MOVIMENTOS SOCIAIS NA PRIMEIRA REPÚBLICA BRASILEIRA

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Transcrição:

MOVIMENTOS SOCIAIS NA PRIMEIRA REPÚBLICA BRASILEIRA

Messianismo Religiosidade e Revolta Sertaneja A palavra messianismo é derivada de Messias, que significa O Enviado de Deus, O Salvador. Na Religião Judaica, messianismo refere-se á crença na futura vinda do Messias, que libertará o Povo Judeu dos sofrimentos, conduzindo-o à Vida Eterna. Para os Cristãos, o Messias é Jesus Cristo, que veio à terra indicar o caminho da salvação eterna e voltará no Dia do Juízo Final. O termo messianismo também é utilizado por historiadores, sociólogos e outros estudiosos para designar a crença de um grupo em um líder político-religioso líder messiânico considerado capaz de conduzir determinada coletividade a uma nova era de justiça e felicidade. Geralmente, a crença messiânica desenvolve-se como uma esperança de vida melhor entre pessoas castigadas pelo sofrimento cotidiano, pela miséria e pelas injustiças sociais.

Messianismo Na História do Brasil, o termo messianismo é usado para denominar os movimentos sociais nos quais milhares de sertanejos, de áreas rurais pobres, fundaram comunidades comandadas por um líder religioso. Atribuíam-se a esse líder dons como o de fazer milagres, realizar curas e profetizar acontecimentos. Na Primeira República, os dois principais movimentos de caráter messiânico foram os de Canudos e do Contestado, caracterizados pela Religiosidade e pelo Sentimento de Revolta dos Sertanejos.

Messianismo

A Guerra de Canudos

Guerra de Canudos Nas últimas décadas do Século XIX, uma série de condições contribuíram para agravar o sofrimento de milhares de sertanejos do Nordeste: O declínio da produção açucareira, as constantes secas, a prepotência dos coronéis-fazendeiros e os Novos Rumos Políticos do país, como a República. Foi nesse contexto de opressão e desesperanças sociais, durante o mandato do Presidente Prudente de Morais, que Antônio Vicente Mendes Maciel (1828-1897), apelidado Antônio Conselheiro, encontrou ambiente propício para suas pregações político-religiosas. Desconsiderando certas mudanças surgidas com a República, Conselheiro declarava-se, por exemplo, contra o Casamento Civil e, por isso, foi identificado por seus adversários como Fanático Religioso e Monarquista.

Guerra de Canudos Antônio Conselheiro tinha 65 anos quando, em 1893, chegou a uma velha fazenda abandonada no sertão baiano, situada às margens do Rio Vasa-Barris, onde liderou a formação do Povoado de Canudos. Desde 1870, fazia pregações que atraíam crescente número de pessoas do sertão nordestino. Um de seus lemas era: A terra não tem dono, a terra é de todos. Vida em Canudos Milhares de pessoas mudaram-se para Canudos: Sertanejos sem-terra, vaqueiros, ex-escravos, pequenos proprietários pobres, homens e mulheres perseguidos pelos coronéis ou pela polícia. Buscavam Paz e Justiça em meio à fome e à seca do sertão.

Imagem: O arraial de Canudos / Autor: Desconhecido / public domain.

Guerra de Canudos Em pouco tempo, o povoado transformou-se numa das localidades mais populosas da Bahia, reunindo entre 20 Mil e 30 Mil Habitantes. Comandada por Antônio Conselheiro, a população de Canudos vivia, segundo alguns pesquisadores, num sistema comunitário em que as colheitas, os rebanhos e o fruto do trabalho eram repartidos. O que restava era vendido ou trocado com os povoados vizinhos. Só havia propriedade privada dos bens de uso pessoal roupas, móveis não havia cobrança de impostos. A Prostituição e a venda de bebidas alcoólicas eram proibidas. O povoado tinha normas próprias, representando uma alternativa de sociedade para os sertanejos que fugiam da dominação dos grandes coronéis.

