Página1 Curso/Disciplina: Direito Processual Penal Objetivo Aula: Direito Processual Penal Objetivo - 04 Professor(a): Elisa Pittaro Monitor(a): Beatriz Moreira Leite Aina Aula 04 INQUÉRITO POLICIAL: Instaurado o IP, quais as diligências que serão realizadas pela autoridade policial? As que estão no art. 6º, CPP: não necessariamente devem ser cumpridas nessa ordem, e não necessariamente todas elas devem ser realizadas. Isso fica a critério do Delegado. Art. 6 o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994) Isolar o local do crime. Inciso II: II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais; (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994) Chegou no local do crime, a autoridade vai apreender tudo o que achar que tem a ver com o crime, que possa ter relação com o fato criminoso. Não há necessidade de busca e apreensão. Essa apreensão será registrada no chamado laudo de apreensão, contendo todos os objetos apreendidos, que serão posteriormente periciados e restituídos a seu proprietário, em caso de pedido de restituição. Inciso III: III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; Essa é a finalidade do IP. Seria mais interesse se o dispositivo falasse em elementos, e não em provas. Inciso IV: IV - ouvir o ofendido; Sempre que possível, e naqueles crimes que tenham vítima. A vítima não é testemunha. A testemunha está no art. 202, CPP, sendo que a vítima está no art. 201, CPP. Inciso V: V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;
Página2 Inciso VI: VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; Se houver necessidade. Há controvérsias na doutrina e jurisprudência sobre obrigatoriedade de o investigado participar desse reconhecimento e da acareação, mas não trabalharemos com elas agora. VII: VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias; Cabe ao delegado fazer esse encaminhamento de ofício. Em regra, ele próprio encaminha para realização de perícia. Mas há dois exames que o delegado não pode encaminhar de ofício, pois precisa da manifestação judicial: - exame para verificação de doença mental; e - exame de verificação de dependência toxicológica. Nesses dois casos há necessidade de instauração de incidentes processuais: incidente de insanidade mental e incidente de dependência toxicológica, respectivamente. Inciso VIII: VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes; A identificação criminal é a última opção, que só será realizada se não for possível a identificação civil. Inciso IX: IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter. A ideia do legislador era que fosse feito um estudo social sobre aquele indivíduo. Mas não é bem assim que as coisas funcionam. Inciso X: X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) A ideia é preservar essas crianças que acabam sendo atingidas, na medida do possível. O inciso X foi acrescido ao dispositivo em 2016. Fazer remissões no art. 6º, CPP ao art. 240, CPP -> busca e apreensão. E à L.9.296/96 -> interceptação telefônica. Veremos ambas mais à frente, mas são diligências que também ocorrem durante o IP. Chega um momento em que tudo no IP aponta para um indivíduo como sendo autor do crime. Se isso ocorrer, ocorrerá o indiciamento.
Página3 Indiciamento: Indiciamento ocorre quando todas as diligências do IP apontam para alguém como sendo o suposto autor de um crime. A partir desse momento, o indivíduo será qualificado e interrogado, passando a ser o centro das investigações. O indiciamento tem um caráter duplo, ambíguo: por um lado, traz o estigma negativo de ser indiciado; o IP sai na FAC (folha de antecedentes criminais) do indivíduo... Por outro lado, o indiciamento traz uma série de garantias individuais: o indiciado tem direito ao silêncio, direito a um advogado, direito a não ser obrigado a produzir prova contra si... O indiciamento não vincula o membro do MP. Com ou sem ele, o promotor pode denunciar. Ou promover o arquivamento do IP. Para a polícia é um marco determinante, pois a partir dali tudo gira em torno daquele indivíduo. A L.12.830/13 estabeleceu categoricamente que o indiciamento é privativo do delegado. Art. 2º, 6º: 6o O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias. Só delegado pode realizar indiciamento. Nos procedimentos de competência originária dos tribunais, isso muda. De todo modo, isso não vincula uma possível ação penal. Esgotadas as diligências investigatórias e não tendo sido possível apurar a autoria: o que o delegado fará? Um relatório dizendo tudo o que foi feito. Ele relata o IP dizendo que não foi possível esclarecer o fato. Remete esse IP ao promotor, que fará uma promoção dirigida ao juiz pedindo o arquivamento do inquérito. Nem sempre isso acontece. Muitas vezes o IP fica lá sem nenhuma diligência. O promotor pode fazer uma promoção de arquivamento desse IP? Sim. Com ou sem relatório. Arquivamento do Inquérito Policial: Ocorre quando, esgotadas as diligências investigatórias, não foi possível identificar o autor do crime. O pedido de arquivamento é feito pelo MP e direcionado ao juiz. Quem determina o arquivamento é o juiz. Se ele concorda com a promoção de arquivamento do MP, o IP será arquivado. Se o juiz discordar da promoção de arquivamento, aplicará o art. 28, CPP: Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.
Página4 O juiz remeterá o feito ao Procurador Geral de Justiça, que é o chefe do MP estadual. O PGJ tem três opções: 1ª) Concorda com o promotor que o IP deve ser arquivado. O IP será arquivado. 2ª) Discorda do promotor e acha que o juiz está correto e deve ser oferecida a denúncia. Ele próprio oferece a denúncia. 3ª) Discorda do promotor e acha que o juiz está correto e deve ser oferecida a denúncia. Designa outro promotor para oferecer a denúncia. Nessa última opção, designado outro promotor para oferecer denúncia, este pode se recusar a oferecê-la? Alguns professores de D. Adm., que estão com a razão, afirmam que o PGJ pode delegar qualquer de suas atribuições a um outro promotor. Então, esse outro promotor atua como longa manus, age por delegação, e nesse caso não poderia se recusar a denunciar. A lei orgânica do MP (tanto as estaduais quanto a federal) estabelece que o PGJ pode delegar as atribuições a um promotor. Em contrapartida, na CRFB, há o princípio da independência funcional dos membros do MP. Por que razão o juiz deve aplicar o art. 28, CPP e remeter o IP ao PGJ? Porque aqui ele exerce a função anômala de fiscal do princípio da obrigatoriedade da ação pública. Essa atuação é chamada, por parte da doutrina, como princípio da devolução. Depois de arquivados os autos do IP, o que pode acontecer? Normalmente, não ocorre nada. Mas, em tese, podem acontecer duas coisas: 1ª) Surge notícia de prova nova. O IP deve ser desarquivado para prosseguir com as investigações do IP. notícia de prova nova desarquivamento do IP PGJ ou juiz Quem desarquiva o IP? Há leis estaduais do MP (a do RJ, p.ex.) que determinam que o PGJ é quem irá desarquivar o IP. Nos Estados em que a lei não prevê que será o PGJ, a melhor solução é que seja o juiz. 2ª) Surge prova nova. Não é preciso desarquivar o IP. A S. 524 do STF informa no sentido de oferecimento de denúncia.
Página5 prova nova Súmula 524, STF Oferecimento de denúncia S. 524, STF: Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas. Próximo bloco: final da matéria de IP.