PERÍODO COLONIAL (1530-1808)



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Transcrição:

PERÍODO COLONIAL (1530-1808) O Brasil Colonial foi o período compreendido entre seu povoamento, em 1530, e a proclamação de sua independência, em 1822, no qual o território brasileiro era uma colônia do império ultramarino português. A economia geral do período colonial brasileiro foi caracterizada pela monocultura latifundiária, pela agro-exportação e pela utilização de mão-deobra escrava. Os primeiros povoamentos, os jesuítas e o tráfico negreiro O povoamento do Brasil não foi encarado como um empreendimento comercial no início, e sim a conversão dos indígenas ao catolicismo, utilizando os argumentos de exaltação da fé católica e a salvação das almas. Os jesuítas levaram a sério o caráter missionário que o rei de Portugal, D. João III, quis imprimir ao povoamento do Brasil. Por esse motivo, muito cedo os jesuítas chocaram-se com os povoadores, quando se defrontavam com a escravização indígena (os jesuítas se opunham à escravização indiscriminada; ela devia ter um objetivo religioso e não econômico). Era preciso, entretanto, a dominação dos indígenas para haver a cristianização; meios violentos, caso necessários, eram legítimos. Para os religiosos, estabelecer regras claras e restritivas no acesso à mão-de-obra indígena refreava a cobiça dos povoadores. A solução para esse problema foi o tráfico negreiro, que articulou os interesses dos plantadores e da burguesia comercial. Trazendo da África os trabalhadores necessários para os engenhos, ele acabou de vez com a interferência dos jesuítas. Ele sempre esteve a cargo de iniciativas particulares; a Coroa nunca, de fato, se empenhou para tomar para si o encargo do tráfico.

O escravismo colonial foi estruturalmente mercantil. A produção açucareira estava voltada para o mercado externo, e não tinha outra finalidade senão o lucro. Os escravos eram, portanto, produtores de mercadorias, sendo adquiridos por meio do comércio entre senhores de engenho e traficantes. Os primeiros anos, a cana de açúcar e as capitanias hereditárias Em 1530, uma expedição liderada por Martim Afonso de Souza explorou o litoral e fez o reconhecimento do interior, permanecendo aqui durante três anos. Neles, houveram a descoberta da cana-de-açúcar; a instalação do primeiro núcleo colonial, na vila de São Vicente (atualmente no estado de São Paulo); e a construção do primeiro engenho, moinho utilizado para processar a cana. Em 1534, a Coroa Portuguesa dividiu o Brasil em catorze capitanias hereditárias, cujos donos eram membros da pequena nobreza. Os donatários traziam a Carta de Doação, que declarava a doação e tudo o que ela implicava, e os forais, uma espécie de código tributário que estabelecia os impostos. Nos dois documentos, o rei praticamente abria mão de sua soberania e conferia aos donatários amplos poderes. Entretanto, esse sistema fracassou, tendo em vista a extensão das terras e a escassez de recursos. No final das capitanias, apenas Pernambuco teve êxito. Assim, estava claro que o povoamento e a valorização econômica da terra por meio da iniciativa particular era inviável, já que: 1. era necessário um elevado investimento; 2. a distância em relação à metrópole era alta; 3. a resistência dos indígenas, cuja hostilidade contra os invasores não demorou a se manifestar, era preocupante. Os indígenas já estavam sendo vistos como uma mão-de-obra compulsória, havendo a escravidão por parte dos habitantes nativos.

O Governo Geral (1548) e as Câmaras Municipais Como resposta ao sistema de capitanias, foi estabelecido, em 1548, o Governo Geral para auxiliar o sistema de capitanias e centralizar a administração colonial. O Governo Geral veio para tornar efetiva a guarda da costa, para auxiliar os donatários e para organizar a ordem política. O governador geral também deve combater o comércio ilegal, integrar os índios aos centros de colonização e buscar metais preciosos. Para auxiliar na sua administração, o governador-geral contará com a Ouvidoria, um conjunto de cargos administrativos como o ouvidor-mor (resolução dos problemas jurídicos e cumprimento das leis), o provedor-mor (controle dos gastos administrativos e cumprimento das leis) e o capitãomor (ações militares de defesa). No Governo Geral serão criadas, ainda, as câmaras municipais, que representavam o poder local das vilas, surgindo em função da necessidade da coroa portuguesa em controlar e organizar as cidades e vilas que se desenvolviam. Instaladas nas sedes das vilas, eram compostas por três ou quatro vereadores. Conhecidos popularmente como homens bons, eles eram pessoas ricas e influentes, integrantes da elite colonial; somente os integrantes dessa elite podiam ser eleitos para exercer o cargo de vereador. Essas câmaras tinham, como principais funções, as de resolver problemas locais de ordem econômica, política e administrativa; gerenciar gastos e rendas da administração pública; e construir obras necessárias ao desenvolvimento colonial. Numa situação privilegiada, os vereadores se aproveitarão, havendo a patrimonialização do poder. Com a queda da União Ibérica em 1640 e o retorno da autonomia política portuguesa, houve um aumento ainda maior dos poderes das câmaras.