Guerra de Canudos Reação Contra Canudos Os fazendeiros baianos e a Elite política local temiam o crescimento de Canudos. Para a Igreja Católica, Antônio Conselheiro e seus seguidores desviavam os fiéis; para os proprietários de terra e o Governo, Canudos representava uma ameaça tanto pela ocupação das terras quanto pela recusa ao pagamento de impostos. Para os inimigos da Comunidade de Canudos, ali viviam fanáticos, loucos e monarquistas. Durante muito tempo, predominou a versão da história em que essas acusações fora reproduzidas como verdades absolutas. Assim, não se considerava que um dos principais motivos de união dos sertanejos de Canudos era a necessidade de escapar da Fome e da Violência. O messianismo foi a maneira encontrada pelos sertanejos para traduzir sua vontade de construir uma ordem social diferente.

Guerra de Canudos A Destruição de Canudos As tropas dos coronéis locais e do Governo Estadual Baiano não conseguiram esmagar as Forças de Canudos. Assim, o Governo Federal entrou na luta, enviando ao povoado várias tropas militares, que também foram derrotadas. Finalmente, um poderoso exército de cerca de 7 Mil Homens foi organizado pelo Ministro da Guerra, e Canudos foi destruído em 5 de outubro de 1897. Mais de 5 mil casas foram incendiadas pelo exército. A população sertaneja morreu defendendo sua comunidade, numa das mais trágicas lutas da História da República.

Imagem: Vila de Canudos / Autor: Rsabbatini / public domain.

Resistência Sertaneja A Guerra de Canudos foi tema do livro Os Sertões, do escritor e jornalista Euclides da Cunha. Publicado pela primeira vez em 1902, o livro alcançou grande repercussão e logo se tornou um clássico, consagrando seu autor como um dos mais importantes ensaístas brasileiros. Vejamos um trecho de uma das últimas páginas de Os Sertões, em que é narrada a destruição de Canudos: Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.

Imagem: O 40º Batalhão de Infantaria, da província do Pará, em Canudos, 1897 / Autor: Flávio de Barros / public domain.

Ilustração Victimas do Dever, da revista Don Quixote, de 21 de março de 1897

Imagem: Caricatura de Euclides da Cunha / Autor: Raul Pederneiras / public domain. Imagem: A única foto conhecida de Antônio Conselheiro, místico rebelde e líder espiritual do arraial de Canudos (1893-1897) / Autor: Flávio de Barros / public domain.

A Interpretação de Euclides da Cunha Euclides da Cunha interpretou a Guerra de Canudos a partir de fontes orais, como os poemas populares e as profecias religiosas encontrada em papéis e cadernos nas ruínas da comunidade. Baseou-se em profecias apocalípticas, que julgou serem da autoria de Antônio Conselheiro, para criar, em Os Sertões, um retrato sombrio do líder da comunidade. Esses poemas e profecias foram o ponto de partida de sua visão de Canudos como movimento sebastianista e messiânico, vincula à crença no retorno mágico do Rei Português D. Sebastião, para derrotar as forças da República e restaurar a Monarquia. Foi além da narração da guerra, ao construir uma teoria do Brasil cuja história seria movida pelo choque de etnias e culturas. O conflito entre Canudos e a República resultou, para Euclides, do choque entre dois processos de mestiçagem: litorânea e sertaneja. O mestiço do sertão apresentaria vantagem sobre o mulato do litoral, devido ao isolamento histórico e à ausência de componentes africanos, que tornaria mais estável sua evolução racial e cultural.

Guerra do Contestado

Guerra do Contestado Guerra do Contestado (1912-1916) Outro importante movimento messiânico ocorreu entre a fronteira entre o Paraná e Santa Catarina, numa região contestada disputada pelos dois estados. Causas da Guerra Vários motivos contribuíram para a eclosão da guerra. Desde o Império, Santa Catarina e Paraná tentavam definir seus limites territoriais. A região da fronteira conhecida como contestado era alvo de disputa judicial entre os dois Estados no início do século 20. Em 1904, o Supremo Tribunal Federal deu ganho de causa aos catarinenses e reafirmou sua decisão nos anos seguintes, mas a sentença era ignorada pelo governo paranaense. O governo brasileiro autorizou a construção de uma estrada de ferro ligando os Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul e que cruzava as terras do contestado. Para isso, desapropriou uma faixa de terra de 30 quilômetros ao lado da rodovia, uma espécie de corredor por onde passaria a linha férrea e que poderia ser explorada pela companhia que a construísse.

