Os Macroinvertebrados no Ensino da Biologia



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Transcrição:

Os Macroinvertebrados no Ensino da Biologia Formadores: João Carlos Martins e José Cancela Costa 2009

ESTUDO DA QUALIDADE BIOLÓGICA DE UM CURSO DE ÁGUA Os macroinvertebrados aquáticos, também designados por macrofauna bêntica, macrobenthos e macrofauna de fundo, são organismos que vivem no benthos pelo menos durante uma parte do ciclo de vida. Os principais grupos taxonómicos que vivem no meio aquático são os Anelídeos, Moluscos, Crustáceos e Insectos. Existe um grande nº de espécies e apresentam uma grande variedade de formas e ciclos de vida, que ao contrário de outros organismos aquáticos, contemplam uma fase aérea. Paralelamente, constituem um importante elo no processamento da matéria orgânica de origem vegetal (algas, macrófitos, folhas, troncos, etc.) tendo uma função de reciclagem de nutrientes nos ecossistemas aquáticos. São ainda a principal fonte de alimento da maioria das espécies piscícolas (Vidal-Abarca Gutierrez et al., 1994, Hauer & Resh, 1996). As características mais importantes dos ecossistemas lóticos (água corrente) estão relacionadas com o seu movimento. A turbulência é responsável pela quantidade de oxigénio incorporada, factor muito importante para a comunidade aquática. A descarga e a velocidade da corrente intervêm na erosão das margens e do leito do rio. Esta controla o tipo e a diversidade de habitats, determinando quais as partículas que são depositadas e as que se deslocam. Por sua vez, a quantidade de sedimentos suspensos na coluna de água determina a quantidade de luz que penetra no sistema, assim como a sua capacidade fotossintética. As comunidades aquáticas podem ser perturbadas por alterações físicas (e.g. construção de barragens, extracção de areia), pela introdução de espécies exóticas ou mesmo de mais substâncias naturais (e.g. sílica, nitratos). Estas alterações podem afectar as comunidades fluviais, bem como os usos potenciais reconhecidos às águas superficiais (e.g. abastecimento, recreio, agro-industriais, produção de energia hidroeléctrica, aquacultura, navegação, conservação da vida aquática). Muitas actividades humanas (e.g. o abate de árvores, o excesso de pastoreio, construção de estradas e a mobilização dos solos) aumentam a carga de sedimentos nos rios. O aumento da população, o desenvolvimento urbanístico e a expansão industrial, característicos das sociedades modernas, têm estado associados a situações de carência e de poluição dos recursos hídricos (Cunha et al., 1980; López et al., 1994). Desta forma, o valor da água na economia não cessa de crescer. Muitas zonas do mundo têm graves faltas de água, quer devido à seca localizada, quer porque as águas do solo, rios e lagos estão poluídas por efluentes urbanos e/ou industriais, ou apenas porque os abundantes recursos disponíveis são desperdiçados, pondo em risco a saúde pública (López et al.,1994; Otero, 1996). Definir critérios de qualidade da água é muito difícil, já que a qualidade da água depende da utilização que dela se faz (James e Evisson, 1979). Assim, água muito rica em nitratos pode não servir para consumo humano, mas poderá ser excelente para a irrigação. A poluição da água por matéria orgânica traduz-se no seu empobrecimento em oxigénio (López et al., 1995), o qual pode ser inteiramente utilizado na oxidação ou biodegradação da matéria orgânica (Brown, 1980; Hewitt, 1991a). Um dos aspectos actuais mais frequentes é a eutrofização das águas, resultante do desequilíbrio entre a biossíntese e a biodegradação. A eutrofização influencia as comunidades aquáticas devido ao crescimento excessivo de algas e de macrófitas. Além disso, este crescimento excessivo, devido ao enriquecimento da água em nutrientes inorgânicos, pode impedir a penetração da luz na água. A matéria orgânica que entra no sistema pode ser usada pelas bactérias, que a decompõem diminuindo a quantidade de oxigénio disponível para a respiração dos animais, com consequências graves para muitas espécies de insectos aquáticos (Rosenberg e Resh, 1993). 2

