Processo Civil Esquema de aula Teoria Geral dos Recursos. Prof. Fredie Didier Jr.



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PARECERES JURÍDICOS. Para ilustrar algumas questões já analisadas, citamos abaixo apenas as ementas de Pareceres encomendados:

Transcrição:

Processo Civil Esquema de aula Teoria Geral dos Recursos. Prof. Fredie Didier Jr. 1. Considerações sobre o sistema recursal do CPC/73 em confronto com o do CPC/39. 2. O princípio do duplo grau de jurisdição. 3. O recurso no quadro dos meios de impugnação das decisões judiciais. 3.1 Meios recursais. 3.2 Ações autônomas de impugnação: ação rescisória, reclamação constitucional, mandado de segurança contra ato judicial, querela nullitatis etc. 3.3 Sucedâneos recursais: pedido de suspensão de segurança, correição parcial, pedido de reconsideração etc. A expressão sucedâneos recursais, introduzida por FREDERICO MARQUES, tanto pode significar o conjunto de meios não recursais de impugnação como, também e somente, aqueles previstos no item 3.4.3. 4. Conceito de recurso: remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração de decisão judicial que se impugna. (BARBOSA MOREIRA) 4.1 Remédio voluntário. 4.2 Previsto em lei. 4.3 Na mesma relação jurídica processual. 4.4 Invalidação, reforma, esclarecimento ou integração de decisão judicial. 5. Finalidades da existência dos recursos: tem, a previsão de revisão das decisões, o fim de: a) assegurar, pela possibilidade de controle, a justiça das decisões, em razão da falibilidade humana; b) responder a uma ínsita característica humana de irresignação; c) proporcionar um novo julgamento da causa, desta feita por um colegiado de juízes mais experientes, o qual, em tese, teria maior probabilidade de acerto. 6. Classificação. 6.1 quanto à extensão da matéria: a distinção tem relevância, pois se o recurso for parcial, a parte não recorrida ficará acobertada pela preclusão. a) parcial: o recurso que, em virtude de limitação voluntária, não compreenda a totalidade do conteúdo impugnável da decisão. Ex.: o autor cumulara pedidos e todos foram julgados improcedentes, mas apenas recorre quanto a um deles; b) total: o recurso que abrange todo o conteúdo impugnável da decisão recorrida (não necessariamente todo o seu conteúdo integral, pois há decisões que têm o conteúdo impugnável restringido pela lei, como acontece em relação aos embargos infringentes, quando, havendo divergência parcial, apenas esta matéria poderá constituir objeto do recurso). 6.2 quanto ao fim colimado: a) reforma: visa-se obter a reformulação de decisão impugnada, com a obtenção de um resultado mais favorável ao exeqüente;

b) invalidação: busca-se a invalidação do pronunciamento recorrido, para que outra decisão seja proferida em seu lugar, como nos casos de vícios processuais; c) integração: embargos de declaração, cujo objeto é apenas afastar a falta de clareza ou imprecisão do julgado, ou suprir alguma omissão do julgador; 6.3 quanto ao objeto: dependendo do objeto a que visa o sistema jurídico imediatamente tutelar. Trata-se de classificação por demais criticada (cf. os vários e substanciosos argumentos de BERNARDO PIMENTEL SOUZA E BARBOSA MOREIRA). a) ordinários: são criados para proteger objetivamente o direito subjetivo das partes litigantes; b) extraordinários: têm como objeto imediato a tutela do direito objetivo (federal ou constitucional). Somente de uma forma reflexa ou mediata protegem estes recursos o direito subjetivo da parte. 6.4 quanto à fundamentação: a) fundamentação livre: a parte está livre para, nas razões do seu recurso, deduzir qualquer tipo de crítica em relação à decisão, sem que isso tenha qualquer influência na sua admissibilidade. Ex.: apelação, agravo, recurso ordinário e embargos infringentes b) fundamentação vinculada: a lei limita o tipo de crítica que se possa fazer contra a decisão impugnada. Exs.: recursos extraordinários e os embargos de declaração. 7. Atos sujeitos a recurso e recursos em espécie. 