Guerra do Contestado Em 1910, quando a ferrovia ficou pronta, a empresa mandou embora todos os funcionários mais ou menos 8.000 homens sem casa, sem dinheiro e sem ter como voltar pára seus Estados. Eles passaram a perambular pela região, saqueando, invadindo propriedades e até se oferecendo como jagunços capanga, homem armado a serviços de um coronel aos coronéis. Tudo isso fez crescer muito as tensões sociais e políticas na região. Os sertanejos do Contestado começaram a se organizar sob a liderança de um Monge chamado João Maria. Após sua morte, seu lugar foi ocupado por outro Monge, Miguel Lucena Boaventura, conhecido como José Maria. José Maria reuniu mais de 20 mil sertanejos e fundou com eles alguns povoados que compunham a chamada Monarquia Celeste.

Guerra do Contestado Como em Canudos, a Monarquia do Contestado tinha um governo próprio e normas igualitárias, não obedecendo às ordens das autoridades da República. Os sertanejos do Contestado foram violentamente perseguidos pelos coronéis-fazendeiros, além dos donos das empresas estrangeiras, com o apoio das tropas do governo. O objetivo era destruir a organização comunitária e expulsar os sertanejos das terras que ocupavam. Em novembro de 1912, José Maria foi morto em combate e Santificado pelos moradores da região. Seus seguidores, no entanto, criaram novos núcleos da Monarquia Celeste, depois combatidos e destruídos pelas tropas do exército brasileiro. Em 1916, os últimos núcleos foram arrasados por tropas de 7 mil homens armados de canhões, metralhadoras e até alguns aviões de bombardeio, pela primeira vez usados como arma de combate no Brasil.

Imagem: Bandeira da "Monarquia Celestial". Branca com uma cruz verde, evoca os estandartes das antigas ordens monástico militares como as dos templários / Autor: E2m / public domain.

Henrique Wolland

Capitão Mattos Costa

José Maria reuniu mais de 20 mil sertanejos e fundou com eles alguns povoados que compunham a chamada Monarquia Celeste. A monarquia do Contestado tinha um governo próprio e normas igualitárias, não obedecendo às ordens emanadas das autoridades da república. Os sertanejos do Contestado foram violentamente perseguidos pelos coronéisfazendeiros e pelos donos das empresas estrangeiras, com o apoio das tropas do governo. Assim como Canudos, os participantes foram violentamente massacrados.

Cangaço

Cangaço Revolta e violência no Nordeste A miséria, as injustiças dos coronéis-fazendeiros, a fome e as secas produziram no Nordeste um ambiente favorável à formação de grupos armados conhecidos como cangaceiros, que praticavam assaltos a fazendas e, muitas vezes matavam pessoas. O tipo de vida dos cangaceiros recebeu o nome de Cangaço e é o objetivo de discussões entre pesquisadores. Para alguns, foi uma forma pura e simples de banditismo e criminalidade; para outros, uma forma de contestação social, isto é, de revolta reconhecida como legítima pelas pessoas que viviam reprimidas. Entre os mais importantes grupos de cangaceiros destacaram-se o de Antônio Silvino (1875-1944) e o de Virgulino Ferreira, mais conhecido como Lampião (c.1900-1938). Depois que a polícia massacrou o bando de Lampião, em 1938, o cangaço praticamente desapareceu do Nordeste.

Imagem: Imagem oficial da degola do bando de Lampião / Autor: Desconhecido / public dormain. Imagem: Impresso do Governo do Estado da Bahia (Brasil), anunciando uma recompensa pela captura do bandido Lampião, 1930 / Autor: Desconhecido - Digitalizado da Revista da UnB / public domain.

