RESPOSTAS A MANIFESTAÇÕES DE RECURSOS ADMINISTRATIVOS PREGÃO PRESENCIAL Nº 041/2017 PROCESSO ADMINISTRATIVO Nº 234/2017 TIPO DE LICITAÇÃO MENOR PREÇO GLOBAL Cuida-se, na origem, de instauração de processo licitatório contratação de empresa para prestação de serviços de coleta, acondicionamento, transporte, tratamento e destinação final dos resíduos de serviços da saúde (A, B e E), para atender as demandas do Município de Santa Maria da Vitória. No decorrer da instrução do processo licitatório, precisamente na sessão de julgamento realizada no dia 27 de outubro do corrente ano, após a avaliação realizada pelo Pregoeiro e sua Equipe de Apoio, constatouse que a empresa habilitada e vencedora foi a RTR Empreendimentos Ambientais Ltda EPP, por ter apresentado menor valor no Lote 01 (único) após a fase de lances. 1 somente por uma licitante, a saber: Predita decisão foi alvo de recurso administrativo tão RETEC Tecnologia em Resíduos EIRELI; Antes de adentrar-se no mérito do recurso, cumpre, de antemão, destacar, que este merece ser conhecido, pois, tempestivo.
2 Conforme se observa da Ata da Sessão realizada no dia 27.10.2017, a empresa Recorrente manifestou interesse em recorrer da decisão proferida pelo Pregoeiro. No que tange ao mérito do recurso, necessário se faz, neste momento, algumas considerações acerca do quanto sustentado pela empresa recorrente. Em apertada síntese, a empresa RETEC Tecnologia em Resíduos EIRELI aduziu que: (...) dos documentos de habilitação apresentados pela RTR EMPREENDIMENTOS, verifica-se que a mesma não apresentou a documentação conforme indicado nos itens 10.7, 10.7.27 e 10.7.30 do Edital(...). Em análise objetiva da documentação apresentada pela Recorrida, verifica-se que a mesma não acostou aos autos a Licença Ambiental, emitida pelo órgão competente (itens 10.7.27 e 10.7.30 do Edital), autorizando a empresa a realizar coleta, tratamento e destinação final dos resíduos sólidos dos serviços de saúde. Sendo assim, a RTR não logrou êxito em provar que todos os serviços se encontram devidamente autorizados para a sua cabal execução. Em verdade, a licença apresentada pela RTR EMPREENDIMENTOS não coincide com o requisito editalício, uma vez que a licença ambiental juntada pela Recorrida contempla somente o tratamento de resíduos industriais,que não é objeto da presente licitação. 2 Requereu, por fim, o afastamento da empresa RTR Empreendimentos Ambientais Ltda EPP do certame. A empresa RTR Empreendimentos Ambientais Ltda EPP apresentou tempestivamente suas contrarrazões, rechaçando os argumentos trazidos pelos Recorrentes e defendendo sua habilitação.
3 Este é o relatório, passo a decidir. Em primeiro momento, cumpre demonstrar, de logo, que não assiste razão ao Recorrente no que tange ao pedido de desclassificação e/ou inabilitação da RTR Empreendimentos Ambientais Ltda EPP. É bem verdade que são inúmeros os debates acerca da rigidez ao princípio da vinculação ao Edital. Se de um lado ergue-se as bandeiras do julgamento objetivo e do princípio da vinculação ao instrumento convocatório, de outro, sustenta-se a busca pela proposta mais vantajosa e a necessidade de utilização do formalismo moderado. Em que pese a regra seja a realização do julgamento objetivo e observância ao princípio da vinculação ao instrumento convocatório, também existe entendimento doutrinário que converge no sentido de ser necessário a utilização do formalismo moderado em situações específicas: 3 Referido por ODETE MEDAUAR como aplicável a todos os processos administrativos, o princípio do formalismo moderado possui, apesar de não constar expressamente da Lei n. 8666/93, relevante aplicação às licitações, equilibrando com a equidade a aplicação dos princípios da legalidade e da vinculação ao instrumento convocatório, fazendo com que meras irregularidades, que não afetam interesses públicos ou privados, não levem à desnecessária eliminação de competidores, o que vem amplamente aceito pela jurisprudência. 1 1 ARAGÃO, Alexandre Santos de. Curso de direito administrativo Rio de Janeiro: Forense, 2012. P. 293
4 O Princípio do procedimento formal tem sido relativizado nas hipóteses de ausência de prejuízo e vantagem para o licitante, como esclarece a doutrina ao alinhar que a licitação é um procedimento instrumental que tem por objetivo uma finalidade específica: celebração do contrato com o licitante que apresentou a melhor proposta. Por esta razão, a legislação tem flexibilizado algumas exigências formais, que não colocam em risco a isonomia, com o intuito de garantir maior competitividade. 2 É dizer que nem toda divergência entre o texto da Lei ou do Edital conduz à invalidade, à inabilitação ou à desclassificação, esta é a lição de Marçal Justen Filho 3, ao tratar sobre a interpretação das exigências e superação de defeitos formais: (...) deve-se interpretar a Lei e o Edital como veiculando exigências instrumentais. A apresentação de 4 documentos, o preenchimento de formulários, a elaboração das propostas não se constituem em condutas ritualísticas. Não se trata de verificar a habilidade dos envolvidos em conduzir-se do modo mais conforme ao texto da Lei. Todas as exigências são o meio de verificar se o licitante cumpre os requisitos de idoneidade e se sua proposta é satisfatória e vantajosa. Portanto, deve-se aceitar a conduta do sujeito que evidencie o preenchimento das exigências legais, ainda quando não seja adotada a estrita regulação imposta 2 OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Licitações e contratos administrativos / Rio de Janeiro: Forense; São Paulo; MÉTODO, 2012. P. 30 3 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 16 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014. p. 852.
