O PROJETO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: PERSPECTIVAS E PRINCÍPIOS DE IMPLEMENTAÇÃO



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Transcrição:

O PROJETO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: PERSPECTIVAS E PRINCÍPIOS DE IMPLEMENTAÇÃO Hugo Otto Beyer (UFRGS) Tatiane Alves dos Santos (UFRGS) Resumo O projeto pedagógico da inclusão escolar está consagrado no Brasil como proposta de educação dos alunos com necessidades educacionais especiais priorizada em lei. A questão atual não é de natureza paradigmática ou legal, porém pragmática. A grande pergunta é como implementar de forma factível tal projeto, de forma que se desencadeie um processo pedagógico que esteja à altura dos principais conceitos inclusivos. A comunidade escolar, representada pelos professores, pais e alunos, demonstra atitudes ambíguas a respeito, que mescla ansiedade, dúvida, busca de alternativas e, também, valorização da educação inclusiva. Na busca de soluções, alguns princípios pedagógicos inclusivos se sobressaem, tais como os princípios da individualização do ensino, da bidocência e da redução numérica de alunos por sala de aula. Palavras-chave: educação inclusiva experiências e conceitos princípios de implementação O projeto pedagógico da inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais é altamente desafiante. Por um lado, discute-se intensamente a legitimidade do mesmo, não afirmaríamos que do ponto de vista legal, pois como tal sua legitimidade já existe (no mínimo) desde a LDB 9.394/96. A legitimidade que se discute está atrelada à própria histórica da evolução do projeto inclusivo no Brasil desde a década de 90. Não apenas no que se refere ao projeto quanto à sua autoria (onde, como, quem...), mas também quanto à viabilidade pedagógica do mesmo. Em muitos países (sem generalizações, pois cada um apresenta suas particularidades) a história da inclusão escolar esteve diretamente ligada às iniciativas de grupos, tais como os pais das crianças com necessidades especiais e educadores sensibilizados com os esforços dos mesmos em integrarem seus filhos nas escolas do ensino comum. As decisões de natureza legal foram se dando gradativamente, à medida que as experiências de inclusão amadureciam e provocavam as pressões dos grupos no sentido da assimilação do projeto pela legislação educacional correspondente. O ponto crítico de nossa experiência no Brasil deve-se à inversão dos fatores, ou seja, nossa história de inclusão escolar não antecedeu a história da legislação na área. Esta avançou extremamente, no sentido da assimilação do paradigma inclusivo, enquanto que as escolas e os sistemas educacionais não realizaram suas experiências de inclusão escolar dos alunos com necessidades educacionais especiais. Agora assistimos (os educadores e pesquisadores envolvidos) quase que a uma ansiedade grupal, enquanto os educadores ou professores, nos diferentes sistemas educacionais, discutem intensamente o projeto pedagógico

inclusivo, buscando principalmente resposta a uma questão principal: como implementar, de uma forma plausível e possível, o projeto inclusivo nas escolas em geral. Como pesquisadores e docentes universitários, temos encontros freqüentes com professores/as de diferentes escolas, momentos em que, por um lado, observamos a atitude cética e crítica em relação à lei da inclusão escolar, e, por outro, a expectativa e busca por fórmulas pedagógicas inclusivas, o que absolutamente não existe! Há, antes, alguns princípios que podem ser trabalhados com os educadores e implementados em caráter experimental, na tentativa de adaptar as escolas e as práticas educativas aos/às alunos/as com necessidades educacionais especiais. Buscando auxiliar e agregar subsídios válidos a esta discussão, apresentamos a seguir alguns resultados de pesquisa que conduzimos, no âmbito do grupo de pesquisa, cujo nome aqui omitimos, evitando-se assim a identificação dos autores do presente texto. Fazemos a apresentação de alguns dos resultados obtidos, para, em seguida, comentar determinados princípios pedagógicos inclusivos que podem ser propostos às escolas. Nesta pesquisa, cinco escolas, cujos projetos político-pedagógicos delineiam-se favoravelmente à proposta da educação inclusiva, foram contatadas. Para tanto, foram convidadas e envolvidas na pesquisa duas escolas públicas estaduais, uma no município de Santa Maria (RS), a outra em Porto Alegre (RS), uma escola técnica federal, em Porto Alegre, uma escola pública municipal, também em Porto Alegre, e uma escola particular, no município de Novo Hamburgo (RS). Os sujeitos participantes da mesma são professores, pais e alunos. A abordagem metodológica foi qualitativa, através de pesquisa-ação. Propôs-se uma postura de diálogo com a comunidade escolar, buscando, conjuntamente, a elaboração de estratégias de ação que favorecessem a execução da proposta de inclusão escolar. Em primeiro lugar, apresentamos alguns dos resultados já obtidos com os professores de três das escolas acima (10 professores da escola particular, que chamarei de escola A, 10 da escola estadual de Santa Maria, que chamarei de escola B, e 16 professores da escola estadual de Porto Alegre, que chamarei de escola C), com 6 alunos da escola técnica, e com 5 pais de alunos da escola particular). Para cada um destes grupos foram apresentadas questões específicas. Analisaremos, inicialmente, as respostas dos professores da escola particular, ou seja, da escola A. Na questão Qual foi seu primeiro contato com a idéia/proposta da educação inclusiva? E sua primeira reação?, as afirmações mais freqüentes dos professores resumem-se nos seguintes sentimentos ou atitudes: sentimento de desafio; desconhecimento a respeito; sentimento de ansiedade e insegurança; busca de apoio pedagógico.

