BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO LAGOINHA, UBERLÂNDIA-MG: DESAFIOS DO PLANEJAMENTO URBANO Ângela Maria Soares * Djane Araújo Inácio da Cunha ** Guilherme David Dantas *** Hérica Leonel de Paula Ramos Oliveira **** RESUMO O município de Uberlândia-MG-Triângulo Mineiro abrange uma vasta área territorial onde se localizam importantes bacias hidrográficas. A cidade sofre com a desordenada ocupação antrópica, onde problemas de enchentes e ocupações irregulares nas margens dos córregos urbanos são freqüentes. Assim, foi efetuada a escolha da bacia do córrego Lagoinha como área piloto para o estudo das bacias hidrográficas como unidades de planejamento. O objetivo principal é elaborar um modelo hidrológico nessa bacia, com vistas a subsidiar a elaboração de propostas para a minimização dos problemas de drenagem urbana que interferem na qualidade de vida da população aí residente. A metodologia utilizada neste estudo foi baseada naquela preconizada por Ab Sáber (1969), onde são destacados três níveis de abordagem, enfatizando escalas espaciais e temporais, e na abordagem geossistêmica de análise ambiental apresentada por Bertrand (1971). O uso das Geotecnologias inserese nesse trabalho como uma ferramenta de apoio indispensável ao planejamento urbano. PALAVRAS-CHAVE: Bacia Hidrográfica. Geotecnologias. Planejamento 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho realizado na bacia do córrego Lagoinha com objetivo principal de elaborar um modelo hidrológico dessa bacia no perímetro urbano de Uberlândia- MG, com vistas a subsidiar a elaboração de propostas para a minimização dos problemas de drenagem urbana que interferem na qualidade de vida da população aí residente. Este já se encontra publicado pelos anais do Encontro Nacional de Geógrafos concretizado na Universidade de São Paulo na grande capital em Julho de 2008. Com base na importância do referido estudo é que se percebeu a necessidade de uma nova publicação deste contexto. O município de Uberlândia abrange uma vasta área territorial, situa-se no Triângulo Mineiro, onde se localizam importantes bacias hidrográficas. A cidade sofre com a * Doutora em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia. Professora do curso de Geografia da Faculdade Católica de Uberlândia. E-mail: angelamsoares@gmail.com ** Mestranda do Instituto de Geografia na área de Planejamento Regional pela Universidade Federal de Uberlândia. Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: djanearaujo@yahoo.com.br *** Bacharel em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia e Especialista em Geoprocessamento pela Faculdade Católica de Uberlândia. E-mail: guilhermedd@yahoo.com.br **** Graduanda em Geografia pela Faculdade Católica de Uberlândia. E-mail: hericadepaula@yahoo.com.br Revista da Católica, Uberlândia, v. 1, n. 1, p. 103-115, 2009 www.catolicaonline.com.br/revistadacatolica 103
desordenada ocupação antrópica, assim como todo grande centro urbano em desenvolvimento continuo do capitalismo. Dessa forma, os traços distintos da morfologia espacial urbana estão dialeticamente relacionados com as mudanças estruturais na organização social do espaço. É essencial compreender o espaço urbano, estudar e analisar a forma urbana e seu crescimento como subsídios às políticas de planejamento. Freqüentemente são feitos estudos que mostram que o crescimento das cidades é um processo dinâmico, que invade constantemente áreas que não são adequadas para usos do solo urbano e Uberlândia se encaixa nesse processo dinâmico. Sendo assim, esse trabalho sugere que as bacias hidrográficas urbanas sejam usadas como unidades de planejamento, para que assim sejam propostas ações estratégicas que beneficiem diretamente a população e o meio em que vivem. Dentre as bacias hidrográficas urbanas de Uberlândia foi escolhida a Bacia do Córrego Lagoinha como área piloto para este estudo. Esta escolha está