Influência da dança no aspecto biopsicossocial do idoso



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Transcrição:

66 INTEGRAÇÃO SILVA & BURITI Influência da dança Influência da dança no aspecto biopsicossocial do idoso GLEICE BRANCO SILVA & MARCELO DE ALMEIDA BURITI Resumo O presente trabalho Influência da dança no aspecto biopsicossocial do idoso tem como proposta fornecer dados que possam contribuir significativamente durante o processo de envelhecimento, acompanhando a influência da dança nos seus aspectos biopsicossociais. O objetivo principal foi analisar e comparar a qualidade de vida de idosos de ambos os gêneros e a influência da dança nos domínios físico, psicológico, social e ambiental. Observou-se maior frequência de idosos com Ensino Fundamental incompleto (50%), religião católica (81,82%), casados (90,91%), todos com residência própria, com renda familiar de 1 a 3 salários mínimos mensais, de etnia branca, aposentados e cuja doença de maior destaque é a Hipertensão Arterial (41,67%), seguida de Diabetes (29,17%). Com base nos resultados deste estudo, foi possível identificar que ambos os gêneros apresentam um comportamento positivo em relação à qualidade de vida e saúde, sendo identificado não praticantes de nenhuma outra atividade física sistematizada e os participantes, na sua totalidade, nunca terem praticado aulas de dança. A participação em sessões de aulas de dança apresentou melhora nos escores do Whoqol Old nas facetas Intimidade, Morte e Morrer, Participação Social, Atividades Passadas, Presentes e Futuras, Autonomia e Funcionamento do Sensório pré e pós intervenção em ambos os gêneros. Palavras Chave: Idoso; Qualidade de Vida; Ritmo; Envelhecimento. Abstract This paper Influence of the dance aspect of the biopsychosocial old proposal was to provide data that can contribute significantly during the aging process, following the influence of dance in their biopsychosocial aspects. The main objective was to evaluate the subjective perception of the quality of life of elderly people, of both genders, and the influence of a dance program. It was observed more frequently in elderly people with primary education (50%), Catholic (81.82%), married (90.91%), all with their own home, with family income 1-3 times the minimum wage of white origin, retirees and the disease was more prominent hypertension (41.67%), followed by diabetes (29.17%). Based on the results of this study, we found that both genders have a positive performance in relation to quality of life and health, not being identified practitioners of any other systematized physical activity and participants in its entirety, having ever had lessons dance. Participation in sessions of dance classes showed improvement in scores on the WHOQOL Old facets Intimacy, Death and Dying, Social Participation, Activities Past, Presents and Future, Autonomy and Operation Sensorium pre and post intervention in both genders. Keywords: Elderly; Quality of Life; Rhythm; Aging. Introdução O envelhecimento está associado a uma variedade de limitações físicas e psicológicas, de forma que ações aparentemente fáceis de serem realizadas, que poderiam contribuir para melhorar a qualidade de vida dos idosos, tornam-se muito difíceis de serem executadas. Nas últimas décadas, muitas intervenções de atividade física para idosos têm sido desenvolvidas e estudos têm comprovado que intervenções baseadas em atividades constituídas por grupos podem atingir altas taxas de participação e contribuir para que se adote, em curto prazo, maior grau de desenvolvimento de suas capacidades físicas (Opdenacker, Boen, Coorrevits & Delecluse 2008). Porém, mesmo que esses efeitos positivos sejam reconhecidos pelo meio acadêmico, a baixa adesão de idosos a programas de atividade física ainda ocorre no mundo inteiro, sendo que o nível de participação pode variar de país para país, mas em todos eles a inatividade física é considerada um problema de saúde pública significante (Okuma e Ferraz, 1999). É fundamental que a sociedade em geral se conscientize de que é preciso buscar meios para que se viva bem e melhor, e uma maneira para tal é a prática de exercícios regulares com orientação médica e com acompanhamento de profissionais especializados Buriti & Macedo (2011). A dança pode ser considerada uma estratégia eficaz dentro desse contexto, pois envolve o bem-estar físico, psicológico, emocional e social, relacionados à manutenção da autonomia e dignidade, fatores positivos na redução dos riscos de morbimortalidade em vá-

