UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU



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Transcrição:

1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU O FGTS COMO BENEFÍCIO E DIREITO DO TRABALHADOR AUTOR MARCELO RICARDO BARROS DE OLIVEIRA ORIENTADOR PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO RIO DE JANEIRO 2012

2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU O FGTS COMO BENEFÍCIO E DIREITO DO TRABALHADOR Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes AVM Faculdade Integrada, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Direito e Processo do Trabalho. Por: Marcelo Ricardo Barros de Oliveira.

3 A minha mãe, minhas irmãs e minha esposa, por terem muita paciência comigo.

A minha sobrinha e sobrinho, que são os filhos que ainda não tive. 4

5 RESUMO O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, a princípio uma evolução de programas sociais anteriores, criado para resguardar o trabalhador e seus dependentes, e como fonte de custeio governamental, apresentando acertos e equívocos que continuam sendo sanados ao longo de toda a sua vigência. Apresentando restrições à sua utilização de modo a não permitir dilapidação de um patrimônio que em última análise pertence a toda população, que é favorecida diretamente com a utilização de seus recursos, independente de serem titulares de contas vinculadas.

6 METODOLOGIA Para elaboração desta monografia foi utilizado o método bibliográfico de livros em geral e pesquisas em sites, principalmente os governamentais, além de publicações oficiais das legislações inerentes a esta pesquisa. Este estudo foi efetuado inicialmente buscando conhecer as origens do problema central que foi discutido, a opinião de diversos autores renomados, através de suas obras, e a compreensão do regramento atual em comparação com o as leis anteriores. Posteriormente foram extraídos destes regulamentos os prós e os contras, devidamente fundamentados, para se chegar à conclusão quanto à hipótese inicial que se pré-estabeleceu.

7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO... 8 CAPÍTULO I HISTÓRICO ANTES E DEPOIS DA CRIAÇÃO DO FGTS... 10 1.1 Histórico antes da criação do FGTS... 10 1.2 Histórico após a criação do FGTS... 14 CAPÍTULO II LEGISLAÇÃO VIGENTE (LEI 8.036/1990)... 20 2.1 Quem tem direito ao FGTS... 20 2.2 Trabalhadores excluídos do direito ao FGTS... 23 2.3 Hipóteses de saque do FGTS... 23 CAPÍTULO III O FGTS E SUA FUNÇÃO SOCIAL AO TRABALHADOR... 30 3.1 O FGTS para o trabalhador e dependentes... 30 3.2 O FGTS na habitação... 32 3.3 O FGTS na infraestrutura e saneamento... 35 3.4 O FGTS como investimento... 37 3.5 O FGTS e o MAIOR ACORDO DO MUNDO... 38 CONCLUSÃO... 41 BIBLIOGRAFIA... 44 ÍNDICE... 46

8 INTRODUÇÃO A presente monografia é um estudo que versa sobre o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço como benefício e direito do trabalhador, qual seu campo de atuação e porque se mostra não ser totalmente abrangente às necessidades do trabalhador. Este tema se justificou pela necessidade de entender a perspectiva do trabalhador em relação à eficiência do FGTS no cumprimento de sua função social, e como as suas regras favoreceram, ou não, os trabalhadores, seus dependentes e a sociedade de uma forma geral, ao levantar questões econômicas e os pontos negativos, como as limitações da lei atual. As principais questões abordadas foram se todo trabalhador tem direito a este benefício, em quais situações este direito pode ser utilizado, e se a criação do FGTS e a manutenção do seu regramento atual se mostram eficientes em relação aos objetivos de sua criação. Este estudo foi elaborado considerando a evolução histórica das leis e critérios que as originaram, até chegar à criação do FGTS como se conhece hoje. Quais foram os passos que determinaram a mudança de um artigo ou de toda uma lei. No primeiro capítulo foi feito uma dicotomia histórica entre os períodos antes e depois da criação do FGTS, ao elencar os benefícios e desvantagens em cada momento histórico, e como se deu a transição entre esses dois períodos. Também discrimina o funcionamento do FGTS em relação aos critérios para contribuição e as penalidades em caso de atraso, assim como a forma de recolhimento e sua fiscalização. O segundo capítulo traçou um perfil dos trabalhadores que fazem jus ao FGTS e quais as adequações para atribuir a categoria dos empregados domésticos também este direito.

9 Este segundo capítulo ainda relaciona quais os empregados que não fazem jus às contribuições do FGTS, e as hipóteses de saques da conta vinculada, juntamente com suas variáveis. O terceiro capítulo buscou esclarecer a principal questão deste estudo, ou seja, quais são as vantagens como benefício social para o trabalhador e seus dependentes. Houve ainda uma abordagem em relação à utilização do FGTS como fonte de recursos do Governo para alavancar obras sociais de saneamento e infraestrutura, influenciando diretamente toda a população e, por conseguinte, os trabalhadores titulares de contas vinculadas e seus familiares. Também elencou algumas das circunstâncias em que o titular de uma conta vinculada pode lançar mão do saldo desta conta para concretizar um objetivo, como o sonho da casa própria, e a possibilidade de incrementar seu saldo ao poder investir parte desses recursos. Para os objetivos traçados foram pesquisadas obras de renomados autores que se engajaram em esclarecer as nuances do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, como Vólia Bomfim Cassar, Juíza no TRT do Rio de Janeiro, Eduardo Gabriel Saad, Victor Russomano Junior; e Vera Lúcia Botta Ferrante, juristas brasileiros. A todos uma boa leitura deste estudo.

10 CAPÍTULO I HISTÓRICO ANTES E DEPOIS DA CRIAÇÃO DO FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). A palavra garantia se confunde com estabilidade, estabilidade esta decorrente do tempo de vínculo empregatício. Gustavo Filipe Barbosa Garcia conceitua o FGTS da seguinte forma: Pode-se conceituar o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço como direito trabalhista, de empregados urbanos e rurais, com a finalidade de estabelecer um fundo de depósitos em pecúnia, com valores destinados a garantir a indenização do tempo de serviço prestado ao empregador. (GARCIA, 2010, p. 459) No dia 13 de setembro de 1966 foi criado o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), sistema de poupança em benefício dos trabalhadores que provocaria profundas mudanças na economia brasileira. Hoje o FGTS é um modelo para outros países. Ao mesmo tempo em que acumula poupança para os trabalhadores, viabiliza desenvolvimento. Já financiou mais de 6 milhões de moradias e foi responsável por grande parte do saneamento básico brasileiro nos últimos quarenta anos. Uma contribuição monumental, especialmente para os mais carentes. (http://downloads.caixa.gov.br/_arquivos/fgts/relatoriosacoes/livro40anos_f.pdf, página 6, acessado em 23/02/2012) 1.1 Histórico antes da criação do FGTS No Brasil, o princípio da estabilidade no emprego teve origem no serviço público, no século XIX. Em 1824, a Constituição trazia uma noção genérica de estabilidade para os militares, ao definir que oficiais do Exército e da Armada não podem ser privados de suas patentes, senão por sentença proferida em juízo competente.

