MODELAGEM MATEMÁTICA COM O SUPORTE DO FACEBOOK, RUMO A UMA BLENDED-LEARNING? Neil da Rocha Canedo Junior 1 Marco Aurélio Kistemann Junior 2 1 Prefeitura de Juiz de Fora/Universidade Federal de Juiz de Fora, neilcanedo@gmail.com 2 Universidade Federal de Juiz de Fora /Departamento de Matemática, marco.kistemann@ufjf.edu.br Resumo Este trabalho relata nossas experiências com o uso do Facebook como ferramenta pedagógica no desenvolvimento de projetos de Modelagem Matemática no contexto do Ensino Fundamental, em uma escola pública do município de Juiz de Fora (MG). Apresentamos o uso que fazemos dessa rede social tanto na interação multimodal que ela permite entre professor e alunos em nossos trabalhos de Modelagem, como na colaboração on-line entre professores e/ou pesquisadores que se interessam por essa temática. Entendemos que o relato das nossas experiências didáticas com o Facebook traz reflexões a respeito de uma problemática bastante atual, a saber, a presença das redes sociais nos meios educacionais. Palavras-chave: Educação Matemática; Modelagem Matemática; Seres-humanos-commídias; Redes Sociais On-line. INTRODUÇÃO Neste trabalho buscamos compartilhar com a comunidade de Educadores Matemáticos nossas experiências com a presença do Facebook como suporte às atividades de Modelagem 1 de alunos do segundo segmento do Ensino Fundamental em uma escola pública do município de Juiz de Fora (MG). A Modelagem é prática pedagógica presente à Educação Matemática praticada pelo primeiro autor deste trabalho, desde o ano de 2010, de maneira que veio a se tornar o lócus investigativo da nossa pesquisa mestrado 2. O uso do Facebook como suporte pedagógico à Modelagem que praticamos em nossas aulas emerge, de um lado, como resposta à atitude que observamos em alguns alunos ao longo da nossa pesquisa de mestrado de acessarem seus perfis nessa rede em vez de se dedicarem às suas atividades de Modelagem. Por outro lado, a exploração das possibilidades oferecidas pela Internet, dentre as quais as redes sociais, em atividades escolares como os trabalhos com Modelagem, é uma questão que vem sendo considerada por alguns autores. Malheiros e Franchi (2013, p. 188), por exemplo, apontam que as redes sociais permeiam o cotidiano de parte dos estudantes e podem ser exploradas com finalidades educacionais. Já Diniz e Borba (2012, p. 956) acrescentam que o uso de blogs, de redes sociais como o Facebook (a mais popular do Brasil no momento) e a 1 Desse ponto em diante, vamos usar o termo Modelagem para nos referirmos à Modelagem Matemática enquanto prática letiva no contexto da Educação Matemática. 2 Pesquisa de mestrado desenvolvida pelo primeiro autor entre os anos de 2012 e 2014, tendo o segundo autor como orientador.
contínua transformação da Internet, com suporte cada vez maior para vídeo, podem transformar a modelagem. Além disso, o uso dessa rede social como suporte pedagógico vai ao encontro das nossas concepções de conhecimento e de Modelagem, uma vez que entendemos a Modelagem como uma abordagem pedagógica em que os alunos, divididos em grupos, elegem um tema a respeito do qual problematizam e investigam por meio da Matemática (BARBOSA, 2001), mediados pelo professor e na presença de diferentes mídias (oralidade, escrita e informática), as quais participam como atrizes dos processos de produção de conhecimentos (BORBA; VILLAREAL, 2005). Dessa forma, o Facebook constitui mais uma mídia a integrar um coletivo pensante de seres-humanos-com-mídias. Apresentaremos as possibilidades do uso do Facebook enquanto suporte didático às práticas de Modelagem começando com a descrição que vai desde as primeiras trocas espontâneas de informação entre alunos e professor, até uma interação mais sistemática que vem acontecendo por meio de grupos e eventos criados nessa rede para esse fim específico. Acrescentamos que tais possibilidades têm extrapolado as relações entre professor e alunos ao ponto de contribuir, também, com a formação inicial e continuada de professores e com o desenvolvimento de pesquisas acadêmicas. O FACEBOOK E O FAZER MODELAGEM A atitude de alguns alunos, observada ao longo da nossa pesquisa de mestrado, sugere uma relação um tanto quanto dissonante entre o Facebook e as tarefas de Modelagem, uma vez que preferiam acessar seus perfis nas redes sócias em vez de se dedicarem às suas tarefas de Modelagem (CANEDO JR, 2014). Figura 1: Postagem que apresenta aos alunos informações úteis a uma atividade de Modelagem. Fonte: Perfil no Facebook do primeiro autor deste trabalho. Contudo, a continuidade das práticas de Modelagem, para além da pesquisa de mestrado, cuidou de estabelecer a ressonância entre o fazer Modelagem dos alunos e a
