/2015, aceito em 03/02/2016. http://dx.doi.org/10.1590/s1808-185120161501154925

Fraturas toracolombares do tipo explosão, fixação curta x longa: uma metanálise 79 INTRODUÇÃO Fraturas da coluna vertebral estão entre as lesões mais temidas por pacientes e médicos, cujas consequências podem ser devastadoras, variando entre dor leve e desconforto à paralisia grave e até mesmo a morte. 1-4 Acidentes de trânsito, quedas e acidentes durante prática esportiva são responsáveis pela maioria destas lesões. 3-7 Lesões associadas são comuns, tais quais fraturas de costelas, ruptura brônquica, contusão pulmonar ou do miocárdio, lesões de grandes vasos, tamponamento cardíaco e ruptura de diafragma, além de fraturas dos ossos longos. Frequentemente ocorre algum grau de lesão neurológica. 8 A maioria destas fraturas ocorre na região toracolombar, presumivelmente por se tratar de uma junção da coluna torácica, relativamente imóvel, e a coluna lombar, relativamente móvel. 9,10 Este também é o sítio mais comum de fraturas instáveis do tipo em explosão, representando cerca de 15% das lesões da coluna vertebral. 7,11 Em 1983, Denis 12 postulou sua teoria das três colunas, tendo como referência o plano sagital. A coluna anterior compreende a metade frontal do corpo vertebral e o ligamento longitudinal anterior; a metade posterior do corpo e o ligamento longitudinal posterior correspondem à coluna média; e a coluna posterior inclui as lâminas, as articulações facetárias e os processos espinhosos com seus ligamentos correspondentes. Desta maneira, foi definida a fratura toracolombar do tipo explosão como a lesão que envolve as colunas anterior e média. O deslocamento ou rotação da cortical posterior do corpo vertebral, comprimindo o canal medular e alterando a estabilidade da coluna vertebral marcam a fratura em explosão. Há uma concentração maior de carga diretamente sobre a coluna média durante o trauma axial, na região compreendida pelos pedículos vertebrais, o que resulta no seu afastamento e retropulsão de fragmentos da porção posterior do corpo vertebral em direção ao canal medular. Denis considerou como instável as fraturas toracolombares do tipo em explosão, por envolver, pelo menos, duas de suas colunas. 12 Ainda existem controvérsias em relação aos critérios de estabilidade e às opções de tratamento para fraturas em explosão. 11-14 Sinais radiográficos que incluem alargamento do espaço interespinhoso e interlaminar, translação do corpo vertebral maior que 2 mm, cifose maior que 20 graus, perda de altura ou compressão do canal maior que 50% e fratura dos processos articulares, são os parâmetros mais bem aceitos para a avaliação da estabilidade da fratura. 15,16 Embora muitos estudos tenham obtido bons resultados com o tratamento conservador da fratura toracolombar em explosão, 17-19 a maioria dos autores concorda que o tratamento cirúrgico é necessário para fraturas em explosão instáveis. 20,21 Intervenção cirúrgica pode descomprimir elementos neurais, restaurar a altura do corpo vertebral, corrigir e prevenir deformidade angular, promover estabilidade à coluna vertebral, possibilitando a mobilização precoce, além de potencializar a melhora neurológica. 22,23 A melhor opção para o tratamento cirúrgico das fraturas toracolombares permanece controverso, apesar do maior conhecimento da biomecânica e dos avanços das técnicas operatórias. Até os dias atuais, nenhum método demonstrou ser isoladamente o mais adequado para o tratamento de todos os tipos de lesões na coluna vértebra. 24,25 Abordagens anterior e posterior estão associadas a resultados satisfatórios no tratamento das lesões toracolombares. Entretanto, não estão isentos de algumas complicações, a depender de muitos fatores clínicos e radiográficos, tais como idade do paciente, grau de comprometimento do canal medular, índice sagital, altura do corpo vertebral, grau de integridade dos elementos posteriores e presença de déficit neurológico. 