2013 ANO XIX, Nº 65 66-73 INTEGRAÇÃO 67 rias doenças crônicas, o que resulta em uma ampliação da qualidade de vida (Monteirom, Monteiro, Oliveira, Jesus, Bueno & Oliveira 2007). Isso se justifica pelas características variadas, que proporcionam ao idoso um cuidado com o corpo, a mente e também com as relações sociais, favorecendo o processo da autoestima, uma vez que, na maioria dos casos, essa atividade é realizada em grupo. Sendo assim, é considerada como atividade física significativa para mediar de forma satisfatória na qualidade de vida e, sobretudo, na saúde das pessoas na fase do envelhecimento (Veras, 1995). Nessa fase da vida, a dança tem o objetivo de trabalhar o físico, o psicológico, o ambiental e também o social que, no processo de envelhecimento, são afetados por vários fatores relacionados ao tempo, porque a arte de envelhecer com sucesso requer um planejamento cuidadoso e uma compreensão realista das mudanças. Além disso, aumenta a possibilidade de socialização do idoso, estimulando sentimentos de confiança, igualdade, apoio mútuo, o que permite aos praticantes melhora nas disposições física e mental, na flexibilidade, na postura corporal, na força e na resistência muscular, reduzindo tensões e dores, propiciando, assim, o bem-estar social. As atividades realizadas com música também podem criar um ambiente agradável, podendo ser um parâmetro adequado para permitir que os indivíduos permaneçam em atividade (Miranda & Godeli, 2003). A propósito, a dança pode trazer muitos benefícios (em relação à saúde e melhoria na qualidade de vida) e pode minimizar os efeitos deletérios causados pelo envelhecimento, possibilitando a aquisição de novas habilidades motoras, auxiliando na melhora das capacidades coordenativa e motoras (Coelho, Quadros- -Junior & Gobbi, 2008), além de ter grande aceitação por parte das pessoas idosas (Leal & Haas, 2006). Portanto, iniciativas que envolvem questões como integração social e qualidade de vida, podem gerar benefícios e comportamentos que favorecem uma velhice mais autônoma (Gerez, Velardi, Camara & Miranda, 2010). As intervenções planejadas e estruturadas poderão reduzir a incapacidade funcional da população idosa, nas mais diversas estratégias, seja de prevenção, seja de tratamento, para retardar os efeitos deletérios do envelhecimento, respeitando o indivíduo nas suas diferentes características. Busca-se por meio dessa atividade tornar a prática de exercícios físicos regulares, tornando-a instrumento de papel fundamental na promoção de saúde durante o processo de envelhecimento, com vista a uma trajetória ativa e saudável, na tentativa de resgatar o direito do idoso ao bem-estar biológico, psicológico e social. Nesse sentido, a compreensão, os levantamentos e as discussões atuais sobre envelhecimento, atividade física, qualidade de vida e dança se fazem necessárias para o entendimento e a promoção da saúde em suas várias vertentes, bem como são de extrema importância para a implantação de programas eficazes, que possam contribuir de maneira significativa para que essa população incorpore a atividade física em seu cotidiano e passe a desfrutar de uma vida mais saudável. Assim, objetivou-se avaliar a percepção subjetiva da qualidade de vida de idosos, de ambos os gêneros, e a influência de um programa de dança. Espera-se que os achados aqui descritos seja ponto de reflexão para os tomadores de decisão e que estimulem a tão necessária produção de maiores e mais profundos conhecimentos sobre a situação do idoso. Estudos posteriores poderão vir a utilizar os dados obtidos para outras investigações que sejam sugeridas pelos achados desta pesquisa. Materiais e Métodos Participaram da pesquisa, 22 idosos, divididos por gênero sendo 11 homens e 11 mulheres, com média de idade de 66,45 ± 5,17. Todos residentes na zona leste de São Paulo, mais especificamente no Município de Ferraz de Vasconcelos. A pesquisa teve, por critério de inclusão, idosos com 60 anos ou mais, de ambos os gêneros, não praticantes de atividade física e com consentimento em participar da pesquisa. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade São Judas Tadeu, sob o número 092/2010, em conformidade com a Resolução 196/96 do conselho Nacional de Saúde, que aprovou as diretrizes e normas regulamentares de pesquisas envolvendo os seres humanos. Antes do início das aulas, a pesquisa contou com o apoio da UBS - Unidade Básica de Saúde do Município. Todos os idosos foram acompanhados pelo médico do posto, onde foi possível realizar o eletrocardiograma de todos os participantes, estando todos aptos à prática da dança. Inicialmente houve a inscrição dos participantes nas aulas de dança, onde os mesmos preencheram a ficha de inscrição e apresentaram o atestado médico indicando que estavam aptos à prática de atividade física. No momento da inscrição também foi indicado o dia da reunião, que aconteceu duas semanas antes do início das aulas. Todos os participantes selecionados foram informados dos objetivos e procedimentos do estudo, e estavam cientes que a sua participação poderia agregar conhecimento sobre si e aspectos relativos ao envolvimento de idosos em programas de exercícios físicos, bem como da possibilidade reduzida de riscos na sua participação. Foram informados quanto aos dias das aulas, protocolos da pesquisa e deram seu consentimento, em participar da pesquisa por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e preenchimento de um questionário sócio- -demográfico para descrição do perfil da população estudada. Foi utilizado para avaliar o nível de atividade física dos participantes, o questionário validado pelo Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul (CELAFISCS), International Physical Activity Questionnaire (IPAQ), versão curta. Para avaliar a percepção subjetiva da qualidade de vida, utilizou-se o World Health Organization Quality of Life Questionnaire (WHOQOL-BREF), que consiste em 26

68 INTEGRAÇÃO SILVA & BURITI Influência da dança questões extraídas do WHOQOL-100, composto por quatro domínios: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente e o WHOQOL-old, composto em 24 questões que complementam o WHOQOL-bref para aplicação em idosos. O procedimento realizado nesta pesquisa foi envolvido pela aplicação dos instrumentos citados, antes e após o período das aulas de dança. Cada aula foi desenvolvida pela própria pesquisadora com ritmos variados. Foram ministrados os seguintes ritmos: dança recreativa, bolero, forró, samba e discoteca. Seguindo uma padronização de ritmo e velocidade, com intensidade de leve a moderada e com intervalos entre os diversos ritmos dançados, sendo adequados aos participantes menos condicionados, de modo que eles pudessem realizar o acompanhamento musical adequado, com um agradável desfrutar da dança. Por se tratar de participantes idosos, foi aplicado em todas as aulas o estilo livre. Sem fazer uso de combinações de movimentos diferentes, formação de blocos e coreografias, e optou-se o nível Iniciantes, uma vez que todos os participantes são não praticantes de atividade físicas sistematizadas e nunca terem praticado aulas de dança. As aulas de dança foram desenvolvidas no período de Abril à Agosto de 2011, com início na segunda semana de Abril e término na segunda semana de Agosto, totalizando 54 aulas. Fizeram parte da análise dos resultados os idosos que participaram de pelo menos 70% (setenta por cento) das aulas. Neste caso, todos os participantes fizeram parte da análise. As aulas foram realizadas no período vespertino, com frequência de três aulas por semana, sendo elaborada da seguinte forma: dança recreativa com duração de duas semanas totalizando seis aulas e todos os outros ritmos bolero, forró, samba e discoteca cada um com duração de quatro semanas totalizando doze aulas cada ritmo. As aulas tiveram duração de 45 minutos cada (aula), sendo elaboradas com a seguinte estrutura: 10 minutos de aquecimento, 30 minutos de parte principal e 5 minutos de alongamento. Resultados e Discussão Observou-se maior freqüência de idosos com Ensino Fundamental Incompleto (50%), religião católica (81,82%), casados (90,91%), todos residência própria, com renda familiar de 1 à 3 salários mínimos mensais, de origem brancos, aposentados e a doença de maior destaque foi a hipertensão arterial (41,67%), seguida de Diabetes (29,17%). O nível de atividade física dos idosos participantes do gênero masculino prevaleceu Ativo no total da amostra, com 45,45%, enquanto que em 18,18% da amostra prevaleceu o Irregularmente Ativo A. Os Muito Ativo representaram 9,09% e o Sedentário, 18,18%. Quanto ao gênero feminino, o nível Ativo prevaleceu no total da amostra com 36,36%. O nível Irregularmente Ativo A com 36,36%. Muito Ativo 18,18%. Sedentário com 18,18% e Irregularmente Ativo B foi o nível mais baixo tendo uma prevalência inferior 9,09% quando comparados aos demais níveis. Portanto os dois grupos quando comparados apresentaram ser homogêneo quanto ao nível de prática de atividade/exercício físico. Com base nos resultados deste estudo, foi possível identificar que ambos os gêneros apresentam um comportamento positivo em relação à qualidade de vida e saúde, sendo identificado não praticantes de nenhuma outra atividade física sistematizada e os participantes, na sua totalidade, nunca terem praticado aulas de dança. A Tabela 1 mostra as facetas mais associadas à