A ética e o esporte. Uma das grandes lições que o esporte deixa nas pessoas é a ética.



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Transcrição:

Fair Play (em português: Jogo Limpo) é uma filosofia adotada em esportes que prima pelo jogo limpo e justo. A expressão nasceu em 1896, durante as primeiras Olimpíadas da Era Moderna, em Atenas. Barão de Coubertin, o organizador dos Jogos, idealizou a filosofia por meio da frase: Não pode haver jogo sem fair play. O principal objetivo da vida não é a vitória, mas a luta. O conceito de fair play está vinculado à ética no meio esportivo. Os praticantes devem procurar jogar de maneira justa, não prejudicando o adversário de forma proposital. A ética e o esporte Uma das grandes lições que o esporte deixa nas pessoas é a ética. (por favor, corneteiros, prestem bastante atenção na frase a seguir) Se ensinado de forma correta, o esporte pode formar na pessoa, desde criança, conceitos fundamentais de que é preciso ser honesto e de que, nem sempre, você sairá vitorioso na vida. Esse é um atributo presente no esporte desde o princípio, mas que, ultimamente, vem sendo pessimamente trabalhado pelo que deve ser o exemplo para os outros, que é o esporte de alto rendimento, profissional. A queda da máscara de Lance Armstrong, que sempre foi um bastião da moralidade e limpeza no ciclismo, mas que se revelou tão ou mais fraudulento que os outros competidores, é um exemplo claro disso. Fazer o que todos fazem não torna menos criminoso o ato de Armstrong. Agora, o absurdo que se apresenta é a tentativa desesperada do Palmeiras de anular uma partida por causa da tomada de decisão do árbitro auxiliada pela televisão. Sim, é contra a regra, mas o clube alega que o árbitro não pode invalidar um gol pela TV. O detalhe é que ele não havia percebido que a bola havia entrado com a mão!

Imagine explicar para uma criança de cinco anos de idade, que já entende minimamente a dinâmica do jogo, que é errado o árbitro punir o clube que, deliberadamente, o enganou e que, dessa forma, levaria vantagem de forma ilegal. Fica difícil até de explicar, mas podemos resumir tudo pela questão da ética. Hoje a sociedade é tomada pelo conceito de que os fins justificam os meios. É o exemplo político de que não interessa com quem eu faço a aliança, desde que eu vença as eleições. É o tal de temos de ganhar, nem que seja de forma honesta'', partindo do princípio de que ser desonesto já é algo corriqueiro. O esporte tem como grande virtude ser um formador de caráter nas pessoas. O esporte de alto rendimento é o ponto mais alto disso tudo, sendo ele a síntese do que deve ser a vida das pessoas. Um jogo, em que os mais bem preparados vencem, e não os trapaceiros. A veneração à malandragem'' do jogador brasileiro é o que há de mais absurdo dentro do que queremos ensinar como conceito para as gerações futuras. Quando um clube cogita prejudicar o outro porque sentiu-se prejudicado por conta de uma trapaça que fez e não foi bem-sucedido, temos a síntese de que ética é uma palavra que não consta no vocabulário do esporte. Ou, pelo menos, está colocada num segundo plano. Felizmente alguns bons exemplos ainda perduram. Como o de Marcos, ex-goleiro do Palmeiras e que após o jogo desabafou em seu perfil no Facebook: Na minha opinião, não precisamos que anule o jogo, afinal o gol foi de mão. Numa época de tanta luta para que a justiça seja feita no Brasil, nós (todos) do futebol brasileiro temos que dar exemplo, se for para acontecer o pior, que seja com dignidade''. Por isso mesmo é que Marcos consegue ser um ídolo que ultrapassa a marca de um clube. O tal do jogo limpo não pode ser a exceção do esporte, da política, da educação, de tudo. E o esporte tem um enorme potencial para trazer esse exemplo para as pessoas. E isso pode ser benéfico até para as empresas que resolverem encampar essa ideia. Erich Beting Fonte: http://negociosdoesporte.blogosfera.uol.com.br/2012/10/29/a-etica-e-o-esporte/ em 26/05/2012 Prof. Cassio