26 A instrumentação posterior é recomendada por muitos autores, baseado nos excelentes resultados obtidos em termos de estabilidade da coluna vertebral, alinhamento anatômico, melhora neurológica pós-operatória e baixa morbidade ao paciente. 27-29 Numerosos métodos de fixação pedicular através de uma abordagem posterior foram descritos. 24,25 Uma das principais diferenças entre eles é a quantidade de segmentos fixados. 30 Fixações curtas, com menor número de segmentos sem lesão estabilizados e fundidos, podem preservar o máximo de movimento toracolombar. Entretanto, tem-se demonstrado taxas inaceitáveis de falha neste tipo de fixação, principalmente no que diz respeito à perda da correção da cifose produzida pela fratura. 31 O objetivo deste estudo é comparar os resultados do tratamento cirúrgico das fraturas toracolombares do tipo explosão utilizando abordagem posterior com fixação curta versus longa, através de uma metanálise dos recentes estudos publicados. MATERIAIS E MÉTODOS Estratégias de Busca A pesquisa de literatura foi realizada utilizando as bases de dados do MEDLINE e a central de registros de ensaios clínicos da COCHRANE. Utilizamos os termos Thoracolumbar fractures, Short-segment e Long-segment durante a busca, em diferentes combinações. Pesquisa direta dos estudos inclusos nas referências dos artigos encontrados também foi realizada. Não houve restrição quanto ao idioma de publicação. Os títulos e os resumos dos trabalhos encontrados pela pesquisa eletrônica foram avaliados. Os textos completos dos artigos selecionados foram obtidos. Critérios de Seleção e Avaliação de Qualidade Por ter sido encontrado um pequeno número de estudos controlados randomizados disponíveis, foram incluídos também estudos comparativos não randomizados (prospectivos e retrospectivos). Para inclusão, foram usados os critérios: 1) ter a comparação entre fixação longa e fixação curta de fraturas da junção toracolombar; 2) avaliados pacientes adultos com fratura toracolombar não patológica; 3) Abordagem posterior com fixação pedicular como única técnica escolhida para o tratamento; 4) artigos completos na íntegra. Foram excluídos os artigos com uma das seguintes características: 1) estudos biomecânicos, em cadáver, opiniões e relatos de caso; 2) estudos repetidos; 3) estudos com os mesmos (ou parte dos) pacientes de trabalhos já selecionados. Para avaliar a qualidade metodológica dos estudos incluídos, nós usamos ferramentas diferentes de acordo com a presença ou não de randomização. Para estudos não randomizados, o escore MINORS 32 foi usado, em um máximo possível de 24 pontos. Para estudos controlados prospectivos randomizados, aplicamos a Escala de Qualidade Detsky, 33 cuja pontuação total é 20 para ensaios positivos e 21 para os negativos. Estudos com valores maiores que 75% da pontuação máxima dos referidos escores foram considerados de alta qualidade. Extração de Dados Informações envolvendo o desenho do estudo, perfil dos pacientes, critérios de inclusão e exclusão, intervenções, desfechos clínicos e radiográficos e seguimento (duração e taxa de perda) foram coletadas. Análise dos dados e métodos estatísticos Os dados foram analisados usando o software Review Manager (RevMan) 5.1, conforme orientação da Cochrane. Nós avaliamos a heterogeneidade dos artigos usando o teste do Qui quadrado padrão, considerada estatisticamente significante com p>0,05, e a mensuração do I 2, em que valores maiores que 50% foram considerados heterogeneidade substancial. Existindo heterogeneidade, aplicamos os efeitos aleatórios aos dados selecionados. Caso contrário, utilizamos os modelos de efeitos fixos. Diferenças de riscos e intervalo de confiança (IC) 95% foram calculados para os desfechos dicotômicos, enquanto calculamos a mediana e IC 95% para os desfechos contínuos.

