TURMA e ANO: TURMÃO ESTADUAL FLEX B 2014 Matéria / Aula: Processo Civil / Aula 5 (Ministrada em 04/08/2014) Professor Edward Carlyle Conteúdo: Art. 472 do CPC (Segunda Parte). Classificação dos Terceiros. Coisa Julgada nas Sentenças Determinativas. Coisa Julgada no Mandado de Segurança. Relativização da Coisa Julgada Material. Continuando a aula passada, vejamos a terceira exceção à autoridade da coisa julgada. c) Estado de pessoa: art. 472, 2º parte do CPC. A primeira parte do artigo está correta, o problema é a segunda parte dele. Na verdade existe aí uma má redação do artigo. De acordo com o dispositivo, nas causas que envolvem estado de pessoa, direito de personalidade, todos os interessados deverão figurar como litisconsortes necessários. Art. 472. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não beneficiando, nem prejudicando terceiros. Nas causas relativas ao estado de pessoa, se houverem sido citados no processo, em litisconsórcio necessário, todos os interessados, a sentença produz coisa julgada em relação a terceiros. Nestes casos, mesmo aquele que não tem interesse, que é terceiro, não poderá discutir de novo o teor da decisão daquela relação jurídica. Isso não porque a cosia julgada atinge terceiro, não atinge! Ele só não poderá voltar a discutir pelo simples fato de não ter interesse. Se um interessado não figurar como litisconsorte necessário na ação que envolva estado de pessoa, ele poderá ingressar a qualquer momento no processo e em qualquer grau de jurisdição. E se a demanda já tiver transitado em julgado, esse interessado, mesmo não tendo participado do processo, poderá propor ação rescisória como terceira prejudicada. Se já houver passado os dois anos para a propositura da ação rescisão, poderá propor querella nulitatis por falta de citação. E se ela nem souber da querella nulitatis, poderá na impugnação ou nos Embargos À execução, a nulidade da citação - Art. 475-L do CPC. Art. 475-L. A impugnação somente poderá versar sobre: (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005) I falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia; (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005) Isso se vê ainda quando a lei estabelece no art. 47 do CPC que a sentença será ineficaz quando faltar um dos litisconsortes necessários.
Art. 47. Há litisconsórcio necessário, quando, por disposição de lei ou pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver de decidir a lide de modo uniforme para todas as partes; caso em que a eficácia da sentença dependerá da citação de todos os litisconsortes no processo. Essa ineficácia é para todo mundo!! E não só para quem alegou ou para quem participou do processo. A legitimidade em alegar a nulidade por falta de um dos litisconsortes necessários é de quem não participou do processo, embora os que participaram também a tenham, o problema seria comprovar o seu interesse. Se aquele que não participou concordar com a decisão prolatada, nenhum dos outros litisconsortes poderá alegar a nulidade, e a sentença terá eficácia como se aquele tivesse participado do processo. Cuidado com essas questões porque caem muito em concurso!! CLASSIFICAÇÃO DOS TERCEIROS Terceiro é todo aquele que não é parte. E parte é quem participa do contraditório instituído perante o juiz. Terceiros podem ser indiferentes ou interessados. Os indiferentes se subdividem em desinteressados e em com interesses de fato ou econômico. Os indiferentes desinteressados não tem nenhum tipo de interesse no objeto do processo. Os indiferentes com interesse de fato ou econômico são, por exemplo, os credores de uma das partes do processo, e que pode ter seu crédito prejudicado com a constrição de todo o patrimônio do devedor. Só que não há nada o que se pode fazer. Mas há vezes que o terceiro tem o que fazer. São os terceiros interessados, que se subdividem em com interesse idêntico ao das partes e em com interesse subordinado ao das partes. Quando se fala em terceiros interessados, fala-se em interessados juridicamente, diferentemente dos de fato, eis que aqueles podem intervir no processo, enquanto que estes não. Essa diferença não é feita no direito civil. Esse interesse jurídico, em alguns casos, pode ser idêntico ao das partes, significa que este terceiro poderia ter participado do processo como litisconsorte ou como assistente litisconsorcial. Na verdade, esse terceiro com interesse idêntico ao das partes é cotitular da relação jurídica do direito material deduzida em juízo. É por isso que ele poderia ter sido litisconsórcio ou assistente litisconsorcial. Ora, se é cotitular da relação jurídica do direito material deduzido em juízo, a cosia julgada formada no processo do qual ele não participou, vai atingi-lo. O julgamento da demanda vai