FIFA DESTACA COPA DE 2014 COMO OCASIÃO PERFEITA PARA COMBATER O RACISMO. No dia Internacional contra a Discriminação Racial, diretor de força-tarefa criada pela entidade máxima do futebol destaca o papel do Brasil para combater o preconceito. No dia Internacional contra a Discriminação Racial, o diretor da força-tarefa criada pela FIFA para discutir o tema, Jeffrey Webb, enviou uma mensagem na qual destaca que a Copa do Mundo de 2014 será a ocasião perfeita para reforçar a mensagem de que o futebol é para todos. Segundo ele, a fase de quartas de final da competição será dedicada ao combate ao racismo. Estou convencido de que o Brasil, com a sua sociedade diversificada, será o anfitrião perfeito. Como a presidente Dilma Rousseff mencionou recentemente, esta será a Copa do Mundo contra o racismo e todas as formas de discriminação. O futebol tem o poder de promover a integração e endossar modelos positivos na sociedade. Este esporte tão bonito é cheio de paixão, e a paixão tem o poder de abrir o caminho para transformações profundas, afirmou na nota. A presidenta Dilma Rousseff afirmou que a mensagem do Mundial será pela paz e contra o preconceito e reforçou a disposição em enfrentar o tema do racismo, após os recentes casos que envolveram os jogadores Tinga e Arouca e o árbitro Marcio Chagas, recentemente. Dilma, inclusive, convidou o Papa Francisco para gravar uma mensagem, neste sentido, para a Copa.

Escolhido pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, o tema deste ano é destacar o papel que os esportes podem desempenhar no combate ao racismo e à discriminação. A nossa meta é promover um esporte no qual todos abracem a diversidade e a universalidade em todo o mundo, comentou Jeffrey Webb. A força-tarefa da FIFA para combater a discriminação racial foi criada em maio de 2013, após deliberação do congresso da entidade máxima do futebol, que aprovou punições em casos de racismo. Entre elas estão a retirada de pontos, a expulsão de uma competição ou o rebaixamento no caso de reincidentes ou incidentes graves das equipes. Fonte: http://www.copa2014.gov.br/pt-br/noticia/fifa-destaca-copa-de-2014-como-ocasiao-perfeita-paracombater-racismo em 26/05/2014- Prof. Cássio A ética no meio esportivo Bruno, de 7 anos, estava tão inebriado de felicidade com a vitória do Flamengo no Brasileirão de 2009, que não entendeu porque seu pai e os primos gaúchos não paravam de brigar, discutindo se o Grêmio 'entregara' ou não o jogo para o time rubro-negro. Como Bruno, tantos outros flamenguistas, de idade mais avançada, nem se importaram em ganhar com um empurrãozinho do adversário. Torcida do Grêmio pede que jogadores percam a partida