presença do Facebook. A princípio, o suporte dessa mídia às tarefas de Modelagem acontecia por meio de trocas de informações espontâneas e esporádicas entre professor e alunos por meio de postagens no Facebook (figura 1). Da intensificação dessa comunicação on-line surgiu a possibilidade de uma interação mais sistemática que poderia ser feita por meio de grupos criados nessa rede social. Primeiro foi criado um grupo público denominado Projetos de Modelagem Matemática 3, em 21/11/2014. O fato de ser um grupo aberto fez com que alguns professores e/ou pesquisadores viessem a participar do mesmo, alguns por iniciativa própria, através de solicitação e outros a convite nosso. O grupo em questão tem servido de veiculo de divulgação dos nossos trabalhos e também como uma espécie de colaboração on-line entre professores e pesquisadores, como exemplifica a postagem apresentada na figura 2. Figura 2: Postagem com aluno de graduação buscando sugestões para o seu TCC. Fonte: Grupo do Facebook Projetos de Modelagem Matemática. Se, por um lado, esse grupo de natureza aberta favorece a divulgação de nossos trabalhos e a colaboração on-line entre professores e pesquisadores, por outro, a presença desses intrusos inibiu a participação dos alunos interferindo de forma negativa na interação entre eles e o professor. Em outras palavras, ao assumir a função de colaboração e divulgação, o grupo perdeu a função de ferramenta pedagógica de suporte às tarefas de Modelagem dos alunos. Frente a essa constatação, criamos, em 12/02/2015, um grupo fechado denominado Modelagem Matemática EMJGR, no âmbito do qual temos promovido a interação entre os alunos e o professor no sentido de favorecer as nossas práticas de Modelagem. A posterior criação de eventos no interior desse grupo permitiu que cada uma das equipes de alunos compartilhasse informações específicas a respeito do trabalho de Modelagem que desenvolve. A figura 3 mostra uma postagem por meio da qual o professor apresenta aos alunos de uma equipe que desenvolve um trabalho de Modelagem a respeito da temática Crise Hídrica e Desmatamento, um link de um vídeo a respeito de um projeto de reflorestamento desenvolvido por uma ONG nas nascentes do Rio Doce. 3 Em https://www.facebook.com/groups/503588186449462.
Figura 3: Postagem em que o professor compartilha o link de um vídeo com os alunos. Fonte: Evento do grupo do Facebook Modelagem Matemática EMJGR. Entendemos que o Facebook tem oferecido ao nosso fazer Modelagem um ambiente de interação multimodal, pois permite trocar informações na forma de arquivo de texto, imagem, links de vídeo, chat, etc. Além disso, essas interações à distância, mescladas às aulas presenciais, trazem para a Educação Matemática que praticamos elementos de uma tendência a qual Borba, Scucuglia e Gadanidis (2014, p. 77) denominam blended-learning, ou b-learning, que pode ser traduzido como ensino misturado, ensino de modalidades combinadas, sugerindo uma articulação entre o presencial e o virtual. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo do texto, procuramos compartilhar com a comunidade de educadores matemáticos nossas experiências com o uso do Facebook como suporte pedagógico ao nosso fazer Modelagem. Reiteramos que a presença dessa rede na Educação Matemática que praticamos busca superar a relação de dissonância observada em nossa pesquisa de mestrado entre o Facebook e o fazer Modelagem dos alunos, mas também vai ao encontro das sugestões de autores que, a exemplo de Malheiros e Franchi (2013) e Diniz e Borba (2012), apontam para a necessidade de se explorar e investigar as potencialidades do uso pedagógico das redes sociais., Frente ao exposto, esperamos que as experiências aqui descritas possam contribuir no sentido de inspirar a prática letiva de professores e futuros professores, no sentido de explorar as possibilidades oferecidas pelas redes sociais no sentido de torna-las ferramentas a serviço da Educação Matemática. Também é nossa esperança oferecer a pesquisadores e futuros pesquisadores possibilidades de pesquisas que tenham o uso pedagógico das redes sociais como lócus investigativos, uma vez que entendemos essa problemática como uma fecunda região de inquérito.
REFERÊNCIAS BARBOSA, J. C. Modelagem matemática: concepções e experiências de futuros professores. 2001. 268f. Tese (Doutorado em Educação Matemática) - Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2001. BORBA, M. C.; SCUCUGLIA, R. R. S.; GADANIDIS, G. Fases das tecnologias digitais em Educação Matemática: sala de aula e internet em movimento. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014. BORBA, M. C.; VILLARREAL, M. E. Humans-With-Media and the reorganization of mathematical thinking: information and communication technologies, modeling, experimentation and visualization. v. 39, New York: Springer, 2005. CANEDO JR. N. R. A modelagem como uma atividade de seres-humanos-commídias. 2014. 238f. Dissertação (Mestrado Profissional em Educação Matemática) Universidade Federal de Juiz de Fora. Instituto de Ciências Exatas. Programa de pósgraduação em Educação Matemática, Juiz de Fora, 2014. DINIZ, L. N.; BORBA, M. C. Leitura e Interpretação de Dados prontos em um ambiente de modelagem e tecnologias digitais: o mosaico em movimento. Bolema, Rio Claro (SP), v. 26, n. 43, p. 935-962, ago. 2012. MALHEIROS, A. P. S.; FRANCHI, R. H. O. L. As tecnologias da informação e comunicação nas produções sobre modelagem no GPIMEM. In: BORBA, M. C.; CHIARI, A. (org.). Tecnologias Digitais e Educação Matemática. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2013. P. 175-189.