TÍTULO:TEMAS TRANSVERSAIS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS AUTORA: MINTZA IDESIS JÁCOME, mintza@bol.com.br INSTITUIÇÃO:UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ÁREA TEMÁTICA : SAÚDE INTRODUÇÃO: Eleger os temas transversais como eixo norteador para o desenvolvimento da prática pedagógica na educação de jovens de adultos é possibilitar ao educando posicionarse frente às questões sociais e interpretar de forma crítica sua realidade numa dimensão histórica, política e cultural. As reflexões à luz dos temas transversais buscam contemplar questões relevantes no processo ensino-aprendizagem, envolvendo múltiplos aspectos na vida social do educando, no sentido de auxiliar na construção de sua cidadania, a fim de possibilitar sua maior expressão social. Por tratar de questões sociais, a transversalidade atravessa os diferentes campos do conhecimento, por exemplo, a questão ambiental, a ética, a pluralidade cultural, saúde e orientação sexual. Sua presença na prática docente permite ao professor romper com suas próprias limitações pois a transversalidade permeia as questões epistemológicas mais gerais, num trabalho sistemático e contínuo, capaz de promover uma compreensão mais abrangente dos diferentes objetos do conhecimento por abrir espaços para a inclusão de saberes extra-escolares construídos na realidade dos alunos. Foi o contato com essa realidade do aluno que surgiu este trabalho. Atuando em sala de aula de alfabetização de jovens e adultos com 25 (vinte e cinco) alunos, identificamos a existência de um contingente de 88% de alunos usuários do álcool, o que provocava alguns transtornos na dinâmica pedagógica em virtude de comportamentos inadequados. Recorrer ao tema transversal saúde foi um caminho encontrado para um enfrentamento da situação no sentido de revertê-la ou minimiza-la. OBJETIVOS: Ao observar a alta incidência do uso de álcool pela maior parte dos alunos da sala de aula de alfabetização de jovens e adultos em que atuamos pelo projeto Redução do Analfabetismo, decidimos levar a efeito um trabalho pedagógico com o tema transversal saúde, especialmente enfocando o problema do uso da droga. Nosso objetivo principal foi criar um espaço de debate em torno da temática buscando socializar informações sobre seus efeitos no organismo, nos relacionamentos familiares, na sociedade e no equilíbrio
integral da criatura humana. Na busca de caminhos nos defrontamos com questões relativas a maior ênfase atribuída à leitura e escrita nas salas de alfabetização de jovens e adultos. Nas formações inicial e continuada, no entanto, recebemos orientações no sentido de explorarmos pedagogicamente temáticas relativas aos estudos da sociedade e da natureza, buscando proporcionar aos educandos uma experiência educacional integral e integradora. A orientação recebida apontava, pois, para a superação da visão parcial promovida pela disciplinarização do ensino. A Disciplinaridade é a forma fragmentada de se organizar os conteúdos ou disciplinas no currículo, como o nome supõe é baseado em disciplinas. Ela surgiu com o aumento da ciência e a grande quantidade de informações, que não permitiria que os estudiosos (cientistas) pudessem dominar várias áreas do conhecimento, como antes (exemplo: Leonardo da Vinci, que era matemático, físico, inventor, pintor etc), entre outros. Surgiu assim, a necessidade de se especializar em uma área do conhecimento, fragmentando os conhecimentos através de assuntos correlacionados. Com passar do tempo, se fez necessário superar essa forma de organização de conhecimentos, por se constatar que a realidade e o mundo não são fragmentados, mas sim formam um todo com as suas partes, assim também é o ser humano. Apareceu então a Interdisciplinaridade, que pretendia transcender os limites e restabelecer comunicação desfeita pela especialização. Ela se diversifica em diversas modalidades: Pluridisciplinaridade e Transdiciplinaridade, com a intenção de alcançar a sua pretensão, formando campos não mais disciplinares, mas interdisciplinares. Os PCNs são uma dessas propostas da interdisciplinaridade, eles introduzem assuntos que devem ser tratados pelas disciplinas. Mas, mesmo rompendo um pouco com a Disciplinaridade, a Interdisciplinaridade não deixa de se tratar de um currículo disciplinar. A idéia de Transversalidade pretende pensar em um currículo não disciplinar. Ela busca, justamente, o fluxo entre os saberes, não como os PCNS, que se constituem apenas cortes temáticos entre as disciplinas. A Transversalidade em si, implica em uma nova visão dos conhecimentos no que diz respeito a sua forma de transmissão e apreensão. Assim, a Educação seria singular, não haveria possibilidade de previsão de resultados, a subjetividade seria a sua marca. A Transversalidade difere da Disciplinaridade no tocante à fragmentação das disciplinas e da
