Uso e manejo do solo em unidades de agricultura familiar no município de Conceição do Almeida-Bahia.



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136) Na figura observa-se uma classificação de regiões da América do Sul segundo o grau de aridez verificado.

Transcrição:

Uso e manejo do solo em unidades de agricultura familiar no município de Conceição do Almeida-Bahia. Jamile Lima 1 Leidiane Borges 1 Lorena Tedgue 1 RESUMO O manejo inadequado do solo, praticado por alguns agricultores, contribui para o crescente aumento da degradação do solo, comprometendo sua fertilidade e, consequentemente, a produtividade do sistema. Sendo assim, esta pesquisa consiste em verificar alguns aspectos relacionados ao uso e manejo do solo pelos agricultores familiares da Fazenda São João, localizada no município de Conceição do Almeida-Ba. Para tanto, utilizou-se do método qualitativo, aplicando-se alguns procedimentos metodológicos para embasar as principais questões do marco teórico. Considerou-se também informações obtidas a partir da visita in lócus e entrevistas com pequenos agricultores locais e do técnico em solos da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA). O resultado desse trabalho culminou em discussões que foram feitas no decorrer da pesquisa, voltadas para a importância do manejo adequado do solo e para o uso agrícola. Vale salientar, que os resultados indicam que a mandioca é a principal fonte de subsistência dos pequenos agricultores locais, seguido da laranja, amendoim e feijão, apesar de ocupar uma área maior, a produção da mandioca tem um retorno financeiro inferior às outras variedades cultivadas citadas. Ressaltando que os agricultores tem a percepção de que o manejo inadequado pode acarretar problemas graves para a produtividade, e que o clima e os tipos de solo também interferem no plantio e manejo do solo. Palavras-chave: Degradação. Agricultores. Fertilidade INTRODUÇÃO O uso inadequado do solo pode acarretar o aparecimento de diversos problemas, dentre os quais podemos citar: a degradação do solo; a lixiviação; e a laterização. Além disso, o crescente aumento das erosões é decorrente da forma errônea de plantio desenvolvida por alguns agricultores, o que acaba transformando grandes áreas produtivas em solos inférteis. De acordo com os dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação 1-Jamile Lima/Jamile_lima15@hotmail.com, Leidiane (FAO, Borges/Leydi-sol1@hotmail.com.br, 2009), 8% dos solos estão Lorena moderadamente Tedgue/Lorena_tedgue@hotmail.com degradados, 36% estão estáveis (Graduandas ou do levemente Curso de Licenciatura degradados Plena e 10% em Geografia/UNEB estão classificados Campus como V/DCH). "em Prof. Rozilda Sacramento. 2013. recuperação".

Dentre os recursos naturais existentes em nosso planeta, os solos são de relevante importância, tanto para a produção de alimentos quanto para a própria sobrevivência do planeta. Segundo Guerra (1998, p. 66), o solo [...] é formado por um conjunto de corpos naturais tridimensionais, resultante da ação integrada do clima e organismo sobre o material de origem, condicionado pelo relevo em diferentes períodos de tempo [...]. No Recôncavo Baiano, área da pesquisa em estudo, as classes de solos mais predominantes são: os Latossolos, Argissolos e Vertissolos, onde cada um deles possui características distintas em relação às potencialidades e limitações para a produção agrícola. Na podemos encontrar diversos tipos de solos, em que cada classe possui sua particularidade tais como: densidade, formato, cor, consistência e formação química. De acordo com Lepsch (2002), a fertilidade do solo é fator preponderante para um bom desenvolvimento das plantas, sendo que estas além de consumirem oxigênio, água e gás carbônico, retiram do solo quinze elementos essenciais à vida. Vale salientar que, solos ricos em nutrientes possuem grande fertilidade, enquanto solos pobres em nutrientes é necessário adequá-los para o cultivo. Para que ocorra esse bom desenvolvimento das plantas é necessário que se utilize adequadamente o solo, pois seu uso de forma inadequada pode acarretar sérios problemas, os quais podem comprometer a produtividade. Sendo assim, justifica-se a realização deste trabalho pela necessidade de se compreender as formas de uso agrícola dos solos e práticas de manejo na zona rural de Conceição do Almeida, já que se trata de uma região, onde a agricultura de subsistência é muito frequente. Desse modo, o objetivo dessa pesquisa consiste em verificar alguns aspectos relacionados ao uso e manejo do solo pelos agricultores familiares da Fazenda São João, localizada no município de Conceição do Almeida-Ba. Solos e os riscos de seu uso inadequado O território brasileiro se caracteriza por uma ampla diversidade de tipos de solos, em função da dinâmica interna e externa que ocorre no seu processo de formação, que é influenciado pelo relevo, rocha, clima e tempo. A esta