80 RESULTADOS A estratégia de busca identificou 476 artigos, dos quais cinco satisfizeram os critérios de inclusão pré-definidos para a extração dos dados a serem utilizados nesta metanálise. (Figura 1) Após compilação dos conteúdos obtidos nestes estudos, totalizou- -se 189 pacientes, sendo 91 no grupo submetido à fixação curta e 98 tratados com fixação longa. Os escores de qualidade de avaliação variaram entre 67 e 85 % da máxima pontuação das escalas utilizadas. As características dos pacientes eram semelhantes na maioria dos grupos avaliados. A média de idade variou entre 32 a 44.8 anos. Apenas no grupo de fixação curta do estudo de Serin et al. 31 e no artigo de Guven et al. 47 houve predominância de pacientes do gênero feminino. A primeira vértebra lombar foi a mais acometida em todos os grupos. O tempo de acompanhamento variou de 12 a 52 meses. (Tabela 1). Avaliação Radiográfica A cifose local, medida através do platô superior da vértebra superior ao nível fraturado e o platô inferior da vértebra inferior ao nível fraturado, conforme descrito pelo método de Cobb, foi avaliada em todos os estudos. Não houve diferença estatisticamente significante na avaliação do ângulo de Cobb pré-operatório. Na avaliação pós- -operatória o grupo da fixação longo apresentou medidas médias inferiores às do grupo de fixação curta (MD= 1.41; CI= 0.73 2.08; p< 0,0001). Na análise do ângulo de Cobb do último segmento o grupo de fixação curto obteve maiores medidas (MD= 3.98; CI= 3.22 4.75; p< 0,00001). (Tabelas 2, 3 e 4) Identificação/ Triagem Inclusão Elegibilidade Fluxograma de seleção dos estudos Estudos identificados pelas palavras-chave (n=476) Estudos submetidos à avaliação de seus textos completos (n=63) Estudos submetidos à avaliação de seus textos completos (n=63) Avaliação de qualidade metodológica (n=5) Estudos incluídos na metanálise (n=5) Figura 1. Fluxograma de seleção dos estudos. Estudos que não contemplavam o objetivo proposto (n=413) Excluídos após avaliação dos critérios de inclusão/exclusão (n=58) Tabela 1. Características dos estudos inclusos. Naciona- Desenho do Estudo Ano -lidade estudo Sapkas et al 49 2010 Grécia Serin et al 31 2004 Turquia Não Não Escala de Qualidade 18/24 (75%) 19/24 (79%) Altay et al 34 2007 Turquia Retrospectivo 16/24 (67%) Terezen et al 48 2005 Turquia Guven et al 47 2009 Turquia 15/20 (75%) 17/20 (85%) Grupos Nº de Pacientes de idade (anos) Gênero H-M Nível da Fratura Tempo de Acompanhamento (meses) 34 (25-70) 20 33 (13-52) (12/08) L1 = 23 30 35 (17-55) (20/10) 36 (24-72) 12 32.4 (+/-9.5) (4/8) L1=6 12 10 35.5 (+/-13.6) (7/3) L1=4 12 32 42.6 (+/-14.9) (19/13) L1=13 36(18-58) 31 44.8(+/-14.9) (18/13) L1=16 33(18-58) 9 32(+/-13) (7/2) L1=7 29+/-5 (23-38) 9 34(+/-11) (8/1) L1=7 29+/-4 (24-40) 18 37,4(+/-3,7) L1=10 48,1 +/- 13,8 13:23 18 40,8(+/-7,2) L1=7 52,1 +/- 3,8 Tabela 02. Forest plot mostrando o Cobb pré-operatório. Estudo ou Subgrupo Diferença Mean Diference IV, fixação, 95% CI Altay 2007 34 20,7 4,6 32 18,9 4,5 31 25,60% 1.80 (- 0.45, 4.05 ) Guven 2009 47 21,3 11,1 18 20,6 10,6 18 2,60% 0.70 ( - 6.39, 7.79 ) Sapkas 2010 49 17 7 20 17,5 6,8 30 8,40% -0.50 (-4.42, 3.42) Serin 2004 31 18 6,8 12 19,1 8,8 10 2,90% -1.10 ( -7.77, 5.57 ) Tezeren 2005 48 19 1 9 20 2 9 60,50% - 1.00 (-2.46, 0.46) (95% CI) 91 98 100.0% - 0.20 ( -1.34, 0.94 ) Chi² = 4.35, df = 4 (P = 0.36 ); I² = 8% Z = 0.35 ( P = 0.73) IV, fixação, 95% CI -10-5 0 5 10