Para um bom conhecimento da qualidade da água, bem como para analisar as alterações que nela ocorrem, deve-se realizar uma série de análises físico-químicas para detectar os agentes causadores da contaminação (Metcalf-Smith, 1994; López et al., 1995; Pujante et al., 1996). No entanto, os parâmetros físico-químicos só por si não fornecem uma informação adequada para uma utilização segura dos recursos aquáticos, porque nos dizem pouco sobre o efeito da poluição nos seres vivos (Graça et al., 1992; Metcalf- Smith, 1994). A avaliação biológica oferece várias vantagens relativamente à avaliação química. Por exemplo, as comunidades biológicas integram efeitos de stress e demonstram impacto cumulativo (Pujante et al., 1996), ao passo que a informação química é momentânea (Hewitt, 1991b; Graça et al., 1992; López et al., 1995) e requer um grande número de análises para uma avaliação correcta (De Pauw e Vanhooren, 1983). Uma vez que os programas de monitorização química se baseiam em protocolos, existe a possibilidade de que alguns poluentes sejam excluídos pelos métodos químicos e, por outro lado, podem produzir resultados alarmantes nos casos de contaminações muito concentradas e de curta duração, que se realizem no momento da amostragem (López et al, 1995). Além disso, nem todos os impactos são químicos, podendo a avaliação biológica detectar pequenas alterações, destruição do habitat e exploração dos recursos biológicos (Graça et al., 1992). Por outro lado, a utilização de índices como fórmulas matemáticas de fácil aplicação, permite, de uma maneira eficaz, estimar tanto a qualidade como as condições em que se encontra o ecossistema (Pujante, 1993). Assim, de entre todos os organismos aquáticos, os macroinvertebrados adquirem especial importância por várias razões: i) são diferentemente sensíveis a poluentes de vários tipos e reagem rapidamente, sendo capazes de respostas graduais; ii) são relativamente sedentários, sendo bons representantes das condições locais; iii) são abundantes, ubiquistas e relativamente fáceis de capturar e identificar (com excepção de alguns grupos); iv) têm ciclos de vida suficientemente longos para fornecer informação sobre a qualidade da água; v) finalmente, as comunidades de macroinvertebrados são muito heterogéneas, tendo representantes de muitos filos e níveis tróficos. Assim, a probabilidade de alguns desses organismos reagirem a uma mudança nas condições ambientais é grande (Fontoura, 1985; Graça et al, 1992; López et al., 1994; Metcalf-Smith, 1994; Pujante et al., 1996). No entanto, o uso de macroinvertebrados na avaliação biológica da qualidade da água também apresenta desvantagens: i) respondem a pequenas alterações no tamanho das partículas do substrato, conteúdo orgânico e textura, sendo difícil discriminar entre os efeitos da poluição e de outros factores ambientais (Metcalf-Smith, 1994); ii) têm ciclos de vida complexos e o resultado da avaliação biológica pode variar com a estação do ano (Hellawell, 1978); iii) apresentam uma grande heterogeneidade espacial, requerendo várias réplicas (Reynoldson, 1984). A perturbação ambiental, por ser um problema de origem múltipla, não se compatibiliza com um método exclusivo para a sua monitorização. Os métodos biológicos são fiáveis, compatíveis entre si e compatíveis com dados físico-químicos (Graça et al., 1992). Para um bom conhecimento dos ecossistemas lóticos, bem como para analisar as alterações que nele ocorrem, é imprescindível recorrer aos dois tipos de análises (químicas e biológicas). Índices bióticos para avaliação da qualidade da água A avaliação biológica da qualidade da água pode ser expressa por índices bióticos que são especializados para a poluição orgânica e estão limitados a uma determinada área geográfica (Washington, 3