qualidade de vida dos idosos sendo: Dor e Desconforto; Dependência Médica; Sentimentos Negativos; e Avaliação da Qualidade de Vida do Whoqol Bref Pré e Pós dos idosos do gênero masculino e feminino participantes das aulas de dança. No gênero masculino, a faceta Dor e Desconforto obteve pontuação de 65.91 no pré-teste e 54.55 no pós-teste. No caso da faceta Dependência de medicação ou de tratamento, obteve uma pontuação de 56.82 no pré-teste e 52.27 no pós-teste, o que mostra que alguns dos participantes dependem de algum tipo de medicação ou de tratamento. No domínio psicológico que tem como faceta os Sentimentos Negativos, obteve-se uma pontuação de 77.27 no pré-teste e 70.45 no pós-teste. Na continuidade, a Avaliação da Qualidade de Vida a pontuação foi de 75.00 no pré-teste e de 68.18 no pós-teste. Com relação aos idosos do gênero feminino a faceta Dor e Desconforto obteve pontuação de 75.00 no pré-teste e 63.64 no pós-teste. Observou-se que a faceta Dependência de medicação ou de tratamento obteve a mesma pontuação, ou seja, 63.64 no pré e pós-teste. Para Sentimentos Negativos, no pré-teste foi identificado 70.45 e no pós-teste 77.27, o que permite afirmar que as participantes são acometidas, algumas vezes, por sentimentos negativos. Cabe salientar que estes sentimentos podem interferir e afetar o desenvolvimento do indivíduo em seu cotidiano. Quanto à Avaliação da Qualidade de Vida, a faceta obteve pontuação de 77.27 no pré-teste e 81.82 no pós-teste. Tabela 1 Análise das facetas da qualidade de vida dos idosos Whoqol Bref Facetas Masculino Feminino Pré Pós χo 2 Pré Pós χo 2 Dor e Desconforto 65.91 54.55 1,07 75.00 63.64 Dependência Médica 56.82 52.27 0,19 63.64 63.64 Sentimentos Negativos 77.27 70.45 0,01 70.45 77.27 Avaliação da Qualidade Vida 75.00 68.18 0,32 77.27 81.82 χo 2 = 3,84 ( n.sig = 0,05 e n.g.l. = 1) Para verificar se existia diferença estatisticamente significante entre as facetas Dor e Desconforto, Dependência Médica, Sentimentos Negativos e Avaliação da Qualidade de Vida, foi aplicado o teste do qui-quadrado. Comparando pré e pós, por gênero, observa-se 0,9 3 0,0 0 0,3 1 0,1 3

2013 ANO XIX, Nº 65 66-73 INTEGRAÇÃO 69 que não existe diferença estatisticamente significante entre as facetas, tanto no gênero masculino quanto no feminino ( χ o 2 = 3,84, n.sig=0,05 e n.g.l= 1). Foi aplicado a correlação de Spearman nos idosos ro= 1,00 no gênero masculino e ro= 0,63 no feminino, sendo rc= 0.81 (N=4 e p=0,05). Neste caso, existe correlação estatisticamente significante apenas para os homens, nas variáveis avaliadas pelo Whoqol-Bref. Vale dizer que o que mais preocuparam no pré manteve-se na mesma hierarquia no pós, o que não aconteceu entre elas. Apesar de não existir diferença estatisticamente significante, foram observadas diferenças na pontuação, o que pode ser um indício de que houve alguma melhora na sua qualidade de vida, possivelmente sem grandes percepções dos idosos em relação à sua qualidade de vida. A faceta Dor e Desconforto apresentou diminuição em ambos os gêneros, sendo identificado 54.55 no gênero masculino e 63.64 no feminino. Vale lembrar que houve prevalência de Doenças Crônicas referidas pelos participantes, sendo identificado, no gênero masculino, 33,34% de Hipertensão Arterial e 22,22% Diabetes/Doenças Crônicas. Quanto ao gênero feminino, foi identificado 28,58% de Hipertensão Arterial, 21,43% de Diabetes/Doenças Crônicas e 21,43% Artrite, Artrose e Reumatismo. Muitas trazem risco, desconforto e dores Torres, Reis, Fernandes, (2009). Em estudo de Torres, Reis e Fernandes (2009), os problemas de saúde estiveram presentes em 93,16% dos idosos, enquanto 84,60% possuíam até duas patologias. As patologias mais frequentes foram Hipertensão Arterial (23,10%), Acidente Vascular Cncefálico (11,10%) e Artrose em joelhos (6,80%). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Hipertensão Arterial e o Diabete são os dois principais fatores de risco, responsáveis pela maioria das mortes no mundo (Coutinho, Gentil e Toral, 2008). No Brasil, as doenças cardiovasculares (DCV) são, há pelo menos quatro décadas, a principal causa de mortalidade (Lessa, 2004 e Coutinho et al., 2008). É relevante considerar que, à medida que as pessoas envelhecem, maiores são as chances de apresentarem uma doença crônica, o que pode impactar negativamente o cotidiano e a qualidade de vida. Em 2009, 22,6% dos idosos brasileiros com 60 a 74 anos e 19,7% daqueles com 75 anos ou mais, referiram não possuir doenças. No entanto, mesmo havendo morbidades, o idoso ativo socialmente é considerado saudável (IBGE, 2010). Estas contingências podem ter permanecido fontes