Revolta da Vacina

Revolta da Vacina No governo do Presidente Rodrigues Alves (1902-1906), a população do Rio de Janeiro enfrentava graves problemas sociais muita pobreza e alto índice de desemprego e de saneamento lixo amontoado nas ruas, ratos e mosquitos transmissores de doenças milhares de pessoas morriam em conseqüência de epidemias como febre amarela, peste bubônica e varíola. Era desejo dos Primeiros Governos Republicanos transformar o Rio de Janeiro na Capital do Progresso, uma espécie de cartão-postal que mostrasse ao país e ao mundo o novo tempo da República. Coube ao Presidente Rodrigues Alves a decisão de Reformar e Modernizar o Rio de Janeiro. As obras foram comandadas pelo Prefeito Pereira Passos, e incluía o alargamento das principais ruas do centro, a construção da avenida central atual Avenida Rio Branco a ampliação da rede de água e esgotos e a remodelação do porto.

Revolta da Vacina Cortiços e casebres dos bairros centrais foram demolidos, e as pessoas que moravam nestes locais foram desalojadas, passando a viver em barracos nos morros do centro ou no subúrbio. O Governo Federal concentrava quase todas as suas atenções e recursos na Reforma da Capital. Combater as epidemias locais era um dos principais objetivos, e o médico sanitarista Oswaldo Cruz, diretor da Saúde Pública, convenceu o presidente a decretar a Lei da Vacinação Obrigatória contra a Varíola. A população, entretanto, não foi esclarecida sobre a necessidade da vacina. Diversos setores reagiram à medida: Para alguns, a aplicação da vacina em mulheres era imoral; para outros, a obrigatoriedade ia contra a Liberdade Individual. Outros, ainda, não compreendiam como uma doença poderia ser evitada com a introdução de seu próprio vírus no corpo.

Revolta da Vacina O descontentamento das pessoas afetadas pela demolição dos cortiços, a impopularidade do governo e a obrigatoriedade da vacinação provocaram uma grande Revolta Popular nas ruas do Rio de Janeiro no período de 12 a 15 de novembro de 1904. Políticos e militares de oposição quiseram aproveitar a revolta popular para derrubar Rodrigues Alves da Presidência da República, mas não conseguiram. O Governo dominou os Revoltosos usando tropas do Corpo de Bombeiros e da Cavalaria. Cerca de 30 pessoas morreram e mais de 100 foram feridas. Centenas de participantes dos conflitos foram presos e deportados para o Acre.

Imagem: Capa da Revista da Semana sobre a Revolta da Vacina, outubro de 1904 / Autor: Deconhecido / public domain. Imagem: Bonde virado na Revolta da VACINA/ A Revista da Semana, publicada em 27/11/190/ disponibilizado por Meloaraujo/ Domínio Publico.

Ordem Pública Descontentamento e Revolta A Avenida Central foi aberta em 1905. A Varíola desapareceu da cidade com a vacinação em massa obrigatória. O Cais do porto foi remodelado e reequipado. O Rio Civiliza-se, diziam então muitos, encantados com o cenário parisiense montado no centro da cidade. Estava feita a reforma que transformara o Rio de Janeiro na capital do progresso. Por trás do cenário francês da Avenida Central, estava o Brasil de verdade, onde pouca coisa mudara com a proclamação da República. Por trás da barulheira e da agitação com as obras de reformulação da capital estava a rotina de um país que substituíra o açúcar pelo café na pauta de exportação, que deixara de ter escravos para ter ex-escravos, imigrantes e trabalhadores nacionais trabalhando no pesado e onde os Barões do Império viraram Ministros da República.

Revolta da Chibata

Revolta da Chibata Revolta da Chibata 1910 Em 22 de novembro de 1910, teve início uma Revolta de aproximadamente 2 mil membros da Marinha Brasileira, liderada pelo marinheiro João Cândido. Primeiro, os revoltosos tomaram o comando do encouraçado Minas Gerais e, em seguida, outros marujos assumiram o controle dos navios São Paulo, Bahia e Deodoro. Em seguida, apontaram os canhões para a cidade do Rio de Janeiro e enviaram um comunicado ao Presidente da República, explicando as razões da Revolta e fazendo exigências. Queriam mudanças nos códigos de disciplina da Marinha, que punia as faltas graves dos marinheiros com 25 chibatadas. Além dos castigos físicos, os marinheiros reclamavam da má alimentação e dos miseráveis soldos salários que recebiam.