A União Ibérica (1580-1640), a ocupação holandesa e o Brasil Holandês Portugal e Espanha foram os pioneiros da expansão ultramarina no século XV; porém, não demorou muito para que Inglaterra, França e Holanda entrassem na competição colonialista, países estes inimigos espanhóis. Desse conjunto, o reino português era o mais frágil; em 1580, houve uma união das monarquias portuguesa e espanhola, sob controle espanhol. Ela resultou no controle de uma extensão ampla do império português, tendo em vista o caráter mundial em que ele se expandia. A Holanda, por sua vez, era um país próspero e muito poderoso. Guilherme de Orange foi um grande impulsionador do movimento emancipacionista holandês, que foi efetivado em 1581 depois de anos de disputa entre os países holandês e espanhol. Em resposta à independência, o rei espanhol Filipe II irá proibir o comércio com navios holandeses, acordo que incluía Portugal. Os holandeses, que já detinham grande parte do comércio oriental graças à Companhia das Índias Orientais (1602), tinham fortes motivos para conquistar o Brasil, já que ele era responsável pelo refino de boa parte do açúcar comercializado na Europa; por outro lado, o Brasil era um mercado consumidor de tecidos holandeses. A partir de 1624, os holandeses tentaram a conquista do território brasileiro. Apesar de terem conquistado Salvador em menos de 24h, a primeira ocupação holandesa durou um ano, sendo reprimida por uma esquadra luso-espanhola. Após o saqueio de um carregamento espanhol, os holandeses tentarão uma segunda vez, dessa vez em Pernambuco, uma das únicas capitanias hereditárias bem-sucedidas. Em 1630, os holandeses chegaram e dominaram Recife e Olinda sem dificuldades. A resistência espanhola foi efetivada graças ao desleixo dos tronos português e espanhol. A Espanha estava ocupada na

Guerra dos Trinta Anos (1618-48), e Portugal estava num período de seca econômica. Em 1635, com a conquista de mais dois estados, consolidou-se o domínio holandês. Durante as invasões holandesas, verificou-se uma grande desordem nas áreas de disputa; em muitos engenhos, a situação favoreceu a fuga em massa de escravos, que se organizaram em quilombos, sendo o mais importante o de Palmares. O Brasil Holandês que se constituía era um empreendimento do qual se esperava extrair altos lucros. Para organizar os domínios holandeses, foi enviado como governador-geral Maurício de Nassau, que aqui permaneceu de 1637-48. Em seu governo, preocupou-se tanto com a reorganização da produção açucareira quanto com a segurança; buscou a conciliação com os ocupantes e tratou de ampliar militarmente o domínio holandês. Ele instituiu a tolerância religiosa e igualdade de tratamento para lusobrasileiros e holandeses. Foi organizada a Câmara dos Escabinos, substituindo as Câmaras Municipais. Recife foi completamente remodelada. A Companhia das Índias Orientais obtinha altos lucros do comércio açucareiro; entretanto, ela encontrava-se deficitária, tendo em vista os altos custos militares e administrativos do Brasil Holanda. Além disso, houve uma crescente diferença entre a zona rural luso-brasileira e a zona urbana holandesa; repetia-se a mesma estrutura já conhecida na parte portuguesa, onde se encontravam polarizados os senhores de engenho e a burguesia mercantil. As relações entre plantadores brasileiros e a burguesia holandesa foram se desgastando. Em 1640, Portugal libertou-se da Espanha com a ascensão de D. João IV, estabelecendo uma trégua com a Holanda. Nessa década, Nassau se demitiu e a Companhia resolveu diminuir seus gastos. Apesar da trégua, as propriedades brasileiras começaram a ser confiscadas e a tolerância religiosa não era mais observada; assim, uma hostilidade tomou conta do território dominado pelos holandeses, que se agravou na