relacionada com estudos anteriores que trazem muitos subsídios e dados e, acima de tudo, por ser uma área urbana que ainda se encontra em processo de ocupação. Os problemas ambientais urbanos dizem respeito tanto aos processos de construção da cidade e, portanto, às diferentes opções políticas e econômicas que influenciam as configurações do espaço, quanto às condições de vida urbana e aos aspectos culturais que informam os modos de vida e as relações inter classes. Os processos de expansão e transformação urbana proporcionam baixa qualidade de vida a parcelas significativas da população. No município de Uberlândia isso não é diferente, pois percebemos que a ausência de políticas integradas de desenvolvimento urbano e de ações articuladas, que seriam próprias de uma gestão compartilhada e, também, a ausência histórica de procedimentos desse tipo, agravaram-se as inadequações no uso e ocupação do solo com forte impacto ambiental. Nesta perspectiva, a escala e a freqüência com que estes fenômenos se multiplicam na cidade de Uberlândia revelam a relação estrutural entre os processos e padrões de expansão urbana e o agravamento dos problemas sócio-ambientais. Para alcançar esse objetivo principal, foram definidos os seguintes objetivos específicos: Utilizar geotecnologias para fazer um mapeamento das áreas permeáveis e impermeáveis da Bacia do Córrego Lagoinha, como forma de propor uma metodologia ao planejamento espacial de bacias urbanas. Revista da Católica, Uberlândia, v. 1, n. 1, p. 103-115, 2009 www.catolicaonline.com.br/revistadacatolica 104
Realizar uma caracterização sócio-ambiental da Bacia do Córrego Lagoinha, identificando os principais problemas sociais e ambientais, bem como os agentes sociais responsáveis. A metodologia utilizada neste estudo foi baseada naquela preconizada por Ab Sáber (1969), onde são destacados três níveis de abordagem, enfatizando escalas espaciais e temporais, e na abordagem geossistêmica de análise ambiental apresentada por Bertrand (1971). Conforme recomenda Ab Sáber (1969), foi realizado em primeiro momento a análise horizontal, com base na compartimentação topográfica, caracterização e descrição das formas superficiais. Em segundo momento fez-se uma análise vertical, através do levantamento das informações da estrutura superficial da paisagem, com base nos acontecimentos morfoclimáticos e pedogenéticos atuais e passados, para se estabelecer relações entre os fatos observados no campo com as situações genéticas e cronológicas das formações superficiais. E, por último, compreendeu-se a dinâmica da paisagem como um todo. Este método possibilitou o levantamento de dados relacionados com a caracterização, estrutura e funcionalidade da paisagem. Paralelamente, essa paisagem foi considerada como um sistema resultante da combinação dinâmica entre os elementos físicos, biológicos e antrópicos. Dessa forma, foram realizados os estudos na bacia hidrográfica, considerada como um geossistema. A metodologia utilizada engloba levantamentos bibliográficos, mapeamentos e levantamentos de campo, realização de entrevistas, aplicação de questionários e instalação de equipamentos para levantamento de dados hidrológicos. Para a confecção de mapas temáticos estão sendo utilizados SIGs-Sistemas de Informação Geográfica, fotografias aéreas, Imagens de Satélite e o banco de dados municipal. A metodologia para o levantamento e mapeamento de categorias de uso do solo baseou-se em ROSA (2003), que define as seguintes etapas: elaboração de um mapa base que contenha: os limites da área de estudo, drenagem, coordenadas, rodovias, etc; elaboração de uma chave de fotointerpretação; interpretação visual preliminar das imagens; trabalho de campo, podendo assim estabelecer uma associação entre o que se identificou nas imagens, com as correspondentes unidades existentes no terreno. Revista da Católica, Uberlândia, v. 1, n. 1, p. 103-115, 2009 www.catolicaonline.com.br/revistadacatolica 105
