SISTEMA INTEGRADO FAMILIAR DE CAPTAÇÃO, MANEJO E GERENCIAMENTO DE ÁGUA DA CHUVA



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Transcrição:

SISTEMA INTEGRADO FAMILIAR DE CAPTAÇÃO, MANEJO E GERENCIAMENTO DE ÁGUA DA CHUVA Fernando Deodato de Sousa; José Dias Campos e José Rêgo Neto cepfs@uol.com.br Centro de Educação Popular e Formação Sindical CEPFS Endereço : Rua Felizardo Nunes de Sousa, 07 58735-000 Teixeira-PB Fone: 0(xx) 83 472 2276 RESUMO - Este trabalho tem como objetivo relatar o sistema integrado familiar de captação, manejo e gerenciamento de água da chuva e analisar, a partir de um breve relato da experiência, a otimização do uso da água armazenada da Unidade Demonstrativa apoiada pelo Centro de Educação Popular e Formação Sindical CEPFS, por meio do Projeto de capacitação de agricultores e agricultoras para a convivência com a realidade semi-árida, na comunidade rural, Santo Agostinho, município de Teixeira-PB. Para a formulação do presente trabalho, procurou-se conhecer a percepção do conjunto das pessoas que constituem a família que implementou o referido sistema, a fim de extrair o resultado proporcionado pela experiência objeto de relato e análise. Como resultado, ficou evidente que a compreensão da necessidade de manejo adequado do sistema, por parte da família, foi condição fundamental para a eficácia de funcionamento e efetividade. Isso significa dizer que não basta construir reservatório para captação e armazenamento de água, mas, a compreensão, por parte da unidade familiar, do manejo para que a oferta atenda à demanda nos seus diversos fins, de forma racional, torna-se elemento indispensável à sustentabilidade e efetividade da experiência estudada. Palavras-chave: sistema integrado, unidade familiar, manejo adequado do sistema, captação e armazenamento de água, efetividade, sustentabilidade. INTRODUÇÃO O Semi-Árido brasileiro é caracterizado, entre outros fatores, pela irregularidade pluviométrica. A precipitação média é de 750 milímetros; no entanto, em condições normais chovem mais de 1.000 milímetros. Isso revela, portanto, que o problema do Semi-Árido não é a irregularidade pluviométrica em si, mas, a falta de estrutura adequada e descentralizada de captação e armazenamento da água que cai da chuva. No Semi-Árido, o solo, na sua maior parte, é muito raso, portanto, a retenção de água subterrânea é muito difícil (Água de Chuva..., 2001). Em boa parte da região, a exploração da

monocultura, somada à prática agrícola sem os devidos cuidados técnicos e à falta de vegetação, vem contribuindo para a compactação do solo, modificando sua textura, que, de esponja, passa para à forma de piso compactado. Nessas condições, a água da chuva cai e corre; na maioria das vezes, percorre distância e vai abastecer bacias hidrográficas distantes das famílias carentes da oferta de água, tanto para o consumo humano como para a produção agrícola e consumo animal. Tal situação, sobretudo nos períodos de estiagens prolongadas, impõe às famílias a condição de percorrer até 5 quilômetros de distância para encontrar água para atender às suas necessidades.. Segundo MIRANDA NETO (1999), a água como recurso indispensável à nossa sobrevivência está se tornando cada vez mais escassa. A explosão demográfica e as persistentes agressões ambientais estão agravando a situação a cada instante. Segundo dados do IBGE, citados por GNADINLGER (1997), no Brasil, 30 milhões de habitantes não recebem água tratada e 92% do esgoto do país é lançado nos rios e no mar sem qualquer tratamento, produzindo um verdadeiro desastre ambiental. Dez bilhões de litros de esgotos são lançados todos os dias nos rios e no mar. Essa breve caracterização nos indica que o desafio principal do Semi-Árido é a capacitação das famílias para a captação, armazenamento e uso adequado da água das chuvas, por meio de sistemas integrados que possam atender à demanda nos seus diversos fins. Partindo dessa constatação, o Centro de Educação Popular e Formação Sindical CEPFS, entidade que integra o Fórum Articulação Semi-Árido da Paraíba, a partir de 1994, após uma grande seca, começou a estimular agricultores e agricultoras familiares a refletirem sobre os potenciais de captação e armazenamento de água da chuva existentes em suas propriedades, visando despertá-los para a estruturação de experiências capazes de permitir uma convivência mais harmoniosa com a realidade semi-árida. Nesse sentido, o presente trabalho reúne informações de um sistema integrado familiar de captação, manejo e gerenciamento de água da chuva, iniciado no ano de 1996, que tem permitido a melhoria da qualidade de vida da família, a partir da descoberta do potencial existente em sua propriedade. COMPOSIÇÃO DO SISTEMA O sistema integrado familiar de captação, manejo e gerenciamento de água da chuva é composto por 01 barreiro de açude, duas cisternas de placas com capacidade para acumular 36 mil litros de água, 01 tanque em fenda de pedra, abastecido a partir de 03 (três) áreas de captação, uma barragem subterrânea e 01 poço amazonas localizado no centro da bacia da barragem subterrânea.

