Aluízio Gonçalves da FONSECA², Fábio do Nascimento BRITO³ e Antônio Augusto Pinto FERREIRA³



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Transcrição:

ARTIGO ORIGINAL Avaliação clínica dos fatores preditivos de recorrência bioquímica após prostatectomia radical em pacientes com câncer de próstata localizado¹ Clinic assessment of the predictive factors of biochemical recurrence after radical prostatectomy in patients presenting localized prostate cancer Aluízio Gonçalves da FONSECA², Fábio do Nascimento BRITO³ e Antônio Augusto Pinto FERREIRA³ RESUMO Objetivo: avaliar os fatores preditivos de recorrência bioquímica após prostatectomia radical em pacientes com câncer de próstata localizado. Método: estudo retrospectivo, de coorte, realizado com participação de 99 pacientes registrados em dois ambulatórios particulares de urologia na cidade de Belém-PA, período de agosto de 1996 a novembro de 2006. A análise de sobrevivência do risco proporcional de Cox foi aplicada para avaliação multivariada e univariada. Resultados: 34,3% pacientes apresentaram recidiva bioquímica; na análise multivariada e univariada, a margem comprometida gerou p-valor de 0.0478 e 0.0002, respectivamente; as outras variáveis não foram significativas. Conclusão: o comprometimento da margem cirúrgica foi o único fator independente para a recidiva bioquímica. DESCRITORES: câncer de próstata, recidiva, prostatectomia. INTRODUÇÃO O câncer de próstata representa importante incidência mundial. Nos Estados Unidos da América, é a neoplasia maligna mais diagnosticada nos homens¹, sendo a segunda causa de morte por câncer entre a população masculina². Nesse contexto, a utilização do PSA nos pacientes com câncer de próstata tornou possível a identificação de um grupo de pacientes que, após serem submetidos à prostatectomia radical, apresentam elevação do PSA na ausência de sinais clínicos ou radiológicos de recidiva³. Assim, após duas a quatro semanas do procedimento cirúrgico, espera-se que o nível sérico de PSA esteja abaixo de 0,1 ng/ml, uma vez que todo o tecido prostático foi removido e a meia-vida sérica do PSA é de 2,6 dias. No entanto, níveis séricos indetectáveis após a cirurgia não significam a cura, pois alguns pacientes apresentarão recidiva bioquímica durante o seguimento. Esta recorrência bioquímica pode ser definida como níveis de PSA persistentemente detectáveis após a prostatectomia radical ou elevação do PSA em dosagens séricas posteriores ao nível indetectável 4. Nos Estados Unidos, dos cerca de 200.000 pacientes diagnosticados com câncer de próstata, anualmente, 40% irão apresentar recidiva após o tratamento local 5.. O risco relativo para a recidiva bioquímica após a prostatectomia radical depende de fatores pré-operatórios e fatores patológicos. Análises multivariadas apontam como principais fatores prognósticos o valor do PSA pré-operatório, estágio T patológico e a escala de Gleason 6,7,8. 1 Trabalho de conclusão de curso pela Universidade do Estado do Pará- UEPA. Belém, Pará, Brasil ² Médico urologista, graduado pela Universidade Federal do Par- UFPA, professor Mestre da disciplina de clínica cirúrgica da Universidade do Estado do Pará- UEPA. ³ Médicos graduados pela Universidade do Estado do Pará- UEPA 17 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013