Fraturas toracolombares do tipo explosão, fixação curta x longa: uma metanálise 81 Altay et al., 34 Serin et al. 31 e Tezeren et al. 48 padronizaram que perda da correção da cifose maior igual a 10 graus caracterizariam falha da fixação. Segundo este critério, o grupo de fixação curta apresentou taxas de falha maiores que o grupo de fixação longa (RD= 4.03; CI 1.33 12.16; p=0,01). (Tabela 5) Guven e col. 47, Serin et al., 31 Tezeren et al. 48 avaliaram a perda de altura do corpo vertebral. O grupo de fixação curta também apresentou piores resultados na análise dos resultados no pós- -operatório (MD=1.24; CI= 0.49 1.98; p=0,001) e no último segmento (MD=6.53; CI= 5.82 7.24; p< 0,00001). (Tabelas 6, 7 e 8) Tempo Operatório Quatro ensaios clínicos avaliaram o tempo cirúrgico (Guven et al. 47, Serin et al., 31 Tezeren et al. 48, Sapkas et al. 49. O grupo de fixação curta obteve menores médias de tempo operatório em comparação com o de fixação longa, com diferença estatisticamente significante (MD= -24.54; CI= -30.16 - -18.91; p< 0,00001). (Tabela 9) Perda Sanguínea Guven et al. 47, Sapkas et al. 49, Tezeren et al. 48 avaliaram a perda sanguínea. Não houve diferença estatisticamente significante entre Tabela 03. Forest plot mostrando o Cobb pós-operatório. Diferença Diferença Estudo ou Subgrupo IV, fixação, 95% CI Altay 2007 7.8 5.3 32 5 3.6 31 9,20% 2.80 ( 0.57, 5.03 ) Guven 2009 8.5 2.2 18 6.5 2.8 18 16,90% 2.00 ( 0.35, 3.65 ) Sapkas 2010 5 3.5 20 3 2 30 16,00% 2.00 (0.31, 3.69) Serin 2004 6.5 3.8 12 7.6 4 10 4,30% -1.10 ( -4.38, 2.18 ) Tezeren 2005 4 1 9 3 1 9 53,60% 1.00 (0.08, 1.92) (95% CI) 91 98 100.0% 1.41 ( 0.73, 2.08 ) Chi² 5.46, df = 4 (P = 0.24 ); I² = 27% Z = 4.07 ( P < 0.0001 ) IV, fixação, 95% CI -10-5 0 5 10 Tabel 04 - Forest plot mostrando o Cobb seguimento Diferença Diferença Estudo ou Subgrupo IV, fixação, 95% CI Altay 2007 13 6.2 32 8.1 4.3 31 8,50% 4.90 ( 2.27, 7.53 ) Guven 2009 12.2 3.6 18 8.2 2.6 18 14,00% 4.00 ( 1.95, 6.05 ) Sapkas 2010 8.5 6 20 6 4 30 6,60% 2.50 ( - 0.49, 5.49) Serin 2004 16.7 8 12 12.4 6 10 1,70% 4.30 ( - 1.56, 10.16 ) Tezeren 2005 10 1 9 6 1 9 69,10% 4.00 (3.08, 4.92) IV, Fixed, 95% CI (95% CI) 91 98 100.0% 3.98 ( 3.22, 4.75 ) Chi² = 1.42, df = 4 (P = 0.84 ); I² = 0% Z = 10.16 ( P < 0.00001 ) -10-5 0 5 10 Tabela 05. Forest plot mostrando falha da fixação. Risk ratio Risk ratio Estudo ou Subgrupo Eventos Eventos M-H, Randomização, 95% CI M-H, Randomização, 95% CI Altay 2007 6 32 2 31 52,70% 2.91 ( 0.63, 13.32 ) Serin 2004 5 12 1 10 31,30% 4.17 ( 0.58, 30.06 ) Tezeren 2005 5 9 0 9 16,00% 11.00 ( 0.70, 173.66) (95% CI) 53 50 100.0% 4.03 ( 1.33, 12.16 ) eventos 16 3 Tau² = 0.00, Chi² = 0.71, df = 2 (P = 0.70 ); I² = 0% Z = 2.47 ( P = 0.01 ) 0.005 0.1 1 10 200