ao longo da pesquisa, resultando nas diferenças sem significância estatística. Entretanto, a prática regular de atividade física deveria ser uma das principais ações de saúde pública, já que pessoas fisicamente inativas apresentam duas vezes mais risco de desenvolverem DCV e três vezes mais derrames do que as fisicamente ativas (Donaldson, 2000). Mas ainda é insuficiente o avanço nesta direção. Com relação à faceta Dependência médica, houve uma diminuição de dependência de medicação no gênero masculino, sendo identificado 56.82 no pré- -teste e 52.27 no pós-teste. Enquanto no feminino manteve a pontuação de 63.64 no pré-teste e 63.64 no pós-teste. Verificou-se na amostra estudada a presença de doenças associadas. A hipertensão arterial e a diabete mellitus foram às patologias de maior frequência em ambos os gêneros. As doenças crônicas aumentam a utilização de fármacos, importante preditivo para o uso inadequado de medicamentos. Sabe-se que 25% dos pacientes que usam três ou mais medicamentos, utilizam pelo menos um considerado inadequado. Entre as doenças crônicas mais prevalentes na população idosa estão a Hipertensão Arterial e o Diabetes Mellitus, importantes fatores preditivos da morbimortalidade cardiovascular. Essas doenças constituem fatores de risco para doenças cardiovasculares e estão associadas à incapacidade e à dependência, refletindo negativamente na qualidade de vida (Zaitune, Barros & César, 2006). Morris e Williams (2009) pesquisaram a atividade física de lazer e a associação com o risco de síndrome metabólica, incluindo no estudo 11.925 participantes (6.878 homens e 5.047 mulheres), com idades 30-79 anos. Os resultados obtidos sugerem que níveis crescentes de atividade física de lazer estão linearmente associados com risco reduzido para a síndrome metabólica. Trata-se de uma frequência realmente alta e, levando-se em conta o envelhecimento populacional, é de se prever o aumento de recursos necessários para o tratamento e prevenção das complicações dessa doença na população. Existe uma forte relação entre a atividade física e a saúde. Estudos epidemiológicos têm demonstrado os efeitos de proteção entre a atividade física e o risco de diversas doenças crônicas, incluindo a Doença coronariana, Hipertensão, Diabetes Melittus, Osteoporose, Câncer de colon, Ansiedade e Depressão (Pate, Pratt, Blair, Haskell, Macera & Bouchard, 1995). O fenômeno apresenta o mesmo comportamento na população brasileira (Rego, Bernardo & Rodrigues, 1990). A falta de atividade física (sedentarismo) é o fator de risco de doenças crônicas não transmissíveis mais frequentes na população. Dados epidemiológicos da população da Finlândia revelaram uma prevalência de sedentarismo de 71%, ultrapassando as taxas de outros fatores de risco bem-reconhecidos, tais como o fumo (35%), a hiopercolesterolemia (26%), a hipertensão arterial (15%) e o excesso de peso corporal (37%). Quanto a sentimentos negativos, tanto no gênero masculino quanto no feminino, foi identificado 77.27 no pré-teste e 70.45 no pós-teste, o que permite afirmar que houve alguma diminuição de sentimentos negativos após as aulas de dança em ambos os gêneros. Mas não é estatisticamente significante. Há necessidade de mais pesquisas que gerem evidências. Um estudo realizado por Kock, Morlinghaus e Fuchs (2007), investigando os efeitos da intervenção terapêutica, utilizando a dança na diminuição de estados depressivos e aumento de vitalidade em pacientes

70 INTEGRAÇÃO SILVA & BURITI Influência da dança psiquiátricos, mostrou como resultado uma melhora significativa nos quadros depressivos, aliado ao aumento de vitalidade nos sujeitos participantes. No Brasil, Miranda, Godeli e Okuma (1996) investigaram as alterações nos estados de ânimo de 27 idosos com idade média de 69,8 anos, divididos em grupo experimental e de controle. Eles participaram de sessões de atividade física aeróbia com e sem música, com 45 minutos de duração cada uma. Como consequência, o grupo experimental reduziu significativamente os escores de raiva e depressão, e o grupo controle reduziu os escores de raiva e tensão. Dessa forma, creditaram à atividade física as melhoras no bem-estar psicológico dos idosos. Robatto (1994) cita que a dança pode ter seis funções: autoexpressão, comunicação, diversão e prazer, espiritualidade, identificação cultural, ruptura e revitalização da sociedade. A dança não competitiva tem forte caráter sociabilizador e motivador; seja em par ou sozinho, seja velho ou criança, homem ou mulher, dançando, todos nos sentimos bem. É uma prática para toda a vida, que nos desperta sentimentos e desenvolve capacidades anteriormente