Nós, brasileiros, confundimos ética com vantagem. Só que a competição deve estar acima dos milhões de dólares que movimentam as modalidades. Da mesma forma, muitos amantes do vôlei também aplaudiram a 'estratégia' da seleção masculina, que perdeu da Bulgária de propósito, de olho em uma chave mais fácil no fim do campeonato. Mas quando o piloto brasileiro Felipe Massa deu de mão beijada a vitória para o companheiro de equipe Fernando Alonso, por determinação da Ferrari, os fãs brasileiros do esporte ficaram revoltados. Todos os exemplos acima retratam episódios que arranharam a ética e a competição leal em alguma modalidade esportiva. A reação da opinião pública, favorável ou contra certa postura de 'esperteza' dos esportistas, só reflete a preocupante tendência a relativizar padrões morais e normas, de acordo com interesses particulares. Na imprensa, os deslizes na ética rapidamente se transformam em apetitosos escândalos geradores de audiência. Outras vezes, ao contrário, os casos de falta de ética são veiculados de modo elogioso e logo viram uma homenagem à 'habilidade' do atleta ou time. Como a sociedade, mídia também lida com atos duvidosos no meio esportivo com 'dois pesos e duas medidas'. Sim, tudo bem, esporte é paixão - mas nem por isso pode ser território livre, cenário de oportunismo, negociata, cambalacho, picaretagem. Da batida forjada de Nelsinho Piquet ao conflito de interesses do jogador do São Paulo, Rivaldo, que continua à frente de outro clube, o esporte brasileiro tem se visto envolvido na espinhosa teia das práticas pouco idôneas. Qual a importância e o limite da ética no campo esportivo? Até onde vale a pena driblar as regras para vencer? Em que medida tratar o esporte como negócio está comprometendo a competição justa e honesta? Nosso Diretor de Ensino Rui Alves Gomes de Sá propõe um debate sobre esses dilemas e uma reflexão sobre o papel da ética no esporte brasileiro. Nos últimos anos, temos visto vários comportamentos que mostram uma ética frágil e a falta de cultura esportiva no Brasil. Em relação ao futebol, nos dois últimos Campeonatos Brasileiros houve até quem torcesse contra o próprio time, apenas para combater a torcida rival da cidade. Em 2009, torcedores do Grêmio pediram explicitamente para o time entregar o jogo final contra o Flamengo. Não desejavam que o rival gaúcho Internacional pudesse ser campeão. Nesse jogo, o Grêmio jogou com o time de reservas e o Flamengo se sagrou Campeão ao vencê-lo por 2 a 1. No último Campeonato Brasileiro, a torcida são-paulina levou faixas com a palavra "Entrega" para Barueri, onde o time recebeu o Fluminense. Como um triunfo da equipe carioca prejudicaria o Corinthians, rival são-paulino ainda com chances de título, parte da torcida da equipe do Morumbi comemorou os gols do rival, que venceu por 4 a 1. O mesmo aconteceu no jogo com o Palmeiras, outro arquirrival corintiano. Esse comportamento mostra que nós, brasileiros, confundimos ética com vantagem, ou seja, a pessoa torce para o que ela acha mais vantajoso para ela. Agora, em janeiro, o pentacampeão Rivaldo, aos 38 anos, foi contratado para ser jogador do São Paulo, e continuou na presidência do clube de futebol Mogi Mirim. Há um exercício de função em que o conflito de interesses é gritante. São duas funções incompatíveis. Como se comportará o jogador em um jogo do São Paulo contra Mogi? Por mais que seja um grande profissional, a exclusividade é o caminho mais ético, mais transparente.

Mas isso não ocorre só no futebol. Massa é obrigado a 'dar' a vitória para Alonso Felipe Massa e a Ferrari foram criticados quando o brasileiro acatou ordens de sua equipe e deixou Fernando Alonso ultrapassá-lo no GP da Alemanha, em julho de 2010. Muitos condenaram o Felipe Massa mas, se fosse o espanhol que tivesse deixado o brasileiro passar, será que isso incomodaria alguém? O que se observa é que o torcedor apoia a marmelada* que favorece o seu próprio interesse. Quando o resultado lhe convém, ele endossa, mesmo que seja uma atitude considerada imoral. O que está em jogo é a paixão. A ética é totalmente esquecida nessa hora. Aos olhos dos milhões de espectadores que acompanham as corridas no mundo inteiro, a credibilidade da competição fica ferida, desacreditada. As pessoas que gostam do esporte entendem que em qualquer modalidade, a vitória, o empate ou a derrota devem ser definidos dentro de uma disputa justa, limpa, irretocável, sem intromissões alheias, sem que interesses de terceiros (ainda que sejam as escuderias, equipes ou times envolvidos) sejam os motivadores do ocorrido. A competição deve estar acima dos milhões de dólares que movimentam as modalidades. Se o doping é abominável em competições de atletismo ou natação, se juízes que recebem propina para ajudar uma equipe a vencer no futebol constituem ato igualmente impróprio e imoral, a intromissão das escuderias de Fórmula 1 (ou de qualquer outra categoria do automobilismo mundial) é, também, uma ação indevida, desqualificada, antiética e totalmente imprópria para a prática esportiva. A natureza do esporte tem como base primordial a competição. A cooperação dentro de uma mesma equipe deve acontecer, mas os limites desta ação de trabalho e auxílio terminam quando começam as disputas, os jogos, as corridas. Dentro das arenas esportivas, ainda que colegas de um mesmo time, cabe a cada atleta procurar a vitória sobre os demais competidores, sejam eles de sua própria equipe ou não. Felipe Massa, que aos olhos de muitos pode ser visto como vítima desta farsa que se estabeleceu na Fórmula 1 - situação que infelizmente já aconteceu em outros momentos -, acatou as ordens e deixou Alonso passar. E se tivesse resolvido seguir adiante, mantendo a posição conquistada na pista, sofreria sanções da equipe? Seria repreendido pelos diretores? Teria multas aplicadas e descontos em seu salário? Mas sua atitude seria considerada de qual forma pela opinião pública? Prova de força, de coragem e de competitividade? Ou como insubordinação, motim e irresponsabilidade perante a equipe? * "Marmelada de banana, bananada de goiabada, goiabada de marmelo" trecho da famosa música de Gilberto Gil - Tal qual acontece nessa música, em que a marmelada não é de marmelo, nas fábricas de conservas, várias vezes a marmelada é de chuchu com marmelo. O chuchu é acrescentado de forma ilegítima no doce. Daí vem o uso de marmelada com o sentido de um 'arranjo' de participantes de uma competição.