82 Tabela 06. Forest plot mostrando a altura do corpo vertebral pré-operatório. Estudo ou Subgrupo Diferença Diferença IV, fixação, 95% CI IV, Fixed, 95% CI Guven 2009 40 10.8 18 42 12.9 18 55.7% -2.00 ( - 9.77, 5.77 ) Serin 2004 45.6 15.1 12 39 16.2 10 19.4% 6.60 ( - 6.58, 19.78 ) Tezeren 2005 41 14 9 40 11 9 24.9% 1.00 (- 10.63, 12.63) (95% CI) 39 37 100.0% 0.41 ( -5.39, 6.22 ) Chi² = 1.23, df = 2 (P = 0.54 ); I² = 0% Z = 0.14 ( P = 0.89 ) -20-10 0 10 20 Tabela 07. Forest plot mostrando a altura do corpo vertebral pós-operatório. Diferença Diferença Estudo ou Subgrupo IV, Randomização, 95% CI IV, Randomização, 95% CI Guven 2009 7.2 1 18 5.6 2.6 18 33.7% 1.60 ( 0.31, 2.89 ) Serin 2004 18.7 10.7 12 13.6 9.3 10 0.8% 5.10 ( - 3.26, 13.46 ) Tezeren 2005 5 1 9 4 1 9 65.5% 1.00 ( 0.08, 1.92) (95% CI) 39 37 100.0% 1.24 ( 0.49, 1.98 ) Tau² = 0.00; Chi² = 1.38, df = 2 (P = 0.50 ); I² = 0% Z = 3.24 ( P = 0.001 ) -20-10 0 10 20 Tabela 08. Forest plot mostrando a altura do corpo vertebral no seguimento. Estudo ou Subgrupo Diferença Diferença IV, fixação, 95% CI IV, fixação, 95% CI Guven 2009 16.4 1.6 18 10.6 1.8 18 40.6% 5.80 ( 4.69, 6.91 ) Serin 2004 27.4 11.9 12 17.9 10.3 10 0.6% 9.50 ( 0.22, 18.78 ) Tezeren 2005 15 1 9 8 1 9 58.8% 7.00 ( 6.08, 7.92) (95% CI) 39 37 100.0% 6.53 ( 5.82, 7.24 ) Chi² = 3.04, df = 2 (P = 0.22 ); I² = 34% Z = 18.05 ( P < 0.00001 ) -20-10 0 10 20 os grupos. (Tabela 10) Avaliação Clínica Diferentes instrumentos foram utilizados para a avaliação dos resultados clínicos (escala de dor de Denis, questionário Likert, Low Back Outcome Score LBOS), dificultando a análise estatística. Em nenhum estudo foi encontrada diferença estatisticamente significante nos desfechos clínicos. DISCUSSÃO O tratamento das fraturas toracolombares permanece controverso, 34 apesar da ascensão da intervenção cruenta após a introdução da instrumentação cirúrgica. 35 O sistema de Harrington, inicialmente desenvolvido para o tratamento de escoliose em 1958, foi adaptado às fraturas espinhais posteriores, 36 e progressivamente substituído por parafusos pediculares, conforme descrito por Boucher 37 em 1959. Em 1963, Roy-Camille et al. 38 ainda descreveu a associação de placas ao parafuso pedicular. Em 1985, Dick et al. 39 descreveram uma nova técnica de instrumentação, conhecida como fixação interna, e propôs por meio dela a realização de uma fixação curta para tratamento das fraturas espinhais. Inicialmente, a instrumentação curta foi considerada um método de instrumentação que traria as vantagens de poupar níveis de artrodese no tratamento cirúrgico das fraturas espinhais. 39-41 Contudo, trabalhos subsequentes mostraram altos índices de falha nesta técnica. 42-45 Uma maior deformidade cifótica residual resultaria em maior estresse vertebral anterior transmitido aos parafusos pediculares, o que justificaria tais falhas. 9,16,28 A fixação longa distribui o estresse entre os parafusos e também promove uma maior correção da deformidade cifótica, o que diminui a solicitação no material de instrumentação, e, consequentemente, a chance de falha.