atingir quem participou e quem não participou. É caso de litisconsórcio unitário. Ele não participou mas um outro participou. E pela relação jurídica una, a coisa julgada o atingirá. Ele poderá propor ação rescisória como terceiro prejudicado. E se o terceiro for interessado com interesse subordinado ao das partes. É um interesse indireto, conexo com a relação jurídica de direito material deduzida em juízo. Não é o mesmo interesse, é um interesse conexo, indireto. Poderia, no máximo, ter sido um assistente simples. A coisa julgada não o atingirá, já que ela só atinge as partes e no máximo os cotitulares da relação jurídica de direito material. Ele poderá discutir a relação jurídica em outra demanda, já que não participou do processo. Esse terceiro, que poderia ter sido assistente simples, pode apresentar ação rescisória? Como parte, não. E como terceiro prejudicado? Tem duas correntes: 1. não, já que se ele não é titular da relação jurídica de direito material, não poderá propor nada. Essa é a posição dominante. 2. Sim, já que ele tem interesse jurídico ainda que indireto. HIPÓTESES DE COISA JULGADA 1. Coisa julgada nas sentenças determinativas: sentenças determinativas são aquelas que decidem relação jurídica de direito material que se protraem no tempo. A hipótese que deu ensejo nessa questão, foi a que envolve alimentos. Art. 15, da Lei 5478/68: Art. 15. A decisão judicial sobre alimentos não transita em julgado e pode a qualquer tempo ser revista, em face da modificação da situação financeira dos interessados. Equivoca-se já que toda e qualquer sentença transita em julgado. É possível, no entanto, falar em coisa julgada nessas sentenças? Duas correntes: a) defende que não existe coisa julgada material nessas hipóteses. É o que defende Vicente Greco Filho. b) defende que existe sim coisa julgada material nessas hipóteses. É a corrente dominante e é defendida por Dinamarco, Barbosa Moreira, Humberto Theodoro Junior. Quando o art. 15 da Lei de Alimentos fala que essas sentenças podem ser modificadas (Ação de revisão, de exoneração), essas ações tem pedido e causa de pedir diferentes daquelas originarias (ação de alimentos). As ações de revisão e de exoneração são novas demandas com diferentes causa de pedir e pedido. 2. Coisa julgada no Mandado de Segurança: MS é uma ação civil de rito especial. Percebam que as sentenças dos MS respeitam, praticamente, as mesmas regras das sentenças
das demais demandas. Então, pode-se ter a sentença terminativa (art. 267, CPC) ou sentença de mérito (art. 269 do CPC). Quando for sentença terminativa, não se fará coisa julgada material, o que significa que cabe novo MS ou ação ordinária. A sentença de mérito pode ser de procedência do pedido ou de improcedência. Se for de procedência, o mérito foi julgado e decidido favoravelmente ao autor, e faz coisa julgada material, o que significa que não cabe novo MS e nem ação ordinária. Na improcedência é que surge a discussão, porque há uma súmula de nº 304 do STF, que foi objeto de larga divergência por longos anos. SÚMULA Nº304 DECISÃO DENEGATÓRIA DE MANDADO DE SEGURANÇA, NÃO FAZENDO COISA JULGADA CONTRA O IMPETRANTE, NÃO IMPEDE O USO DA AÇÃO PRÓPRIA. No MS, quando a sentença é de improcedência, o é por dois motivos: ou por falta de direito líquido e certo ou por mérito. A falta de direito líquido e certo porque MS não admite dilação probatória, e pode ser que por ação ordinária, o impetrante consiga provar seu direito e obter uma sentença de procedência. Então, no MS ele terá sentença de improcedência, mas caberá ação ordinária, mas não outro MS. É para essas hipóteses que se aplica a súmula 304 do STF. A improcedência em relação ao mérito significa dizer que o juiz verificou que o autor não tem direito nem no MS nem em qualquer outra ação. Essa sentença faz coisa julgada material e não cabe outro MS nem outra ação. É o que dispõe o art. 19 da Lei 12016/1009: Art. 19. A sentença ou o acórdão que denegar mandado de segurança, sem decidir o mérito, não impedirá que o requerente, por ação própria, pleiteie os seus direitos e os respectivos efeitos patrimoniais. Aqui trata-se da hipótese de improcedência por falta de direito líquido e certo, em que caberá ação própria mas não outro MS. RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA MATERIAL Esse problema surgiu no STJ. Num primeiro momento quem começou a defender a relativização da cosia julgada foi o Ministro José Delgado, desde que a Coisa julgada violasse os princípios da legalidade e da moralidade.