diversidade, deve-se principalmente, a natureza de nosso país, suas potencialidades e limitações de uso e, em grande parte, às diferenças regionais no que se refere às diversas formas de ocupação, uso e desenvolvimento do território. Os nutrientes do solo são essenciais para o desenvolvimento das plantas. Sendo que, a composição do solo e as condições de infiltração e aeração interferem muitas vezes na produtividade. De acordo com Lepsch (2002, p. 11): Para um adequado crescimento dos vegetais, todos os elementos têm de estar presente no solo em quantidades, formas e ambiente adequados. As quantidades têm de ser balanceadas, as formas disponíveis e o ambiente em padrões favoráveis de temperatura, umidade e aeração. Quando isto ocorre diz-se que o solo é fértil e mais especificamente em relação aos nutrientes minerais, "quimicamente rico. Segundo informações da EMBRAPA (1999), atualmente o sistema de exploração agrícola tem levado o solo a um processo acelerado de degradação, gerando desequilíbrio de suas características físicas, químicas e biológicas, afetando progressivamente a sua produtividade. Os fatores que levam a degradação agem em conjunto e a importância de cada um varia de acordo com as circunstancias de clima, do próprio solo e de culturas. Dentre os principais fatores destacam-se: a compactação, a ausência da cobertura vegetal do solo, a ação das chuvas de alta intensidade, o uso de áreas inaptas para culturas anuais, o preparo do solo com excessivas gradagens superficiais e o uso de práticas conservacionistas isoladas. O solo é um recurso natural vulnerável, passível de ser desgastado e degradado em decorrência de seu uso indevido. Dessa forma, o manejo inadequado provoca graves consequências, como por exemplo, a erosão progressiva e a perda por escoamento, comprometendo assim a produtividade do sistema agrícola. Infelizmente, observa-se com frequência que as pessoas desconhecem a importância do solo, o que acaba contribuindo para ampliar estes processos de degradação em diversas partes do mundo, sendo que este recurso natural encontra-se em condições deploráveis de conservação.

Solos de maior ocorrência na região: Latossolos e Argissolos Os solos da região dos tabuleiros costeiros no Recôncavo Baiano possuem variadas profundidades, com fertilidade reduzida devido ao uso agrícola contínuo e à grande pluviosidade, favorecendo assim a erosão e a lixiviação. Segundo a EMBRAPA (1999), os solos predominantes nessa região são os Argissolos e os Latossolos, sendo este último encontrado em maior quantidade ocupando 488 mil km 2, correspondendo a 31% da área total do Nordeste, ocorrendo em relevos plano e suave ondulado. De acordo com Lepsch (2002), os Latossolos são os que maior apresentam representação geográfica no Brasil, sendo a classe de solo mais predominante na região de Conceição do Almeida-Ba. São caracterizados como solos minerais, muito intemperizados, profundos, de baixa fertilidade, com cores variando entre vermelho escuro e amarelo. O grande potencial desse solo, é que são passíveis de utilização com culturas anuais, perenes, pastagens e reflorestamento. Além dessa característica, são profundos, porosos, bem drenados, bem permeáveis mesmo quando muito argilosos, friáveis e de fácil preparo. As principais limitações referem-se à baixa fertilidade, alta saturação por alumínio e problemas físicos como a permeabilidade restrita, em função da camada coesa. No Recôncavo, esses solos são utilizados principalmente para o cultivo da laranja e da mandioca. O manejo dos Latossolos requer a correção da acidez, adubação e, nos climas mais secos, de irrigação em função da exigência da cultura. São resistentes aos processos erosivos, por causa da sua boa condição física. Mas devido o uso intensivo de mecanização tem ocasionado a compactação desses solos, tornando-os suscetíveis a erosão. De acordo com a EMBRAPA (1999), os Argissolos são caracterizados pela presença de horizonte diagnóstico B textural, apresentando acúmulo de argila em profundidade devido à mobilização e perda de argila da parte mais superficial do solo. Apresentam frequentemente, mas não exclusivamente, baixa atividade da argila (CTC). A profundidade desses solos varia entre pouco profundo e profundo, além disso, possui superfície arenosa por não ter muita matéria orgânica, são normalmente ácidos, possui baixa fertilidade e são

