Fabiane Angelita Steinmetz 2

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Transcrição:

A FUNÇÃO DO CUIDADOR NO PROCESSO DE SUBJETIVAÇÃO DAS CRIANÇAS QUE FREQUENTAM A EDUCAÇÃO INFANTIL 1 THE CARETAKER S ROLE IN THE PROCESS OF SUBJECTIVATION OF CHILDREN WHO ATTEND NURSERY EDUCATION Fabiane Angelita Steinmetz 2 1 O presente trabalho incide na organização de diretrizes para a construção do Trabalho de Conclusão do Curso de Psicologia,Unijui 2 aluna do curso de psicologia da Unijui A função do cuidador no processo de subjetivação das crianças que frequentam escolas de educação infantil The caretaker s role in the process of subjectivation of children who attend nursery education Fabiane Angelita Steinmetz[1] RESUMO O presente trabalho incide na organização de diretrizes para a construção do Trabalho de Conclusão de Curso no campo da psicologia Trata-se de um estudo sobre a importância do papel do cuidador no processo de subjetivação da criança no espaço da educação infantil, em seus primeiros anos de vida. Consiste em uma proposta de investigação bibliográfica, com base na teoria psicanalítica, tendo por finalidade compreender a função do cuidador no processo de constituição e subjetivação da criança, partindo das contribuições de autores que estudam as relações da psicologia com a educação. Palavras-chaves: bebês; creche; educador; psicologia. Keywords: babies; day care center; educator; psychology. INTRODUÇÃO Por meio de um estudo bibliográfico, busca-se conhecer e verificar as principais contribuições teóricas sobre o papel do cuidador da educação infantil no processo de subjetivação das crianças que frequentam as instituições escolares (creches). Apresenta-se, então, as primeiras reflexões em torno do tema, situando brevemente a escola de educação infantil em seu contexto formativo. Pretende-se, a partir disso, abordar a questão fundamental da suplência no contexto da psicanálise, considerando que, atualmente, as crianças, desde muito cedo, passam a maior parte do seu dia na instituição escolar. Essa suplência convida o cuidador a exercer uma tripla função: cuidar, educar e subjetivar. Ao longo do estudo essas três funções serão clarificadas de forma que se possa perceber que o enlaçamento dessas funções faz parte da humanização da criança. Qual o papel do cuidador no processo de constituição psíquica e subjetivação da criança na educação infantil? Tal questão será tomada como fio condutor para o desenvolvimento do tema e seus

desdobramentos. O interesse por essa temática parte da experiência de estágio básico, realizado em uma instituição de educação infantil, cuja experiência e atribuições levaram a refletir sobre a função do cuidador para além do que a legislação propõe. Em torno desse interesse, o tema começou a ser desdobrado em um projeto de pesquisa, desenvolvido na disciplina Seminário de Pesquisa, oferecida no 9º semestre de Psicologia da Unijui - Campus de Santa Rosa, e consiste em diretrizes para a construção do Trabalho de Conclusão de Curso - TCC. Na modalidade de Seminário, realizado em sala de aula, houve a explanação e discussão dos projetos que, alargando o interesse pelo tema, deram origem à escrita deste texto, cujo objetivo é apresentar as primeiras reflexões sobre o projeto a ser desenvolvido, discutindo-o em outra esfera acadêmica, a saber, o Salão do Conhecimento. METODOLOGIA Consiste em uma proposta de investigação bibliográfica de cunho qualitativo e exploratória. Essa proposta sustenta-se na teoria psicanalítica e na contribuição de autores que pesquisam e escrevem sobre as relações da psicologia com a educação, como Alfredo Jerusalinsky, Rosa Maria Marini Mariotto. Portanto, pretende-se, no decorrer da escrita, obter melhor compreensão do tema e da pesquisa, desenvolvendo-a em três capítulos que deverão contemplar uma contextualização histórica das instituições de educação infantil que permita perceber as transformações sociais e políticas ocorridas no processo evolutivo dessas instituições; uma teorização sobre o processo de subjetivação e constituição psíquica pelo viés da psicanálise, discutindo, ainda, os conceitos de educação e cuidado; discorrer sobre a função do cuidador e suas implicações na constituição psíquica da criança. DISCUSSÃO A educação infantil vem sendo pesquisada por diversos autores que apontam estudos sobre as transformações sociais e políticas das escolas de educação infantil, anteriormente, denominadas creches, e versam sobre o vínculo que se estabelece entre os cuidadores e as crianças. Segundo Haddad (1993, p. 23), a creche tem sua origem no século XIX acompanhando a organização da família em torno da criança pequena e ampliando suas responsabilidades. Afirma que a constituição da família moderna reorganizou os papéis e relações entre seus membros, caracterizando um estreitamento dos laços afetivos, nos quais a criança ocupou um lugar privilegiado. De acordo com a autora, o surgimento das creches no Brasil acompanhou a presença evolutiva do capitalismo, a urbanização e a necessidade de mão de obra servindo, durante muito tempo, à função de combate à pobreza e à mortalidade infantil. Tendo este objetivo, as instituições aderiram a padrões de funcionamento que variavam conforme o que acreditavam ser os determinantes dessa pobreza e mortalidade infantil (HADDAD, 1993). A ascensão da mulher no mercado de trabalho, nas últimas décadas, continua crescendo de forma ativa e a creche mantém seu papel como apoiadora e opção para as mulheres trabalhadoras ou estudantes. Conforme Almeida e Ferreira (2001), essas mudanças na organização social e familiar