1984). Um índice biótico não é universalmente aplicável, uma vez que os grupos taxonómicos variam, bem como as espécies indicadoras, e por isso nenhum índice funciona em todos os países. Embora o conceito de espécie indicadora seja relativamente simples, não é tão simples a sua aplicação prática (Spellerberg, 1993). Chandler (1970) demonstrou que a presença de uma espécie indicadora não prova a existência de poluição, já que estas espécies também se podem encontrar em águas limpas. O que se verifica é que, geralmente, em rios limpos a fauna é mais diversificada, sendo a percentagem (ou número total) de efectivos de cada espécie baixa e semelhante. Pelo contrário, em locais poluídos a diversidade diminui, tornando-se as espécies tolerantes dominantes (Cortes e Manzón, 1991). O desaparecimento das espécies sensíveis à poluição é o melhor método para a avaliação da qualidade biológica da água. No entanto, as espécies indicadoras podem ser sensíveis a um poluente e tolerantes a outro (Washington, 1984). Daqui advém a dificuldade em comparar diferentes índices bióticos. A popularidade dos índices bióticos deve-se ao facto de incorporarem respostas biológicas numa expressão numérica que pode ser facilmente compreendida. Empiricamente, assumem que os locais poluídos contêm menos espécies do que os locais não perturbados. Estas espécies tendem a ser removidas selectivamente ao longo de um gradiente de poluição de acordo com a sua sensibilidade ao poluente (Rosenberg e Resh, 1993). O problema fundamental dos índices bióticos é fazer corresponder a um determinado valor de índice um significado de qualidade da água (Alba-Tercedor). Para ultrapassar este problema estabelecem-se intervalos correspondentes a diferentes graus de contaminação da água, que, todavia, variam com os índices utilizados. Em Portugal, a utilização de índices bióticos para a avaliação da qualidade da água é, infelizmente, quase inexistente. As instituições universitárias vêm utilizando ou adaptando pontualmente vários tipos de índices comuns na Europa, de acordo com as necessidades específicas do caso em estudo (Ferreira et al., 1994). GENERALIDADES SOBRE OS PRINCIPAIS GRUPOS DE MACROINVERTEBRADOS PLATHELMINTHES- Podem viver em ambientes lóticos e lênticos. Têm uma forma aplanada e caracterizam-se pela ausência de estruturas quitinizadas ou calcárias. O seu ciclo de vida desenvolve-se por completo na água. ANNELIDA- São representados por organismos que pertencem às classes dos oligoquetas (ex. minhocas) e hirudíneos (ex. sanguessugas). Possuem, por norma, elevada tolerância à poluição orgânica das águas. MOLLUSCA- Distinguem-se dos restantes macroinvertebrados aquáticos pela presença de uma concha calcária externa, constituída por uma valva (Gastrópodes) ou por duas (Bivalves). São as duas únicas classes com representantes no meio aquáticos continentais. CRUSTACEA- Todas os indivíduos apresentam muitas patas articuladas. Algumas espécies podem atingir dimensões importantes (ex. lagostins). Distinguem-se 3 ordens: Anfípodes, Isópodes e Decápodes. Os primeiros apresentam corpo aplanado lateralmente e os segundos dorsoventralmente. Ambos possuem 7 pares de patas no abdómen, enquanto os Decápodes só apresentam 5 pares de patas. INSECTA- Este grupo possui o maior nº e diversidade de macroinvertebrados aquáticos. Estão representadas doze Ordens que englobam espécies heterometábolas representadas pelos Ephemeroptera, Plecoptera, Odonata e Heteroptera e espécies holometábolas, caso dos Trichoptera, Coleoptera e Diptera. 4

As efémeras e os plecópteros possuem cercos no extremo posterior do corpo (3 e 2, respectivamente). As brânquias situam-se no abdómen no caso das efémeras, no final dele no caso dos odonatas. Nestes últimos são facilmente distinguíveis as duas sub-ordens, os zigópteros e anisópteros, pela posição e forma das brânquias. Nestes 3 grupos os adultos são voadores. Os heterópteros apresentam peças bucais em forma de pico (rostro picador). Distinguem-se 2 tipos morfológicos: Nepomorfa e Gerromorfa, enm função da sua forma de vida. Os 1º são fundamentalmente aquáticos e a longitude das antenas não ultrapassa o tamanho da cabeça, enquanto os 2º apresentam antenas muito compridas e são semi-aquáticos. As larvas dos tricópteros possuem ganchos no final do abdómen, para sua fixação. Muitas constroem casulos com materiais diversos (areia, restos vegetais, raminhos). As larvas de coleópteros não apresentam nem ganchos nem constroem casulos. Por último, as larvas dos dípteros são facilmente identificadas pela ausência dos 3 pares de patas habituais no resto dos insectos. HÁBITOS DE VIDA DOS PRINCIPAIS GRUPOS DE MACROINVERTEBRADOS O meio aquático impõe condições às plantas e animais que nele habitam. As soluções desenvolvidas passam pela criação de adaptações que podem ser morfológicas, fisiológicas ou comportamentais. Relativamente aos modos de existência Merritt & Cummins (1984) classificaram os macroinvertebrados em 8 categorias: Patinadores (skaters)- patinam à superfície onde se alimentam. Planctónicos (planktonic)- habitam a coluna de água, na zona limnética de águas paradas. Mergulhadores (divers)- Têm mecanismos de natação que lhes permitem mergulhar para obter alimento ou refúgio. Nadadores (swimmers)- efectuam certos movimentos natatórios, ficando unidos a objectos submersos. Coladores (clingers)- possuem adaptações comportamentais e morfológicas que lhes permite colarem-se ao substrato grosseiro dos rios e nas zonas litorais de meios lênticos. Estendedores (sprawlers)- habitam a superfície de folhas flutuantes ou de sedimentos finos. Trepadores (climbers)- têm adaptações de forma a habitarem em hidrófitos vasculares, fragmentos orgânicos e vegetação ribeirinha, com modificações para se deslocarem verticalmente. Mineiros (burrowers)- habitam zonas de sedimentos finos (charcos) e lagos. Alguns constroem abrigos discretos, outros fazem as suas tocas no interior de caules de plantas. OBJECTIVO DA SAÍDA/AULA PRÁTICA a) Adquirir conhecimentos básicos da taxonomia de macroinvertebrados; b) Analisar a riqueza taxonómica e biodiversidade da fauna macrobentónica; c) Avaliar e comparar os hábitos de vida com os microhabitats presentes; d) Associar a informação precedente com a qualidade do meio aquático. Material SAÍDA DE CAMPO Botas de Borracha Rede de Mão 5

