Palavras Chaves: Micro-barragem; unidades familiares; capacitação; custos.
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- Maria dos Santos Paixão de Mendonça
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1 MICRO-BARRAGEM SUBTERRÂNEA A Experiência ONG CAATINGA (Ouricuri-PE) Reginaldo Alves de Souza, Caixa Postal, Ouricuri-PE, caatinga@telesof.com.br RESUMO O CAATINGA iniciou o trabalho com barragem subterrânea em meados do ano de 1994, tendo conhecido as primeiras experiências no município de Milagres-CE, através de evento de intercâmbio promovido pela Articulação Água 1. As primeiras construções tinham como principal objetivo a adequação da tecnologia às pequenas unidades familiares e ainda a capacitação da equipe e de agricultores quanto aos aspectos de localização, construção e manejo de microbarragens. Foram implantadas na região do Araripe, aproximadamente 30 micro-barragens subterrâneas, sendo a maioria impermeabilizada a partir de septo construído com barro compactado e utilizando mão-de-obra familiar. Ao longo destes sete anos houveram modificações na forma de construção, principalmente do sangradouro e ainda abertura para uso de lona plástica como impermeabilizante. Estas modificações provocaram redução dos custos e permitiram maior flexibilização quanto ao tamanho das barragens, passando de construções com 30 ou 40 metros de parede para construções de até 100 metros. 1 A Articulação Água, atuou entre os anos de 1992 a 1998, envolveu em torno de 26 entidades do Nordeste que trabalhavam com a temática Recursos Hídricos e promoveu diversos eventos de intercâmbio de experiências e de capacitação de técnicos.
2 Palavras Chaves: Micro-barragem; unidades familiares; capacitação; custos.
3 HISTÓRICO O CAATINGA iniciou o trabalho com Micro-barragem subterrânea a partir de uma visita ao município de milagres CE, promovida pela ARTICULAÇÃO ÁGUA. Nesta visita, foi apresentada a experiência de uma família que trabalha com pequenas barragens subterrâneas a mais de trinta anos. Em 1994, foram implantadas as primeiras experiências no município de Ouricuri (figura 1). O objetivo inicial foi de construir algumas unidades para efeito de aprendizagem quanto às questões de localização e manejo das barragens, bem como identificar tipos de materiais a serem utilizados na construção do septo. Foram construídas e algumas unidades com septo de argila compactada, estas últimas abandonadas por apresentar custos muito altos e ainda falhas na impermeabilização. Atualmente, na região do Araripe, encontram-se aproximadamente 30 micro-barragens subterrânea, localizadas nos municípios de Ouricuri, Araripina e Bodocó. MICRO-BARRAGEM SUBTERRÂNEA Este termo é utilizado por serem unidades de pequeno porte, mas que utilizam os mesmos princípios da construção de unidades de grande porte. O principal diferencial é que ao invés do uso de máquinas pesadas para realizar as escavações, é utilizada mão-de-obra braçal. Desta forma, o tamanho da barragem fica limitado à disponibilidade e viabilidade da mão-de-obra familiar, por outro lado, o uso da mão-de-obra familiar para escavação de pequenas barragens tem contribuído no processo de disseminação da proposta tornando-a mais acessível aos agricultores familiares por não depender de grandes investimentos. Por dependerem de mão-de-obra familiar, as micro-barragens apresentam uma área cultivável pequena, porém, se construídas em sequência possibilitam o aproveitamento de grandes baixadas (ou aluviões), como no caso da propriedade do Sr. Zé Preto, em Ouricuri PE, que ao longo de aproximadamente 800 metros de baixio construiu-se 4 micro-barragens subterrâneas. CONSTRUÇÃO O trabalho inicial foi dedicado à capacitação da equipe e de alguns agricultores em relação aos diversos aspectos de construção das barragens, especialmente quanto à localização e identificação de materiais adequados à construção do septo. Sendo a capacitação o principal objetivo inicial, as primeiras barragens construídas apresentaram problemas relacionados à baixa capacidade de infiltração por terem sido localizadas em solos predominantemente argilosos e com septos rasos, variando de 1 a no máximo 2 metros de profundidade na parte central. Apesar
4 dos problemas acima, estas barragens foram muito importantes na evolução no aspecto da construção. Outra contribuição importante destas primeiras barragens é relacionada ao aspecto da definição dos custos. Todas as construções foram realizadas utilizando-se mão-de-obra familiar, permitindo-nos definir os custos considerando as contrapartidas existentes na propriedade. Todo este trabalho inicial nos deu subsídios para evoluirmos em relação aos aspectos de construção e quebrar alguns mitos que inicialmente foram colocados em relação às barragens subterrâneas. Entre os diversos avanços podemos destacar os seguintes: Dimensionamento As referências bibliográficas encontradas a respeito da construção de barragem subterrânea relacionam-se a construções de grande porte, na sua maioria mecanizadas, que permitem o aproveitamento de áreas acima de 1 hectare, chegando a dezenas de hectares, como no caso do Rio Grande do Norte. O trabalho realizado pelo CAATINGA e outras ONG s do Nordeste, baseia-se na utilização de mão-de-obra familiar e aproveitamentos de áreas de até 2 hectares e têm permitido que os agricultores familiares se apropriem dos conhecimentos relacionados à construção da barragem subterrânea, tornando muitos em capacitadores e multiplicadores da tecnologia (Figura 2). Esta apropriação de conhecimento foi possível através de um longo processo de capacitação e adequação da tecnologia às condições sócio-econômicas das famílias envolvidas, a partir da construção de micro-barragens, permitindo o aproveitamento de pequenas áreas potenciais nos agroecossistemas familiares. Localização a idéia inicial que a barragem poderia ser uma tecnologia possível de massificação ou que qualquer propriedade poderia ter sua barragem, logo foi contestado por mal resultados obtidos em algumas micro-barragens mal localizadas, quanto ao tipo de solo (com predominância de argila), septo raso e conseqüentemente pequena área de acúmulo de água no sub-solo e de cultivo; Resistência às grandes secas As barragens sempre foram tratadas como uma tecnologia voltada à manutenção dos cultivos durante as estiagens e ainda às grandes secas. Experiências demonstram que a manutenção dos cultivos em períodos de seca é possível a partir da construção de barragens de grande porte e em alguns casos acoplados a sistemas de irrigação. No entanto as micro-barragens têm demonstrado eficiência quando se trata de estiagens anuais. Neste caso, alguns agricultores no Município de Ouricuri conseguiram safras de culturas que requerem maior demanda de água, como no caso do arroz e asseguram plantio de fruteiras mantedo-as durante o período de estiagem sem irrigação localizada.