7.1 Atos sujeitos a recurso: conquanto o art. 162, CPC, não seja exaustivo quanto aos atos do juiz, para efeitos de recorribilidade a sua classificação é a que, de fato, interessa. Esta é a sua real utilidade. Em primeira instância (juízo singular), existem três espécies de pronunciamentos judiciais: as sentenças, as decisões interlocutórias e os despachos (pronunciamentos nãodecisórios). Nos Tribunais (juízo colegiado), os pronunciamentos judiciais ou são monocráticos ou são colegiados, quando recebem o nome de acórdão. Os pronunciamentos monocráticos em tribunal podem ter sido proferidos por relator ou pelo Presidente ou Vice, em hipóteses restritas de sua competência (art. 544 do CPC e art. 4º da Lei Federal n. 4.348/64). 7.2 Regras (as exceções serão vistas por ocasião do estudo de cada um dos recursos). 7.3 Enumeração dos recursos (art. 496, CPC): a) apelação; b) agravo; c) embargos infringentes; d) embargos de declaração; e) recurso ordinário; f) recurso especial; g) recurso extraordinário; h) embargos de divergência em recurso extraordinário e recurso especial. Existem, ainda, outros recursos: a) inominado, previsto na LF 9.099/95; b) embargos infringentes por questão de alçada, previstos na Lei de Execução Fiscal. 8. Juízo de admissibilidade e mérito.

8.1 Distinção. Como todo ato postulatório, a impugnação da decisão judicial por meio de recurso submete-se a exame sob dois ângulos diversos. Primeiro, cumpre verificar se estão satisfeitas as condições impostas pela lei para que se posa apreciar o conteúdo da postulação (juízo de admissibilidade); depois, e desde que o resultado tenha sido positivo, cumpre decidir a matéria impugnada através do recurso, para acolher a impugnação, caso fundada, ou rejeitá-la, caso infundada (juízo de mérito). (BARBOSA MOREIRA) 8.2 Juízo de admissibilidade: 8.2.1 Conceito. Chama-se juízo de admissibilidade àquele em que se declara a presença ou a ausência de semelhantes requisitos; juízo de mérito àquele em que se apura a existência ou inexistência de fundamento para o que se postula, tirando-se daí as conseqüências cabíveis, isto é, acolhendo-se ou rejeitando-se a postulação. No primeiro, julga-se esta admissível ou inadmissível; no segundo, procedente ou improcedente. 1 8.2.2 Conhecer e não-conhecer de um recurso. 8.2.3 Mérito da causa e mérito do recurso. 8.2.4 Juízo a quo e juízo ad quem. 8.2.5 Competência. Regra: enquanto o mérito do recurso é, em regra, sujeito a uma única apreciação (órgão ad quem), sua admissibilidade submete-se, em geral, a um duplo controle. Há o chamado recebimento (a quo) e conhecimento (ad quem). Regra 2: a lei confere a um outro órgão, hierarquicamente superior ao que proferiu a decisão, a competência para julgar o mérito do recurso. Exceções: embargos de declaração e agravo. O primeiro, porquanto recurso interposto perante o mesmo órgão prolator da decisão, que além de proferir o juízo de admissibilidade, proferirá também o juízo de mérito. O agravo, de seu lado, será interposto diretamente ao órgão ad quem, a quem competirá o juízo de admissibilidade e o de mérito do recurso. 8.2.6 objeto: são os requisitos necessários para que se possa legitimamente apreciar o mérito do recurso, dando-lhe ou negando-lhe provimento. Trata-se de matéria de ordem pública. 8.2.6.1 requisitos intrínsecos: atinentes à própria existência do direito de recorrer. 8.2.6.1.1 Cabimento: é preciso que o ato impugnado seja suscetível, em tese, de ataque. No exame do cabimento, devem ser respondidas duas perguntas: a) a decisão é, em tese, recorrível? b) qual o recurso cabível contra esta decisão? Princípios correlatos: O princípio da fungibilidade dos recursos. É aquele pelo qual se permite a conversão de um recurso em outro, no caso de equívoco da parte, desde que não houvesse erro grosseiro ou não tenha precluído o prazo para a interposição. Trata-se de aplicação específica do princípio da instrumentalidade das formas. O CPC/39 continha regra expressa neste sentido (art. 810) 2. À luz das diretrizes que informam o CPC, sobretudo em matéria de nulidade dos atos processuais, a despeito inexistência de regra expressa, deve entender-se aplicável tal princípio. (BARBOSA MOREIRA E THEODORO JR.) Atualmente, trazem os doutrinadores os seguintes requisitos: a) dúvida objetiva: não obstante a expressão um pouco equívoca, 1 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários..., p. 258. 2 Salvo a hipótese de má-fé ou erro grosseiro, a parte não será prejudicada pela interposição de um recurso por outro, devendo os autos ser enviados a Câmara, ou Turma, a que competir o julgamento.