demandam estudos na esfera da psicologia do desenvolvimento sobre os cuidados diários de crianças pequenas fora do lar. Os questionamentos das autoras giram em torno de como pode ser garantido que sejam oferecidas condições adequadas ao desenvolvimento infantil, pois as pesquisas sobre os efeitos dos cuidados não maternos no desenvolvimento da criança têm mostrado que a qualidade do cuidado oferecido modula esse efeito. As escolas de educação infantil têm possibilitado o trabalho das mães fora do lar. As crianças passam em torno de dez horas, entre ida e volta das creches, fora de casa e, consequentemente, longe das mães. Rizzo (2012) comenta que a mãe exerce um papel especificamente facilitador na padronização da personalidade da criança e aponta que a creche boa será aquela que conseguir oferecer o calor afetivo que a mãe estaria apta a oferecer, ou seja, uma creche que tome para si a responsabilidade de proteção da saúde física e mental da criança pequena. O processo de humanização da criança está alicerçado ao cuidado e à educação, portanto, cuidar de um bebê não se resume na realização de tarefas, e por mais valorizadas que sejam é preciso interrogar-se sobre como e de que lugar os profissionais da educação infantil podem cuidar de uma criança da qual não são mães (CRESPIN, 2016, p. 18). Na experiência de estágio acadêmico realizado na educação infantil, foi percebido que a creche é o lugar onde muitas crianças ensaiam suas primeiras experiências subjetivas: o balbucio, os primeiros passos, o desfralde, as primeiras palavras, a primeira refeição, o controle esfincteriano. Essas experiências subjetivas necessitam um olhar e uma atenção constantes dos cuidadores para prover uma subjetivação salutar, uma vez que o bebê humano fica exposto as suas necessidades sem recursos biológicos suficientes para definir nem com quem nem como satisfazê-las (JERUSALINSKY,1989, p.23). Participar da rotina de uma escola de educação infantil possibilitou a percepção dos hábitos e preferências de cada criança, pois cada uma tem sua característica e mostra a seu modo. Cada criança sabe impor suas vontades mesmo antes de adquirir a fala, desde os primeiros meses, incluindo o jeito de dormir, o som do choro para reivindicar algo, o olhar, o riso. Todas as crianças encontram, então, uma forma de se expressar, de chamar a atenção de quem delas cuida, o que significa dizer que o cuidado com bebês implica em estarmos vigilantes, disponíveis para observar, compreender e dar um sentido a tudo o que nos dizem com seus olhos, rostos e seus corpos (BUSNEL, 1997, p. 60). Rosa (2011, p.107) afirma que a educação, sistemática ou assistemática, produz efeitos de inscrição nas crianças pequenas. Ao pensar no cuidado e na educação dessas crianças, comenta que essas funções estão diariamente no discurso dos educadores das creches e escolas de educação infantil. Nesse sentido, escreve que nos laços com as crianças, os educadores podem propor um ordenamento simbólico, uma vez que encarnam as insígnias das instituições em que trabalham, ao mesmo tempo em que precisam ser autorizados pelos pais ou seus substitutos para exercerem essas funções junto aos pequeninos. Desse modo, assegura que o que está em jogo na escola infantil é a possibilidade de intervenção no processo de subjetivação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Tendo em vista as elaborações apresentadas, compreende-se a importância do cuidado com a criança para além do espaço familiar, estando, esse cuidado, intimamente, relacionado com a função dos cuidadores no processo de estruturação e subjetivação psíquica da criança ao se ocuparem desse trabalho na educação infantil. Entende-se, então, que esclarecer o papel do cuidador no processo de subjetivação e constituição psíquica, nos primeiros anos de vida da criança, coloca-se como primordial na formação desse profissional e, também, abrir uma discussão em torno da organização e o funcionamento das creches para que seja possível sustentar esse cuidado nas instituições de educação infantil como ponto de referência para essas crianças (MARIOTTO, 2009). Sendo assim, propõe-se ampliar o campo de discussão do tema, aprofundando o assunto em uma pesquisa bibliográfica com vistas a melhor compreender o exercício dessa função e seus desdobramentos. Com essas reflexões, fica anunciada a importância da função que esses profissionais ocupam e a relevância dos seus cuidados direcionados às crianças que, como cuidados simbólicos, têm função estruturante no processo constitutivo da criança. AGRADECIMENTO : à Dra. Solange Castro Schorn, Doutora em Educação nas Ciências, docente do Curso de Psicologia da Unijui pelo incentivo e revisão da escrita. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, L. FERREIRA, M.C. Indicadores afetivos do processo de vinculação entre bebês e educadoras de creche. In: CAMAROTTI, M. C.. Atendimento ao bebê: uma abordagem interdisciplinar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001. p. 125-129. BUSNEL, M.C. Um berçário testemunha. In:. A Linguagem dos bebês. São Paulo: Escuta, 1997. p. 47-60 CRESPIN, G. À escuta de crianças na Educação Infantil. São Paulo: Instituto Langage, 2016. HADDAD, L. A Complexidade de um fenômeno: creche terra de ninguém. In: A creche em busca de identidade. 2.ed. São Paulo: Loyola. 1993. p. 21 24. JERUSALINSKY, A. Psicanálise e desenvolvimento infantil: um enfoque transdisciplinar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989. MARIOTTO, R. M. M. Cuidar, educar e prevenir: as funções da creche na subjetivação de bebês. São Paulo: Escuta, 2009. RIZZO, G. Creche organização, currículo, montagem e funcionamento. 7.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012. p. 13 17. ROSA, D. J. A educação estruturante na educação infantil. In: O infantil na psicanálise. Revista da Associação Psicanalítica de Porto Alegre. Porto Alegre, n.40, p. 99 108, jan./jun. 2011.

[1] Acadêmica do 9 Semestre do Curso de Psicologia da Unijui. E-mail:fabinhaalemoa@yahoo.com.br