ÁREA DE CAPTAÇÃO DA RESIDÊNCIA A residência possui uma área de 240m 2. Dessa área de captação, apenas o barreiro de açude não recebe água. A água captada da área da residência abastece inicialmente a primeira cisterna, que, ao transbordar, abastece a segunda. Com o transbordamento da segunda cisterna, o tanque de pedra é abastecido; por conseguinte, a água transbordada do tanque de pedra é direcionada à barragem subterrânea. UTILIDADE DAS UNIDADES DO SISTEMA BARREIRO DE AÇUDE Água para higiene pessoal da família, para regar canteiros de hortaliças, para as necessidades domésticas, para lavar roupa e para o consumo animal. É importante destacar que a água do barreiro abastece o banheiro e a pia da cozinha por gravidade, por meio de um sistema simples montado em cima do balde. CISTERNAS DE PLACAS Uso exclusivo para o consumo humano (beber e cozinhar) TANQUE EM FENDA DE PEDRA Lavar roupa e atividades domésticas. É importante destacar que a água do tanque é usada com mais freqüência no período das chuvas, por conta de a água do barreiro encontrarse com coloração barrenta. POÇO AMAZONAS Regar algumas plantações em torno da barragem subterrânea, sobretudo no final do período de estiagem e, também, para o consumo animal.

BARRAGEM SUBTRERRÂNEA Cultivo de produtos agrícolas, sobretudo, no período de verão da região, geralmente, compreendido entre os meses de junho e dezembro. RELATO DA EXPERIÊNCIA A experiência vem sendo desenvolvida na propriedade do Sr. Fernando Deodato de Sousa, na Comunidade Santo Agostinho, a uma distância de 18 quilômetros da sede do Município de Teixeira, no Estado da Paraíba. O Sr. Fernando Deodato de Sousa é um agricultor que lidera uma família composta por 8 pessoas, dentre elas 03 mulheres. A experiência teve início em 1996 com a construção de uma cisterna de placa. SITUAÇÃO ANTES DA IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA Alguns membros da família tinham que se deslocar, a uma distância de até 3 km, para pegar água, tarefa essa que geralmente era desenvolvida pelas mulheres. Dependendo da época do ano, gastava-se, em média, de 3 a 6 horas para conseguir água, isso devido à distância e aos problemas existentes (fila de espera para que a água se acumulasse nas cacimbas ou olhos d águas). Era necessário pegar água todos os dias, por causa da demanda e por não ter reservatórios que pudessem armazenar água suficiente para um determinado período (semana ou mês). Existiam vários tipos de doenças (diarréia, cólera, varizes e outras) provocadas por verminose. SITUAÇÃO APÓS A IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA A família passou a ter acesso a água de boa qualidade tanto para uso mais gerais como para o consumo humano (beber e cozinhar). Diminuíram significativamente os problemas de doenças ocasionadas pelo uso de água de péssima qualidade. O tempo que era gasto para ir pegar água à distância, hoje é usado em outros afazeres da família (roçado, criação de animais, cuidados com a casa, estudo, participação em reuniões e encontros na comunidade e em outros lugares). A difusão, sobretudo, da cisterna de placas, a partir da experiência familiar, contribuiu efetivamente para a diminuição da mortalidade infantil em outras famílias que adotaram, também, a experiências em suas casas. Hoje, a família tem opções para escolher a água que deverá ser utilizada em determinados usos domésticos e pessoais, pelo fato de o sistema integrado proporcionar mais de uma alternativa. Aumentou a renda familiar,