2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 O uso da Bacia Hidrográfica como unidade de planejamento Nos estudos hidrológicos a bacia de drenagem tem sido utilizada como unidade básica de estudo e gestão. Pode ser conceituada como sendo um sistema aberto, onde ocorre a drenagem de água, sedimentos e material dissolvido para uma saída comum. As bacias hidrográficas oferecem praticidade e simplicidade para a aplicação de balanço hidrológico e a aplicação de modelos de estudo de recursos hídricos. De acordo com Duarte (1998), a bacia hidrográfica é tida como a unidade de planejamento dos recursos hídricos. O seu estudo deve enfocar de forma integrada os recursos hídricos de superfície e subterrâneos, objetivando uma avaliação global da potencialidade e disponibilidade de água. Há alguns anos, autores como Mota (1997) e Wilken (1978) alertavam para a necessidade de que os projetos urbanísticos e os projetos de drenagem urbana devessem integrar políticas únicas de gestão. O ciclo hidrológico deveria ser conservado com a utilização de técnicas de conservação da água e do solo. A ocupação do solo deveria garantir as condições mínimas para a preservação das águas. O saneamento básico deveria incorporar as políticas de resíduos sólidos e as águas pluviais. Estas preocupações, no entanto, não têm sido capazes de evitar que, ainda nos dias de hoje, poucas mudanças tenham ocorrido na metodologia de elaboração dos projetos de drenagem das águas pluviais das cidades. A elaboração dos arranjos e as premissas básicas de projeto têm sido as mesmas nas últimas décadas, apesar de tímidas ações para a implementação de alternativas que pudessem viabilizar alguns dos ideais da Agenda 21, como por exemplo, a proposta de implantação das taxas de permeabilidade e a detenção das águas pluviais protegendo os cursos receptores. Nesse sentido, é muito importante compreender o espaço urbano, estudar e analisar a forma urbana e seu crescimento como subsídios as políticas de planejamento, pois freqüentemente são feitos estudos que mostram que o crescimento das cidades é um processo dinâmico, que invade constantemente áreas que não são adequadas para usos do solo urbano. Conforme VENFRAME, 1998, a gestão de bacias hidrográficas deve compreender os estudos da hidrogeologia (aspectos relacionados ao dimensionamento dos Revista da Católica, Uberlândia, v. 1, n. 1, p. 103-115, 2009 www.catolicaonline.com.br/revistadacatolica 106
reservatórios subterrâneos, espessuras explotadas e características hidrodinâmicas) e da hidrologia (vazões, pluviosidade, escoamento superficial, entre outras). Na maioria das vezes, a exaustão dos recursos hídricos numa dada bacia hidrográfica é conseqüência de usos inadequados que provocam a degradação dos solos e da vegetação. A compactação do solo e a derrubada da vegetação nativa contribuem para o aumento do escoamento pluvial e concomitantemente reduzem o volume de água infiltrado. A redução da infiltração de água no solo tem como conseqüência o aumento do escoamento superficial. De modo contrário, a redução do escoamento superficial só será alcançada com adoção de práticas de manejo sustentável de solo e de vegetação. Nas áreas urbanas brasileiras as bacias hidrográficas têm sido ocupadas sem planejamento e/ou estudos ambientais e isso têm originado problemas graves relacionados com enchentes e instalação de processos erosivos. Em Uberlândia como na maior parte das cidades brasileiras as bacias hidrográficas urbanas e os canais fluviais encontram-se em desequilíbrio ambiental. A ocupação e impermeabilização das áreas urbanas têm provocado o aumento do escoamento superficial e a degradação dos canais fluviais e fundos de vale. São comuns os processos de voçorocamento das cabeceiras de drenagem e das barrancas fluviais. 