inimagináveis. Em relação a autoavaliação da qualidade de vida, foi identificado, no gênero masculino, 75.00 no pré- -teste e 68.18 no pós-teste, enquanto que, no gênero feminino, 77.27 no pré-teste e 81.82 no pós-teste. Um estudo realizado por Fleck, Chachamovich e Trentini (2003), com 90 idosos internados em um hospital geral universitário, objetivando verificar as variáveis associadas à percepção de saúde, demonstrou, dentre outros resultados, uma prevalência alta de idosos que se percebiam como saudáveis. Esses resultados sugerem a necessidade de se estudar a qualidade de vida na maturidade e velhice, considerando-se o caráter multidimensional do construto. A Tabela 2, a seguir, descreve as seis facetas do Whoqol Old Pré - e Pós as aulas de dança. A faceta Intimidade, que avalia a capacidade de se ter relações pessoais e íntimas, apresentou no pré-teste 69.89 e no pós-teste 56.53. A faceta Morte e Morrer que se relacionam a preocupações, inquietações e temores sobre a morte e morrer obtiveram 63.92 no pré-teste e 60.23 no pós-teste. Com relação à Participação Social, que delineia a participação dos participantes em atividades do quotidiano, foi identificado como 65.34 no pré-teste e 72.16 no pós-teste. Quanto a Atividades Passadas, Presentes e Futuras que descreve a satisfação sobre conquistas na vida e coisas a que se anseia especialmente na comunidade obteve pontuação de 67.33 pré- -teste e 75.28 pós-teste. A faceta Autonomia, que refere a capacidade de uma pessoa viver de forma autônoma e tomar suas próprias decisões, obteve pontuação de 57.95 pré-teste e 61.36 pós-teste; e a faceta Funcionamento do Sensório, que avalia o funcionamento sensorial (visão, audição, tato, olfato e paladar) e o impacto da perda das habilidades sensórias da Qualidade de Vida, obteve pontuação de 63.07 no pré-teste e 68.18 no pós-teste. Tabela 2. Escore das facetas da Qualidade de Vida Whoqol Old Facetas Pré- Pós- χo 2 Intimidade 69.89 56.53 1,41 Morte e Morrer 63.92 60.23 0.11 Participação Social 65.34 72.16 0.33 Atividades Passadas, Presentes e Futuras 67.33 75.28 0.44 Autonomia 57.95 61.36 0.09 Funcionamento do Sensório 63.07 68.18 0.19 χo 2 = 3,84 ( n.sig = 0,05 e n.g.l. = 1) Foi constatado não haver diferença estatisticamente significante entre as facetas Intimidade, Morte e Morrer, Participação Social, Atividades Passadas, Presentes e Futuras, Autonomia e Funcionamento do Sensório, ( χ o 2 = 3,84, n.sig= 0,05 e n.g.l= 1). Analisando todos os participantes com as facetas do Whoqol- old a correlação foi de ro= -0,02 e rc= 0.70 (N=6 e p=0,05); neste caso não existe correlação estatisticamente significante. A análise das respostas, por domínio revelou que a faceta Intimidade que avalia a capacidade de ter relações pessoais e íntimas, apresentou no pré-teste 69.89 e no pós-teste 56.53; enquanto Atividades Passadas, Presentes e Futuras que descreve a satisfação sobre conquistas na vida e coisas a que se anseia especialmente na comunidade obteve pontuação de 67.33 pré-teste e 75.28 pós-teste. As duas facetas contribuíram com o valor alto do escore total, mostrando que aspectos como a oportunidade de amar e sentir-se amado, estar satisfeito com suas realizações, objetivos alcançados e projetos durante a vida, têm importante influência sobre a qualidade de vida dos participantes. A faceta Participação Social, que delineia a atuação dos participantes em atividades do cotidiano, obteve pontuação de 65.34 no pré-teste e de 72.16 no pós-teste. Enquanto a faceta Autonomia, que se refere à capacidade de viver de forma autônoma e tomar suas próprias decisões, obteve pontuação de 57.95 no pré- -teste e de 61.36 no pós-teste. Para os idosos, a participação em atividades do cotidiano, especialmente na comunidade, e a capacidade preservada de tomar decisões, obtiveram maior impacto na qualidade de vida, provavelmente, pela sensação de ser útil para a sociedade e de ser respeitado e ser ouvido nas suas opiniões. Neste sentido, a dança pode promover ações direcionadas aos idosos e seus familiares, fazendo-os refletir acerca dos motivos da limitação na tomada de decisão. Em estudo realizado por Torres, Reis e Fernandes (2009), o domínio Participação Social, que faz referência ao uso de tempo livre e a participação em atividades da comunidade pelos idosos obteve-se média de 32.03 pontos. Diferentemente do presente estudo, no qual a média deste domínio foi de 72.16 pontos, demonstrando que os idosos estão satisfeitos com o uso de seu tempo livre. Verificou-se que a dança possui essa interação entre o sujeito e o mundo, a qual é extremamente importante para a autonomia do movimento do idoso.