pois dúvida é sempre subjetiva, significa que é necessário existir uma dúvida razoavelmente aceita, a partir de elementos objetivos como o próprio texto da lei (sentença incidente do art. 325 do CPC; art. 17 da Lei de Assistência Judiciária); ou criadas pela doutrina (indeferimento liminar da reconvenção, p. ex.); b) inexistência de erro grosseiro: fala-se em erro grosseiro quando nada justificaria a troca de um recurso pelo outro, pois não há qualquer controvérsia sobre o tema; 34 c) observância do prazo: o recurso interposto há que respeitar o prazo daquele que deveria ter sido. V ENTA 1: Continua vigorante em nosso direito processual civil o princípio da fungibilidade dos recursos, inaplicável, todavia, em caso de erro grosseiro e excesso do prazo previsto para o recurso cabível. VI ENTA 55: Admite-se a fungibilidade dos recursos desde que inocorrente o erro grosseiro. Inexiste este quando há acentuada divergência doutrinário-jurisprudencial sobre qual seria o recurso próprio. Princípio da unicidade ou singularidade. Dá-se a impossibilidade da interposição simultânea de mais de um recurso para cada decisão; para cada caso, há um recurso adequado e somente um. O Código não diz expressamente que adotou este princípio. THEODORO JR. o entende bastante aplicável em sede de primeiro grau de jurisdição. Há algumas exceções: embargos declaratórios contra decisões interlocutórias (segundo a doutrina); possibilidade de interposição cumulativa do recurso extraordinário e do especial (art. 541, CPC). O princípio da fungibilidade é uma atenuação aos rigores de tal princípio. (BARBOSA MOREIRA) Princípio da taxatividade: consiste na exigência constitucional de que a enumeração dos recursos seja taxativamente prevista em lei federal. O rol legal dos recursos é numerus clausus. É o princípio segundo o qual recurso é somente aquele previsto em lei, não se podendo criar recurso por interpretação, nem por norma estadual ou regimental. Além das espécies recursais previstas no art. 496 do CPC, podem ser lembrados, ainda: a) o recurso inominado nos Juizados Especiais; b) os embargos infringentes de alçada da Lei de Execução Fiscal; c) os agravos internos previstos para o incidente de suspensão de segurança (Lei Federal n. 4.348/64/ Lei Federal n. 8.347/92). O sentido da taxatividade não fica comprometido com o artigo 24, XI, porque esse prevê a competência concorrente entre União, Estados e DF para legislar sobre procedimentos em matéria processual. Como recurso é matéria processual, e não procedimental, não é possível a criação de recursos por lei que não seja federal. 8.2.6.2 legitimação (art. 499, CPC): 8.2.6.2.1 parte: autor, réu, qualquer dos litisconsortes, bem como o interveniente (que se tornou parte); 8.2.6.2.2 terceiro prejudicado: estranho ao processo, titular de relação jurídica atingida ainda que por via reflexa. 8.2.6.2.3 Ministério Público: quer em processo onde tenha a posição de parte, quer naquele em que oficie como fiscal da lei. O MP tem legitimidade para recorrer, ainda que não tenha participado do processo até o momento da decisão, devesse ter sido ouvido na qualidade de fiscal da lei. (BARBOSA MOREIRA) O MP tem legitimidade para recorrer no processo em que oficiou como fiscal da lei, ainda que não haja recurso da parte (STJ 99). 8.2.6.3 interesse: 3 Súmula 272, STF: Não se admite como recurso ordinário, recurso extraordinário de decisão denegatória de mandado de segurança. 4 Na verdade, inexistência de erro grosseiro e a existência de dúvida objetiva são as duas faces de uma mesma moeda.