A seguir, diversos autores começaram a defender a relativização, um deles foi o Dinamarco, tanto nas hipóteses de violação aos princípios da legalidade e da moralidade quanto nos casos de resultados juridicamente impossíveis (p.e., sentença que condenasse alguém a dar uma perna a outra; que uma mulher se submetesse a atos sexuais com outro). Logo depois, Humberto Theodoro Junior junto com outra professora, Juliana, escreveu um artigo em que arguia que no direito constitucional há a piramide de Kelsen, pela qual a CRFB é o fundamento de validade de todas as outras normas. E se uma lei, se estiver contra a CRFB, será inconstitucional, o que dirá uma coisa julgada que está em desconformidade com a CRFB. Então, o que os autores começaram a defender é que quando uma coisa julgada estiver em desconformidade com a CRFB deverá ser considerada inconstitucional. Até que surgiram vozes em contrário. Quem primeiro apareceu neste sentido foram dois autores do RS, Sergio Gilberto Porto e Jose Maria. Defenderam que não seriam casos de relativização, o melhor seria prover o CPC de instrumentos que pudessem atacar aquela decisão antes da coisa julgada. Alguns outros autores se juntaram a eles, como Ovidio Batista e Marinoni. Os tribunais, que não queriam a relativização já que causaria um rebuliço nos tribunais, começaram a segui-los. Só que Barbosa Moreira escreveu um artigo defendendo a relativização que derrubou essa corrente. Afirmou que, em primeiro lugar, o nome está errado, já que não se pode falar em relativização de algo que não é absoluto, eis que coisa julgada não é absoluto. Além do que, todos os exemplos citados eram exemplos de livro, e que não tinham como permanecer incólumes já que havia diversos instrumentos processuais para derrubar tais sentenças. Outro problema que enfrentou foi em relação à competência para o exame da relativização: do juiz de 1º grau ou do 2º grau? Independente de quem o fosse, causaria um problema gravíssimo. Enfim, para Barbosa Moreira não era cabível de maneira nenhuma a relativização da coisa julgada material, até porque o CPC já possui diversos instrumentos para derrubar a coisa julgada. A partir desse artigo, os tribunais definitivamente não aplicavam a teoria. Só que no CPC há hipótese que pode se entender pela aplciação da relativização: art. 475-L, 1º, CPC e 741, único, do CPC. Art. 475-L: ( ) 1oPara efeito do disposto no inciso II do caput deste artigo, considera-se também inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo
declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo Tribunal Federal como incompatíveis com a Constituição Federal.(Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005) Art. 741 ( ) Parágrafo único. Para efeito do disposto no inciso II do caput deste artigo, considera-se também inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo Tribunal Federal como incompatíveis com a Constituição Federal. (Redação pela Lei nº 11.232, de 2005) Título judicial fundado em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais (hipótese de declaração de inconstitucionalidade com redução de texto) ou fundado em aplicação a uma situação tida como inconstitucional pelo TSF (declaração de inconstitucionalidade sem redução de texto) ou com base em uma interpretação tida como inconstitucional pelo STF (interpretação conforme a CRFB). São todas hipótese de inexigibilidade de título, já que a coisa julgada é constitucional, o que alguns acham que é a relativização. Há outras hipóteses em que a coisa julgada é inconstitucional mas que não estão previstas neste rol, então ela será exequível.