2013 ANO XIX, Nº 65 66-73 INTEGRAÇÃO 71 Por meio da dança, o idoso desenvolve a criatividade, independência e liberdade. Segundo Okuma (1998), a dança age no processo humano como forma de atividade física, a fim de despertar a criatividade e promovendo importantes resultados na capacidade funcional, sociabilidade e saúde psicológica do indivíduo. O autor destaca também que as atividades realizadas em grupos são uma forma de integrar e fortalecer amizades, tornando-os, assim, capazes de superar limites físicos e dedicar tempo a si mesmos, a fim de abrandar suas inseguranças, medos e angústias. Em estudo realizado por Lorda e Sanches (2001), no cotidiano das pessoas idosas, as atividades recreativas têm causado benefícios significantes à saúde, das quais podem ser citadas: - o aspecto físico, em que há melhoria nos padrões de sono, relaxamento muscular, aumento da auto-eficácia, controle interno etc.; - o aspecto psicológico, o qual inclui redução de tensão, melhora da autoimagem, do autoconceito e da autoestima e pode aumentar ainda o sentido de autossuficiência; - e o aspecto social, pode haver a uma maior interação e crescimento social, possibilitando o espírito comunitário e a sociabilização. Considerando que o envelhecimento pode diminuir a capacidade funcional e, consequentemente, reduzir a qualidade de vida, e que um dos fatores de envelhecimento é o fenômeno do desuso, é recomendado o envolvimento em atividades físicas e mentais agradáveis e estimulantes. As atividades físicas representam uma espécie de antídoto que pode reduzir os efeitos do envelhecimento e manter a autonomia do idoso (Nahas, 2001). A faceta Morte e Morrer que se relaciona às preocupações, inquietações e temores sobre a morte e morrer obteve pontuação de 63.92 no pré-teste e 60.23 no pós-teste. O controle de preocupações e temores sobre a Morte e Morrer dos participantes influenciou o escore total de qualidade de vida, o que pode ser explicado pelo confronto com a morte, na medida em que os anos passam e ocorrem as perdas de parentes e amigos. Estes dados demonstram que a aceitação da própria finitude nesta fase da vida pode trazer paz interior contribuindo para viver o tempo que resta com boa qualidade. Para Okuma (1998), as atividades realizadas em grupo são a melhor opção para idosos, pois por meios de integração e fortalecimento das amizades, eles são capazes de superar limites físicos e a dedicar-se um tempo para si mesmo, diminuindo suas inseguranças, medos e angústias. Com relação à faceta Funcionamento do Sensório, que avalia o funcionamento sensorial (visão, audição, tato, olfato e paladar) e o impacto da perda das habilidades sensórias da qualidade de vida, obteve pontuação de 63.07 no pré-teste e de 68.18 no pós-teste. A capacidade funcional surge como um novo paradigma de saúde para os indivíduos idosos, e o envelhecimento saudável passa a ser visto como uma interação multidimensional entre saúde física e mental, independência na vida diária, integração social, suporte familiar e independência econômica. As redes de apoio social são muito importantes na velhice, principalmente, quando os idosos têm que adaptar-se às perdas físicas e sociais. Uma pesquisa, realizada por Torres, Reis e Fernandes (2009), relacionada à qualidade de vida e fatores associados em idosos dependentes, mostrou este domínio justificado pelo fato de corresponder à perda dos sentidos (audição, visão, paladar e olfato), por afetar a vida diária, a capacidade de participar em atividades e a capacidade de interagir com outras pessoas, fazendo com que os idosos tornem-se dependentes dos cuidados da família. Sobre este fato, Verghese, Lipton & Katz (2003), ao analisar a doença mental em 469 idosos, de ambos os gêneros, com idade acima de 75 anos, pôde observar que a dança de salão auxilia na diminuição do risco de demência, sugerindo que os aspectos mentalmente complexos da dança, como mover-se no ritmo da música e combinar passos, possam ser os responsáveis por essa melhora. Pesquisas desenvolvidas no âmbito da Gerontologia (Jakobsson, Klevsgard, Westergren, & Hallberg, 2003; Neri, 2001) têm apontado para a importância do funcionamento do sensório e da autonomia como fatores que contribuem para uma qualidade de vida satisfatória na avaliação de idosos. No contexto de pessoas acima de 50 anos, com AIDS, há que se considerar que o impacto trazido pela doença produz sofrimento, tanto físico quanto psicológico e social. Segundo Saldanha e Araújo (2006), essas pessoas experimentam sentimentos de impotência diante da doença; de culpa e vergonha diante dos outros; sensação de proximidade da morte e falta de preparo para lidar com a situação. Com o intuito de promover inclusão social e bem-estar dos idosos, Debert (1999) sugere o ingresso em um programa para a terceira idade, pois isso ajuda a suprir o período da solidão, pela oportunidade que abre de o idoso fazer de novas amizades, encontros, passeios e bem-estar físico que a atividade física pode proporcionar. Além disso, as atividades realizadas em grupo é a melhor opção para o idoso, pois, por meio de integração e fortalecimentos de amizades, eles são capazes de superar limites físicos e a dedicar-se um tempo para si mesmo, diminuindo suas inseguranças, medos e angustias (Okuma, 1998). Já para Leal e Haas (2006) a dança é importante para o idoso devido o bem-estar físico, social e psicológico que é capaz de proporcionar. Os autores apontam, ainda, que idosos que participam de atividades de dança superam as dificuldades normais que são encontradas no início, relatando que após alguns meses de prática, pode haver um bom progresso tanto na dança, quanto em outros aspectos da vida. Com o processo de envelhecimento o idoso muitas vezes acredita que não pode mais realizar nenhum tipo de atividade física, nesse caso a dança. Isso se deve