Sobre Como você a define, as respostas deram-se da seguinte forma: como uma proposta educacional irreversível; uma democratização do ensino, do acesso à escola; cultura inclusiva; um caminho (sem retorno, com muitas pedras); projeto com demandas direcionadas à transformação da escola. Sobre Como você avalia sua condição profissional (experiência, formação, etc.) para adaptar sua atuação docente às características de uma educação inclusiva, os professores acentuaram, a partir de seu espaço de experiência e de formação profissional, o valor das experiências acumuladas; sentirem-se despreparados, ou leigos em relação à proposta; disporem de pouco formação específica; disporem de pouco conhecimento; a importância da formação continuada; a importância da prática (similar ao primeiro aspecto destacado acima); a necessidade de unir a prática à teoria. Em relação a Que aspectos você aponta como imprescindíveis para viabilizar na dinâmica escolar a proposta da educação inclusiva, as afirmações dos professores deram, como aspectos fundamentais para um processo positivo de inclusão escolar, os seguintes destaques: adaptação das escolas e preparo dos professores; participação da comunidade escolar e conscientização do projeto de inclusão; apoio da equipe pedagógica e composição favorável da infra-estrutura escolar; rede de apoio, incluindo também especialistas; intercâmbio constante entre os professores. Na última questão, Quais os aspectos que você apontaria como mais débeis, no atual momento, no processo de inclusão escolar de alunos com necessidades especiais?, os pontos mais débeis para a viabilização do projeto de inclusão escolar foram destacados pelos professores da seguinte maneira: a falta de oportunidades para troca com colegas e especialistas; recursos humanos e materiais insuficientes; conscientização ainda débil da comunidade escolar sobre o projeto de inclusão escolar; a ausência de projetos sustentáveis de formação continuada; vontade política e verbas insuficientes. Já os 10 professores da escola pública estadual (escola B), distribuídos no ensino fundamental, pelo currículo por atividades e por área de estudo, apresentaram os seguintes aspectos, todos eles como resposta às mesmas cinco questões acima apresentadas: a importância da formação continuada dos professores; a necessidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA) para alunos mais velhos; o grande número de alunos em sala de aula como aspecto desfavorável; a existência de pouco tempo para que os professores preparem suas atividades com qualidade; o projeto de educação inclusiva, definido como um mal necessário ; a dependência da boa vontade dos professores; um certo mal-estar inicial, porém com apoio externo a situação em sala de aula passou a se tornar positiva; é importante que as turmas de inclusão sejam menores; e a importância dos intercâmbios entre professores, educadores especiais e os professores das

salas de recursos. Segue o resumo das respostas dos 16 professores da escola C. Na questão Qual foi seu primeiro contato com a idéia/proposta da educação inclusiva? E sua primeira reação?, alguns dos aspectos (ou categorias) decorrentes da análise das falas acima foram resumidos da seguinte maneira: O projeto da inclusão é difícil, complicado, (inicialmente) inviável; os sentimentos demonstrados são de insegurança, dúvida e a busca pelo apoio especializado. Em relação à segunda questão apresentada: Como você avalia sua condição profissional (experiência, formação, etc.) para adaptar sua atuação docente às características de uma educação inclusiva, os principais aspectos decorrentes das falas acima na avaliação do preparo docente para o projeto da educação inclusiva foram a ausência de formação específica e a necessidade de aprender no cotidiano das experiências escolares, o que denota uma base empírica de muitos professores na tentativa de execução de tal projeto. Quanto à terceira pergunta, Que aspectos você aponta como imprescindíveis para viabilizar na dinâmica escolar a proposta da educação inclusiva?, os professores apontaram, como aspectos imprescindíveis para viabilização do projeto da educação inclusiva, a necessidade de tomada de consciência de sua importância pela comunidade escolar, o suporte de profissionais especializados (educadores especiais, psicopedagogos, fisioterapeutas, etc.) e um maior intercâmbio entre os professores nas escolas com projeto inclusivo. Na quarta e última questão, Quais os aspectos que você apontaria como mais débeis, no atual momento, no processo de inclusão escolar de alunos com necessidades especiais?, destacamos os seguintes aspectos como predominantes nas falas registradas: um envolvimento fraco de algumas famílias, o distanciamento da secretaria de educação, dificuldades no atendimento aos alunos em sala de aula, a falta de um maior apoio especializado e o fato de muitos professores não disporem de um melhor fundamento nos aspectos que dizem respeito à educação inclusiva (muitos atuam empiricamente, improvisando suas ações docentes). Seis alunos da escola técnica apontaram para os seguintes aspectos, ao avaliarem as experiências de inclusão escolar desenvolvidas: chances e direitos semelhantes no acesso à escola e ao mercado de trabalho dos alunos com e sem necessidades especiais; atenção pedagógica diferenciada sem discriminação ao colega com necessidades especiais; apesar de haver alguns preconceitos, a convivência entre os alunos é avaliada positivamente, já que entendem não haver diferenças essenciais entre eles; a convivência em sala de aula representa a oportunidade de aprendizagens recíprocas não partem da premissa da superioridade dos alunos normais ; os professores devem se esmerar no sentido de atender às necessidades educacionais especiais dos alunos.