11 Em 1915, ficou definido que os servidores públicos passariam a ter direito à estabilidade no emprego, não podendo ser dispensados desde que tivessem dez anos de serviço. A demissão só se daria em casos especialíssimos. Mas a primeira norma que tratou efetivamente da estabilidade para os trabalhadores da iniciativa privada foi a chamada Lei Eloy Chaves, hoje considerada um marco histórico nesse tipo de legislação. Ela determinava que os ferroviários, depois de dez anos de trabalho, só poderiam ser demitidos em caso de falta grave constatada por inquérito administrativo conduzido pelo governo. (http://downloads.caixa.gov.br/_arquivos/fgts/relatoriosacoes/livro40anos_f.pdf, página 18, acessado em 23/02/2012) Nos anos seguintes, esse princípio foi sendo estendido a outras categorias, como marinheiros, portuários, comerciários e bancários. Enquanto princípios como esse eram deixados de lado, em 1943 a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), uma das marcas da Era Vargas, através do artigo 477, caput, da CLT, foi assegurado a todo empregado, não existindo prazo estipulado para a terminação do contrato de trabalho e quando não houvesse motivo dado pelo empregado para cessão desse contrato, uma indenização paga pela maior remuneração que tivesse recebido. O primeiro regime jurídico que visou proteger o tempo de serviço do empregado foi o previsto no artigo 478 da CLT. Pelo referido artigo o trabalhador que fosse dispensado sem justo motivo, receberia uma indenização por cada ano laborado. Caso o período de labor fosse inferior a um ano, nenhuma remuneração lhe seria devido. Este regime consagrou a estabilidade no emprego para os empregados mais antigos da iniciativa privada. Mas ficou evidente que a possibilidade de aquisição da estabilidade era motivo de acentuada insatisfação pelos empresários que alegavam que o trabalhador estável se tornava menos produtivo. Além disso, não contemplava a possibilidade de dispensa por motivo econômico ou financeiro, engessando economicamente as empresas, salvo por motivo de falta grave ou por dificuldades efetivamente comprovadas pela empresa.

12 Conforme Victor Russomano Junior caracteriza: A estabilidade não dá ao empregado qualquer ingerência na empresa. Consiste, única e exclusivamente, em uma drástica limitação ao direito potestativo de despedir, que a doutrina e a jurisprudência atribuem ao empregador, o qual, assim, não poderá, unilateral e imotivadamente, rescindir o contrato de trabalho do empregado estável, pois este está escudado no privilégio da garantia de emprego. (RUSSOMANO, 1998, p. 34) A estabilidade decenal. Ocorria quando o empregado completava 10 anos de trabalho em uma empresa, ocasião em que se tornava estável. A partir da estabilidade adquirida, seu contrato de trabalho somente poderia ser encerrado caso incorresse em justa causa, ainda assim após apuração da falta grave por meio de inquérito que verificasse a procedência da acusação. Caso o empregado pedisse demissão, seu pedido só seria válido quando feito com a assistência do Sindicato, ou do Ministério do Trabalho ou ainda pela justiça do Trabalho. Nesse sistema de estabilidade, aos empregados com mais de um ano de tempo de serviço e que fossem dispensados antes de completarem o decênio era devida uma indenização, correspondente ao valor de um mês de salário para cada ano laborado. Ultrapassados os 10 anos de serviço, para dar conteúdo à garantia da estabilidade, essa indenização tinha seu valor dobrado. Para arcar como essa indenização algumas empresas, por conta própria, provisionavam cerca de 1/12 avos do valor do salário do trabalhador de forma a ter o valor necessário para cobrir tal custo na hipótese de ser necessário dispensar o trabalhador. Muitas empresas entendiam que mesmo provisionando algum valor a indenização acabava representando um valor muito elevado. Por isso que nem todos os empregadores se preparavam. Dessa forma, na prática, muitos trabalhadores eram demitidos pouco antes de completarem o decênio ou não recebiam a indenização que lhes era devida e eram obrigados a reclamar seu direito na justiça. A Estabilidade Decenal era apontada como encargo demasiado oneroso para as empresas, posto que, no entender dos empresários não agregava valor para a sociedade como um todo. Na prática as empresas demitiam seus empregados antes dos dez anos para não arcar com a responsabilidade e os custos de tê-los empregados até a aposentadoria.

Cesar Reinaldo Offa Basile (2011, p. 142) também identificou a insatisfação das empresas com o novo regime celetista, que chamou de sistema híbrido de proteção ao vínculo empregatício, pois implicava um crescente ônus financeiro ao empregador até que o empregado atingisse dez anos de serviços na empresa, exceto no primeiro ano. E ainda se manifestou da seguinte forma: 13 Como se pode presumir, o referido sistema protetivo era absolutamente abominado pela maioria das empresas, que prefeririam promover rescisões antecipadas do contrato de trabalho a verem seus funcionários detentores de estabilidade definitiva (o que, segundo relatos da época, dava ensejo a uma redução na pontualidade, na assiduidade e na produtividade do trabalhador). (BASILE, 2011, p. 142) Com o passar dos anos o Governo verificou que o regime estabilitário não favorecia aos empregados, uma vez que as empresas não permitiam ao trabalhador o cumprimento do decênio necessário. Depois de mais de 30 anos ficou constatado que o sistema não vinha significando, de fato, uma vantagem para o trabalhador. Outra distorção é que as indenizações previstas acabavam sendo menores, a partir de negociações forçadas pelas empresas É interessante observar que, já nesse período, havia o entendimento de que a estabilidade podia não ser suficiente. Os poucos trabalhadores que atingiram a estabilidade, ao se aposentar, tinham apenas o rendimento da aposentadoria, de forma geral insuficiente. Muitos se perguntavam do que adiantava a estabilidade se ao longo de uma carreira estável o trabalhador não tinha acumulado nenhum patrimônio. Ou como ficaria o trabalhador em caso de falência ou fechamento da empresa. Segundo Sérgio Pinto Martins (2001), citado por Vólia Bomfim Cassar (2008, p. 1198), os constituintes de 1934 já previam a adoção de um fundo de reserva para garantia de um salário por ano caso a empresa desaparecesse. Por isso, em 1934 houve a tentativa, sem sucesso, de criar na Constituição um fundo de reserva do trabalho, que visava a assegurar o ordenado ou salário de um ano, se por qualquer motivo a empresa desaparecesse.