5 originariamente na Lei ou no Edital. Na medida do possível, deve promover, mesmo de ofício, o suprimento de defeitos de menor monta. Não se deve conceber que toda e qualquer divergência entre o texto da Lei ou do Edital conduz à invalidade, à inabilitação ou à desclassificação. Ainda sobre o tema, esclarece o referido jurista: Não é incomum que o sujeito adote projeção incorreta relativamente à carga tributária ou quanto a outros encargos incidentes sobre a execução da prestação. (...) Rigorosamente, essa é uma hipótese de desclassificação da proposta. Se o sujeito equivocar-se 5 quanto à formação de seus custos, é evidente que a sua proposta estará eivada de defeito. (...) Cabe verificar a dimensão do equívoco e a gravidade do risco a ser assumido pela Administração Pública 4 Em suma, há que se ter presente que a licitação não se destina pura e simplesmente a selecionar a proposta de menor valor econômico, mesmo quando adotado o tipo menor preço. Visa selecionar a proposta de menor valor que possa ser executada satisfatória e adequadamente 5. 4 JUSTEN FILHO, Marçal. Op., cit., p. 873. 5 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 12 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008, p. 571.
6 Isto posto, da análise da documentação apresentada pela Licitante Vencedora, verifica-se que esta cumpriu com os requisitos previstos no edital. Em que pese o item 10.7.27 do Edital de Licitação estabeleça que os licitantes devam apresentar Licença para Coleta e Tratamento dos resíduos sólidos dos serviços de saúde fornecida pelo órgão competente, e no item 10.7.30 Licença para Disposição Final dos resíduos sólidos dos serviços de saúde fornecido pelo órgão competente, constata-se que tais requisitos não foram descumpridos pela Licitante Recorrida. Explica-se. Como bem destacado pelo Recorrido em suas contrarrazões, o Decreto Estadual tombado sob o nº 14.032/12 alterou o Decreto Estadual nº 14.024/12, no Anexo VI E-6.2, suprimindo a expressão resíduos de saúde, ficando em sentido amplo como resíduos industriais. Diga-se ainda que, tal disposição também restou sucessivamente confirmada por meio do Decreto Estadual nº 15.682/14, no anexo IV, E-7.2.1, e Decreto Estadual nº 16.963/16 que especifica no Anexo I, O grupo D3 - D3.1 - Transportadora de Resíduos e/ou Produtos Perigosos e/ou de Serviços de Saúde, e Grupo E7 (Serviços de coleta, transporte, estocagem, tratamento e disposição de resíduos industriais) - E7.2.1 - Incineradores de Resíduos Industriais. 6 Assim sendo, muito embora o Edital exija Licença para Coleta e Tratamento dos resíduos sólidos dos serviços de saúde fornecida pelo órgão competente, e Licença para Disposição Final dos resíduos sólidos dos serviços de saúde fornecido pelo órgão competente, constata-se que a documentação apresentada pela empresa RTR Empreendimentos Ambientais Ltda EPP supre as exigências insertas no instrumento convocatório.
7 Por fim, insta ressaltar que os documentos de fls. 277 a 320 dos autos, demonstram que a empresa vencedora possui capacidade técnica para prestar os serviços de coleta, acondicionamento, transporte, tratamento e destinação final dos resíduos de serviços da saúde (A,B e E), em favor do Município de Santa Maria da Vitória CONCLUSÃO Em face do exposto, conheço do recurso interposto para, no mérito, negar-lhe provimento, mantendo-se incólume a decisão que declarou a habilitação da empresa Recorrida. Ato continuo, encaminhar-se o presente processo a autoridade superior para apreciação e proferir a decisão. 7 Santa Maria da Vitória/BA, 14 de novembro de 2017. Edivaldo Reis Santos Pregoeiro Decreto nº 3424/2017