Crivos (500 µm) Frascos de Plástico Álcool (90%) ou Formol (4%) Pinças Esguicho Caneta de acetato Bloco de notas / caderno de apontamentos Caneta LABORATÓRIO Tabuleiros Brancos (Triagem) Álcool (Conservação) Placas de Petri Lupas Estereoscópicas Pinças, Agulhas de Dissecção Chaves de Identificação Métodos Trabalho a realizar num ribeiro 1- Observa o habitat de água doce em que te encontras. a)como o classificas? b)qual o tipo de substrato da zona? Blocos Calhaus Areia Lodo c) Profundidade: < 10 cm 10 30 cm 30 50 cm 50 100 cm > 1 m 6

d) Flora aquática: 1) Existente Inexistente 2) Escassa Abundante Muito abundante 3) Superficial Bentónica 4) Uma espécie Muitas espécies e) Fauna piscícula: Observada Não observada f) Aspecto da água: Límpida Pouco turva (vê-se o fundo facilmente) Turva (dificuldade em ver-se o fundo) Muito turva g) Há sinais de poluição? Se há, indica quais são os vestígios de poluição? h) Temperatura da água: i) ph da água: j) Dados climatéricos: 2- Utilizando o dispositivo colector faz várias recolhas de água de superfície na margem da ribeira. 3- Despeja o conteúdo obtido para dentro de uma caixa de petri ou frasco. Depois retira e lava, com o esguicho, a rede do dispositivo colector para dentro da caixa de petri ou frasco. 4- Etiqueta a caixa (local da recolha, tipo de recolha, grupo, data) 5- Utilizando o dispositivo colector faz várias recolha de água de superfície para lá da margem da ribeira. 6- Despeja o conteúdo obtido para dentro de uma caixa de petri ou frasco. Depois retira e lava, com o esguicho, a rede do dispositivo colector para dentro da caixa de petri ou frasco. 7- Etiqueta a caixa (local da recolha, tipo de recolha, grupo, data) 7