14 Havia ainda o fato de que o regime da estabilidade aprisiona o trabalhador ao emprego. É que, se ele decidisse sair da empresa onde estava para uma nova e melhor oportunidade profissional, não teria direito a nenhuma indenização. Persistia a preocupação com a formação de um patrimônio para o trabalhador. Em 1958, o governo aprovou lei permitindo que as empresas deduzissem do Imposto de Renda contribuições para um fundo de reserva para o trabalhador, em caso de dispensa. Era o Fundo de Indenizações Trabalhistas (FIT), regulamentado apenas em 1964 e formado a partir de títulos da dívida pública federal. Antes disso, em 1963, trabalhadores reunidos no II Congresso Nacional dos Metalúrgicos, em Recife, já haviam lançado a ideia de uma Lei de Garantia do Tempo de Serviço. O que se sugeria era substituir o instituto da estabilidade, um patrimônio considerado fictício, por um patrimônio real, materializado numa conta vinculada em agência governamental. Em 1965, preocupado com a questão do desemprego, o governo instituiu o Fundo de Assistência ao Desempregado (FAD), com um terço dos recursos originalmente destinados ao FIT, o que ainda não ia ao encontro aos anseios dos trabalhadores. (http://downloads.caixa.gov.br/_arquivos/fgts/relatoriosacoes/livro40anos_f.pdf, página 20, acessado em 23/02/2012) 1.2 Histórico após a criação do FGTS Até 13 de setembro de 1966, data da criação do FGTS, existia apenas uma garantia de emprego ao trabalhador. A solução encontrada foi adotar o regime do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS - inserido no mundo jurídico pela Lei nº 5.107/66, hoje revogada, criando um sistema alternativo que extinguiria com a estabilidade e, em contrapartida dava outras vantagens, como direito aos valores depositados mesmo nos casos de pedido de demissão (levantados depois de algum tempo e não com a terminação do contrato).

15 Com a nova lei criou-se um fundo de recursos, abastecido pelos empregadores, mediante o depósito de 8% incidentes sobre a remuneração do trabalhador, exigido ao longo da vigência do contrato. Independentemente da opção do empregado, o empregador tinha obrigação de depositar o valor do FGTS em conta específica, em nome do trabalhador como não optante. Vólia Bomfim Cassar (2008, p. 1199-1200) explicou muito bem como funcionou esta transição. O novo regime não acabava com o sistema anterior era uma alternativa ao regime da estabilidade decenal. Os empregados poderiam optar pelo novo regime - FGTS - ou permanecer no regime anterior - estabilidade decenal. Para tanto qualquer empregado poderia optar pelo FGTS mediante declaração escrita, desde que o fizesse dentro de 365 dias de vigência da Lei nº 5.107/66 ou da demissão, quando esta se desse após a vigência da lei. E os empregadores deveriam mencionar na Carteira de Trabalho do empregado se eram ou não optantes do FGTS, bem como no livro de registro de empregados. Para os empregados que optassem pelo FGTS fora do prazo estabelecido, era exigida além dos requisitos citados acima, a homologação da opção pela Justiça do Trabalho. À época os requisitos exigidos eram apenas para provar a incolumidade da vontade do empregado. Mesmo que ausente um ou mais requisitos, havendo prova de que esta era a vontade do empregado, a opção seria considerada válida. Vólia ainda explica que, a matéria não era pacificada na doutrina e jurisprudência, que se dividiu em duas correntes: (2008, p. 1200-1201) Na primeira corrente a doutrina majoritária da época defendia que os requisitos impostos pela lei eram da substância, da essência do ato, e do cumprimento deles dependeria a validade da opção pelo FGTS. Fundamentavam a tese no fato de que a opção acarretava a renúncia à estabilidade e, como tal, a interpretação deveria ser restritiva, para se evitar fraudes. Equivale dizer que a declaração escrita, a anotação da opção na CTPS do empregado, bem como no livro de registro de empregados e a

16 homologação pela Justiça do Trabalho eram requisitos ad essentiam ou ad solemnitatem do ato. Isto é, a ausência de qualquer requisito acarretaria na nulidade da opção pelo FGTS. Aparentemente, este foi o entendimento da Súmula 223 do TST (hoje cancelada) ao declarar que o termo inicial para anular a opção pelo FGTS coincide com a data em que formalizado o ato opcional, entendendo-se como formalização do ato o preenchimento de todos os requisitos exigidos pela lei. Enquanto não preenchidos, a prescrição não começava a correr, por não ter havido a actio nata. A segunda corrente, minoritária entre os doutrinadores, mas de peso na jurisprudência, defendia que os requisitos exigidos pela lei visavam garantir a incolumidade da declaração de vontade do empregado. Tanto que, a declaração de vontade não viciada, bastava para a validade do ato. Comparam a essencialidade do cumprimento dos requisitos contidos no art. 1º da Lei nº 5.107/66 aos requisitos contidos no art. 477 da CLT para fins de homologação da rescisão. Desta forma, caso o pagamento das verbas resilitórias ocorresse dentro do prazo legalmente estabelecido, a falta de homologação não geraria a repetição do ato praticado, sob pena de enriquecimento sem causa. Neste caso, o requisito legalmente exigido é da prova do ato. Ademais, percebia-se que empregados que estavam próximos da aposentadoria ou que acabavam de ser demitidos questionavam judicialmente a validade do ato opcional, valendo-se do não preenchimento de um dos requisitos exigidos pela Lei nº 5.107/66, para o requerimento judicial da nulidade da opção do FGTS e consequentemente declaração da estabilidade decenal e reintegração. Frequentemente estes empregados sequer declaravam na inicial a existência de vício de consentimento. Ao contrário, quando inquiridos a respeito, declaravam a preferência, à época, ao regime do FGTS. Além disso, muitos já tinham movimentado a conta do FGTS, ratificando a opção com tal ato. Se a própria lei permitiu que nos primeiros 365 dias da vigência da Lei nº 5.107/66, qualquer empregado optasse pelo FGTS independentemente da homologação judicial, e que, dentre estes empregados também estavam

