SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS: UMA ANÁLISE DO USO DA TERRA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO ARROIO BARÃO, RS Franciele Francisca Marmentini Rovani 1, Letícia Celise Ballejo de Oliveira 2, Angélica Cirolini 3, Roberto Cassol 4 1 Acadêmica do curso de Graduação em Geografia, UFSM. franciele.rovani@yahoo.com.br 2 Acadêmica do curso de Graduação em Geografia, UFSM. leticelise@yahoo.com.br 3 Prof ª MSc. do Colégio Politécnico, UFSM. acirolini@gmail.com 4 Prof. Dr. do Departamento de Geociências, UFSM. rtocassol@gmail.com Eixo Temático 1: Técnica e métodos de cartografia, geoprocessamento e sensoriamento remoto, aplicadas ao planejamento e gestão e gestão ambientais JUSTIFICATIVA A Geografia é a ciência que visa compreender as relações entre o homem e a natureza no decorrer do tempo. Assim, o espaço geográfico, objeto de estudo, modifica-se a partir das imposições que lhe são feitas, sejam por meios sociais, econômicos ou culturais, em diferentes escalas. Deste modo, os fenômenos geográficos estão distribuídos no espaço de diversas formas e podem ser compreendidos e analisados por técnicas distintas. Logo, em Geoprocessamento, área de atuação que utiliza técnicas matemáticas e computacionais para o tratamento de informações geográficas, é possível inferir relações espaciais entre os diferentes dados. Assim, existem inúmeras formas de representar e descrever a distribuição espacial seja na forma qualitativa e/ou quantitativa, por meio de dados obtidos a partir de levantamentos de campo ou a partir da classificação de imagens. O resultado destas operações gera também os mapas temáticos. Nesta perspectiva, este trabalho teve como meta analisar o uso da terra da Bacia Hidrográfica do Arroio Barão localizada no município de Barão de Cotegipe, situado na região noroeste do estado do Rio Grande do Sul, observando a distribuição de seus elementos do espaço e suas transformações no período de 1992, 2000 e 2008. Além disso, visou-se estabelecer relações entre as configurações do relevo, a qual está inserida e a conseqüente ocupação da área ao seu entorno. OBJETIVOS Analisar o uso da terra da bacia hidrográfica do Arroio Barão no período de 1992, 2000 e 2008, por meio de informações geográficas; Elaborar mapas temáticos de hipsometria, declividade, orientação de vertentes e de uso da terra da respectiva área de estudo;
Idenficar as transformações ocorridas nesta escala de tempo e analisar os principais fatores que influenciaram para tais configurações. MATERIAIS E MÉTODOS Primeiramente, buscou-se uma base sólida de conhecimentos a respeito do tema abordado e aprofundar os saberes com relação à dinâmica do espaço geográfico na referida bacia hidrográfica, bem como estudos referentes às técnicas de geoprocessamento e suas principais aplicações. Em seguida, criou-se um banco de dados, ou seja, o diretório onde foram armazenados todos os dados referentes à área de estudo. Para tanto, utilizou-se a carta topográfica de Erechim, Folha SG.22-Y-D-IV-1, MI-2902/1 na escala 1/50000 e imagens do satélite Landsat-5 disponíveis no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), correspondentes aos anos de 1992 (27/08/92), 2000 (11/04/00) e 2008 (24/09/08), nas bandas 3, 4 e 5 do sensor TM. Com o auxílio do aplicativo Spring 3.2, foi possível georreferenciar o local de análise, bem como criar o mapa base, o hipsométrico, de declividades e o mapa de orientação de vertentes, que serviram, principalmente, para maior conhecimento da área e dos elementos geográficos nesta dispostos. O mapa de declividades seguiu a metodologia indicada pelos autores Herz e De Biasi (1989) in De Biasi (1992) em que foram definidades cinco classes: menor que 5%, de 5 a 12%, de 12 a 30%, de 30 a 47% e maior que 47%. Posteriormente, elaborou-se os mapas de uso da terra nas três datas respectivas através das imagens de