distróficos. Os Argissolos são suscetíveis à erosão devido à relação textural, que implica em diferenças de infiltração entre os horizontes superficiais e subsuperficial. A exploração agrícola desse solo requer práticas adequadas de manejo com a adoção de correção e de praticas conservacionistas para o controle da erosão. Dentre as variedades cultivadas pelos pequenos agricultores na área de estudo em função do solo, destacam-se: o amendoim, cacau, feijão, laranja, limão, mandioca, manga e milho, sendo a mandioca produzida em larga escala. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2012), o município de Conceição do Almeida tem aproximadamente 900 hectares de área plantadas por mandioca, produzindo 12.600 toneladas, com o rendimento médio de 14.000 por hectare, sendo seu valor de produção de 3.528 reais. Apesar de ter uma área maior, o valor de produção da mandioca é inferior a outras variedades cultivadas citadas a cima. O cultivo da mandioca é de grande importância econômica, pois é a principal fonte de carboidratos para milhares de pessoas, principalmente nos países em desenvolvimento. Segundo os dados da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC, 2011), o Brasil tem aproximadamente dois milhões de hectares, sendo um dos maiores produtores mundiais, com produção de 23 milhões de toneladas. Vale ressaltar que, a região nordeste é a maior produtora, sendo caracterizada pelo sistema de policultivo, ou seja, mistura a mandioca com outras espécies alimentares. Além disso, a mandioca é uma planta perene que pertence à família das Euforbiáceas, a parte mais importante é a raiz, que é rica em fécula, utilizada tanto na alimentação humana como animal e serve também como matéria prima para diversas indústrias. MATERIAIS E MÉTODOS Localização e caracterização da área de estudo Esta pesquisa foi realizada na comunidade da Fazenda São João, município de Conceição do Almeida, localizado no Recôncavo Baiano as coordenadas geográficas de 12º80 86 de latitude S e 39º19 92 de longitude O, com altitude de 179 metros (Figura 1). O município possui área de aproximadamente 289.935 km 2, com população estimada de 17.889 habitantes.

Fonte: google imagens A área da pesquisa encontra-se inserida no bioma Mata Atlântica, com feições geomorfológicas de planaltos e vales, a agricultura é de subsistência, sendo também a atividade predominante na região, contando ainda com a pecuária de gado leiteiro e de corte. Entre as principais culturas destaca-se: o amendoim, cacau, feijão, laranja, limão, mandioca, manga e milho, sendo a mandioca produzida em larga escala. A cobertura pedológica é representada pelas classes dos Latossolos e Argissolos. Método da pesquisa Esta pesquisa foi desenvolvida com base no método qualitativo, aplicando-se os seguintes procedimentos metodológicos: levantamento de fontes, fichamentos e resumo para embasar as principais questões do marco teórico e a realização de entrevistas com pesquisadores, técnicos agrícolas e agricultores que atuam na área de estudo. As atividades de campo foram realizadas no dia 05 de junho de 2013 e consistiu numa visita in lócus a comunidade da Fazenda São João do município de Conceição do Almeida, onde foram entrevistados 11 agricultores familiares e

um técnico agrícola da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) do escritório local. Posteriormente os dados foram tabulados no Microsoft Excel e no Word, e as informações representadas através de gráficos (setores ou pizza) e quadros comparativos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Após a análise das informações obtidas a partir das entrevistas obtiveram-se as seguintes considerações. Sabe-se que, alguns tipos de solos podem sofrer compactação com a utilização de maquinários pesados, como é o caso dos Latossolos. Sendo assim, julgou-se importante perguntar se os solos locais são bons para o trabalho de tratores com arado e grade, 82% disseram que sim e 18% disseram que não (Figura 1): Figura 1 Viabilidade dos solos para a mecanização agrícola, conforme percepção dos agricultores familiares da Fazenda São João, Conceição do Almeida, Bahia.

Fonte: Pesquisa de campo, junho/2013 Um solo fértil é de fundamental importância para o desenvolvimento das plantas, quando interrogados sobre o que deve ser feito para melhorar a fertilidade do solo, todos ressaltaram a necessidade de adubar mais, tanto com adubo químico (ureia, 10-10, super-triplo) quanto com adubo orgânico (raspa de mandioca, esterco de vaca, mamona), Quadro 1. Quadro 1: O que deve ser feito para melhorar a fertilidade do solo? Entrevistados Assuntos abordados Depoimentos Entrevistado A Entrevistado B O que deve ser feito para melhorar a fertilidade do solo? O que deve ser feito para melhorar a fertilidade do solo? Adubar mais, (utilizando adubo orgânico e químico ex: mamona, ureia, esterco de vaca dentre outros). Adubar mais, (utilizando adubo orgânico e químico ex: super-tripo, 10-10, esterco de vaca dentre

Fonte: Pesquisa de campo, junho/2013 outros). Em relação às características dos solos locais para o uso agrícola, observa-se que 64% dos agricultores afirmaram que os solos eram arenosos e melhor para o manejo, enquanto para 36% os solos eram argilosos, pegajosos e barrentos e assim dificultava o preparo da terra (Figura 2). Os solos arenosos possuem consistência friável, tem mais porosidade, de estrutura granular e grão simples, e por isso os agricultores consideram estes solos de fácil preparo, embora sejam pobres em nutrientes. Enquanto os argilosos por terem uma textura argilosa, com consistência pegajosa, acaba dificultando o manejo, porém, são solos ricos em nutrientes. Figura 2: Textura dos solos de acordo com a percepção dos agricultores familiares da Fazenda São João, Conceição do Almeida-Bahia. Fonte: Pesquisa de campo, junho/2013