Em relação às respostas apresentadas pelos professores e pelos alunos, pode-se resumir os resultados apontando para os seguintes aspectos e preocupações: (Por parte dos professores) (a) o sentimento de desafio diante do projeto de educação inclusiva e a busca por apoio pedagógico; (b) a importância da prática e da formação continuada; (c) a importância do apoio da equipe pedagógica, do intercâmbio entre professores e a composição favorável da infra-estrutura escolar. (Por parte dos alunos) (a) a importância da atenção pedagógica diferenciada ao colega com necessidades especiais, porém sem discriminação; (b) a convivência em sala de aula representa a oportunidade de aprendizagens recíprocas não há a premissa da superioridade dos alunos normais. Quatro pais da escola particular responderam de forma predominantemente positiva, demonstrando por meio de suas respostas como os sujeitos que integram a comunidade escolar podem colaborar no sentido de uma respaldo cada vez maior ao projeto da educação inclusiva, que contagie outros parceiros integrantes da mesma comunidade. Após a verificação desses diversos posicionamentos de segmentos da comunidade escolar, em relação ao projeto inclusivo, perguntamo-nos quais princípios pedagógicos poderiam ser pensados para auxiliar na implementação do projeto. Um primeiro princípio, imprescindível, é o da individualização do ensino (Wocken, 2003; Beyer, 2005). Não há como dar conta com determinado nível de qualidade pedagógica da heterogeneidade da classe escolar inclusiva, sem preservar uma dimensão individual do ensino. Isto não deve nem pode significar, porém, a alienação dos/as alunos/as com necessidades especiais da classe (cuidado com a inclusão excludente!). Em segundo lugar, utilizando um provérbio muito comum, uma andorinha só não faz verão. O projeto inclusivo não é ação de apenas um profissional da educação. Achamos impossível uma prática inclusiva que seja conduzida com margem razoável de sucesso através da docência isolada. Para possibilitar a maestria pedagógica com qualidade na sala de aula, onde haja um ou mais alunos com necessidades especiais, é importante a atuação (concomitante ou não) de mais de um professor (princípio da bidocência), geralmente durante 1 ou 2 horas do período escolar. Discretamente, sem descuidar do trabalho pedagógico com os demais alunos, o segundo professor ocupa-se dos alunos com necessidades educacionais mais intensas. Outro princípio é o da necessária redução numérica dos alunos nas turmas de inclusão. É importante que isto aconteça, para possibilitar a ação educativa específica e a interação dos alunos em sala de aula, em que a situação diferenciada dos alunos com necessidades especiais seja considerada. Concluímos, não podendo deixar de apontar para o que parece ser o óbvio, ou seja, que estamos diante de uma

situação de muitas incompletudes e perplexidades, diante da demanda que resulta da priorização em lei do projeto político-pedagógico inclusivo, e que não nos possibilita vislumbrar, ainda, formas exeqüíveis de implementação. Podemos sonhar, defender uma utopia, estabelecer metas que signifiquem a gradual metamorfose de educadores, escolas, famílias e alunos em sujeitos ativos, participantes, criativos no processo de inclusão de alunos com necessidades especiais no sistema regular de ensino. As falas dos docentes, alunos e pais acima explicitadas, anunciam e denunciam dificuldades, frustrações, temores, porém também a esperança de que, através dos vários intercâmbios a serem estabelecidos entre os sujeitos no espaço escolar, avanços e transformações possam ser produzidos, gerando-se, quem sabe, uma inclusão escolar possível. BIBLIOGRAFIA Beyer, H. O. Inclusão e avaliação na escola de alunos com necessidades educacionais especiais. Porto Alegre: Editora Mediação, 2005. Wocken, H. O futuro da educação especial. Texto completo no CD do III Congresso Internacional Lassalista. Canoas: Centro Universitário La Salle, novembro de 2003.