satélite, no qual definiu-se quatro classes de uso: florestas áreas com florestamento ou reflorestamento, culturas inclui as áreas agricultáveis e os campos abertos com pastagens, soloexposto representa os locais em pousio ou onde há solo não cultivável e água diz respeito aos corpos hídricos. Após o mapeamento, realizou-se a análise espaço-temporal da bacia hidrográfica do Arroio Barão, por meio da sobreposição dos mapas temáticos, destacando as principais modificações ocorridas no espaço geográfico, bem como, averiguar os fatores que contribuíram para tais alterações. RESULTADOS E DISCUSÕES A bacia hidrográfica do Arroio Barão no município de Barão de Cotegipe, está localizada nas coordenadas 27º33 27 e 27º38 18 de Latitude Sul e 52º21 24 e 52º25 15 de Longitude Oeste, compreendendo uma área de 14,42 km 2 sendo interceptada por estradas pavimentadas, nãopavimentadas e caminhos, apresenta uma rede de drenagem com padrão dentrítico de terceira ordem de hierarquia. A drenagem apresenta-se espacialmente bem distribuída na área e suas águas distribuem-se no sentido Noroeste-sul. Com relação à hipsometria, foram identificadas cinco classes altimétricas, variando aproximadamente 50 metros.
A montante da bacia, que compreende as nascentes, está localizada entre 790 a 840 metros e sua jusante, nas áreas mais baixas, em torno de 660 a 690 metros de altitude. As áreas mais elevadas encontram-se acima de 890 metros, proporcionando uma amplitude altimétrica de 230 metros a nível no mar. Quanto à declividade do terreno, foram definidas cinco classes de declividade, de acordo com a proposta de Herz e Biasi (1989), iniciando com porcentagens menores que 5% até superiores a 47%. Observou-se que na montante da bacia encontram-se as declividades acima que 30% e na sua jusante, as declividades abaixo de 5%. Como resultado das medições das áreas, verificou-se que as menores declividades representam 5,63 km 2, ou seja, 39,04% da área, seguida pelas declividades entre 12-30% com uma área de 4,38 Km 2, o que permite o uso destas com culturas e mecanização. As declividades de 5-12% correspondem a uma área de 1,80 km 2, o equivalente a 12,48%, as declividades de 30-47% abrangem uma área de 1,68 km 2 e por fim, as declividades maiores que 47% representaram a menor proporção com 0,95 km 2, ou seja, apenas 6,79% da área total, sendo estas classificadas como áreas de preservação permanente, e por isso muito importantes, não podendo ser efetuado nenhum tipo de corte ou derrubada de árvores. A orientação das vertentes ficou estabelecida em: norte, nordeste, noroeste, sul, sudeste, sudoeste, leste e oeste para melhor detalhamento do local. As vertentes de leste, sudoeste e sudeste encontraram-se mais a montante e ao lado direito da bacia, sendo estas áreas as de menor insolação e por isso, menos favoráveis aos cultivos agrícolas. Já as vertentes norte, nordeste e noroeste estão localizadas na porção esquerda da bacia e recebem uma quantidade superior de radiação solar, propiciando a agricultura. As vertentes de oeste foram as menos significativas. As áreas com declividade menor que 5%, consideradas planas, não possuem orientação de vertentes. Estas áreas não são indicadas para moradias, pois, estão sujeitas a inundação, porém, o cultivo das lavouras mecanizadas é indicado para esta situação. Quanto ao uso da terra destacaram-se as florestas, as culturas, o solo exposto, incluindo as áreas de pousio, e os corpos hídricos, como elementos fundamentais para compreensão da dinâmica ocupacional. No ano de 1992, o uso do solo em estudo refere-se ao mês de agosto, mês do imageamento do satélite. As áreas em maior proporção compreendem as lavouras de agricultura e as pastagens, denominadas de culturas, totalizando 7,70 km 2 dos 14,63 km 2 da bacia hidrográfica. Encontram-se dispostas principalmente nas áreas de declividade menores que 12%, nas vertentes de norte e