Insurreição Pernambucana (1645-54). Em 1651, Oliver Cromwell publica os Atos de Navegação, agravando a situação econômica holandesa. Em 1654, os luso-brasileiros saem vitoriosos. A relação do Brasil e a Inglaterra estreitou-se. Os aspectos socioeconômicos coloniais e a cana-de-açúcar A economia brasileira, nos primeiros séculos, pode ser definida como uma empresa colonial. Os produtos, feitos em monoculturas, eram voltados essencialmente à exportação, sempre servindo os interesses da metrópole no exclusivo comercial metropolitano ou pacto colonial. Nele, a metrópole possuía monopólio da importação das matérias-primas mais lucrativas; a colônia, por sua vez, não pode concorrer com a metrópole. Praticamente toda lógica econômica portuguesa valia para o Brasil. Portugal, inicialmente, estava interessada no entesouramento, prática mercantilista que tinha, como principal característica, a disposição de procurar metais preciosos. A base da economia colonial, desde o século XVI, era o açúcar. Seu cultivo deu-se pela necessidade de colonizar e explorar um território até então sem importância econômica para o Brasil. O açúcar era um produto muito bem cotado no comércio europeu; no Brasil, os engenhos foram intensamente utilizados, e toda produção foi destinada unicamente à exploração, gerando valiosos lucros e tornando-se no alicerce econômico da colonização portuguesa entre os séculos XVI e XVII. Os senhores de engenho tinham um status admirável na sociedade açucareira, explorando os negros escravos, que viviam nas senzalas. A agroindústria açucareira possibilitou aos portugueses a ocupação efetiva do litoral. A prosperidade da produção açucareira atraiu os holandeses em 1640; com a expulsão dos holandeses na Insurreição Pernambucana em 1654, eles foram às Antilhas, onde prosseguiram com a cultura do açúcar, passando a ser,

durante os séculos XVII e XVIII, concorrentes do Brasil no abastecimento do mercado europeu. No século XVIII, a Holanda se supera na indústria açucareira, fazendo com que o Brasil perca o monopólio do açúcar e desvirtuando o quadro políticoeconômico vigente na época. No século XVIII, a base econômica brasileira foi, portanto, concentrada na mineração, embora a metrópole continuasse igualmente atenta para evitar que a população abandonasse a agricultura: o que se conseguiu com a exportação do açúcar jamais foi ultrapassado pela exportação do ouro, mesmo em seu apogeu. A mineração era importantíssima para a interiorização do território. Na segunda metade do século XVIII, a mineração decaiu, fazendo com que a agricultura voltasse a ser o mais importante produto para a metrópole e para outras potências, já que navios de outros países podiam entrar no território brasileiro com autorização portuguesa. A abertura se fortaleceu com o Alvará de 1785 de Dona Maria I, onde a Coroa permitiu a manufatura de tecidos na colônia, mas proibiu todas as outras formas manufatureiras. O açúcar se fortaleceu imensamente; sua economia não era cíclica, já que, no ponto de vista do colônia, sua estrutura econômica se manteve, nunca se extinguindo. A pecuária também cresceu. Nas bases socioculturais, podemos destacar uma fortíssima hierarquização, apesar de fortes miscigenações e sincretismos culturais. Tinha mais influência o padrão europeu do branco, católico e cristão. A mineração e os bandeirantes A partir de meados do século XVII, motivada pela forte concorrência das Antilhas, a Coroa portuguesa voltou a estimular a procura de metais. Os paulistas, bons conhecedores do sertão brasileiro, desempenharam um papel importante nessa nova fase da história colonial brasileira. Sonho dos

primeiros povoadores, a mineração começou a ser estimulada em 1698 com a descoberta das minas em Ouro Preto. No Brasil, predominava-se a extração de ouro dos fundos dos rios, sendo simples, porém facilmente esgotável. Devido ao rápido esgotamento, a organização das lavras (grandes extrações mineradores) era feita de modo que pudessem ser transferidas sem dificuldades para outra jazida, o que conferia à mineração um caráter nômade. Ela era, seguindo as características da economia colonial, extensiva, com a utilização de mão-de-obra escrava. As técnicas de extração eram rudimentares. A descoberta das minas funcionou como um poderoso estímulo às atividades econômicas paulistas, havendo um aumento populacional gigante. As lavouras foram se ampliando e multiplicaram-se as atividades manufatureiras. As minas eram localizadas no interior do centro-sul do Brasil; para chegarem a São Paulo, haviam rotas que saíam de Cuiabá, Vila Boa, Belém e Jequitinhonha. Esse movimento de penetração aos sertões brasileiros em busca de riquezas minerais é chamado de bandeirantismo. Ao abrir-se como um grande mercado, a região das minas foi responsável pela articulação econômica da colônia, interagindo com o sul e o sudeste brasileiros, assim como Bahia. A Coroa portuguesa procurava extrair o máximo de benefícios por meio da cobrança de impostos, adotando medidas para evitar a sonegação e o contrabando; a mineração foi submetida a rigorosa disciplina e autoridade. A mineração e sua administração levaram à ocupação de zonas urbanas. Não era rentável o estabelecimento de empresas mineradoras, tendo em vista o nomadismo das atividades. O marquês de Pombal e o Vice-reino (1763) Desde o fim da União Ibérica, em 1640, o Brasil era a mais valiosa possessão portuguesa. Com a descoberta e a exploração

