A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES/AS: CONTRIBUIÇÕES DA PERSPECTIVA DIALÓGICA Renata Sebastiana dos Santos Dra. Vanessa Cristina Girotto RESUMO O presente trabalho decorre de uma pesquisa acerca da formação inicial de professores/as e das possíveis contribuições da Aprendizagem Dialógica para esta formação. A pesquisa está sendo desenvolvida em uma universidade federal do sul de Minas com licenciandos/as dos cursos de Pedagogia, Química e Geografia e apresenta resultados parciais que sugerem que o distanciamento existente entre o currículo escolar e o currículo dos cursos de formação de professores/as poderia ser diminuído com as contribuições da Aprendizagem Dialógica. Palavras-chave: formação docente, aprendizagem dialógica, formação inicial de professores. Introdução/justificativa O desejo de desenvolver esta pesquisa de mestrado é decorrente de nossa vivência como professora de ensino fundamental na rede pública e privada, supervisora pedagógica no nível fundamental, tutora presencial e à distância em cursos de formação de professoras/es e, ainda, como professora substituta no ensino superior da rede pública no município de Alfenas. Durante toda nossa trajetória como professoras percebemos que uma parcela considerável do corpo docente, discente e das instituições de ensino da educação básica apresenta de algum modo um distanciamento entre a construção do currículo dos cursos de formação de professores/as e a comunidade escolar, o que pode gerar situações de insucesso na escola, especialmente quando há necessidade de atender a todos/todas os/as alunos/alunas. A hipótese que apresentamos, diante desse cenário é: De que maneira a formação de professores/as, pautada na perspectiva Dialógica, pode contribuir para a mudança de concepção de licenciandos/as dos Cursos de Pedagogia, Química e Geografia da UNIFAL-MG? Nos reportando à trajetória histórica da formação de professores(as) no Brasil, tanto a política pública para a formação inicial, quanto à organização curricular dos 4506
cursos de formação inicial são organizados de forma vertical, imposta de cima para baixo. Desse modo não há margem para que aja diálogo freireano entre as instituições formadoras de professores/as e as instituições que receberão estes/as professores/as formados/as. Assim, o que um dos problemas que encontramos na maior parte dos cursos de licenciaturaé a dissociação entre teoria e prática. Há uma preocupação excessiva com teorias e aspectos conceituais nas licenciaturas e consequentemente, um distanciamento do real ambiente de atuação do/a professor/a. Segundo MELLO (2001) O único aspirante ao magistério que ingressa no ensino superior com opção clara pelo ofício de ensinar é o aluno dos cursos de magistério de primeira a quarta série do ensino fundamental (p.4). O que vemos percebendo é que esse problema impacta, também a formação inicial de professores(as). Assim, surge o desejo de problematizar a discussão sobre esse tema em uma dissertação de mestrado, cujos dados parciais serão reproduzidos neste artigo. Nossa inquietação refere-se ao apontamento de ações que oportunizem sanar ou reduzir os impactos negativos gerados pela distância existente entre o currículo escolar e o currículo dos cursos de formação de professores/as. Nossa hipótese é a ausência do diálogo entre instituições formadoras de professoras(es) e seus discentes. Assim, considera-se relevante possibilitar aos alunos/as, em cooperação com os professores/as, a percepção da pluralidade da simbologia produzida nas relações dos espaços escolares, sendo a reflexão sobre tais conceitos como elemento propulsor de possíveis mudanças positivas. De forma a entender tais inquietações, formulamos como uma primeira etapa da pesquisa um Curso de Formação, na perspectiva dialógica na tentativa de identificar as concepções desses estudantes em torno dos cursos de formação inicial que participam e os impactos em suas concepções a partir da participação neste curso de formação dialógica. São os resultados desta primeira análise que iremos apresentar neste artigo. Esta concepção de aprendizagem requer do(a) docente uma formação inicial que considere a dimensão política e social, de forma que o desenvolvimento da criticidade seja contemplada. Freire que afirma que: O educador deve ser um inventor e um reinventor constante dos meios e dos caminhos com os quais facilite mais e mais a problematização do objeto a ser desvelado e finalmente apreendido pelos educandos. Sua tarefa não é a de servir-se desses meios e desses caminhos para desnudar, ele mesmo, o objeto e, depois, entregá-lo, paternalisticamente, aos educandos, a quem negasse o esforço da busca, 4507