8- Levanta algumas pedras e observa a parte que estava virada para baixo. Escolhe duas ou três que achares que têm maior diversidade de vida (volta a pôr as restantes onde estavam anteriormente). Lava a parte inferior das pedras escolhidas, com o esguicho para dentro de uma caixa de petri ou frasco. 9- Etiqueta a caixa 10- Utilizando o dispositivo colector faz várias recolhas numa zona profunda. 11- Guarda todo o material recolhido com cuidado para ser transportado para o laboratório. 12- Tratamento das amostras - No local de amostragem realizar-se-á uma primeira separação dos materiais inorgânicos de maior dimensão relativamente ao conjunto de invertebrados e materiais orgânicos/inorgânicos de dimensões inferiores. Posteriormente, cada uma das 6 amostras será colocada no interior de frascos plásticos e adicionado álcool a 90 % ou formol a 4% para a sua conservação. Todos os frascos devem ser devidamente etiquetados. 13 - Processamento laboratorial 1ª fase- triagem em tabuleiros brancos dos invertebrados e respectiva separação por grandes grupos (Ordens), no sentido de facilitar a sua posterior identificação. 2ª fase- identificação dos organismos até ao nível taxonómico de família e/ou género, mediante o uso de lupas estereoscópicas com zoom de ampliação de 10-40x. A identificação será feita recorrendo a bibliografia especializada, nomeadamente chaves dicotómicas apropriadas, tendo o cuidado de anotar de imediato numa folha de cálculo o nº de indivíduos de cada espécie, género ou família, consoante o nível de identificação requerido pelos trabalhos a realizar. NOTA: O operador deve deslocar-se contra a corrente remexendo o substrato arenoso com os pés, desalojando os macroinvertebrados que, ficando em suspensão, são recolhidos pela abertura da rede. Para que os resultados sejam comparáveis o esforço de amostragem deve ser idêntico em ambos os locais de recolha, utilizando-se, para isso, o tempo efectivo de cinco minutos. Complementarmente são exploradas as pedras imersas e a vegetação existente em cada local e extraídos os organismos bentónicos presentes. Os macroinvertebrados que se fixam a estes substratos são removidos à mão e adicionados ao resto da amostra. 8

Bibliografia: Almeida, F.Ferrand, Ecologia (Notas Breves), Edição GEP, 1976, Lisboa. Campbell, A., Fauna e Flora do Litoral de Portugal e Europa, Edição FAPAS, 1994, Porto. Diniz,M., e outros, Comunidade Biótica de Água Doce, texto do Departamento de Zoologia da F.C.T.U.C., Coimbra. Diniz, M., Santos, M., O Reino Animal - os Invertebrados, Textos do Departamento de Zoologia da F.C.T.U.C., Coimbra. Santos,M., Poluição dos Cursos de Água, Textos do Departamento de Zoologia da F.C.T.U.C., Coimbra. Marinho,Mª, Tecnicamente Falando de Biologia - T.L.B. Bloco III, Editora Lua Viajante, 1996, Odivela. 9

Pouco tolerantes à poluição: Plecoptera Coleoptera - Elmidae (Mosca-de-pedra) são insectos terrestres na fase adulta, sendo as ninfas estritamente aquáticas. A duração da vida adulta é geralmente curta (um mês), enquanto o estado de ninfa, com cerca de trinta mudas, é longo e dura de alguns meses a três anos. Os plecópteros vivem sob as pedras ou detritos, em águas bem oxigenadas e são muito sensíveis a alterações do meio. Platyhelminthes (Carochas de água) são os únicos insectos que podem viver em ambiente aquático, quer no estado adulto, quer larvar. Os coleópteros adultos aquáticos mantêm a capacidade de voar, utilizando-a para abandonar aquele habitat quando as condições se tornam desfavoráveis. Há coleópteros adultos que vivem à superfície da água e outros que vivem imersos, em zonas com baixa velocidade de corrente e pouco profundas, sobretudo onde há muita vegetação aquática e detritos vegetais São encontrados em ambientes lóticos (associados a diversos tipos de substratos) e lênticos (nadando na superfície e sobre a vegetação). Mollusca Gastropoda (Planárias) apresentam o corpo desprovido de apêndices, alongado e achatado dorsoventralmente. A cabeça é pouco diferenciada, com dois ou mais olhos e pode ter tentáculos e fossetas adesivas. Todo o ciclo de vida tem lugar na água. Os platelmintas podem sobreviver à fome, reduzindo o seu comprimento a metade ou ainda menos, desaparecendo a cabeça como parte distinta, devido à reabsorção dos seus tecidos, que depois regeneram, e também estão sujeitos a uma baixa pressão de predação. O animal pode encurvar-se, dobrando o corpo em qualquer direcção. São indicadores de boa qualidade da água. (Caracóis) (filo Mollusca) compreende organismos com concha univalve. É comum a todos os caracóis de água doce a respiração cutânea, através das membranas do corpo. Muitos gastrópodes são herbívoros, outros são predadores, possuindo rádula que dilacera os alimentos. O ciclo de vida tende a ser anual. Pode haver um período de reprodução na Primavera e no Outono, ou então dois ou mais períodos no Verão. 10