incluídos os que contavam com mais de 10 anos de serviço, Vólia concluiu que a homologação judicial não era requisito essencial e criado com o fito de proteger os portadores de estabilidade. Para os defensores desta corrente, a formalidade do ato opcional a que se referia a Súmula 223 do TST era a declaração de opção pelo sistema do FGTS. Ao optar (manifestação de vontade), começaria a fluir o prazo prescricional. É o que conclui Vólia Bomfim Cassar: 17 Em suma, os requisitos exigidos no art. 1º da Lei do FGTS/66 eram ad probationem do ato e não invalidam a declaração quando houver prova de que esta foi a real vontade do trabalhador, salvo se arguido e provado o vício de consentimento dentro do prazo prescricional. (CASSAR, 2008, p. 1201) O regime de estabilidade decenal deixou de existir para os trabalhadores em geral a partir da vigência da Constituição Federal promulgada em 05 de outubro de 1988. Por esta razão a Lei 5.107 foi revogada pela Lei nº 7.839, de 1989 estabelecendo inclusive regras para os casos de empregados que à época da vigência da Constituição de 1988 não eram optantes do regime FGTS. A Lei 7839/89 posteriormente foi revogada pela Lei 8036/90, hoje ainda mantendo-se como aquela que regula o regime do FGTS. Os recursos do FGTS eram, e são remunerados com juros baixos e correção monetária e, originariamente, serviriam para financiar investimentos nas áreas de habitação e infraestrutura, sobretudo de saneamento. Com a promulgação e publicação da Constituição Federal, a partir de 05 de outubro de 1988, foi extinta a estabilidade no emprego para empregados regidos pela CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), permanecendo estáveis apenas àqueles que já possuíam 10 anos de trabalho na mesmo empresa. A partir daí, todos os trabalhadores celetistas passaram a ser obrigatoriamente optantes pelo FGTS. 1.2.2 Funcionamento do FGTS

18 O empregador, ainda que entidade filantrópica, é obrigado a depositar, até o dia 7 de cada mês, em conta vinculada, na Caixa Econômica Federal, a importância correspondente a oito por cento de remuneração paga ou devida no mês anterior, a cada trabalhador, incluídas as parcelas referentes à gratificação de Natal a que se refere a Lei n 4.090, de 13 de julho de 1962, com as modificações da Lei n 4.749, de 12 de agosto de 1965. Não integram a base de cálculo para incidência do percentual a contribuição do empregador para o Vale-Transporte (Decreto n 95.247, de 17 de novembro de 1987); e os gastos efetuados com bolsas de aprendizagem (Lei n 8.069, de 13 de julho de 1990, art. 64). O depósito na conta vinculada do FGTS é obrigatório também nos casos de interrupção do contrato de trabalho prevista em lei, tais como: I - prestação de serviço militar; II - licença para tratamento de saúde de até quinze dias; III - licença por acidente de trabalho; IV - licença à gestante; e V - licençapaternidade. Sendo que na ocorrência de uma dessas hipóteses, a base de cálculo será revista sempre que ocorrer aumento geral na empresa ou na categoria profissional a que pertencer o trabalhador. O empregador que não realiza os depósitos previstos no prazo mencionado acima é penalizado pela atualização monetária da importância correspondente; pelos juros de mora de um por cento ao mês e multa de vinte por cento, incidentes sobre o valor atualizado. A atualização monetária será cobrada por dia de atraso. 1.2.3 Recolhimento do FGTS Até 1997 o recolhimento era feito por sistema de Guias impressas, posteriormente por intermédio de disquetes, mas a partir da vigência da Lei nº 9.528/97 foi introduziu a obrigatoriedade de apresentação da Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - GFIP. O documento de recolhimento gerado pelo SEFIP é denominado de Guia de Recolhimento do FGTS GRF. O SEFIP gera o arquivo NRA.SFP (onde o NRA é o número do respectivo arquivo), que contém as informações destinadas ao FGTS e à Previdência Social. Este arquivo deve ser transmitido

19 pela Internet, via Conectividade Social, que é o canal Eletrônico de Relacionamento desenvolvido pela Caixa Econômica Federal e disponibilizado gratuitamente às empresas. É utilizado para a transmissão, via internet e no ambiente da própria empresa, dos arquivos gerados pelo programa, sem a necessidade de encaminhamento dos disquetes ao banco quando do recolhimento de FGTS e/ou prestação de Informações à Previdência. A Circular CAIXA nº 321 de 25/05/2004, estabeleceu a obrigatoriedade da transmissão do arquivo gerado pelo SEFIP por meio da Internet, a partir de 11/2004. A Portaria Interministerial MPS/MTE nº 227 de 25/02/2005, também determinou esta obrigatoriedade, a partir de 03/2005. A prestação das informações, a transmissão do arquivo NRA.SFP, bem como os recolhimentos para o FGTS são de inteira responsabilidade do empregador/contribuinte. 1.2.4 Fiscalização do FGTS Atualmente, compete ao Ministério do Trabalho e Emprego a verificação, em nome da Caixa Econômica Federal, do cumprimento de dispositivo na Lei 8.036/90, especialmente quanto à apuração dos débitos e das infrações praticadas pelos empregadores ou tomadores de serviço, notificando-os para efetuarem e comprovarem os depósitos correspondentes e cumprirem as demais determinações legais, podendo, para tanto, contar com concurso de outros órgãos do Governo Federal. Cabe à Caixa Econômica Federal e a rede arrecadadora prestar ao Ministério do Trabalho e Emprego as informações necessárias à fiscalização. O processo de fiscalização, de autuação e de imposição de multas se rege pelo disposto no Título VII da CLT, nos artigos 626 e seguintes, respeitado o privilégio do FGTS à prescrição trintenária. Como intuito de estimular o regular cumprimento da legislação do FGTS, há obrigação de apresentar o Certificado de Regularidade do FGTS (CRF) fornecido pela Caixa Econômica Federal, nas situações previstas no artigo 27 da Lei 8.036/90. (GARCIA, 2010, p. 466).