É muito importante ensinar a população a torcer eticamente, educar para o esporte. A ética no esporte prevê a disputa limpa, sem intromissões que prejudiquem o desenrolar da competição. Em 2008, a Renault, seu diretor Flávio Briatore e o piloto Nelsinho Piquet foram condenados pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA) por um acidente com o piloto brasileiro. Acidente forjado durante prova do campeonato mundial de Fórmula 1 daquele ano, criado para beneficiar o colega de equipe de Piquet, que estava na disputa pelo primeiro lugar na prova e no campeonato de pilotos. As ações deste GP da Alemanha de 2010 são igualmente condenáveis, pois se revelam antiéticas como as daquela situação. Ironias à parte, o beneficiário do acidente de Piquet foi também Fernando Alonso... É claro que em 2008, no caso Piquet, há agravantes, como a simulação previamente planejada de um acidente com o piloto brasileiro. Mas agora, em 2010, com regulamento claro que impede qualquer equipe de pedir ou "orientar" seus pilotos a fazer o tal jogo de equipe, a atitude foi igualmente premeditada e pensada nos boxes da Ferrari e fere a dignidade dos pilotos, da equipe, da categoria e do esporte. Situações como esta levam os fãs da F1 a duvidarem da credibilidade do que está sendo visto... Para se ter noção de como a ética é colocada de lado, em detrimento da parte financeira, o Conselho Mundial da FIA ( Federação Internacional de Automobilismo ), reunido no dia 10 de dezembro de 2010, decidiu suprimir de seu código o artigo que, na teoria, vetava as marmeladas*, o 'jogo de equipe'. Outra atitude que esbarra na ética foi a da nossa seleção masculina de vôlei, que, no Mundial da Itália, jogou com reservas contra a Bulgária, perdeu e evitou uma trajetória mais difícil até a final. Enquanto para alguns o time fez parte de uma marmelada*, para outros, Bernadinho e os atletas tiveram uma atitude racional, uma vez que o regulamento do campeonato prejudicava as seleções de melhor campanha. Houve - e ainda há - inúmeras declarações de apoio àquela derrota, pois se o Brasil ganhasse da Bulgária, mas não chegasse à final, poderia dar a ideia de ser um time ingênuo, que caiu na armadilha do regulamento italiano. Vale reforçar que esses arranjos no esporte por vezes são aceitos, e até desejados, porque o Brasil não ostenta uma cultura esportiva sólida. A torcida é para que o fato de o Brasil sediar a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016 alavanque o processo de sedimentação dessa cultura esportiva, dessa ética. É muito importante ensinar a população a torcer eticamente, educar para o esporte. Na virada do século XIX para o XX, tivemos o célebre ensinamento do Barão de Coubertin, responsável pelo surgimento das Olimpíadas Modernas, que dizia que "O importante é competir". Esperamos que este ensinamento, que tem sido substituído por "O importante é vencer", ainda mais neste século XXI, no qual há milhões de motivos (a serem depositados em contas bancárias) para que as vitórias aconteçam, não se deixe deturpar e que os líderes e as pessoas analisem a real função do esporte. Para concluir, reproduzo abaixo os depoimentos de dois grandes campeões profissionais, abordando a questão da ética no esporte:

"Num mundo cada vez mais profissional e competitivo, onde o resultado se torna fator de sobrevivência, o assunto ÉTICA é cada vez mais discutido, mesmo nos meios em que, historicamente, isso deveria ser uma regra. O esporte é um destes meios, com inúmeros casos que geram discussões sobre o tema. Quem não se lembra dos célebres casos de Senna e Prost e agora, mais recentemente, dos jogos de equipe da Ferrari, na Fórmula 1? Quantos casos de doping têm sido vistos ao longo do tempo, principalmente em Olimpíadas, onde o tão festejado espírito olímpico deveria prevalecer? No futebol, volta e meia somos bombardeados com notícias sobre 'corpo mole' de alguns times e as tais 'malas pretas e brancas'. Até num esporte que sempre foi referência de correção na conduta, que é o vôlei (infelizmente tenho que falar isso sobre o meu esporte), vimos recentemente um Campeonato Mundial cheio de resultados estranhos, inclusive o já famoso jogo do Brasil contra a Bulgária, em que a nossa seleção entregou o jogo para se beneficiar, entrando em uma chave melhor na fase seguinte. Enfim, temos inúmeros casos que demonstram que os interesses comerciais estão à frente da ética e do tão celebrado espírito esportivo ou espírito olímpico. O ideal olímpico do Barão de Coubertin, que dizia que o importante não é ganhar e sim competir, já ficou pra trás há muito tempo... Sinceramente, torço para que aconteçam mais exemplos como o da Red Bull na Fórmula 1, que foi campeã mundial de equipes e pilotos sem jogo de equipe, inclusive co m uma ordem do dono da empresa que rechaçou qualquer possibilidade disso ocorrer. Desta maneira, poderemos ver o esporte repleto de bons exemplos. Nós, pessoas do esporte, temos a obrigação de lutar pela ética, para que possamos continuar a ter a prática esportiva como instrumento de inclusão social e fonte de bons princípios e valores para nossas crianças, que crescerão cheias de saúde e bons exemplos a seguir. Essa é a torcida de alguém que descobriu o esporte aos 10 anos de idade, competiu durante 25 anos, e NUNCA precisou de qualquer tipo de artifício que ferisse a ética no esporte para ser competitivo e conquistar um espaço de destaque." (Nalbert) "Caros alunos do Colégio e do Curso ph, Todo esporte precisa de ética. E o que é isso? Significa começar pela primeira premissa do esporte: nunca perder de propósito, mesmo que seja para ter um melhor resultado ou cruzamento na frente. Feliz 2011 para vocês com muita ética na 'vida'." (Oscar Schmidt) * "Marmelada de banana, bananada de goiabada, goiabada de marmelo" trecho da famosa música de Gilberto Gil - Tal qual acontece nessa música, em que a marmelada não é de marmelo, nas fábricas de conservas, várias vezes a marmelada é de chuchu com marmelo. O chuchu é acrescentado de forma

ilegítima no doce. Daí vem o uso de marmelada com o sentido de um 'arranjo' de participantes de uma competição. Rui Alves Gomes de Sá é engenheiro e Diretor de Ensino do Grupo ph. Fonte: http://www.ph.g12.br/novo.php?pagina=phquestao&id=213 em 26/05/2014 Prof. Cássio Sugestões para capa da PI