Ephemeroptera Coleóptera Psephenidae (Mosca-de-maio) devem o seu nome à brevidade da sua vida adulta (efémera), que dura de um dia a algumas semanas. O ciclo de vida pode ser de uma geração por ano, duas gerações ou mais por ano ou uma geração em cada dois anos. Ephemeroptera representam uma fracção significativa da biomassa de um curso de água. Muitas ninfas são presa de outros invertebrados aquáticos, constituindo um componente fundamental da dieta de muitos peixes. São indicadores de boa qualidade da água. São encontrados em ambientes lóticos (associados a diversos tipos de substrato) e lênticos (nadando na superfície e sobre a vegetação). Adultos também podem ser encontrados, apesar de alguns abandonarem o ambiente aquático temporariamente dependendo das condições do dia e da hora. - Trichoptera - Megaloptera Corydalidae São encontrados em águas correntes e limpas, sob pedras, troncos e vegetação subnmersa. São grandes predadores (possivelmente são os maiores insectos encontrados em ambientes aquáticos). (Mosca-de-água) possuem geralmente um ciclo de vida de um ano, com larvas e pupas aquáticas. Estas larvas distinguem-se das dos coleópteros, com as quais podem ser confundidas, pela presença de um par de ganchos anais. O regime alimentar das larvas é muito variado: herbívoro, detritívoro e carnívoro. Vivem em diversos ambientes dulciaquícolas, ocorrendo zonação longitudinal ao longo de um curso de água. Algumas espécies podem encontrar-se em diferentes biótopos, mas são muito sensíveis à poluição da água. 11

Tolerantes à poluição: Crustácea Decapoda Odonata (Zygoptera) Neuroptera Sialidae (Libélulas) adultos têm cabeça e olhos grandes. São óptimos voadores e capturam, em voo, outros insectos Vivem em pequenos e médios cursos de água doce, com vegetação, quase sempre por entre as macrófitas ou enterradas nos sedimentos superficiais. São organismos que necessitam de uma elevada concentração de oxigénio. Diptera Athericidae Coleoptera Elmidae (Mosquitos e moscas) adultos são insectos com um par de asas metatorácicas, profundamente transformadas para estabilizar o voo. As larvas aquáticas ocupam uma vasta gama de biótopos. Na maioria das espécies existe uma geração por ano, nalgumas existem duas gerações por ano. O regime alimentar é muito variado: filtração, predação e raspadores de substrato. 12

Tolerantes à poluição: Odonata (Anisoptera) Crustacea Amphipoda Isopoda Coleoptera Gyrindae 13

Tolerantes à poluição: Neuroptera Corydalidae Díptera - Tipulidae Pelecypoda (Bivalva) (Amêijoas do rio) são todos aquáticos. São animais de simetria bilateral. Têm o corpo comprimido lateralmente e mais ou menos alongado, possuindo uma concha constituída por duas valva. A maioria dos bivalves são filtradores, alimentam-se de pequenas partículas transportadas pela água. 14

Muito tolerantes à poluição: Annelida Oligochaeta Mollusca Gastropda (Minhocas) são Annelida cilíndricos, com simetria bilateral e corpo dividido em muitos segmentos. São predadores, mas a maioria é detritívora, alimentando-se de matéria orgânica em decomposição sobre a superfície do substrato. Algumas espécies toleram elevados níveis de poluição. Há muitos tubificídeos que podem tolerar condições de anaerobiose durante um mês ou mais, mas apenas sobrevivem se forem intermitentemente expostos a oxigénio. Díptera Simuluiidae Annelida Hirudinea São encontrados em águas correntes e muito oxigenadas, aderidos a rochas e troncos. Diptera Chironmidae (Sanguessugas) apresentam o corpo é constituído por 33 segmentos, distinguindo-se dos oligoquetas pela falta de sedas ou qualquer outro tipo de apêndice e por possuírem duas ventosas nas extremidades do corpo A maioria é parasita, alimentando-se à superfície do corpo do hospedeiro. As sanguessugas hematófagas alimentam-se com pouca frequência, mas quando o fazem podem dilatar-se de tal modo que aumentam o seu próprio peso várias vezes Vivem em águas paradas ou com pouca corrente, com substrato duro e vegetação submersa. Possuem grande resistência à poluição da água. São encontrados em ambientes lóticos e lênticos; normalmente em substrato arenoso com material orgânico em decomposição 15

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