Fraturas toracolombares do tipo explosão, fixação curta x longa: uma metanálise 83 Tabela 09. Forest plot mostrando o tempo operatório. Estudo ou Subgrupo Guven 2009 132 15 18 138 10 18 45,60% Sapkas 2010 170 20 20 220 25 30 20,20% Serin 2004 105 10.7 12 139 13.4 10 30,00% Tezeren 2005 152 27 9 188 32 9 4,20% (95% CI) 59 67 100.0% Chi² = 38.84, df = 3 (P < 0.00001 ); I² = 92% Z = 8.55 ( P < 0.00001) Diferença IV, fixação, 95% CI -6.00 ( - 14.33, 2.33 ) -50.00 (-62.52, -37.48) -34.00 ( -44.28, -23.72 ) - 36.00 (-63.35, -8.65) - 24.54 ( -30.16, -18.91 ) Diferença IV, fixação, 95% CI -50-25 0 25 50 Tabela 10. Forest plot mostrando perda sanguínea. Estudo ou Subgrupo (ml) Diferença Diferença (ml) (ml) (ml) IV, Randomização, 95% CI (ml) Guven 2009 430 60 18 425 55 18 44,50% 5.00 ( - 32.60, 42.60 ) Sapkas 2010 1.050 260 20 1.200 350 30 23,80% Tezeren 2005 411 111 9 550 145 9 31,60% (95% CI) 47 57 100.0% Tau² = 7814.04; Chi² = 7.68, df = 2 (P = 0.02 ); I² = 74% Z = 1.28 ( P = 0.20) -150.00 (-319.32, 19.32) - 139.00 (-258.30, -19.70) - 77.51 ( -195.81, 40.80 ) IV, Randomização, 95% CI (ml) -200 0 100 200 Yu et al. 46 e McLain et al. 43 apresentaram elevadas taxas de perda de correção da cifose durante o seguimento dos pacientes submetidos à fixação posterior curta. Tais resultados foram validados em nosso estudo, onde a analise dos dados estudados nos permitiu uma confirmação estatisticamente significativa não apenas da perda da correção da cifose, com p<0,00001, mas também uma menor taxa de correção mensurada no pós-operatório imediato (p<0,0001). Alanay et al. 42 definiram como falha da fixação a perda da correção da cifose maior que 10º, obtendo, em seu estudo, taxas de falha na fixação de 40% e 50% em cada grupo. Em nossa metanálise conseguimos utilizar este critério em três dos estudos, tendo a análise estatística apresentado alta incidiência de falha na fixação curta durante o seguimento dos pacientes, com significância estatística (risco relativo de 4,03 [1.33 12,16] e p<0.01). Apesar de se tratar de uma técnica cirúrgica que exige uma menor intervenção e menor instrumentação, o grupo da fixação curta não obteve diferença estatisticamente significante quanto às taxas de perda sanguínea. Isto pode ser explicado pela realização de artrodese em apenas um segmento curto em todos os trabalhos analisados, independentemente da fixação ser longa ou curta. Como esperado, ao utilizar uma instrumentação menor, a fixação curta se mostrou superior na análise do tempo operatório, obtendo menor tempo cirúrgico, com uma diferença média de 24,54 minutos [30,16 18,91] (p<0,00001). A despeito dos melhores resultados radiográficos da fixação longa, nenhum estudo demonstrou superioridade dos resultados clínicos e funcionais entre os tipos de fixação comparados. Os diferentes parâmetros utilizados para análise dos resultados clínicos nos trabalhos avaliados impossibilitaram a comparação desses dados. CONCLUSÃO Esta metanálise comprova que o tratamento cirúrgico das fraturas toracolombares do tipo explosão instáveis utilizando uma fixação curta apresentou piores taxas de correção da cifose no pós- -operatório imediato e maior perda desta correção no seguimento em longo prazo dos pacientes, em relação à fixação longa. Estes achados radiográficos fazem da fixação longa uma opção efetiva no manejo das fraturas toracolombares do tipo explosão. Apesar da maior taxa de falhas com a fixação curta, esta apresenta tempo operatório menor. A evolução clínica não pôde ser avaliada nesta metanálise, apesar de não terem sido demonstradas diferenças estatisticamente significantes dos dados dos estudos avaliados. Todos os autores declaram não haver nenhum potencial conflito de interesses referente a este artigo.

84 Contribuições dos autores: Cada autor contribuiu individual e significativamente para o desenvolvimento do manuscrito. CAAF fez a pesquisa, produção, edição e orientação. FCS e GOP fizeram a pesquisa e produção. REFERÊNCIAS 1. Cassar-Pullicino VN. Spinal injury: optimising the imaging options. Eur J Radiol. 2002;42(2):85-91. 2. Jelly LM, Evans DR, Easty MJ, Coats TJ, Chan O. Radiography versus spiral CT in the evaluation of cervicothoracic junction injuries in polytrauma patients who have undergone intubation. Radiographics. 2000;20(Spec No):S251-9. 3. Bensch FV, Kiuru MJ, Koivikko MP, Koskinen SK. Spine fractures in falling accidents: analysis of multidetector CT findings. Eur Radiol. 2004;14(4):618-24. 4. Starr JK, Hanley EN Jr. Junctional burst fractures. Spine (Phila Pa 1976). 1992;17(5):551-7. 5. Floyd T. Alpine skiing, snowboarding, and spinal trauma. Arch Orthop Trauma Surg. 2001 Sep;121(8):433-6. 6. Kiuru MJ, Koivikko MP, Koskinen SK. 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