Marinheiros em Revolta Documento com a mensagem dos marinheiros rebelados ao Presidente da República. Rio de Janeiro, 22 de novembro de 1910 Ilmo. E Exmo. Sr. Presidente da República Brasileira. Cumpre-nos comunicar a V. Excia. Como Chefe da Nação brasileira: Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podendo mais suportar a escravidão na Marinha Brasileira, a falta de proteção que a Pátria nos dá, rompemos o negro véu, que nos cobria aos olhos do patriótico e enganado pelo povo. Achando-se todos os navios em nosso poder, tendo a seu bordo prisioneiros todos os oficiais, os quais tem sidos os causadores da Marinha Brasileira não ser graciosa, porque durante 20 anos de República ainda não foi bastante para tratar-nos como cidadãos fardados em defesa da Pátria. Mandamos essa honrada mensagem para que V. Excia. Faça aos Marinheiros Brasileiros possuirmos os direitos sagrados que as leis da República nos facilita, acabando com a desordem e nos dando outros gozos que venham engrandecer a Marinha Brasileira;

Marinheiros em Revolta Bem assim como: Retirar os oficiais incompetentes e indignos de servir à Nação Brasileira; reformar o código imoral e vergonhoso que nos rege, a fim de que desapareça a chibata, o bolo, e outros castigos semelhantes; aumentar o nosso soldo pelos últimos planos do ilustre Senador José Carlos de Carvalho; educar os marinheiros que não têm competência para vestir a orgulhosa farda; mandar pôr em vigor a tabela de serviço diário, que a acompanha. Tendo V. Excia. o prazo de 12 horas para mandar-nos a resposta satisfatória, sob pena de ver a Pátria aniquilada. Bordo do Encouraçado São Paulo, em 22 de novembro de 1910. Nota: Não poderá ser interrompida a ida e volta do mensageiro. Marinheiros.

Revolta da Chibata Sob a mira dos canhões, o Governo respondeu que atenderia todas as exigências dos marujos. Rapidamente, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que acabava com as chibatadas e anistiava perdoava os revoltosos. Os marinheiros acreditaram nisso e entregaram os navios aos comandantes. O Governo, entretanto, não cumpriu suas promessas: Decretou a expulsão de vários marinheiros e a prisão de alguns líderes. No dia 9 de dezembro, os marujos organizaram outra Rebelião, mas desta vez o Governo estava preparado para reagir violentamente. Dezenas de revoltosos foram mortos, centenas foram presos e mandados para a Amazônia. Mais de 1.000 foram expulsos da Marinha.

Revolta da Chibata João Cândido foi preso numa masmorra da ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, sendo julgado e absolvido em 1912. Passou para a história como o Almirante Negro, que acabou com o castigo da chibatada na Marinha do Brasil.

Homenagem Póstuma A música O mestre-sala dos Mares, de Aldir Blanc e João Bosco, tem como tema a Revolta da Chibata. A seguir, trechos dessa letra musical: Há muito tempo Nas águas da Guanabara O dragão do mar reapareceu Na figura de um bravo feiticeiro A quem a História não esqueceu Conhecido como o navegante negro, Tinha a dignidade de um mestre-sala (...) Rubras cascatas, Jorravam das costas dos santos Entre cantos e chibatas Inundando o coração Do pessoal do porão Que a exemplo do feiticeiro Gritava então: (...) Glória a todas as lutas inglórias Que através da nossa História Não esquecemos jamais Salve o navegante negro Que tem por monumento As pedras pisadas do cais.

Movimento Tenentista Movimento Tenentista

Movimento Tenentista Tenentismo No início da Década de 1920, como vimos, crescia o descontentamento social contra o tradicional Sistema Oligárquico que dominava a política brasileira. Esse descontentamento era particularmente notado entre as populações dos grandes centros urbanos, que não estavam diretamente sujeitas às pressões dos coronéis. O clima de revolta atingiu as Forças Armadas, difundindo-se, sobretudo, entre os Tenentes. Tenentismo é o termo como ficou conhecido o movimento político-militar que, sob a liderança de jovens oficiais das forças armadas, principalmente Tenentes, pretendia conquistar o poder pela luta armada e promover reformas na Primeira República. As reivindicações dos Tenentes incluíam: A moralização da administração pública e o fim da corrupção eleitoral;