noroeste, propícias para este uso, pois, recebem maior insolação. Com relação às florestas, locais que abrangem as matas nativas e os floretamentos/reflorestamentos encontradas, sobretudo, nas áreas de declividades superiores a 30%, considerados lugares de maior cuidado, correspondendo a 3,21 km 2. As áreas denominadas de solo exposto incluem aquelas não cultivadas ou em pousio e situam-se em grande porção nas vertentes de leste e sudeste, respondendo por 2,84Km 2. Os corpos hídricos, com a maior parte da mata ciliar destruída, representam 0,86Km 2 e encontram-se distribuídos em conformidade com as vertentes. Após oito anos, o uso da terra correspondente ao mês de abril, demonstra algumas modificações na ocupação do espaço e na disposição dos elementos sobre o mesmo. Houve uma
diminuição significativa quanto à área ocupada pelos corpos hídricos, em que passaram a ocupar somente 0,31 km 2. As principais causas devem-se ao uso intenso das lavouras, derrubada da mata ciliar e destruição das nascentes dos córregos. Estes fatores, conseqüentemente, modificam os constituintes das águas, como a vazão, e geram a destruição dos leitos. O solo exposto também teve uma redução representativa com 1,03 km 2, cedendo lugar para as culturas e as florestas. As primeiras ampliaram sua área expressivamente nas porções norte, sudeste e noroeste, com 9,34 km 2 e as segundas, devido a novas plantações arbóreas passaram a ocupar uma área de 3,95 km 2, nas vertentes norte e nordeste. No ano de 2008, verificou-se novas transformações do espaço comprovando sua dinâmica temporal, por meio de agentes naturais e antrópicos, provocando modificações no uso da terra da bacia hidrográfica. Da mesma maneira que há oito anos atrás os corpos hídricos tiveram sua área reduzida, neste ano comprovou-se uma retração ainda maior, em que sua área passou a representar 0,05 km 2. Porém, o solo exposto apresentou um aumento significativo em relação ao ano de 2000. Isto significa que tanto as florestas, como as culturas, contribuíram para esta elevação. As florestas e as culturas diminuíram suas áreas, estas por ser época de plantio de poucas culturas o que acaba classificando-as, provavelmente, como solo exposto, aquelas pela derrubada e retirada de árvores. Deste modo, verificam-se diversas mudanças no meio principalmente pela ação humana, que procura ocupar-se dos recursos naturais para suprir suas necessidades e demandas do sistema vigente. O meio físico, uma vez modificado, deixará de ser o habitat acolhedor Assim, constatou-se que as culturas, na sua maioria, encontraram-se nas vertentes norte, noroeste e nas áreas planas, o que contribui para o seu bom desenvolvimento. As florestas, pouco expressivas, destacaram-se nas declividades acima de 30%, consolidando as áreas de preservação. Portanto, verificou-se que dentre as classes de ocupação da terra a água manteve uma tendência de diminuição e por ser um bem natural não renovável é motivo para preocupação. Os demais usos tiveram uma oscilação durante todo o período, demonstrando que a rotatividade de culturas e o florestamento variam conforme as necessidades do local. Deste modo, bacia hidrográfica do Arroio Barão recebe influências naturais, mas, principalmente antrópicas e como conseqüência, modificações no seu ambiente e na paisagem. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSAD, Eduardo Delgado; SANO, Edson Eyji. Sistemas de Informações Geográficas. Aplicações na Agricultura. Brasília: 2. ed. Embrapa-SPI/Embrapa-CPAC, 1998 BIASI, Mário De. A Carta Clinográfica: os métodos de representação e sua confecção. Revista do Departamento de Geografia. n. 6. São Paulo: USP, 1992, p. 45-60. LOCH, Ruth E. Nogueira. Cartografia: representações, comunicação e visualização de dados espaciais. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2006.
SANTOS, Milton. Espaço e Método. 4. ed. São Paulo: Nobel, 1997.