20 CAPÍTULO II LEGISLAÇÃO VIGENTE (LEI 8.036/1990) A Lei nº 8.036 de 11 de maio de 1990, em seu artigo 2º define o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço da seguinte forma: O FGTS é constituído pelos saldos das contas vinculadas a que se refere esta Lei e outros recursos a ele incorporados, devendo ser aplicados com atualização monetária e juros, de modo a assegurar a cobertura de suas obrigações. Já o artigo 3º define que as normas e diretrizes serão estabelecidas por um Conselho Curador que é composto por representantes de trabalhadores, empregadores de órgãos e entidades governamentais, sendo suas competências definidas no artigo 5º. 2.1 Quem tem direito ao FGTS A movimentação da conta vinculada do FGTS se destina ao trabalhador ou seus dependentes e ao empregador, de acordo com a hipótese e ocorre pelo seu valor total ou parcial, sendo dever do titular ou sacador comprovar o direito ao saque. No caso de haver dispensa sem justa causa do empregado, este fará jus a uma indenização de 40% sobre o FGTS, mesmo que tenha ocorrido saque nesta conta. Tem direito ao FGTS todos os trabalhadores regidos pela CLT que firmaram contrato de trabalho a partir de 05/10/1988. Antes desta data a opção pelo FGTS era facultativa. Casos os empregados passassem a ser optante, o valor que estava em seus nomes passava para uma nova conta, chamada de conta vinculada. Nas palavras de Victor Russomano Junior:

21 A transferência do empregado do regime da CLT para a sistemática do FGTS pressupunha um ato de opção expresso do trabalhador, a qual, contudo, sempre constituiu mera ficção jurídica, pois, notoriamente, tal opção, na realidade, era imposta pelo empresário como condição de admissão ou permanência no emprego. (1998, p. 40) Havia ainda, a possibilidade da opção retroativa, que tinha cabimento quando o empregado que já contava com tempo de serviço anterior à opção e ao optar pelo regime do FGTS o fazia não só para ser protegido no futuro como também, de forma retroativa, isto é, desde a admissão, desde que esta tenha sido posterior à lei nº 5.107/66. Como conseqüência todo o pacto laboral ficava protegido pelo FGTS, renunciando a forma de proteção ao tempo de serviço contido no artigo 478 da CLT. Para os empregados que já contassem com dez anos ou mais e, por isso, fossem estáveis, a opção retroativa estaria limitada a este período, não afetando a estabilidade decenal. Este sistema vige até hoje na Lei nº 8.036/90 em seu artigo 14, 4º, porém, uns defendiam a tese do direito potestativo do empregador, argumentando que poderiam optar retroativamente pelo FGTS independente do consentimento do empregador, negando a aplicabilidade da Lei nº 5.958/73. (VOLIA BOMFIM CASSAR, 2008, p. 1205). Segundo Volia, que se baseia na posição adotada de Valentim Carrion (2004), a opção retroativa prevista no artigo 14, não revogou a exigência contida na Lei nº 5.958/73 acerca da necessidade de consentimento do empregador, pois o artigo 5º do Decreto 99.685/90 é expresso neste sentido e concede prazo para o empregador discordar da opção retroativa de 48 horas. Sendo esta a posição do TST por meio da OJ-39 da SDI-I. Cabe ressaltar que hoje não existe mais a limitação contida na Lei nº 5.958/73, portanto o empregado poderá optar retroativamente à admissão ou à data da Lei nº 5.107/66, renunciando a estabilidade decenal. (2008, p. 1205)

22 Para o trabalhador contratado sob o regime celetista e cedido a órgãos público sob o regime estatutário, regime jurídico único, também é devido o recolhimento do FGTS. Também têm direito ao FGTS os atletas profissionais, os trabalhadores rurais, os safreiros (operários rurais que trabalham apenas no período da colheita), os temporários, os trabalhadores avulsos pertencentes a determinadas categorias como, por exemplo, estivadores, vigias portuários, e práticos de barra e portos. O menor aprendiz, assim considerados a pessoa física em exercício de contrato de aprendizagem, realizado mediante contrato de trabalho especial, com o maior de 14 anos e menor de 24 anos inscrito em programa de aprendizagem formação técnico-profissional metódica. O diretor não empregado poderá ser equiparado aos demais trabalhadores sujeitos ao regime do FGTS. O diretor não empregado é a pessoa física que exerça cargo de administração previsto em Lei, estatuto ou contrato social, independente da denominação do cargo, em empresas sujeitas ao regime da CLT que permite equiparar seus diretores não empregados aos demais trabalhadores sujeitos ao regime do FGTS, como os membros do Conselho de Administração de empresa cujo estatuto determine que a administração/gestão/gerência da sociedade compete, inclusive, àquele órgão. Diferente do Conselho Fiscal, visto que a atividade de fiscalização é distinta das funções de caráter gerencial e administrativa. O direito ao FGTS se estende, inclusive, aos diretores não empregados de empresas públicas, sociedades controladas direta ou indiretamente pela União, autarquias em regime especial e fundações sob supervisão ministerial. Até a criação da Lei nº 10.208/2001 que acrescentou dispositivos à Lei nº 5.859/1972 que dispõe sobre a profissão de empregado doméstico, não havia previsão legal do FGTS fazer parte dos direitos desta categoria profissional.

23 A própria Constituição Federal no parágrafo único do art. 7º, que relaciona os direitos atribuídos aos empregados domésticos, não faz menção ao FGTS. Corrigido tal equívoco, é facultado ao empregador doméstico a partir da competência de março de 2000, inclusive, recolher ou não o FGTS referente ao seu empregado. A opção pelo recolhimento estabelece a sua obrigatoriedade enquanto durar o vínculo empregatício. O FGTS não é descontado do salário, é obrigação do empregador. O trabalhador eleito para exercer mandato sindical mantém a mesma categoria de antes da investidura no cargo, ficando o recolhimento do FGTS a cargo do sindicato para o qual foi eleito, e é realizado em nome da empresa de origem do trabalhador. 2.2 Trabalhadores excluídos do direito ao FGTS De acordo com a Lei 8.036/90 em seu art. 15, parágrafo 2º, considera-se trabalhador toda a pessoa física que prestar serviços a empregador, a locador ou tomador de mão de obra, excluídos os eventuais, os autônomos e os servidores públicos civis e militares sujeitos a regime jurídico próprio. Portanto, não sendo definidos como trabalhadores pela lei do FGTS, estas categorias não fazem jus a uma conta vinculada para receber 8% do valor dos serviços prestados. Poderia haver dúvidas em relação aos trabalhadores autônomos e eventuais, no entanto o referido parágrafo exclui estes empregados de forma expressa do regime de do FGTS. (EDUARDO GABRIEL SAAD, 1995, p. 332). Em relação aos servidores públicos civis e militares, por força do prescrito nos artigos 37 e seguintes da Constituição Federal, estando sujeitos a regime próprio, não há submissão à lei do FGTS. (SAAD, 1995, p. 332). 2.3 Hipóteses de saque do FGTS De acordo com o artigo 20, da Lei 8.036/90, o FGTS pode ser sacado nas seguintes ocorrências:

24 2.3.1 Despedida sem justa causa Despedida sem justa causa, inclusive doméstico, ou exoneração de diretor não empregado ou destituição do sócio gerente, ambas sem justo motivo. Neste tópico cabe a observação de Eduardo Gabriel Saad quanto à relevância do término do contrato de trabalho. Seus efeitos são de três classes: pessoal e familiar, social e econômico. É pelo trabalho que o empregado obtém o necessário para viver, com seus familiares, e com o desemprego passa e defrontar com todos os tipos de problemas. Para a sociedade, quando é elevado o número de desempregados, fica submetida a tensões que angustiam e preocupam todos os grupos, por verem no fenômeno algo ameaçador para às instituições. E para a economia por implicar na retração do mercado consumidor, no caso de desemprego em massa. (SAAD, 1995, p. 385). 2.3.2 Rescisão por culpa recíproca e de força maior Decisão irrecorrível da Justiça do Trabalho trânsito em julgado -, quando o empregador e o trabalhador/diretor não empregado forem responsáveis, na mesma proporção, pela rescisão. Neste caso a recolhimento da multa rescisória é igual a 20% do total dos depósitos devidos ao trabalhador. 2.3.3 Extinção da empresa ou nulidade do contrato de trabalho A terceira hipótese seria a extinção total da empresa, fechamento de quaisquer de sues estabelecimentos, filiais ou agências, supressão de parte de suas atividades, declaração de nulidade do contrato de trabalho nas hipóteses previstas no artigo 37, 2º, da Constituição Federal, ou ainda no falecimento do empregador individual sempre que qualquer dessas ocorrências implique

25 rescisão de contrato de trabalho, comprovada por declaração escrita da empresa, suprimida, quando for o caso, por decisão judicial transitada em julgado. 2.3.4 Aposentadoria Também há hipótese de saque por aposentadoria concedida pela Previdência Social, inclusive por invalidez, ou por rescisão contratual do trabalhador ou exoneração do diretor não empregado a pedido ou por justa causa, relativo ao vínculo empregatício ou mandato exercido após a aposentadoria. 2.3.5 Falecimento do trabalhador Falecimento do trabalhador, trabalhador doméstico, trabalhador avulso ou do diretor não empregado, sendo o saldo pago aos seus dependentes, para esse fim habilitados perante a Previdência Social, segundo o critério adotado para a concessão de pensões por morte. Na falta de dependentes, farão jus ao recebimento do saldo da conta vinculada os seus sucessores previstos na lei civil, indicados em alvará judicial, expedido a requerimento do interessado, independente de inventário ou arrolamento. 2.3.6 Três anos ininterruptos fora do regime do FGTS Esta situação se subdivide em dois critérios. O primeiro critério se refere à permanência do trabalhador por três anos ininterruptos, a partir de 14 de julho de 1990, fora do regime do FGTS, podendo o saque, neste caso, ser efetuado a partir do mês de aniversário do titular da conta. O segundo critério se refere às contas vinculadas sem crédito de depósitos por três anos ininterruptos, cujo afastamento do trabalhador tenha ocorrido até 13 de julho de 1990, inclusive.

2.3.7 Término do contrato de trabalho por prazo determinado 26 Extinção normal do contrato a termo, inclusive a dos trabalhadores temporário regido pela Lei nº 6.019 de 3 de janeiro de 1974, do atleta profissional, e do término do mandato do diretor na empregado que não tenha sido reconduzido a cargo. Segundo Saad, a tendência que se observa modernamente na legislação da maioria dos países é a de disciplinar os contratos de trabalho de modo que impeçam a utilização pelos empregadores da prática de defraudar os assalariados dos direitos e vantagens inerentes aos contratos de duração indeterminada. (1995, p. 399) 2.3.8 Suspensão do trabalho avulso por período igual ou superior a 90 dias O trabalhador avulso é caracterizado pela prestação de serviços, remunerados pelo tomador diretamente ao órgão sindical/órgão Gestor de Mão de Obra OGMO - e não há vínculo formal entre o tomador e o trabalhador. A suspensão é comprovada por declaração do sindicato representativo da categoria profissional. 2.3.9 Por neoplasia maligna (câncer) Incluído pela Lei nº 8.922 de 1994, o trabalhador ou qualquer de seus dependentes que for acometido de neoplasia maligna. O titular da conta que solicitar o saque por motivo de neoplasia maligna, após a cura da enfermidade, saca os valores uma única vez, mesmo que na data da solicitação de saque inexista a enfermidade, sendo neste caso considerada os saldos existentes em todas as contas do titular até a data do exame histopatológico/anatomopatológico que embasou o laudo do exame laboratorial para elaboração do atestado médico. 2.3.10 Por ser portador do vírus HIV

27 Incluído pela Medida Provisória nº 2.164-41 de 2001, o trabalhador ou qualquer de seus dependentes for portador do vírus HIV. Em caso de óbito do dependente com HIV, o valor a ser liberado ocorre em um único saque que corresponde ao saldo existente nas contas vinculadas na data do óbito, não sendo passível de saque caso o óbito tenha ocorrido antes de 26/07/2001. 2.3.11 Por estágio terminal de vida Movimentação da conta vinculada por motivo do trabalhador encontrar-se em estágio terminal de vida ou possuir dependente nesta condição. Enquanto persistir a atividade da moléstia e houver saldo na conta vinculada, a liberação da conta poderá ser efetuada. 2.3.12 Por idade superior a 70 anos O titular da conta com idade igual ou maior de 70 anos poderá sacar todas as contas vinculadas do FGTS, independente de haver ou não afastamentos, sempre que apresentar os documentos pertinentes. 2.3.13 Por necessidade pessoal decorrente de desastre natural A necessidade pessoal, cuja urgência e gravidade decorram de desastre natural, reconhecida formalmente pelo Governo Federal, e que tenha atingido a área de residência do trabalhador, foi instituída pela Medida Provisória nº 2.164-41 de 2001. O valor do saque corresponde ao saldo disponível por conta vinculada e por evento caracterizado como desastre natural, na data da solicitação, limitado a um determinado valor desde que o intervalo entre uma movimentação e outra não seja inferior a 12 meses.