Movimento Tenentista A defesa da economia nacional contra a exploração das empresas e do capital estrangeiro; A reforma da educação pública para que o ensino fosse gratuito e obrigatório para todos os brasileiros. A maioria das propostas do Tenentismo contava com a simpatia de grande parte das classes médias urbanas, dos produtores rurais que não pertenciam ao grupo que estava no poder e de alguns empresários da indústria. Nas palavras do historiador Boris Fausto, os Tenentes pretendiam dotar o país de um poder centralizado, com o objetivo de educar o povo e seguir uma política vagamente nacionalista. Tratava-se de reconstruir o Estado para construir a Nação. Embora não chegasse nesta época a formular um programa antiliberal, os Tenentes não acreditavam que o liberalismo autêntico fosse o caminho para a recuperação do país. Fazia restrições às eleições diretas, ao sufrágio universal, insinuando a crença em uma via autoritária para a reforma do Estado e da Sociedade.

Movimento Tenentista

Movimento Tenentista Revolta do Forte de Copacabana (1922) A Primeira Revolta Tenentista teve início em 5 de julho de 1922, no Forte de Copacabana, contando com uma tropa de aproximadamente 300 Homens. Liderados por 18 Tenentes, os revoltosos do forte decidiram impedir a posse do Presidente Artur Bernardes. Tropas fiéis ao Governo imediatamente cercaram o Forte e isolaram os rebeldes, que não tiveram condições para resistir. Mesmo diante da superioridade das forças governamentais, 17 Tenentes e 1 civil saíram às ruas num combate corpo-a-corpo com as tropas opositoras. Dessa luta suicida, apenas dois revoltosos escaparam com vida: os Tenentes Eduardo Gomes e Siqueira Campos. O episódio ficou conhecido como Os Dezoito do Forte.

Movimento Tenentista Revolta de 1924 Dois anos depois da Revolta do Forte de Copacabana, ocorreram novas Rebeliões Tenentistas em regiões como o Rio Grande do Sul e São Paulo. Uma revolta liderada pelo General Isidoro Dias Lopes, pelo Tenente Juarez Távora e por Políticos, como Nilo Peçanha, eclodiu em São Paulo, também no dia 5 de julho. Com uma tropa de aproximadamente 1.000 Homens, os revolucionários rapidamente ocuparam os lugares mais estratégicos da cidade de São Paulo. Durante a ocupação, diversas batalhas foram travadas entre os rebeldes e as tropas governamentais. O Governo Paulista fugiu da capital, indo para uma localidade próxima, de onde pôde organizar melhor a reação contra os rebeldes. Recebendo reforços militares do Rio de Janeiro, preparou uma violenta ofensiva. O General Isidoro Dias Lopes, percebendo que não tinha mais condições de resistir, decidiu abandonar a cidade de São Paulo. A numerosa e bem armada tropa dos rebeldes fundou a Coluna Paulista, que seguiu em direção ao Sul do país, para encontrar outra Coluna Militar Tenentista, liderada pelo Capitão Luís Carlos Prestes.

Movimento Tenentista Coluna Prestes (1924-1926) As Forças Tenentistas de São Paulo e do Rio Grande do Sul uniram-se e, lideradas por Luís Carlos Prestes, decidiram Percorrer o País, procurando apoio popular para novas Revoltas contra o Governo. Nascia assim a chamada Coluna Prestes. Durante mais de dois anos (1924-1926), a Coluna Prestes percorreu 24 quilômetros através de 12 Estados brasileiros. Sem descanso, o Governo perseguia as tropas da Coluna Prestes, que, por meio de manobras militares, conseguia escapar. Em 1926 os homens que ainda permaneciam na Coluna decidiram ingressar na Bolívia e finalmente desfazer a tropa. A Coluna Prestes não conseguiu provocar revoltas capazes de ameaçar seriamente o Governo, mas também não foi derrotada por ele. Isso demonstrava que o poder na Primeira República não era inatacável. Luís Carlos Prestes, posteriormente, voltou ao país, tornando-se um dos principais líderes do Partido Comunista fundado em 1922.