I. utilidade: o recorrente deve esperar, em tese, do julgamento do recurso, situação mais vantajosa, do ponto de vista prático, do que aquela em que o haja posto a decisão impugnada; II. necessidade: que lhe seja preciso usar as vias recursais para alcançar este objetivo; Considerações gerais sobre o interesse recursal. A lei alude à circunstância de a parte ter ficado vencida (sucumbência). Deve ser entendido como abrangente de quaisquer hipóteses em que a decisão não tenha proporcionado à parte, no ângulo prático, tudo que lhe era lícito esperar, pressuposta a existência do feito. (Barbosa Moreira) A sucumbência, por si só, não gera o interesse, pois não haveria de se falar em sucumbência em decisões ou para os terceiros, que até aí teriam permanecidos estranhos ao feito, não podendo ter sido vencidos. A circunstância de se tratar de sentença homologatória de transação não impede que se configure a situação de sucumbência para legitimar o recurso de um dos signatários. Não haverá interesse em recorrer, se o recorrente impugnar tão-somente o fundamento da decisão, pois o recurso deve atacar o dispositivo do ato judicial recorrido. (BARBOSA MOREIRA E THEODORO JR.) 8.2.6.4 inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer: Fatos impeditivos: é impeditivo do poder de recorrer o ato de que diretamente haja resultado a decisão desfavorável àquele que, depois, pretenda impugná-la; p. ex., da sentença que homologa a desistência, não pode recorrer a parte que desistiu, exceto se se tratar de impugnar a validade da desistência. A ninguém é dado usar as vias recursais para perseguir determinado fim, se o obstáculo ao atingimento deste fim, representado pela decisão impugnada, se originou de ato praticado por aquele mesmo que pretende impugná-la. É o caso da preclusão lógica, que consiste na perda de um direito ou faculdade processual por quem tenha realizado atividade incompatível com o respectivo exercício. (BARBOSA MOREIRA) Fatos extintivos: são fatos extintivos a renúncia ao direito de recorrer e a aceitação da decisão. (BARBOSA MOREIRA) I. renúncia: ato pelo qual uma pessoa manifesta a vontade de não interpor o recurso de que poderia valer-se contra determinada decisão. Independe da aceitação da outra parte (art. 502, CPC). II. aceitação: ato por que alguém manifesta a vontade de conformar-se com a decisão proferida. III. Desistência. É ato pelo qual o recorrente manifesta ao órgão judicial a vontade de que não seja julgado, e portanto não continue a ser processado, o recurso que interpusera. DESISTÊNCIA RENÚNCIA ACEITAÇÃO - pressupõe recurso já interposto; - causa de inexistência do recurso. - abre-se mão previamente do direito de impugnar a decisão - causa de inadmissibilidade do recurso. - a parte aceita a decisão que lhe foi desfavorável; - causa de inadmissibilidade do recurso; DESISTÊNCIA DO PROCESSO - extingue o processo sem julgamento do mérito (art. 267, VIII, CPC) DESISTÊNCIA DO RECURSO - pode implicar extinção do processo com julgamento do mérito ou sem julgamento do mérito; pode não implicar a extinção do processo, como no caso de uma