A identificação dos casos com alta probabilidade de recidiva da doença, que podem se beneficiar de um tratamento adjuvante, é um desafio. Desta forma, este estudo objetivou avaliar fatores preditivos para a recorrência bioquímica após prostatcetomia radical em pacientes com câncer localizado. MÉTODO Os pacientes foram estudados segundo os preceitos da Declaração de Helsink e do Código de Nuremberg, respeitadas as Normas de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (Res. CNS 196/96) do Conselho Nacional de Saúde após aprovação de anteprojeto pelo Núcleo de Pesquisa e Extensão de Medicina e Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Vianna e da autorização dos pacientes por meio de termo de consentimento livre e esclarecido. O estudo foi retrospectivo, de coorte, realizado com a participação de 99 pacientes diagnosticados com câncer de próstata localizado e submetidos à prostatectomia radical e registrados em dois ambulatórios particulares de urologia na cidade de Belém-PA. Foram excluídos aqueles que receberam qualquer tratamento neoadjuvante ou adjuvante (em período inferior ou igual a 90 dias de pós-operatório ou antes da ocorrência de recidiva bioquímica). O valor de antígeno prostático específico para a definição de recidiva bioquímica foi considerado igual ou maior que 0,2ng/mL 4,5,9. Os dados obtidos foram analisados e interpretados, estatisticamente, através do método estatístico descritivo, além de análise uni e multivariada das variáveis para determinação da associação dos parâmetros pré -operatórios e do exame histopatológico com a recidiva bioquímica através de teste do software Bioestat 5.0. Para esse fim, utilizou-se a análise de sobrevivência de risco Cox. O nível de significância adotado para o p-valor foi igual ou menor a 0.05. RESULTADOS: TABELA I - Frequência das variáveis nos grupos de pacientes com e sem recidiva em ambulatórios de urologia na cidade de Belém- PA, de agosto de 1996 a novembro de 2006. VARIÁVEIS N RECIDIVA BIOQUÍ- MICA % SEM RECIDIVA BIOQUÍMICA Presença ou não de recidiva 99 34 34,3% 65 65,7% PSA 0 a 4 8 0 0% 8 12% PSA 4,1 a 10 54 17 52% 37 57% PSA 10,1 a 20 24 11 33% 13 20% PSA > 20 9 5 15% 4 6% Gleason 2-4 5 2 6% 3 5% Gleason 5-6 67 22 65% 45 69% Gleason 7-9 22 10 29% 12 18% MARGEM+¹ 23 15 44% 8 12% EEP² 6 3 12% 2 3% VS³ 9 5 15% 4 6% FONTE: Protocolo de pesquisa 1-Margem positiva para tumor 2-Extensão extra-prostática 3-Vesícula seminal (comprometida pelo tumor) % Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 18

TABELA II- Análise univariada das variáveis pelo risco proporcional de Cox. VARIÁVEIS b p-valor TX. RISCO IC 95% (TX. RISCO) PSA pré-operatório 0.0191 0.1055 1.0193 0.9960-1.0431 Vesícula comprometida 0.9199 0.0586 2.5091 0.9671-6.5095 Margem comprometida 1.3572 0.0002 3.8855 1.9219-7.8553 Gleason total patologico 0.1634 0.4401 1.1775 0.7777-1.7828 b=coeficiente de regressão. IC=Intervalo de confiança. TX. RISCO: Taxa de risco TABELA III- Análise multivariada pelo risco proporcional de Cox, em ambulatórios de urologia na cidade de Belém-PA, de agosto de 1996 a novembro de 2006. VARIÁVEIS b P-VALOR TX. RISCO IC 95% (TX. RISCO) PSA pré-operatório 0.0402 0.3520 1.0411 1.0028-1.0808 Vesícula comprometida 0.2728 0.7454 1.3137 0.2530-6.8210 Margem comprometida 0.9623 0.0478 2.6178 1.0093-6.7901 Gleason total patologico 0.0685 0.7872 1.0709 0.6511-1.7616 b=coeficiente de regressão. IC=Intervalo de confiança. FIGURA 1 - Taxa de sobrevivência da variável margem comprometida, em ambulatórios de urologia na cidade de Belém-PA, de agosto de 1996 a novembro de 2006 19 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013