2.3 O uso de Geotecnologias nos estudos sócio-espaciais Reconhecer e representar o território no qual vivemos sempre foi uma preocupação das diversas civilizações que vivem e que já habitaram nosso planeta. A superfície terrestre apresenta várias peculiaridades, sendo que, uma de grande destaque é a difícil interação dos elementos humanos, físicos e biológicos, como o clima, solo, agricultura, vegetação, relevo e urbanização. Atualmente, com o desenvolvimento das geotecnologias, é possível integrar e reunir vários tipos de dados e visualizá-los conjuntamente no formato de mapas digitais, facilitando a compreensão de um determinado território e os processos naturais e antrópicos que ocorrem nele. Nesse sentido, podemos observar que a atuação do homem no meio ambiente, ao longo da história, fornece provas de suas ações em nome do progresso. Essa evolução tem seu lado positivo, pois abre novos horizontes, novas possibilidades e descobertas, e o lado negativo, pois pode causar desequilíbrios econômicos, ecológicos e sociais. Revista da Católica, Uberlândia, v. 1, n. 1, p. 103-115, 2009 www.catolicaonline.com.br/revistadacatolica 107
Dessa forma, o próprio homem vem criando mecanismos para controlar, sanar e prevenir tais desequilíbrios, entre os quais a aplicação do Geoprocessamento, que pelo significado do próprio nome (Geo = Terra, Processar = Executar, Realizar, Mudar), processa informações sobre a superfície terrestre por meio de ferramentas computacionais. Tais informações auxiliam o homem na monitoração, administração e planejamento do espaço geográfico em que vive (INPE, 2007). As geotecnologias englobam soluções em hardware, software e peopleware, como, por exemplo, sistemas de informações geográficas (SIG), cartografia digital, sensoriamento remoto (imageamento por satélite ou radar), sistema de posicionamento global (GPS), aerofotogrametria dentre outras (INPE, 2007). De acordo com o INPE (2007), devido a ampla gama de aplicações dos Sistemas de Informações Geográficas, que inclui temas como cartografia, cadastro urbano e redes de concessionárias (água, energia e telefonia), há pelo menos três grandes maneiras de utilizá-lo, são elas: Como ferramenta para produção de mapas; Como suporte para análise espacial de fenômenos; Como um banco de dados geográficos, com funções de armazenamento e recuperação de informação espacial. Por conseguinte, vale ressaltar que, as geotecnologias têm sido um verdadeiro benefício ao homem, pois elas promovem uma ocupação mais controlada e um aproveitamento mais racional dos recursos de determinado território, o que desperta o interesse na execução cada vez maior de projetos de levantamento e mapeamento de várias regiões. 3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO A Bacia do córrego Lagoinha (Figura 1) está localizada na porção Sudeste da cidade de Uberlândia, na zona UTM 22, entre as coordenadas 786000 m e 795000 m Leste (E) e entre as coordenadas 7901000 m e 7906000 m Norte (N) (DINIZ, 2007). A nascente está localizada a 910 metros de altitude e sua foz, no Córrego São Pedro, a 790 metros. Apresenta uma extensão pequena de apenas de 6,4 km. O Córrego Lagoinha tem um afluente, o Córrego Mogi, e a área drenada por eles é da ordem de 19,8 km². O Córrego Lagoinha apresenta vários trechos canalizados. O trecho de maior canalização começa a partir da Rua Revista da Católica, Uberlândia, v. 1, n. 1, p. 103-115, 2009 www.catolicaonline.com.br/revistadacatolica 108