- precisa ser homologada pelo magistrado (art. 158, par. ún., CPC) - depende do consentimento do réu, se já houve resposta (art. 267, 4 o, do CPC) - requer poder especial do advogado. desistência de um agravo de instrumento; - dispensa homologação (art. 501 do CPC); - independe de anuência do recorrido (art. 501 do CPC) - também requer poder especial, quando implicar a extinção do processo; mas o poder especial será de disposição de direito material (renúncia ou reconhecimento), quando houver extinção do processo com análise do mérito. 8.2.7 requisitos extrínsecos: concernentes ao exercício do direito de recorrer. 8.2.7.1 Tempestividade: o recurso deve ser interposto dentro do prazo fixado em lei; o termo inicial é o da intimação da decisão (art. 506, CPC). O prazo para a interposição do recurso é peremptório, insuscetível, por isso, de dilação convencional. STJ 256: "O sistema de 'protocolo integrado' não se aplica aos recursos dirigidos ao Superior Tribunal de Justiça". (DJ 22/08/2001, p. 338) Esta súmula, em razão da inclusão do par. ún. do art. 547 do CPC, não tem mais sentido. Os ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) acolheram os embargos de declaração (tipo de recurso) interpostos pela empresa Átis Atuadores Industriais Ltda. contra decisão da própria Turma que reconheceu que o sistema de protocolo integrado só tem aplicação nas instâncias ordinárias. Segundo o ministro Teori Zavascki, relator do processo, a partir da vigência da Lei 10.352, de 2001, ficou legitimada a possibilidade de utilização dos protocolos integrados, inclusive para recebimento de recursos especiais e extraordinários. (AG 454.179). 8.2.7.2 Regularidade formal. Para que o recurso seja conhecido, é necessário, também, que preencha determinados requisitos formais que a lei exige; que observe a forma segundo a qual o recurso deve revestir-se. 5 8.2.7.3 preparo: consiste no pagamento prévio das despesas relativas ao processamento do recurso. À sanção para a falta de preparo oportuno dá-se o nome de deserção: trata-se de causa objetiva de inadmissibilidade, que prescinde de qualquer indagação quanto à vontade do omisso. O preparo há que ser comprovado no momento da interposição (art. 511, CPC) anexando à peça recursal a respectiva guia de recolhimento, se assim o exigir 5 NERY JR., Nelson. Teoria Geral dos Recursos..., ob. cit., p. 314.

a legislação pertinente, inclusive quanto ao porte de remessa e de retorno. 8.2.7.3.1 Critério subjetivo de dispensa do preparo: são dispensados de preparo os recursos interpostos pelo MP, União, Estados, Municípios, e respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal. ( 1º do art. 511, CPC) 8.2.7.3.2 Critério objetivo de dispensa do preparo: são dispensados de preparo o agravo retido nos autos, o agravo do art. 544 do CPC e os embargos de declaração. 8.2.7.3.3 Preparo insuficiente: a insuficiência no valor do preparo implicará deserção, se o recorrente, intimado, não vier a supri-lo no prazo de cinco dias. ( 2º do art. 511, CPC) 8.2.7.3.4 Relevação da deserção: o art. 519 prevê a possibilidade de relevação da deserção, em casos de apelação, quando o recorrente provar o justo impedimento. 8.2.8 natureza: positivo ou negativo o juízo de admissibilidade, é essencialmente declaratório; a existência ou a inexistência dos requisitos é anterior ao pronunciamento, que não a gera, mas simplesmente a reconhece. 8.3 Juízo de mérito. 8.3.1 Conceito de mérito do recurso: o mérito do recurso é a pretensão recursal, que pode ser a de invalidação, reforma, integração ou esclarecimento (esses últimos exclusivos dos embargos de declaração). Compõe-se o mérito do recurso da causa de pedir recursal e da respectiva pretensão. 8.3.2 A causa de pedir recursal: o segundo elemento do conteúdo da impugnação à decisão recorrida. O error in iudicando e o error in procedendo. 8.3.3 Julgamento rescindente e julgamento substitutivo. 