5 Registram-se também casos de duas safras anuais, como no caso das barragens dos Senhores Valdeci, João de Pedro e Zé Preto no sítio Lagoa Comprida, no município de Ouricuri; Custos x Dimensionamento As primeiras construções apresentaram custos que variam de R$ 200 (duzentos reais) a R$ 450 (quatrocentos e cinqüenta reais). Estes valores relacionamse a mão-de-obra de escavação e ferramentas utilizadas na construção e não contabilizam as contrapartidas da família (mão-de-obra, alimentos, etc.). Estes custos hoje estão variando em função do tamanho da barragem, o que é óbvio, no entanto, a introdução da lona plástica como impermeabilizante em substituição ao barro batido, tem nos permitido aumentar o tamanho das barragens chegando-se a construções de até 100 metros de parede o que anteriormente limitava-se a 25 ou 30 metros em função do alto custo de compactação do barro batido. Hoje temos maior flexibilização quanto ao limite de investimento em uma barragem subterrânea. O custo não é o principal limitante para definição do tamanho da barragem, havendo condições técnicas de construção, entendemos que é necessário buscar formas de viabilizar o projeto na sua totalidade.atualmente, os custos da barragens podem partir de R$ 450,00 (quatrocentos e cinqüenta reais) a valores de até R$ 1.200,00 (um mil e duzentos reais); As barragens com septo construído com barro batido apresentam maior gasto com mão-deobra, principalmente se o barro a ser utilizado para compactação for distante do local a ser construída a barragem e depender de transporte. Os custos altos e em alguns casos a dificuldade para encontrar material adequado à construção do septo, foram fundamentais para quebrar resistências quanto ao uso da lona plástica. Neste caso a dificuldade apresentada relaciona-se a qualidade da lona encontrada no mercado local, geralmente de 150 micras, necessitando de duas camadas, dobrando os custos com este item (figura 03). Dique de proteção x Sangradouro Foi testado diversas formas de proteção do septo, principalmente utilizando-se proteção de pedras em forma de diques com o objetivo de permitir a passagem da água com uma pequena quebra de velocidade, possibilitando maior infiltração no subsolo (figuras 4). O principal problema enfrentado para a construção do dique é a falta de pedras adequadas à construção do mesmo. Outro problema que ocorre é que na ocorrência de enxurradas, geralmente estes se rompem permitindo que a água danifique o septo. A partir de um trabalho conjunto com a EMBRAPA SEMI-ÁRIDO passamos a adotar sangradouros centrais, construídos com concreto, alvenaria e ainda tela de galinheiro e lona plástica. Este tipo de sangradouro oferece maior resistência nos casos de enxurradas e oferece maior proteção ao septo, no entanto, apresenta um custo alto em relação aos diques de pedras, chegando a representar de 30 a 40% do custo total do projeto.
6 MANEJO As micro-barragens permitem que os agricultores familiares assegurem a produção das culturas normais (milho, feijão, etc.) e permitem que após a colheita a área úmida da barragem seja cultivada com outras culturas de ciclo curto, possibilitando duas ou mais colheitas ao longo do ano. Diversas culturas têm se adaptado nas micro-barragens: arroz, milho, feijão de corda, feijão de arranca, batata-doce, macaxeira e verduras. Todas essas culturas são plantadas na área mais úmida das barragens. Nas áreas mais distantes da parede são feitos cultivos de fruteiras, tais como: banana, cajú (anão), acerola, goiaba, pinha, mamão e outras (figura 5). MONITORAMENTO A partir de abril/2000, o CAATINGA e a EMBRAPA SEMI-ÁRIDO firmaram convênio que permitirá o acompanhamento sistemático da evolução de 10 micro-barragens implantadas nos municípios de Ouricuri e Bodocó (figura 08). O trabalho tem por finalidade acompanhar a evolução dos solos, presença de sais e nível do lençol freático, bem como a evolução da produção dos cultivos. Para isso foram implantados poços piezométricos para acompanhamento do nível do lençol e retirada de amostras de água e ainda, coletados amostras de solos em todas as barragens para análise físico-química. Os primeiros resultados deste trabalho deverão ser publicados no segundo semestre de 2002.
7 ANEXOS Figura 01 Barragem implantada 4m 1994 Lagoa Comprida Ouricuri-PE Figura 2 Valeta cavada com mão-de-obra familiar Figura 3 Micro-barragem com septo de lona, em construção
8 Figura 4 Dique central em Micro-barragem Subterrânea Lagoa Comprida Ouricuri - PE Figura 5 Micro-Barragem com plantio de fruteiras
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