72 INTEGRAÇÃO SILVA & BURITI Influência da dança ao desenvolvimento motor, o qual fica mais lento e de forma comprometida, limitando seus movimentos em decorrência do seu equilíbrio psicológico. Dessa forma, é importante a continuidade do idoso na prática de atividade em grupo, para que se sinta incentivado quando a realização de alguma atividade física, a fim de obter, além do benefício físico, o bem-estar psíquico. Considerações Finais Prevaleceu na amostra o nível de atividade física Ativo, em ambos os gêneros, o que mostra um comportamento positivo em relação à qualidade de vida e saúde. A dança apresentou melhora nos escores do Whoqol-Bref, em ambos os gêneros. Houve também melhora nos escores do Whoqol Old, pré e pós-intervenção, com valor alto do escore total. Sendo assim, quando utilizada como atividade física sistematizada e regular, a dança pode influir na melhoria da saúde física e psicológica, melhorando o desempenho das atividades diárias, proporcionando mais autonomia e autoconfiança, além de prevenir doenças. Conclui-se que cada vez mais trabalhos e pesquisas na área de dança e idosos devem surgir com o intuito de aumentar qualitativa e quantitativamente a bibliografia sobre esse tema inesgotável. Sugere-se que outros programas e pesquisas sejam desenvolvidos nessa área para que se possa entender cada vez mais a relação entre os programas de educação oferecidos e a qualidade de vida de idosos. Referências Buriti, M.A. & Macedo, M.M. Exercício e atividade física para o idoso. In: Witter, C. & Buriti, M.A. Envelhecimento e contingências da vida. Campinas (SP): Alínea, 2011. Coelho, F.G.M.; Quadros Junior, A.C. & Gobbi, S. Efeitos do treinamento de dança no nível de aptidão funcional de mulheres de 50 a 80 anos. Revista da Educação Física/UEM,19(3): 445-51, 2008. Coutinho, J.G., Gentil, P. C & Toral, N. Malnutrition and obesity in Brazil: dealing with the problem through a unified nutritional agenda. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, sup l.2, S332-S340, 2008. Debert, G.G. A Reinvenção da velhice: socialização e processos de reprivatização do envelhecimento. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1999. Donaldson, L.J. Sport and exercise: The public health challenge. Br. Journal of Sports Medicine, v. 34, n. 6, p. 409-410 (2000). Fleck, M.P.A., Chachamovich, E., & Trentini, C.M. Projeto WHOQOL-OLD: Método e resultados de grupos focais no Brasil. Revista de Saúde Pública, 37(6), 793-799, 2003. Gerez, A.G.; Velardi, M.; Camara, F.M. & Miranda, M.L.J. Educação Física e Envelhecimento: uma reflexão sobre a necessidade de novos olhares e práticas. Motriz,16(2): 485-95. Rio Claro (SP), 2010. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Síntese de indicadores sociais. Uma análise das condições de vida da população brasileira. Brasília (DF): Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. [acesso 2011 Jan 19]. Disponível em: www. ibge.gov.br. 2010. Jakobsson, U., Klevsgard, R., Westergren, A., & Hallberg, I. R. Old peoplein pain: A compatative study. Journal of Painand Symptom Management, 26, 625-636, 2003. Kock, S., Morlinghaus, K., & Fuchs, T. The Joy Dance Specific Effects of a Single Dance Intervention on Psychiatric Patients with Depression. The Arts in Psycotherrapy 34, 340-349, 2007. Leal, I.J. & Haas, A.N. O significado da dança na terceira idade. Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano: 64-71. Passo Fundo (RGS), 2006. Lorda, C.R. & Sanches, C.D. Recreação na terceira idade. 3ª ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2001. Miranda, M. L. J., Godeli, M. R. S. C. & Okuma, S. S. Efeitos do exercício aeróbio com música sobre os estados de ânimo de pessoas idosas. Revista Paulista de Educação Física, v. 10, n, 2, p. 172-178, 1996. Miranda, M.L.J., & Godeli, M.R.C.S. Música, atividade física e bem-estar psicológico em idosos. R. Bras. Ci. e Mov. 11(4): 87-94, 2003 Monteiro, W., Monteiro, F.F.S., Oliveira, A.V., Jesus, A.P., Bueno, C.S. & Oliveira, C.S. Análise do equilíbrio dinâmico em idosas praticantes de dança de salão. Revista Fisioterapia e Movimento, 20(4): 125-36. Curitiba (PR), 2007. Morris, J.H., & Williams, B. Optimising long-term participation in physical activities after stroke: Exploring new ways of working for physiotherapists. Physiotherapy v.95, p. 227 233, 2009. Nahas, M.V. A atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. 2ª ed. Londrina: Midiograf, 2001. Néri, A.L. (Org.). Desenvolvimento e envelhecimento: perspectivas biológicas, psicológicas e sociológicas. São Paulo: Papirus, 2001.

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