28 A movimentação da conta vinculada será admitida até 90 dias após o reconhecimento por meio de publicação de portaria do Ministro de Estado da Integração Nacional. 2.3.14 Para financiamento habitacional Para pagamento de parte das prestações decorrentes de financiamento habitacional concedido no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Para liquidação ou amortização extraordinária do saldo devedor de financiamento imobiliário, observadas as condições estabelecidas pelo Conselho Curador, dentre eles a de financiamento concedido no âmbito do SFH e que haja interstício mínimo de 2 anos para cada amortização. Para pagamento total ou parcial do preço de aquisição de moradia própria, ou lote urbanizado de interesse social não construído. Em todas as situações o mutuário deverá contar com o mínimo de 3 anos de trabalho sob o regime do FGTS, na mesma empresa ou empresas diferentes. Uma variação seria a utilização do FGTS para operações em consórcio imobiliário. O titular da conta não poderá ser detentor de financiamento ativo do SFH em qualquer parte do território nacional, na data de aquisição do imóvel, nem poderá ser proprietário, promitente comprador, usufrutuário ou cessionário de outro imóvel no município de residência ou no local onde exerce a sua ocupação principal, incluindo os municípios limítrofes ou integrantes da mesma região metropolitana, na data de aquisição do imóvel. (http://www.fgts.gov.br/perguntas/trabalhador/pergunta48.asp acessado em 09/03/2012). Eduardo Gabriel Saad fez uma importante observação em relação a utilização do FGTS como fonte de custeio de programas habitacionais. A questão habitacional não é de interesse exclusivo do trabalhador, mas de toda a população do país. Corolariamente, não se deve utilizar, apenas, os recursos do Fundo de Garantia na ilusória solução desse problema social. Primeiro, porque não é justo nem correto que se desvie o sistema do Fundo de suas verdadeiras finalidades e, segundo,

porque a política habitacional é de responsabilidade do Estado, como encarnação de toda a coletividade. (1995, p. 173). 29 2.3.15 Para aplicação em quotas de Fundos Mútuos de Privatização (FMP) Regido pela Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976, nesta aplicação é permitida a utilização máxima de 50% do saldo existente e disponível em sua conta vinculada de FGTS na data em que exercer a opção, em conformidade com a Lei nº 9.491 de 1997.

30 CAPÍTULO III O FGTS E SUA FUNÇÃO SOCIAL AO TRABALHADOR 3.1 O FGTS para o trabalhador e dependentes O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço foi criado para assegurar ao trabalhador uma formação de pecúlio para ampará-lo em caso de demissão e a seus dependentes em caso de falecimento. Vólia Bomfim Cassar (2008, p. 1218) cita a Teoria do Ressarcimento do Dano ou Assistencial que define que a principal atribuição, o FGTS ao trabalhador é de compensar o empregado pela perda do emprego, considerando a despedida como um dano causado ao empregado, porém, segundo Vólia, esta teoria não define de forma exata o objetivo do FGTS. Para ressarcir um dano deve-se levar em conta a extensão deste, o que não ocorria com a indenização contida no artigo 478 da CTL, pois esta era prefixada. A indenização leva em conta o tempo de serviço já prestado, Isto é, o passado do trabalhador, enquanto a indenização por dano leva em conta os prejuízos, imediatos e futuros. Ademais, o ato de despedir não gera culpa do patrão, pois está exercendo um direito potestativo. (VOLIA, 2008, p. 1218). Os depósitos do FGTS, mesmo tendo caráter social, com previsão em normas de ordem pública, também configuram importante direito do empregado, com previsão constitucional (art. 7º, inciso III). Assim, como confirma o art. 25 da Lei 8.036/1990, pode o próprio trabalhador, seus dependentes e sucessores, ou ainda o sindicato a que estiver vinculado, acionar diretamente a empresa por intermédio da Justiça do Trabalho, para compeli-la a efetuar o depósito das importâncias devidas. Os depósitos do FGTS, mesmo sendo um direito do empregado, ficam em conta vinculada de sua titularidade, e podem ser sacados apenas em certos casos previstos em lei.

A despedida sem justa causa, inclusive a indireta, de culpa recíproca e de força maior, além da extinção total da empresa, fechamento de quaisquer estabelecimentos, filiais ou agências, supressão de parte de suas atividades, declaração de nulidade do contrato de trabalho em determinadas condições, ou ainda o falecimento do empregador individual, são algumas das possibilidades de saques previstas em lei. O empregado também faz jus ao FGTS no caso de aposentadoria concedida pela Previdência Social, no entanto havia uma controvérsia em relação ao direito ou não do aposentado ser indenizado com a multa de 40%. Este entendimento tinha razão de ser em virtude do artigo 453 da CLT. O referido artigo apregoa que no tempo de serviço do empregado, quando readmitido, serão computados os períodos, ainda que não contínuos, em que tiver trabalhado anteriormente na empresa, salvo se houver sido despedido por falta grave, recebido indenização legal ou se aposentado espontaneamente, ou seja, o contrato de trabalho era considerado extinto diante da aposentadoria. O Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que o artigo 453 da CLT viola a Constituição Federal, e anulou os seus efeitos editando a Orientação Jurisprudencial da SDI-1 nº 361 (OJ-361). Esta OJ definiu que a aposentadoria espontânea não é causa de extinção do contrato de trabalho se o aposentado permanecer prestando serviços ao empregador após a jubilação. Assim, por ocasião da sua dispensa imotivada, o empregado tem direito à multa de 40% do FGTS sobre totalidade dos depósitos efetuados no curso do pacto laboral. São fartas as decisões neste sentido, como no Acórdão nº RR- 24.310/2002-900-01-00.8 da 6ª Turma, proferida em 22/10/2008. TST RR 24.3010/2002-900-01-00.8 Data da Publicação: 31/10/2008. PROC. Nº TST-RR-24.310/2002-900-01-00.8 ACÓRDÃO 6ª TURMA GMHSP/jv/smf 31 RECURSO DE REVISTA. APOSENTADORIA ESPONTÂNEA. EFEITOS NO CONTRATO DE TRABALHO. Nos termos da OJ 361 da SBDI-1 do TST, a aposentadoria espontânea não extingue o contrato de trabalho. Recurso de revista não conhecido.