indispensável, ao ato de conhecer (1980b, p.17). Tal Curso foi pensando nesta perspectiva dialógica ((FLECHA 1997, FREIRE, 1980, MELLO, 2007), a partir de elementos conceituais suficientes desta teoria que nos ajudam a dialogar com os sujeitos em seus contextos e, dessa foram, nos irá ajudar a preencher essa lacuna da qual estamos discutindo. Tal vertente está amparada por autores da Sociologia, Filosofia, Psicologia, Educação e centra-se, especialmente no diálogo de Freire e na ação comunicativa apresentada por Habermas. Procedimentos metodológicos: O Curso foi oferecido em formato de extensão aos/às licenciandos/as dos cursos de Pedagogia, Química e Geografia de uma Universidade Pública do sul de Minas, por serem os cursos em que obtivemos adesão dos alunos(as). Foram realizados encontros semanais de quatro horas por um período de aproximadamente três meses (entre os meses de outubro a novembro de 2015). O curso foi oferecido pela orientadora em parceria com suas orientandas de mestrado. A coleta de dados foi realizada qualitativamente a partir de Metodologia Comunicativa Crítica (GÓMEZ, et al 2007). As análises ainda estão sendo realizadas e serão apresentadas algumas discussões preliminares. Esta metodologia foi desenvolvida pelo Centro de Investigação em Teorias e Práticas Superadoras de Desigulades (CREA), da Universidade de Barcelona e é reconhecida em âmbito internacional por centros de investigação renomados no campo da pesquisa, como a Universidade de Harvard, devido ao impacto sócio-político que esta metodologia traz para a transformação da sociedade. (GÓMEZ, RACIONERO, SORDÉ, 2010). No Brasil, esta metodologia vem sendo empregada pelo NIASE, embasando os trabalhos teóricos e práticos desde o ano de 2003. Para coleta de dados utilizamos instrumentos específicos da MCC: a observação comunicativa e o relato comunicativo de vida cotidiana (Gómez et al., 2006) que é realizado em um contexto familiar ao sujeito e tem como objetivo que o(a) participante da pesquisa possa refletir e interpretar sua vida cotidiana em relação com o tema investigado. A observação comunicativa é a visão do investigador(a) sobre as ações do(a) participante da pesquisa. Em todos os instrumentos a interpretação e a versão do sujeito participante é essencial para aproximar da realidade a análise realizada 4508
pelo pesquisador(a), dessa forma são convidados a participar de forma atuante e não apenas como ouvintes da devolução dos dados. Dessa maneira, se algo passou despercebido pelo olhar do(a) pesquisador(a) a metodologia prevê a reescrita da análise incluindo também a versão do(a) participante. Apenas após esse momento de diálogo e reflexão é que o texto final da pesquisa é escrito (Gómez et. al, 2006). No que diz respeito à análise das informações a MCC prevê que os dados sejam organizados identificando os elementos transformadores (que alcançam os objetivos propostos) e obstaculizadores (aqueles elementos que dificultaram e, muitas vezes, impediram a realização da transformação do contexto). Tais elementos obstaculizadores e transformadores são analisados por um viés de mundo da vida e sistema, como teorizado por Habermas (1987). Resultados e discussão: Durante o desenvolvimento do curso de formação inicial de professores/as na perspectiva da Aprendizagem Dialógica foi possível compreender através dos relatos comunicativos como os/as alunos/as concebem a aprendizagem, o que esperam da formação inicial na universidade onde estudam e onde a pesquisa é desenvolvida. Em uma das falas de uma das cursistas foi possível considerar que há uma demasiada responsabilização acerca da formação inicial em que os/as alunos/as responsabilizam apenas a instituição acadêmica como responsável por sua formação, isentando a si mesmos de qualquer tipo de responsabilidade. Também foi possível perceber a organização curricular não é desenvolvida de forma dialógica, existem as diretrizes curriculares nacionais que norteiam a dinâmica das licenciaturas, e embora haja uma pequena flexibilidade para que os institutos façam a estruturação com a participação dos/das estudantes, isso não ocorre. Em outro relato comunicativo, um estudante apresenta a seguinte fala pensei que este(referindo-se ao espaço para fala no curso de formação) seria o espaço ideal para que pudesse pelo menos falar das necessidades que apresentamos como alunos e de tudo que nos é imposto sem que sequer possamos opinar. A hipótese que levantamos acerca da necessidade de dialogo nos cursos de licenciatura é confirmada e embora ainda estejamos na fase inicial de análise dos dados coletados, sugere que seja necessário intervir nesse sentido. Considerações finais 4509
Até o momento da construção da dissertação percebemos que foi possível oportunizar uma reflexão sobre a relação existente entre o currículo escolar e o currículo dos cursos de formação de professores/as. Além disso, percebemos que os alunos(as) apresentaram elementos para pensarmos a lacuna existente entre a prática docente vivenciada por eles nos Cursos e a teoria estudada. Constatamos que a formação dialógica proposta até o momento foi uma importante ferramenta para discutirmos, ouvirmos e trazemos propostas para a área da formação destes/destas licenciandos/as, e que a análise mais profunda desse trabalho poderá contribuir para discussões no campo da formação de professores/as, além é claro, da ampliação do processo de construção de conhecimento no âmbito pessoal, acadêmico e científico. Referências: FLECHA, R. Compartiendo Palabras. El aprendizaje de las personas adultas a través del diálogo. Barcelona: Editora Paidós, 1997. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 42.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. GÓMEZ, Jesus, et al. Metodologia comunicativa crítica. Barcelona: El Roure, 2006. HABERMAS, J. Teoría de La acción comunicativa I. Racionalidad de la acción y racionalización social. Buenos Aires: Taurus, 1987. MELLO, Giomar N. Formação inicial de professores para a educação básica: uma (re)visão radical. Revista Iberoamericana de Educación. Nº 25. Abril, 2001 4510