do ouro em Minas Gerais, o Brasil ocupou o lugar indiscutível de retaguarda econômica da metrópole. O declínio da mineração levou ao representante do despotismo esclarecido em Portugal, o marquês de Pombal, se concentrar no projeto de reorganização administrativa da colônia e de fortalecimento do exclusivo metropolitano, a fim de garantir o máximo de transferência da riqueza brasileira para Portugal, racionalizando a economia. Além disso, Pombal também diminuiu a influencia da nobreza e dos jesuítas, retirou o Brasil da órbita inglesa e fortaleceu a autonomia econômica de Portugal. Seu projeto de reorganização administrativa possuía uma direção clara: a centralização do poder. Por isso, ele extinguiu o regime de capitanias hereditárias, eliminando o poder dos capitães, e reunificou a administração que estava, desde 1621, dividida aos estados de Maranhão e do Brasil. Ao reunificar a administração, Pombal transferiu a capital do Brasil para o Rio de Janeiro em 1763, o que mostrou sua preocupação com a economia mineira ao transferir, para o sudeste, a administração metropolitana. Em 1775, o Estado colonial foi extinto para dar lugar ao Vice-reino do Brasil, parte do Império Português, sistema político que só mudará com a vinda da família real ao Brasil, em 1808. As rebeliões na colônia, a Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana As primeiras rebeliões no Brasil ocorreram entre o final do século XVII e o início do XVIII em consequência à retomada do trono português. A União Ibérica trouxe prejuízos imensos para Portugal, chegando em 1640 em profunda crise; nesse ano, houve várias disputas para o trono português em um movimento conhecido como Restauração. Todas as rebeliões no brasil tiveram por base a contradição entre metrópole e colônia e, no caso dos Palmares, entre senhores e escravos. Cada uma delas possuía caráteres específicos e grande complexidade, mas ate as últimas décadas

do século XVIII, nenhuma chegou a propor claramente a emancipação política como solução. Esse caráter surgiria com a Inconfidência Mineira (1789) e a Conjuração Baiana (1798). A Inconfidência Mineira foi o primeiro movimento no Brasil que teve, como objetivo, a separação de Portugal. Eles exigiam São João del-rei como capital da república; criação de uma casa da moeda e fixação do câmbio; liberação das manufaturas; libertação de escravos nascidos no Brasil; criação de parlamentos; governo de Tomás Gonzaga; e perdão das dívidas extensivo a todos, dentre outros. Reuniu-se um grupo bastante heterogêneo; a maioria dos membros desse movimento era da elite mineira. Foi fortemente inspirada pela independência norte-americana em 1776. A consciência emancipadora em Minas Gerais foi gerada pela maior elitização da população mineira, que desde cedo vivia numa economia mercantilizada e dinâmica. A opressão política portuguesa, agravada no governo de Pombal e no Alvará de 1785 de Dona Maria I, foi fundamental para ecoar o movimento, assim como o pensamento europeu iluminista. O membro principal e mártir da Inconfidência foi Tiradentes, brutalmente esquartejado no fim do movimento no dia 21 de abril de 1792. Quando o governador Barbacena tomou conhecimento da conspiração, ele prendeu vários inconfidentes entre penas variadas. A Inconfidência Mineira tornou-se símbolo máximo de resistência para os mineiros. A Conjuração Baiana foi amplamente influenciada pela Revolução Francesa (1789-99). Tinha, como causas principais, a insatisfação popular pelos preços elevados de mantimentos e a forte insatisfação com o domínio português. Os baianos também defendiam a emancipação política e a implantação de uma república, assim como a liberdade comercial nos mercados interno e externo, a liberdade e igualdade entre as pessoas e o fim da escravidão. O movimento teve uma forte repressão graças ao delato de um dos membros ao governador. Vários revoltosos foram presos e quatro deles executados.