DIREITO PENAL MILITAR Critérios legais Prof. Pablo Cruz
Critérios Legais para Definir o No que tange ao critério para definir o crime militar, afirma-se que o legislador militar adotou um critério processualista para definir o crime militar, pois considerou aspectos comumente utilizados para definir competência (lugar, matéria, pessoa). Os critérios adotados são: - Ratione Legis; - Ratione Personae; - Ratione Loci; - Ratione Materiae; e - Ratione Temporis.
Ao critério da ratione legis se agrega o critério da ratione personae, que considera crime militar aquele praticado por militar ou contra ele. Para o critério da ratione loci, crime militar é aquele praticado em lugar sujeito à administração militar, qualquer que seja o autor. Segundo o critério ratione materiae, o crime militar é o que ofende bens jurídicos relacionados a ordem jurídica militar. O critério da ratione temporis, afirma que o crime é militar se praticado dentro de determinado período, época ou circunstância, como por exemplo, durante operações militares ou em tempo de guerra.
Crimes Tipicamente Militares O art. 9º, inciso I, adota o critério Ratione Legis. Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: I - os crimes de que trata êste Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial São exemplos de crimes propriamente militares: Deserção, Insubmissão (entendimento majoritário e do STM), Pederastia, Motim e revolta, Reunião ilícita.
Questão importante é saber se um crime propriamente militar pode ser praticado por civil em coautoria. Embora o tema seja discutido pela doutrina, a resposta mais segura para uma prova objetiva é a seguinte: O crime propriamente militar não pode ser praticado por civil, nem mesmo em coautoria com militar, de acordo com o entendimento dominante no próprio STM, especialmente em relação ao crime de revolta.
Diante desse contexto, surge a necessidade de se refletir sobre qual será o crime praticado por civil quando o mesmo age juntamente com o militar, para a prática de um crime propriamente militar. Nesse caso, entende-se que o civil irá responder por Incitamento, Aliciamento ou Apologia (arts. 154 a 156 do CPM).
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: II - os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados: Adotam-se aqui os critérios Ratione Legis e Ratione Personae. Tratam-se dos denominados crimes impropriamente militares.
Art. 9º, II, a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado; O contexto alínea acima é o seguinte: Militar da ativa pratica crime contra militar também da atividade. Segundo o STM, para que incida essa alínea, basta que os dois sejam militares, mesmo que não estejam em serviço ou em local administrado pela instituição militar. Tal orientação decorre até mesmo na natureza da função militar, que demanda a posição sempre alerta, conforme se costuma dizer coloquialmente. Assim, o militar da ativa é militar 24 horas por dia.
Nesse sentido decidiu o STM: EMBARGOS INFRINGENTES OPOSTOS PELA DEFESA. HOMICÍDIO. PREVALÊNCIA DO VOTO VENCIDO. IMPOSSIBILIDADE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR. EXCLUSÃO DE ILICITUDE. LEGÍTIMA DEFESA. NÃO COMPROVAÇÃO. Desnecessária a conjugação da condição funcional com os demais elementos circundantes do crime, bastando que o agente e a vítima sejam militares das Forças Armadas para a fixação da competência da Justiça Castrense, em consonância com o art.9º,inciso II, alínea a, do CPM. (Processo: EMB 169020037010401 DF 0000016-90.2003.7.01.0401. Relator(a): Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha. Julgamento: 12/05/2011. Publicação: 27/06/2011 Vol: Veículo: DJE)
Cuidado deve ter o candidato caso a questão indague sobre o posicionamento do STF. Pedimos cuidado, pois o STF, tem alterado seu entendimento desde o ano de 2011. Assim, segundo os últimos informativos do STF a respeito do tema, se tem considerado que a qualidade de crime militar se afasta caso, por exemplo, os militares envolvidos desconhecessem a situação funcional dos envolvidos.
Sobre o tema vejamos os informativos do STF relacionados ao tema: STF, Informativo 626: Crime praticado por militar e competência: (...) Na espécie, o delito teria sido cometido por um militar contra outro, sem que os envolvidos conhecessem a situação funcional de cada qual, além de não estarem uniformizados. Entendeu-se que a competência da justiça militar, conquanto excepcional, não poderia ser fixada apenas à luz de critério subjetivo, mas também por outros elementos que se lhe justificassem a submissão, assim como a precípua análise de existência de lesão, ou não, do bem juridicamente tutelado. HC 99541/RJ, rel. Min. Luiz Fux, 10.5.2011. (HC-99541)
Percebe-se que o STF tem agregado o critério ratione materiae na alínea a para configurar o crime como militar. Em 2012 o STF se manifestou no informativo 655: Militar e tribunal do júri. Compete à justiça comum processar e julgar crime praticado por militar contra militar quando ambos estiverem em momento de folga.... Ressaltou-se a competência do tribunal do júri para processar e julgar o militar em relação às vítimas civis e militar.... HC 110286/RJ, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, 14.2.2012. (HC-110286)
No mesmo informativo, ainda se veiculou outra decisão nesse sentido: EMENTA: PROCESSUAL MILITAR. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO PRATICADO CONTRA CÔNJUGE POR MOTIVOS ALHEIOS ÀS FUNÇÕES MILITARES, FORA DE SITUAÇÃO DE ATIVIDADE E DE LOCAL SUJEITO À ADMINISTRAÇÃO MILITAR. CRIME MILITAR DESCARACTERIZADO (ART. 9º, II, A, DO CPM). COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI. ORDEM CONCEDIDA. 1. A competência do Tribunal do Júri para o julgamento dos crimes contra a vida prevalece sobre a da Justiça Militar em se tratando de fato circunscrito ao âmbito privado, sem nexo relevante com as atividades castrenses.
2. A doutrina clássica revela a virtude da sua justeza ao asseverar que o fôro militar não é propriamente para os crimes dos militares, sim para os crimes militares; porque, no militar, há também o homem, o cidadão, e os factos delictuosos praticados nesta qualidade caem sob a alçada da (...) comunhão civil; o fôro especial é só para o crime que elle praticar como soldado, ut miles, na phrase do jurisconsulto romano. Affrontaria o princípio da egualdade o arredar-se da justiça ordinária o processo e julgamento de crimes communs para uma jurisdicção especial e de excepção. (Constituição Federal de 1891, comentários por João Barbalho U. C., ed. Fac-similar, Brasília: Senado Federal Secretaria de Documentação e Informação, 1992, p. 343, nota ao art. 77)