Jandyro Vilela Freitas, desaguando no Córrego São Pedro, que está canalizado pela Avenida Governador Rondom Pacheco (DINIZ, 2007). A geologia está representada pelas rochas sedimentares do Grupo Bauru, os arenitos da Formação Marília, pelos basaltos da Formação Serra Geral do Grupo São Bento e pelos sedimentos do Cenozóico, a Cobertura Detrítico Laterítica. Os Arenitos Marília são constituídos de camadas de arenitos imaturos e conglomerados superpostos a níveis carbonáticos. Na área encontra-se o Membro Serra da Galga cujos sedimentos constituem uma cobertura de topos aplainados. Os basaltos da Formação Serra Geral aparecem no baixo curso, nas proximidades da foz do Córrego Mogi. As rochas da Formação Serra Geral são vulcânicas (basaltos), enquanto que as do Grupo Bauru são sedimentares (arenitos). Os arenitos Marília ocupam o alto e médio curso do Córrego Lagoinha e Mogi. Os basaltos aparecem no baixo curso, próximo à foz do Córrego Mogi, e proporcionam um nick point em forma de cachoeira. O clima de Uberlândia se caracteriza pela alternância de duas estações, bem definidas: uma seca, com longo período de estiagem, que vai de março a outubro e outra chuvosa, que se estende de Novembro a Fevereiro. A precipitação atmosférica média de Uberlândia gira em torno de 1500 mm/ano, sendo que os meses mais chuvosos são dezembro e janeiro, representando cerca de 40% da precipitação média anual. Os meses menos chuvosos são Junho e Julho (DEL GROSSI, 1991). A temperatura média anual é de 22 C, sendo que os meses mais quentes são fevereiro (23,5 C), outubro e novembro (23,4 C) e os meses mais frios junho e julho (18,8 C). A umidade relativa do ar é de 71,2%, sendo que há pouca variação durante o ano (Rosa, 1991). Revista da Católica, Uberlândia, v. 1, n. 1, p. 103-115, 2009 www.catolicaonline.com.br/revistadacatolica 109
Figura 1: Mapa de localização da Bacia do córrego Lagoinha A cidade é atingida por massas de ar oriundas do sul como a Frente Polar Antártica (FPA) e a Massa Polar (MP), leste (ondas de leste) e oeste (instabilidade tropical). Também sofre a influência das Zonas de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), que são responsáveis pelas chuvas intensas e prolongadas. A FPA influencia a ZCAS canalizando a umidade da Amazônia para a Região Sudeste. (MENDES, 2001) Os solos da área são os Latossolos Vermelho-Amarelos Distróficos nas áreas mais elevadas e, nas margens do Córrego Lagoinha os Gleissolos e os Neossolos Flúvicos (EMBRAPA, 1999). Os Latossolos são bem estruturados, bastante desenvolvidos. Já os Gleissolos estão relacionados com áreas permanentemente encharcadas, apresentando certa fragilidade ambiental. Os Neossolos Flúvicos são desenvolvidos a partir de depósitos fluviais apresentando pouca resistência quanto à interferência antrópica. Do ponto de vista geomorfológico a área está inserida no limite entre as Unidades Geomorfológicas classificadas por BACCARO (1994), como Áreas Elevadas de Cimeira com Topos Amplos e Largos e Área de Relevo Medianamente Dissecado, correspondente à borda da chapada de Uberlândia. A vegetação da área em estudo consiste de áreas de pastagens abandonadas, as quais anteriormente à conversão caracterizavam-se por fitofisionomias de Cerrado sentido Revista da Católica, Uberlândia, v. 1, n. 1, p. 103-115, 2009 www.catolicaonline.com.br/revistadacatolica 110
restrito. Também foram detectadas as fitofisionomias de Veredas, as quais são circundadas por Campo Limpo, e a fitofisionomia de Matas de Galeria, as quais se encontram descaracterizadas ambientalmente, com grandes focos erosivos, os quais vêm provocando desbarrancamento das margens com conseqüente queda de árvores para o interior do curso d água já extremamente assoreado. Essa bacia hidrográfica encontra-se em fase de plena expansão urbana e abrange cerca de quinze bairros, são eles: Segismundo Pereira, Santa Mônica, Santa Luzia, Buritis, Granada, Carajás, Lagoinha, Jardim Inconfidência, Vigilato Pereira, Jardim Karaíba, Laranjeiras, São Jorge, Pampulha, Morada da Colina e Patrimônio. 