Interdisciplinaridade na tentativa de recuperar a unidade perdida na Disciplinaridade; por si só parece uma proposta anárquica, ousada ou até utópica, mas que não deve ser descartada, antes deve ser testada na superação do medo do novo, do ousar, do mudar. Diante da situação enfrentada na sala de aula, tornou-se necessário superar o desejo inicial de ignorar o problema justificado pela ausência de uma proposta curricular no sentido restrito dessa expressão e encontrar direções para o enfrentamento do problema. O caminho que escolhemos foi uso do tema transversal saúde em virtude de seus conteúdos tratarem de situações próprias da realidade dos educandos, o que possibilita, dentre outros aspectos: a exploração de temas de interesse dos alunos em virtude de sua significação, geralmente desprezados pelos professores devido ao seu caráter polêmico; o trabalho pedagógico inter e pluridisciplinar superando a forma fragmentada de se tratar as disciplinas; a possibilidade, por parte do docente, de enfrentar de uma forma curricular os problemas sociais dando-lhes um caráter informativo e formativo além de oportunizar um tratamento integral aos conteúdos de ensino. Na perspectiva acima é que foram trabalhados diversos conteúdos que ajudaram a compor o ambiente e as situações necessárias para obtermos entre outras coisas, a conscientização do aluno acerca da sua condição de usuário de droga, consumidor de um mercado que vê neste vício um meio de lucro para determinados grupos de pessoas que não estão, muitas vezes, preocupadas com os danos físicos e morais que esse uso pode causar aos que o praticam, importando-lhes apenas o lucro e o aumento deste. Por se tratar de uma proposta interdisciplinar e transversal, abordamos conteúdos existentes nos estudos da sociedade e da natureza. Dentre eles, podemos relatar: o trabalho com os aparelhos respiratório, digestivo, circulatório e nervoso, a fim de mostrar as suas funções e as conseqüências que o uso de droga provoca nos mesmos; também analisamos estatísticas que nos deixaram a par da contingência de doença e males que prejudicam a saúde e a vida do usuário, isso com o interesse de despertar o educando sobre os prejuízos gerados por esse uso à sua saúde, para chegar à conscientização que queremos acerca da sua condição de usuário e da sua participação na conjuntura do mercado da droga. Paralelo a este trabalho, desenvolvemos atividades de lecto-escrita e matemática, na perspectiva de uma educação integral. Estudamos, ainda, as drogas mais conhecidas e usadas, de forma
particular e detalhada, para um melhor esclarecimento, sistematizando os conhecimentos prévios dos educandos. METODOLOGIA: Para o desenvolvimento desses conteúdos utilizamos a exposição dialogada, os debates, além da elaboração de textos coletivos e individuais bem como cartazes. Na dinâmica de sala de aula foi identificada, de início, uma certa resistência por parte dos alunos, sobretudo o que se refere à auto-percepção da condição de usuário de droga socialmente aceita, o álcool, sobretudo. À medida em que as exposições iam se desenrolando, sem outro enfoque que não o da informação, foi identificada uma maior participação do grupo. Utilizamos fotos, depoimentos, pequenos textos, dados estatísticos, slides como recursos, além das falas dos próprios alunos que serviram de recursos ilustrativos e conteúdos de grande significado existencial. Os espaço de discussão oportunizavam as falas e apenas um aluno usuário de maconha, manteve-se resistente. Foi mantido um clima de discussão e nunca de discriminação ou agressão, mesmo diante de alunos que chegavam à sala de aula alcoolizados. RESULTADOS: Identificamos que o grupo usuários do álcool forneceu depoimentos no sentido de se auto-identificarem como usuários e afirmavam desconhecer todo o alcance dos efeitos da bebida. Destacaram que não sabiam do aspecto financeiro (alguém é beneficiado) do problema do alcoolismo e 22,7% de pessoas do grupo ao final do curso, verbalizaram que haviam deixado o álcool e o cigarro. Os demais reafirmavam que não eram propriamente viciados, pois, eram usuários ocasionais. Registraram ainda as dificuldades sociais para abandonarem completamente o uso do álcool. O único aluno que revelava forte resistência foi preso por ser traficante de drogas. Do grupo original, 31,8% continuaram no semestre seguinte. Apenas uma aluna reincidiu e está sendo encaminhada à AAA (Associação dos Alcoólicos Anônimos).
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais Temas Transversais Brasília 1998. GALLO, Sílvio. Disciplinaridade e Transversalidade. INTERNET: www.mec.gov.br. www.saudeeducacao.com.br