32 (2431000152002501 2431000-15.2002.5.01.0900, Relator: Horácio Raymundo de Senna Pires. Data de Julgamento: 22/10/2008, 6ª Turma. Data de Publicação: DJ 31/10/2008.) Em relação aos dependentes o FGTS visa ampará-los, desde que habilitados perante a Previdência Social, no caso da falta do empregado. Porém, por meio da Lei nº 8.922/1994 e Medida Provisória nº 2.164-41 de 2001, em relação aos incisos XI, XIII e XIV da Lei.8.036/1990, prevê que em caso de neoplasia maligna, AIDS ou doença grave em estado terminal, acometidas à dependentes, o trabalhador fará jus ao saque do FGTS, ou seja, é uma forma de amparar o dependente com o trabalhador ainda em vida. Há uma ressalva negativa em relação ao FGTS quando se trata de trabalhador acometido de doença mental. Não é raro uma doença mental obrigar o trabalhador a se afastar do emprego, depois de alguns anos de atividade ininterrupta, no entanto, no rol dos casos que autorizam saques da conta vinculada, não inclui a doença mental do empregado, que na maioria dos casos de afastamento do serviço, é mantido em casa sob tratamento psiquiátrico. FGTS: Eduardo Gabriel é bem enfático ao ressaltar esta falha na lei do Desnecessário ressaltar, na hipótese, que essa situação provoca despesas de vulto que poderiam ser cobertas pela retirada mensal, da conta vinculada, de importância equivalente à diferença entre o salário percebido em atividade e o benefício pago pela Previdência Social. (SAAD, 1995, p. 482) É de se lamentar que o empregado afastado por doença mental, e sujeito á curatela, só poderá efetuar saques se a conta vinculada permanecer três anos sem receber qualquer depósito. 3.2 O FGTS na habitação Quando se fala em vantagens do FGTS, não há como não associar à habitação. O sonho de qualquer trabalhador que não possui casa própria se torna palpável, pois ele vê que materialização desse sonho é possível.

33 Durante séculos, a maior parte da população de todos os países concentrava-se na região rural. À medida que a revolução industrial ganhava maiores dimensões, o perfil da sociedade humana foi se modificando como o surgimento das grandes cidades e, pouco a pouco a carência de habitações foi se acentuando. A origem da política habitacional no Brasil é muito bem descrita por Eduardo Gabriel Saad (1995, p.169 e 170). A partir de 1930, sem qualquer planejamento, a questão habitacional passou a ser enfrentada. De outra parte, não se tratava, ainda, de problemas de primeira grandeza. Os antigos Institutos de Aposentadorias e Pensões aplicavam minguados recursos na construção de casa populares. Apenas em maio de 1946 é que a União decidiu entrar na de forma efetiva com a criação da Fundação da Casa Popular (Decreto-Lei nº 9.218). Foi o primeiro órgão oficial dedicado exclusivamente à construção de residências para famílias de pequeno poder aquisitivo. Também era de sua incumbência financiar obras urbanísticas, de abastecimento d água, esgotos, suprimentos de energia elétrica e quaisquer outras visando à melhoria das condições de vida e bem estar das classes trabalhadoras. Teoricamente, o plano era correto. As casas populares tinham de contar com a infraestrutura constituída de serviços essenciais à ida das famílias. Mas tão amplo quanto ambicioso, o projeto exigia recursos que o país não possuía. A Fundação da Casa Popular foi extinto em 1964 pela Lei nº 4.380/64, a mesma lei que criou o Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNH), com o objetivo de investir na construção e financiamento de habitações, sobretudo para as classes de menor renda. É neste momento que o FGTS mostra sua importância. Pela nova lei, todo o dinheiro depositado pelas empresas em nome dos seus trabalhadores era recolhido pelos bancos e depois transferido para o BNH. Com esses recursos o BNH poderia levar adiante o Plano Nacional de Habitação.

34 A importância do Plano Nacional de Habitação fica clara, segundo Vera Lúcia Botta Ferrante (1978, p. 385), pois interessado na dinamização do setor industrial de construção civil, passou a ser um dos pontos mais importantes e estratégicos da política econômica governamental, porque além de procurar suprir o défict habitacional (agravado pela inflação e pelas limitações da taxa de juros), objetivou suprir a infraestrutura necessária à dinâmica interna do sistema. De acordo com a Associação Brasileira das Entidades de Crédito - Abecip (História e perspectiva do crédito imobiliário, 2003), um ano depois da sua criação, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço representou uma verdadeira revolução para o Banco Nacional de Habitação (BNH). Criado com um capital de Cr$1 milhão de recursos dos cofres da União, o BNH recebeu neste primeiro ano Cr$600 milhões do FGTS, provenientes da arrecadação de 8% sobre as folhas de salários das empresas. (http://downloads.caixa.gov.br/_arquivos/fgts/relatoriosacoes/livro40anos_f.pdf, página 24 a 26, acessado em 23/02/2012) O crescimento da população e o intenso processo de urbanização, junto com a falta de investimentos no setor, provocaram um gigantesco défict habitacional no país. Até a criação do BNH, os órgãos governamentais e paraestatais da área habitacional produziram apenas 120 mil moradias em todo o país. O BNH foi extinto em 1986 através do Decreto-Lei nº 2.291 provocando uma profunda reestruturação no Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e na gestão do FGTS que passou a ser administrado pela Caixa Econômica Federal. A ideia básica era que a poupança compulsória para os trabalhadores representada pelo FGTS financiasse, em grande parte, a missão do extinto BNH. O trabalhador pode utilizar os recursos do FGTS para a moradia nos casos de aquisição de imóvel novo ou usado, construção, liquidação ou amortização de dívida vinculada a contrato de financiamento habitacional. O pagamento de parte das prestações decorrentes de financiamento habitacional concedido no âmbito do SFH necessita estar adequado a alguns