4 PROBLEMAS AMBIENTAIS DA ÁREA DE ESTUDO A Bacia do Córrego Lagoinha enfrenta graves problemas sócio-ambientais. A ocupação dos fundos de vale e a invasão de áreas públicas e de preservação permanente são os maiores problemas a serem elucidados. Essa ocupação desordenada originou processos de favelização e exclusão social. Paralelamente, a falta de planejamento na ocupação da bacia hidrográfica provocou problemas relacionados com a erosão das cabeceiras de drenagem e das barrancas fluviais. A impermeabilização crescente da bacia, devido ao crescimento do sítio urbano, tem provocado o estrangulamento das galerias e canais existentes pelo aumento do escoamento superficial. As margens do Córrego Lagoinha receberam no passado grande carga de entulho, o qual pode ser observado nas faixas de terra em constante desmoronamento sobre o córrego. Tal entulho era composto de materiais provenientes da construção civil e de lixo doméstico. Associado aos locais perturbados constatou-se a freqüente presença de Mamona (Ricinus communis) Leucena (Leucaena leucocephala), Lobeira (Solanum lycocarpum), dentre outras espécies de colonização secundária em ambientes antropizados. 5- DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS Hoje em dia o uso do geoprocessamento fornece aos planejadores um material visual muito rico em detalhes e que possibilita estratégias de planejamento urbano e de políticas públicas municipais. Revista da Católica, Uberlândia, v. 1, n. 1, p. 103-115, 2009 www.catolicaonline.com.br/revistadacatolica 111
Uberlândia vem sofrendo há alguns anos com enchentes causadas por chuvas torrenciais, o que resulta em sérios prejuízos para os cidadãos. Na maior parte das bacias da área urbana desse município, o solo está impermeabilizado devido ao aumento das áreas construídas, o que provoca a redução da infiltração da água, aumento no escoamento superficial, aumento da vazão de pico e aceleração do tempo de concentração da vazão. Por meio da elaboração do mapa de coeficiente de impermeabilização (figura 2) foi possível quantificar a área total (19, 62 Km²), as áreas permeáveis e impermeáveis existentes na bacia do córrego Lagoinha. Com os dados de quantidade de área permeável que foi igual a 8,52 Km² e impermeável, 11,10 Km², existentes na bacia, elaborou-se uma simulação hidrológica de escoamento superficial baseada no cálculo do método racional proposto por Tucci (2007). Figura 2: Mapa de coeficiente de impermeabilização da Bacia do Córrego Lagoinha Selecinou-se o evento chuvoso do dia 7 de novembro de 2007, utilizando os seguintes dados cedidos pelo Laboratório de Climatologia da Universidade Federal de Uberlândia, choveu 48 mm em 40 minutos, o que arredondando o tempo para 60 minutos (1hora). Revista da Católica, Uberlândia, v. 1, n. 1, p. 103-115, 2009 www.catolicaonline.com.br/revistadacatolica 112
Com os cálculos feitos obtivemos os seguintes resultados, selecionando 30% da área permeável da bacia para uma chuva de 72 mm/h, obtivemos a vazão de 25,02 m³/s, e 30% para área impermeável 13,33 m³/s, somando as duas obtemos a vazão máxima de 38,35m³/s, sendo que as três galerias do córrego (figura 3), juntas, não suportam 35 m³/s. Figura 3: Galerias do Córrego Lagoinha (SOARES, 2008) Essa nossa simulação prova que se em 30% da bacia do córrego ocorrer uma chuva como a do dia sete, as galerias não suportariam. Desse modo se prova o quanto é importante um bom planejamento urbano, e é ai que se encaixa a importância das geotecnologias, pois elas possibilitam a materialização de dadas na forma de mapas, tabelas, gráficos, subsidiando na tomada de decisões. Concluindo, esse estudo de simulação hidrológica feito para a bacia do córrego Lagoinha, serve de base para o planejamento adequado de outras bacias existente no perímetro urbano, minimizando assim os prejuízos causados pelas enchentes. REFERÊNCIAS Agricultura, meio ambiente e sustentabilidade do Cerrado brasileiro. Shigeo Shiki, José Graziano da Silva e Antônio César Ortega (Org). Uberlândia: UFU, 1997. AB SÁBER, A. N. Um conceito de Geomorfologia a serviço de pesquisas sobre o quaternário. Geomorfologia. n. 18. São Paulo, IGEOG/USP, 1969. Revista da Católica, Uberlândia, v. 1, n. 1, p. 103-115, 2009 www.catolicaonline.com.br/revistadacatolica 113
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