FIGURA 2 - Taxa de risco para a recorrência bioquímica em relação ao envolvimento da margem, em ambulatórios de urologia na cidade de Belém-PA, de agosto de 1996 a novembro de 2006. DISCUSSÃO Neste trabalho, as análises multivariada e univariada através do modelo de sobrevivência do risco proporcional de Cox demonstraram que a margem comprometida foi a única variável com valor independente para a ocorrência de recidiva bioquímica (Tabelas II e III; Figuras 1 e 2). A margem cirúrgica é relatada como um importante fator de risco para recorrência do câncer durante o seguimento da prostatectomia radical, uma vez que os pacientes com tumores ressecados apresentando margens positivas estão mais associados à recidiva bioquímica do que aqueles com margem negativa 10, sendo amplamente registrada que a sua positividade é um fator de risco significativo para a recorrência de câncer de próstata no seguimento de pacientes submetidos à prostatectomia radical 11. Swanson, Riggs e Hermans (2007) 12 sugeriram que pacientes com envolvimento da margem devam ser avaliados para a possibilidade de tratamento adjuntivo, pois esse encontro patológico representou risco elevado de falha bioquímica. A vesícula seminal comprometida com invasão tumoral não representou importante fator para a recidiva bioquímica (Tabelas II e III). Este achado diverge de outros trabalhos 13,14. Essa discordância com a literatura talvez tenha ocorrido pela baixa evidência do envolvimento da vesícula no universo dos 99 pacientes analisados. Não obstante, é importante destacar que a freqüência relativa desta variável no grupo com recidiva bioquímica foi 2,5 maior do que no grupo de homens sem recidiva (Tabela I). Ademais, o p- valor gerado na análise univariada foi ligeiramente maior que 0,05 (Tabela II). Os dados encontrados indicam que o PSA pré -operatório não foi significante como variável preditora independente para a rediviva bioquímica (Tabelas II e III). Apesar disso, vários autores observaram a importância do PSA pré-operatório como fator para a evolução da recorrência bioquímica 5,9,15. Entretanto, Babaian et al (2001) 11 observaram que não houve associação significativa entre a concentração de PSA pré-operatória e a falha bioquímica. No trabalho desenvolvido por Nelson et al (2003) 16, o PSA pré-opera- Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 20

tório foi significativo em análise multivariada pelo risco proporcional de Cox para a ocorrência de recidiva bioquímica, porém não foi obtida significância para a recorrência clínica da doença. Em relação ao escore de Gleason, não houve significância estatística (Tabelas II e III). Epstein et al (1996) 17 observaram que a escala de Gleason foi um fator de risco independente para a progressão da doença. Os tumores com pontuação 2 a 4 foram invariavelmente curados. Caire et al(2009) 18 observaram que os pacientes com pontuação total igual ou maior que 7 estavam submetidos ao risco de desenvolvimento mais precoce de recorrência bioquímica. Os dados da literatura, portanto, indicam que a escala de Gleason é um preditor importante para a progressão da doença, havendo relação inversa entre as taxas livres de recorrência bioquímica e a pontuação deste parâmetro patológico. É importante frisar que estas pesquisas tiveram metodologias diferentes e apresentaram maior volume de participantes do que a do nosso trabalho, ademais a maioria dos nossos pacientes apresentou escore até 6, ou seja, com melhor prognóstico, o que pode explicar os dados divergentes com esses autores. CONCLUSÃO Baseado nos resultados obtidos através da sobrevivência do risco proporcional de Cox, a margem comprometida por invasão tumoral foi a única variável com significativa estatística na análise uni e multivariada para a recorrência bioquímica. SUMMARY Avaliação clínica dos fatores preditivos de recorrência bioquímica após prostatectomia radical em pacientes com câncer de próstata localizado¹ Clinic assessment of the predictive factors of biochemical recurrence after radical prostatectomy in patients presenting localized prostate cancer Aluízio Gonçalves da FONSECA, Fábio do Nascimento BRITO e Antônio Augusto Pinto FERREIRA Objective: to evaluate the predictors of biochemical recurrence after radical prostatectomy in patients with localized prostate cancer. Methods: The study was cross-sectional, retrospective, cohort study, it was conducted with participation of 99 patients enrolled in two private clinics of urology in Belém-PA. Survival analysis of Cox proportional hazards model was applied to univariate and multivariate analysis. Results: 34.3% patients with biochemical recurrence; multivariate analysis and univariate analysis of the margin compromised generated p-value of 0.0478 and 0.0002, respectively, the other variables were not significant. Conclusion: the involvement of the surgical margin was the only independent factor for biochemical recurrence. Key words: Prostatic Neoplasms, Recurrence, Prostatectomy. REFERÊNCIAS 1. Murray T, Jemal A, Tiwari RC, Ghafoor A, Samuels A, Ward E, et al. Cancer statistics. Cancer J Clin. 2004;54:8-29 2. Penson DF, Litwin MS. The physical burden of prostate cancer. Urol Clin N Am. 2003; 30: 305-313 3. Freedland SJ, Humphreys EB, Mangold LA, Eisenberger M, Dorey FJ, Walsh PC, et al. Risk of prostate cancer specific mortality following biochemical recurrence after radical prostatectomy. JAMA. 2005; 294(4): 433-439 4. Scher HI. Management of prostate cancer after arostatectomy: treating the Patient, not the PSA. JAMA. 1999, 281(17):1642-1645 21 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013

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