Revista Eletrônica Acolhendo a Alfabetização nos Países de Língua Portuguesa ISSN: 1980-7686 suporte@mocambras.org Universidade de São Paulo Brasil

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Transcrição:

Revista Eletrônica Acolhendo a Alfabetização nos Países de Língua Portuguesa ISSN: 1980-7686 suporte@mocambras.org Universidade de São Paulo Brasil SOUSA, Lázaro Mariano de Reseña de "A África Ensinando a Gente" de Paulo FREIRE e Sérgio GUIMARÃES Revista Eletrônica Acolhendo a Alfabetização nos Países de Língua Portuguesa, vol. III, núm. 6, marzo-agosto, 2009, pp. 264-268 Universidade de São Paulo São Paulo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=87913038021 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe, Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

ACOLHENDO A ALFABETIZAÇÃO NOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA REVISTA ELETRÔNICA ISSN: 1980-7686 Equipe: Grupo Acolhendo Alunos em Situação de Exclusão Social da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e Pós-Graduação em Educação de Jovens e Adultos da Faculdade de Educação da Universidade Eduardo Mondlane. (Via Atlântica: Perspectivas Fraternas na Educação de Jovens e Adultos entre Brasil e Moçambique). PROCESSO 491342/2005-5 Ed. 472005 Cham. 1/Chamada. APOIO FINANCEIRO: CNPq e UNESCO Educação e Liberdade na África lusófona Education and Freedom in Lusophone Africa Éducation et Liberté dans l'afrique lusophone RESUMO Lázaro Mariano de SOUSA Esta obra é indispensável para todos aqueles que são interessados em conhecer o continente africano no que diz respeito, especialmente, às antigas colônias portuguesas. Nesta direção, a referida obra escrita por um dos maiores educadores brasileiros em parceria com Sérgio Guimarães: Paulo Freire- nos apresenta os diferentes obstáculos e possíveis saídas para aqueles que pretendem colaborar no âmbito da alfabetização em língua portuguesa. Palavras-chave: Alfabetização, África, países lusófonos ABSTRACT This work is very important for all interested in knowing the African continent in respect, especially, to the old Portuguese colonies. In this direction, the related book written for one of the biggest Brazilian educators in partnership with Sergio Guimarães: Paulo Freire presents the different obstacles and possible ways for those who intend to collaborate in the scope of the literacy in Portuguese language. Index terms: literacy, Africa, Lusophone countries. RÉSUMÉ Cette oeuvre est indispensable pour tous ceux qui sont intéressés à connaître le continent africain en ce qui concerne spécialement les anciennes colonies portugaises. Dans ce but, ce livre écrit par un des plus grands éducateurs brésiliens en partenariat avec Sérgio Guimarães : Paulo Freireprésente les différents obstacles et les possibles débouchées pour ceux qui 264

prétendent collaborer dans le contexte de l'alphabétisation dans langue portugaise. Mots-clés: alphabétisation, Afrique, pays lusophones Este livro mostra a necessidade de construção da identidade de uma língua escrita que proporcione unidade nacional para o povo africano lusófono que acabara de se tornar independente dos portugueses nos anos 70, apesar e inclusive, pelas intensas e prolongadas guerras civis que ocorreram na maior parte das antigas colônias portuguesas. É diante desse desafio que Paulo Freire e Sérgio Guimarães nos mostram como o conhecimento do continente africano e da história das antigas colônias portuguesas podem colaborar para que nós, brasileiros, possamos nos conhecer. A obra é composta por uma primeira parte intitulada Um debate de salão, cujo capítulo 1 se constitui de diálogos mantidos durante o ano 1978 entre Sérgio Guimarães, seus alunos da Universidade de Lyon II e Paulo Freire. Tal capítulo primeiro Este reaprendizado que a África me oferece tem como centro de discussão, nascido do diálogo dos citados professores e seus alunos, os problemas do processo de identidade cultural dos países que, à época, estavam em luta de libertação, colocados frente à escolha da língua escrita portuguesa como língua de unidade nacional e diante, também, das variadas línguas (maternas e veiculares) existentes nos seus territórios. Para Paulo Freire, a construção de uma língua de unidade nacional pode ser um dos fatores de libertação nacional. Entretanto, tal opção política dar-se-á num processo histórico, não sendo aceita pela população a partir apenas de um decreto governamental, mesmo que revolucionário e libertador da colonização. 265