haja vista que a barragem subterrânea produz alguns produtos agrícolas no período de estiagem, que, por sua vez, aumentam a segurança alimentar, evitando ter que comprar na feira. Nesse caso, registram-se dois fatores importantes: o primeiro é que a unidade permite que a própria família produza algo para aumentar a segurança alimentar e o segundo é que, ao ser produzido pela família, será um produto com qualidade para a saúde da mesma, sem agrotóxico, o que não seria possível identificar se tivesse que comprar o mesmo produto na feira, sobretudo, no mundo de hoje, onde a maior parte da produção agrícola é desenvolvida com um alto teor de agrotóxicos, proporcionando aos consumidores morte ao invés de vida. A barragem subterrânea, também, produz forragem para ração animal. A partir da primeira unidade do sistema - uma cisterna de placas, construída no ano de 1996 - não faltou mais água para suprir as necessidades da família. CUSTO TOTAL DO SISTEMA O sistema, a custos atuais, está orçado em aproximadamente R$ 5.400,00 (cinco mil e quatrocentos reais). Os recursos, para parte das unidades que compõem o sistema, foram financiados por meio de um fundo rotativo, com o objetivo de permitir que outras famílias pudessem, também, ser beneficiadas, otimizando assim o uso dos recursos financeiros. CONSIDERAÇÕES FINAIS O relato da experiência revela que o problema do Semi-Árido não é a situação da seca em si, mas a forma como estão estruturadas as reservas e potenciais hídricos, sobretudo a partir da concentração da terra e da água. Percebe-se, também, que a falta de orientações técnicas e organizativas adequadas para o despertar dos agricultores e agricultoras familiares com vistas à descoberta dos potenciais de captação e armazenamento de água da chuva existentes em suas propriedades, assim como, o adequado manejo, são fatores que têm contribuindo para a dependência das famílias com relação aos carros-pipa e, por extensão, a dependência política. As grandes obras feitas pelos gestores das políticas públicas (governantes), por não contarem com a efetiva participação dos usuários, geralmente, têm problemas do ponto de vista de manejo, sobretudo na parte de conservação. O relato da experiência, somando-se a essas considerações finais, nos leva à conclusão de que, principalmente, para a região semi-árida rural, estimular os agricultores e agricultoras, por meio de um processo de capacitação, a descobrirem os potenciais de captação e

armazenamento de água existentes em suas propriedades, visando ao desenvolvimento de experiências estruturadoras para a convivência sustentável com a realidade semi-árida, é fator primordial para o desenvolvimento local. Sem dúvida, será a soma de saberes que os agricultores detêm, fruto do repasse de geração para geração, adicionada às orientações técnicas adequadas, que permitirá o surgimento e difusão de experiências capazes de promover a melhoria da qualidade de vida das famílias, de forma sustentável, na região semiárida. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ÁGUA DE CHUVA O segredo da convivência com o Semi-Árido brasileiro/ Cáritas Brasileira, Comissão Pastoral da Terra, Fian/Brasil São Paulo: Paulinas, 2001 MIRANDA NETO. Água, recurso vital, Jornal o Liberal. Belém, 2 p. 1999 GNADLINGER, J. A captação de Água de Chuva: A Base para a Viabilização do Semi-árido Brasileiro. Petrolina. 1997. 20p.