Movimento Tenentista A Revolta do Forte de Copacabana, Revolução de 1924 e a Coluna Prestes não produziram efeitos imediatos na estrutura política brasileira, contudo, mantiveram a chama da revolta contra o poder e os privilégios das Oligarquias. As Lutas da Coluna Prestes Declaração de princípios dos líderes da Coluna Prestes Somos Contra: Os impostos exorbitantes, a incompetência administrativa, a falta de justiça, a mentira do voto, o amordaçamento da imprensa, as perseguições políticas, o desrespeito à autonomia dos estados, a falta de legislação social, o estado de sítio. Somos a Favor: Do ensino primário gratuito, da instrução profissionalizante e técnica, da liberdade de pensamento, da unificação e autonomia da justiça, da reforma da lei eleitoral e do fisco, do voto secreto obrigatório, da liberdade sindical, do castigo aos defraudadores do patrimônio do povo e aos políticos corruptos, do auxilio estatal às forças econômicas.

Modernismo

Modernismo Renovação das Artes O ano de 1922 foi marcado por importantes acontecimentos no cenário nacional: eclodiu a Revolta dos Tenentes e fundou-se o Partido Comunista. As cidades cresciam e se modernizavam: São Paulo já tinha cerca de 600 Mil Habitantes e o Rio de Janeiro, mais de 1 Milhão. Neste contexto, surgiu no Brasil o Movimento Modernista, que desejava a remodelação da Arte Brasileira, reagindo às formas tradicionais das artes plásticas e da literatura. Esse movimento teve como marco inicial a Semana de Arte Moderna, realizada na cidade de São Paulo entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922. Tendo como palco o Teatro Municipal de São Paulo, a semana contou com recitais de poesia, exposições de pintura e escultura, festivais de música e conferência sobre Artes.

Modernismo Os nomes que mais se destacaram na Semana de Arte Moderna foram os escritores Mário de Andrade, Menotti Del Picchia, Ronald de Carvalho, Oswald de Andrade; dos músicos Heitor Villa-Lobos e Ernani Braga; dos artistas plásticos Emíliano Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Victor Brecheret. Um dos objetivos do Movimento Modernista era reagir criticamente contra os padrões considerados arcaicos de nossa Arte pintura, escultura, literatura e a invasão cultural estrangeira que despersonalizava o Brasil. A reação modernista tinha como objetivo Abrasileirar a Cultura Brasileira. Entretanto, como explicou Mário de Andrade: Veja bem abrasileiramento do brasileiro não quer dizer regionalismo, nem nacionalismo... para ser civilizado artisticamente, entrar no concerto das nações que hoje em dia dirigem a civilização da Terra, o Brasil tem que concorrer para este concerto com a sua parte pessoal, com o que o singulariza e o individualiza... As obras e idéias dos jovens artistas apresentadas na Semana de Arte Moderna provocaram forte reação dos setores conservadores, mas conseguiram impor-se com o tempo.

Modernismo Modernismo e Antropofagia Cultural No início do Século XX, a cultura francesa dominava os meios artísticos e intelectuais brasileiros. Os principais expoentes da intelectualidade liam e falavam o Francês e viajavam constantemente à Paris para realizar seus trabalhos ou buscar inspiração. Os Modernistas de 1922 contestavam o comodismo cultural dessa produção transplantada da Europa. Para o escritor Mário de Andrade, a cultura popular deveria nasceu enraizada à sua terra, como um aprofundamento do terreno nacional. Era um protesto contra a mentalidade subserviente, contra os sentimentos de inferioridade dos brasileiros em relação aos europeus. Era também uma crítica à dominação cultural e política do Brasil pelos estrangeiros.

Modernismo Nascia assim o Manifesto Antropofágico, documento lançado pelos modernistas, que propunha a deglutição o aproveitamento de tudo que fosse útil da cultura européia, que seria remodelada pelas entranhas a realidade da terra brasileira. Era comer ou ser comido. O episódio que inspirou a utilização do termo antropofagia foi a deglutição, em 1556, do Bispo Sardinha representando a cultura importada pelos índios Caetés representando a cultura genuinamente nacional. Com esse espírito, nasceu um trocadilho em cima da frase de Shakespeare To be or not to be, that is the question Ser ou não ser, eis a questão que, no Manifesto transformou-se em Tupi or not Tupi, That is the question.