Para o respeitado educador, a tentativa de alfabetização em língua portuguesa, à época da independência nacional destes países, apresentava e apresenta ainda, acrescentamos, nós, inúmeros obstáculos e dificuldades. Dentre eles, há que se destacar o NÃO USO da língua portuguesa enquanto prática social do povo africano sob domínio português. Segundo os autores da obra resenhada, no momento de independência de Portugal não se tratava apenas de pretender alfabetizar as grandes massas populares em português, mas, pelo contrário, de disciplinar escritamente a língua crioula, ao mesmo tempo em que enfatizando, respeitando e desenvolvendo as demais línguas nacionais. (FREIRE e GUIMARÃES, 2003, p.39). Para os autores, nesse processo de construção de uma língua nacional nos países lusófonos, havia-se que discutir, justamente, o uso da língua do antigo dominador, como instrumento de libertação, tarefa nada fácil, diga-se, ainda que de passagem. Assim, a discussão, nessa primeira parte da obra, está relacionada à escolha de uma língua que pudesse vir a representar a libertação dos povos africanos. Para Freire e Guimarães, a escolha do crioulo como língua oficial e nacional poderia representar e criar uma sociedade nova, mediadora da formação global e cultural do povo africano losófono. Na segunda parte, São Tomé e Príncipe, no capítulo 2, Prática para aprender: Caminhos de São Tomé, verifica-se um diálogo de Sérgio Guimarães e Paulo Freire em torno do material que este utilizava para se comunicar com o governo de São Tomé. Eram cadernos que usavam a técnica das parábolas e o estilo epistolar. Todo o material preparado, segundo Freire, pretendia promover a prática pedagógica como fonte de conhecimento. Este era composto por cadernos que desafiavam, do começo até o fim, a criatividade do alfabetizando e caráter eminentemente político de todo e qualquer material 266

pedagógico e ou de formação de educadores. Tais cadernos insistiam na prática como fonte do conhecimento. A partir do capítulo 3 até o final do capítulo 8, Sérgio Guimarães colhe depoimentos de personagens envolvidos no processo de reconstrução nacional em Angola, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe que estiveram na linha de frente da luta pela independência, utilizando o material de educação de jovens e adultos produzidos por Paulo Freire. Sabemos, por meio da leitura desta obra, que, de 1988 até 2002, Sérgio Guimarães mantém contato com Alberto Neto, Alda do Espirito Santo e Sinfrônio Mendes, de São Tomé; Lúcio Lara, Pepetela e António Burity da Silva, de Angola; e Mário Cabral, de Guiné-Bissau. Tais atores, das histórias dos seus países, apresentam depoimentos por meio dos quais fazem um balanço da contribuição de Paulo Freire no processo de alfabetização de jovens e adultos de seus respectivos países. Eles são unânimes em afirmar a grande contribuição de Freire, iniciada no final da década de 70 do século passado, frente ao grande desafio que é a alfabetização nestes países compostos por diferentes grupos etnolingüísticos. Desafio esse que colocava, e ainda coloca, os educadores diante de uma população que domina línguas locais tradicionalmente orais e que desconhecem a língua portuguesa, falada e escrita, e que, conforme já dissemos, a partir da Independência passou a ser língua oficial. Por último, na parte final do livro, encontramos alguns anexos contendo produções e correspondências de Paulo Freire com os educadores que estavam envolvidos no processo de alfabetização do povo africano que recém saíam do domínio português. Povo de países que precisavam adquirir uma identidade nacional dentro de uma realidade onde era necessário construir uma língua oral e escrita de unidade nacional. 267

Em suma, do nosso ponto de vista, pela atualidade da obra, já que a questão da alfabetização em língua portuguesa e, portanto, da constituição de uma identidade nacional nas diferentes ex-colônias portuguesa não completamente resolvida, RECOMENDAMOS, vivamente, a leitura desta obra. Obra resenhada: FREIRE, Paulo e GUIMARÃES, Sérgio (2003). A África Ensinando a Gente: Angola, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe. São Paulo: Editora Paz e Terra. Autor Lázaro Mariano de Sousa Graduando da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo Contato: lazaro.sousa@usp.br Como citar esta resenha: SOUSA, Lázaro Mariano de. Educação e Liberdade na África lusófono. Revista ACOALFAplp: Acolhendo a Alfabetização nos Países de Língua portuguesa, São Paulo, ano 3, n. 6, 2009. Disponível em: <http://www.acoalfaplp.net>. Publicado em: março 2009. Recebido em novembro de 2007/ Aprovado em dezembro de 2007 Sede da Edição: Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo Av da Universidade, 308 - Bloco A, sala 111 São Paulo SP Brasil CEP 05508-040. Grupo de pesquisa: Acolhendo Alunos em situação de exclusão social e escolar: o papel da instituição escolar. Parceria: Centro de Recursos em Educação Não-Formal de Jovens e Adultos CRENF FacEd UEM Prédio da Faculdade de Letras e Ciências Sociais Segundo Piso - Gabinete 303 Campus Universitário Maputo, Moçambique, África