O sistema de cultivo predominante baseia-se no consórcio de culturas perenes com culturas cíclicas, a exemplo da mandioca. Na figura 3 pode-se observar que 45% dos agricultores cultivam mandioca, laranja, feijão e amendoim; 18% mandioca e laranja; 18% mandioca, laranja e amendoim; 9% mandioca, laranja, milho e feijão; e os outros 9% cultivam laranja, amendoim, cacau, manga, limão e mandioca. Pode-se concluir que a mandioca e a laranja são os principais produtos agrícolas da região, essa tendência se mantém na maioria dos municípios do Recôncavo da Bahia.. Figura 3: Os principais tipos de culturas cultivadas na Fazenda São João, Conceição do Almeida, Bahia. 9% 18% 9% 45% Fonte: Pesquisa de campo, junho/2013 A utilização do calcário tem como finalidade corrigir a acidez existente no solo, pode-se dizer que acidez de um solo caracteriza-se pelo seu valor de Ph e seu caráter ácido aumenta na medida em que o Ph do solo diminui. A acidez do solo é algo de extrema relevância, pois interfere diretamente na disponibilidade de nutrientes para as plantas, pois estas os absorvem diretamente da solução do solo através das raízes. Sendo assim, julgou-se importante interroga-los se

fazem o uso do calcário como um método de correção do solo, e obtiveram-se as seguintes respostas: 73% disseram não e 27% sim. Figura 4 - Prática de correção do solo pelos agricultores familiares da Fazenda São João, Conceição do Almeida, Bahia. Fonte: Pesquisa de campo, junho/2013 A utilização inadequada do solo pode acarretar sérios problemas, os quais podem comprometer a produtividade. Dessa forma, achamos cabível questioná-los se o uso inadequado do solo pode afetar a fertilidade e a produção, nota-se que a maioria da população alvo (100%) teve a percepção de que o manejo inadequado pode tornar o solo infértil, ou seja, pobre em nutrientes. Porém, eles têm a consciência disso, mas não fazem nada para aprimorar o seu modo de lidar com a terra para melhorar a produção agrícola. Nota-se também que há um descaso por parte do poder público que não oferece nenhum tipo de auxilio para que os pequenos agricultores possam melhorar a qualidade do solo e, consequentemente, a sua produção.

CONCLUSÃO A mandioca é a principal fonte de subsistência dos pequenos agricultores locais, seguido da laranja, amendoim e feijão. Os agricultores têm a percepção de que a textura dos solos assim como o clima interfere no plantio e manejo do solo. A correção do solo não constitui prática de manejo frequente entre os agricultores. Apesar da população alvo ter a consciência de que o uso inadequado do solo traz sérias consequências para a produtividade agrícola, observa-se que a mesma não faz nada para melhorar esta condição que é de fundamental importância para a produção de alimentos. REFERÊNCIAS BRADY, C. Nyle. Natureza e propriedade dos solos. 7ª ed. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1989. FRAIFE FILHO, Gilberto de Andrade; BAHIA, José Jorge Siqueira. Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC). Bahia, 1957. FREITAS, Eduardo de. Degradação do solo no Brasil. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/brasil/degradacao-solo-no-brasil.htm>. Acesso em: 27 de novembro de 2013. GUERRA, Antônio Jose Teixeira; CUNHA, Sandra Baptista da. Geomorfologia e meio ambiente. 2ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. IBGE, Produção Agrícola Municipal 2012. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. LEPSCH, Igo F. Solos do Nordeste in: Formação e Conservação dos solos. Oficinas de textos. São Paulo, 2002. pp 87-121. Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), 2009. Disponível em: <https://www.fao.org.br/edsaasa.asp>. Acesso em: 7 de novembro de 2013.

PAIXÃO, Albérico. Entrevista: Análise do solo e sua importância para a agricultura familiar. Embrapa, 2013. Disponível em: <http://www.ebda.ba.gov.br/entrevista-analise-do-solo-e-sua-importancia-para-a -agricultura-familiar/>. 27 de novembro de 2013. SOUJA, Djalma Martinhão Gomes de; LOBATO, Edson. Podzólicos/ Argissolos. Brasília: Embrapa, 2005-2007. Disponível em: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/agencia16/ag01/arvore/ag01_97_1011 2005101957.html>. Acessos em: 24 de novembro de 2013. SOUJA, Djalma Martinhão Gomes de; LOBATO, Edson. Latossolos. Brasília: Embrapa, 2005-2007. Disponível em: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/agencia16/ag01/arvore/ag01_96_1011 2005101956.html>. Acesso em: 24 de novembro de 2013.