9. Efeitos dos recursos. a) impedimento ao trânsito em julgado. b) efeito suspensivo: a interposição prolonga o estado de ineficácia em que se encontrava a decisão; os efeitos desta decisão, sejam eles executivos, declaratórios ou constitutivos, não são produzidos. O efeito suspensivo é aquele que provoca o impedimento da produção imediata dos efeitos da decisão que se quer impugnar. c) efeito devolutivo: a interposição do recurso transfere ao órgão ad quem o conhecimento da matéria impugnada. Podem variar, de recurso para recurso, a extensão e a profundidade do efeito devolutivo. O estudo da profundidade do efeito devolutivo é tratado por alguns autores como se se tratasse de efeito diverso: denominam o fenômeno de efeito translativo. O efeito devolutivo é comum a todos os recursos. É da essência do recurso provocar o reexame da decisão e isso que caracteriza a devolução. d) efeito translativo: a profundidade do efeito devolutivo determina com que material há de trabalhar o órgão ad quem para julgar. Para decidir, o juiz a quo

deveria resolver questões atinentes quer ao fundamento do pedido, quer ao da defesa. A sentença poderá apreciar todas elas, ou se omitir quanto a algumas delas. Em que medida competirá ao tribunal a respectiva apreciação? e) efeito regressivo: que autoriza o magistrado a quo a rever a decisão recorrida, como ocorre, por exemplo, no agravo de instrumento e na apelação contra sentença que indefere a petição inicial (art. 296, CPC). f) extensão subjetiva dos efeitos (efeito expansivo subjetivo) : em regra, a interposição do recurso produz efeitos apenas para o recorrente (princípio da personalidade do recurso). o recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se distintos ou opostos os seus interesses (art. 509, CPC) g) Efeito substitutivo: o art. 512, CPC, regula o chamado efeito substitutivo, que consiste na substituição da decisão recorrida pelo acórdão. Esta substituição só existirá, segundo NELSON NERY JR., se houver julgamento do mérito do recurso, nas seguintes hipóteses: a) em qualquer hipótese for negado provimento ao recurso; b) em caso de error in iudicando for dado provimento ao recurso. 10. O recurso adesivo. 10.1 prazo: interponível no prazo de resposta ao recurso principal; agora, com a reforma, o prazo será de quinze dias, e não dez como antigamente; 10.2 subordinação: subordina-se ao recurso principal: tendo em vista que a parte só recorreu em razão da impugnação do adversário; não basta que ele preencha os pressupostos recursais, pois só será examinado se o principal também os preencher; enfim, segue o destino do principal (não será conhecido se o principal for declarado deserto ou a parte dele desistir); 10.3 mesmo regramento: aplicam-se ao recurso adesivo as mesmas regras do recurso independente, quanto às condições de admissibilidade, preparo e julgamento no tribunal superior; 10.4 admissibilidade: apelação, embargos infringentes, recurso especial ou recurso extraordinário; 10.5 condições específicas de admissibilidade: a) ter havido sucumbência recíproca; b) ter havido recurso da outra parte; 10.6 conceito: é o recurso contraposto ao da parte adversa, por aquela que se dispunha a não impugnar a decisão, e só veio a impugná-la porque o fizera o outro litigante. (BARBOSA MOREIRA) 10.7 Legitimidade: a legitimação ativa compete à parte, que no grau inferior, se contrapunha ao primeiro recorrente. Não há recurso adesivo de terceiro prejudicado, nem do MP nos processos em que não era parte, pois a lei fala em autor e réu ; a estes, corre sempre o ônus de interpor recurso independente.